sábado, 21 de setembro de 2024

Racha no partido de Morales ameaça democracia na Bolívia

Com ou sem Evo Morales à frente, uma marcha de apoiadores do ex-presidente boliviano iniciada nesta terça-feira (17/09), partindo de Caracollo com destino à capital La Paz, representa uma medição de forças com o atual mandatário, Luis Arce, que também faz parte do Movimento ao Socialismo (MAS), legenda de Morales.

"A questão é quem leva mais gente para as ruas. Mas não podemos descartar que haja um potencial de violência", considera a cientista política boliviana Moira Zuazo, pesquisadora associada da Universidade Livre de Berlim.

"A situação na Bolívia é muito delicada, porque a crise econômica é forte, há falta de combustível e um descontentamento enorme por causa dos incêndios", aponta. "O que está claro é que o governo atual não está enfrentando a crise."

Em sua opinião, Morales decidiu "pressionar a partir das ruas num momento em que vê essa profunda fraqueza por parte do governo".

A marcha começou liderada por Morales e agora continua sem o ex-presidente, que a abandonou para, segundo ele mesmo indicou, demonstrar que o objetivo não é defender sua candidatura presidencial para as eleições de 2025. Algo que o cientista político Marcelo Arequipa, docente da Universidade Mayor de San Andrés, na Bolívia, contesta.

Segundo Arequipa, uma reunião do Movimento ao Socialismo (MAS) convocada pelo ex-presidente e na qual se falou sobre a realização da marcha atual, já apontava para objetivos políticos, entre eles habilitá-lo como candidato. MAS é o partido tanto de Arce quanto de seu padrinho político, Morales, e o controle da legenda é agora disputado por ambos.

"Evo Morales e seus aliados tentaram dizer que sua marcha tem a ver com reivindicações econômicas, pela falta de combustíveis e pelos preços dos produtos na Bolívia. Mas a população já identificou claramente que sua marcha é política", aponta.

·        A candidatura de Evo Morales

Em um congresso realizado em 2023 na localidade de Lauca Ñ — não reconhecido pelas autoridades eleitorais —, Morales foi ratificado como líder do MAS por seus apoiadores, que também o escolheram como candidato para 2025. Isso, apesar dos impedimentos legais, que seus partidários não consideram válidos.

"Morales não pode ser candidato por várias razões. Entre outras, porque ele perdeu o referendo de 2016, no qual a população rejeitou a ideia de mudar a Constituição para que ele pudesse voltar a se candidatar. Esse precedente é muito importante e dá confiança a Luis Arce para provavelmente tentar a reeleição", afirma José Blanes, fundador e pesquisador do Centro Boliviano de Estudos Multidisciplinares (CEBEM).

Arequipa aponta para outro elemento-chave: "A sentença do Tribunal Constitucional de dezembro do ano passado diz que não pode haver reeleição de maneira contínua ou descontínua na Bolívia. Isso acaba fechando a possibilidade de que, em termos legais, Evo Morales possa ser candidato."

·        O racha no MAS

Mesmo assim, a disputa política ainda não foi resolvida. "Há um MAS de Evo Morales e um MAS de Luis Arce. Nenhum dos dois conseguiu receber o apoio do Tribunal Constitucional e menos ainda do Tribunal Eleitoral", diz Blanes, para quem o nome mais forte será definido nas ruas.

Arequipa concorda: "Tudo foi transferido hoje para o cenário das ruas. As ruas vão acabar resolvendo o problema político".

Atualmente, não está claro quem controla o partido. "Evo Morales controla o Senado. A Câmara dos Deputados é controlada por Luis Arce", explica Arequipa.

"Estamos vendo um processo de implosão dentro do partido mais importante que a Bolívia já produziu", considera Zuazo.

A especialista também fala de uma crise de base. "As organizações sociais que deram origem ao partido também estão profundamente divididas, e isso é o que estamos vendo nas ruas. E isso é algo perigoso", afirma.

Na opinião da pesquisadora da Universidade Livre de Berlim, o que está em discussão hoje na Bolívia é a possibilidade de o Movimento ao Socialismo ser ou não um partido democrático. Questionada sobre qual das duas alas do MAS representa a opção democrática, ela responde: "É triste dizer, mas acredito que nenhuma. Mas também nenhuma das duas apresenta um discurso abertamente contrário à democracia."

·        A estabilidade democrática está em risco?

Na última segunda-feira, um grupo indígena conhecido como Ponchos Rojos acrescentou mais um ingrediente à tensão política, bloqueando estradas e exigindo a renúncia do atual governo e a convocação de novas eleições.

"Quando setores mobilizados já propõem o encurtamento do mandato constitucional, acho que a estabilidade democrática está em perigo, há o risco de se subverter a ordem democrática. Acho que a democracia está em perigo na Bolívia também porque há uma agenda que não é necessariamente democrática", diz Arequipa.

Blanes não acredita que a democracia esteja em perigo "formalmente", mas sim "na prática". Ele aponta que já se fala de uma situação que obrigue Arce a renunciar e na qual o presidente do Senado assume o poder. Mas ele não se atreve a prever um desfecho para a disputa. "Neste momento, está por se definir qual das alas do MAS vai prevalecer. Até o momento, nenhuma das duas. Um dos resultados possíveis da atual confrontação talvez seja o fim do partido", opina.

 

¨      Venezuela alerta que governos de EUA, Israel e Argentina representam uma ameaça para o mundo

O governo da Venezuela criticou nesta quarta-feira (18) os Estados Unidos, Argentina e Israel, e afirmou que esses países representam uma "ameaça para a humanidade". A declaração aconteceu após a resolução aprovada pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), que exige que Israel se retire dos territórios palestinos ocupados.

"Não surpreende que os governos dos EUA, Israel e Argentina tenham votado contra essa medida. Atualmente, esses países são os líderes do cartel internacional fascista que representa uma grave ameaça para a humanidade", declarou o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil.

Com 124 votos a favor, 14 contra e 43 abstenções, o texto exige "que Israel ponha fim sem demora à sua presença ilegal nos territórios palestinos ocupados", pois isso "constitui um ato ilícito de caráter continuado".

A resolução estabelece um prazo de 12 meses para que seja cumprida e está fundamentada na "opinião da Corte Internacional de Justiça" sobre as consequências da ocupação israelense.

A Assembleia Geral da ONU instou o Estado judeu a se retirar "no máximo 12 meses após a adoção da presente resolução".

<><> Conflito em Gaza é 'maior problema mundial'

Também nesta semana, o chanceler russo Sergei Lavrov defendeu que o Conselho de Segurança da ONU não deve ignorar o conflito na Faixa de Gaza porque é o principal problema internacional da atualidade. A decisão que exigiu a retirada de Israel da Cisjordânia é da Assembleia Geral, que reúne todos os países membros, diferentemente do conselho.

Segundo Lavrov, a última resolução do Conselho de Segurança da ONU, que apela ao cessar-fogo na Faixa de Gaza, foi deixada de lado.

"Os EUA não cumpriram as suas promessas, mas isso não significa que devamos abandonar os nossos esforços. Ficaríamos satisfeitos se a mediação do Egito e de outros países árabes trouxesse resultados. O Conselho de Segurança da ONU não deveria ignorar esse problema porque hoje é o maior problema internacional", defendeu.

<><> Ministério Público venezuelano diz que vai emitir mandado de prisão contra Javier Milei

O Ministério Público venezuelano emitirá um mandado de prisão contra o presidente argentino, Javier Milei, e dois funcionários de seu governo, pela apreensão do avião da Empresa de Transporte Aerocargo del Sur (Emtrasur), subsidiária da empresa aérea estatal Conviasa.

É o que disse nesta quarta-feira (18) o procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab.

"Este Ministério Público anuncia a nomeação de dois procuradores especializados no assunto, que estão conduzindo os procedimentos pertinentes ao caso e tramitando o mandado de prisão contra os seguintes cidadãos: Javier Milei, presidente da Argentina; Karina Milei, secretária-geral da Presidência; e Patricia Bullrich, ministra da Segurança Nacional, uma zombaria para o sistema de Justiça argentino", disse Saab.

O procurador indicou que a Argentina cometeu um crime contra o Estado venezuelano, "pelo que esta nação caribenha exercerá a sua defesa e imporá sanções penais aos envolvidos na apreensão das suas aeronaves".

Nesse sentido, explicou que "os ligados ao caso do avião cometeram o crime de roubo qualificado".

<><> Sobre a apreensão do avião da Venezuela

No início do mês, o Departamento de Justiça dos EUA confirmou a apreensão da aeronave e informou que o procedimento foi realizado com base em violações de sanções e leis de controle de exportação.

A Venezuela descreveu o confisco do avião como um ato de pirataria e acusou Washington de usar o seu poder econômico e militar para "assustar e pressionar" países como a República Dominicana, "para servirem como cúmplices nos seus atos criminosos".

Além disso, alertou que se reserva o direito de tomar qualquer ação judicial para reparar esse dano contra a nação sul-americana.

A Venezuela considerou que a medida faz parte de uma escalada de ações contra o governo reeleito em 28 de julho.

 

¨      Parlamento Europeu reconhece vitória de opositor venezuelano

O Parlamento Europeu aprovou nesta quinta-feira (19/09) uma resolução reconhecendo o líder da oposição da VenezuelaEdmundo González Urrutia, como o presidente legítimo e democraticamente eleito do país sul-americano.

A resolução sem obrigatoriedade legal, aprovada por 309 a 201 votos, com 12 abstenções, também reconhece a opositora María Corina Machado como líder das forças democráticas venezuelanas.

Contudo, em razão de uma emenda proposta pelos eurodeputados social-democratas, liberais e verdes, ficou de fora do texto um apelo à União Europeia (UE) e seus Estados-membros – que tomam as decisões sobre política externa no bloco das 27 nações – para que também reconheçam González Urrutia como o legítimo chefe de governo venezuelano.

González Urrutia fez um agradecimento ao Parlamento Europeu em uma mensagem de vídeo postada na rede social X. "Nós, venezuelanos, queremos o mesmo que os europeus já conquistaram: viver em liberdade e democracia", afirmou.

<><> "Cordão sanitário" rompido

Esta foi a primeira ocasião na nova legislatura no Parlamento Europeu em que o Partido Popular Europeu (PPE), de centro-direita, votou junto com a ultradireita, ao invés de permanecer ao lado do bloco à sua esquerda – social-democratas, liberais e verdes –, com quem normalmente age em consenso no que diz respeito às decisões no Legislativo europeu.

Os social-democratas concordaram com a maior parte do texto, mas avaliaram que o reconhecimento de González Urrutia como presidente e a redação em conjunto com a ultradireita eram uma "linha vermelha". Os liberais rechaçaram o rompimento do chamado "cordão sanitário" que isolava a ultradireita e se recusaram a votar. Os verdes adotaram posição semelhante. 

Apenas um grupo de socialistas portugueses e um liberal destoaram de suas bancadas e votaram a favor da resolução.

O grupo de ultradireita Europa das Nações Soberanas, de menor tamanho, não participou das negociações sobre o texto, mas também votou majoritariamente a favor da resolução. 

<><> Fazer o "máximo possível"

No texto, os eurodeputados pedem que a UE e seus Estados-membros façam "o máximo possível" para que González Urrutia possa assumir a Presidência venezuelana no próximo dia 10 de janeiro.

"O respeito à vontade do povo venezuelano expressada nas eleições continua sendo o único caminho para que a Venezuela restabeleça a democracia, possibilite uma transição pacífica e autêntica e resolva a atual crise humanitária e socioeconômica", diz a resolução.  

Os eurodeputados também exortam o Tribunal Penal Internacional (TPI) a incluir as violações aos direitos humanos e as detenções arbitrárias em suas investigações sobre supostos crimes contra a humanidade cometidos pelo regime do presidente Nicolás Maduro.

Dias após as eleições, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela declarou Maduro como vencedor, sem, no entanto,mostrar as atas da apuração, mesa por mesa, como exige a lei.

A resolução também pede a "libertação imediata e incondicional de todos os presos políticos e pessoas arbitrariamente detidas" e enaltece a decisão do governo espanhol de conceder asilo político a González Urrutia, que, segundo o texto, permite que ele tenha proteção e "mantém uma perspectiva viável de solução para o entrave político".

<><> Ampliação das sanções

Os eurodeputados também pedem aos governos da UE e ao chefe da diplomacia do bloco europeu, Josep Borrell, o restabelecimento de sanções contra membros do CNE e o prolongamento e ampliação dessa punições ao regime de Maduro.

"Se até 10 de janeiro não houver uma transição pacífica de poder e o restabelecimento da democracia, haverá um novo êxodo migratório para os países da região, semelhante ao que levou em torno de oito milhões de venezuelanos a fugir do país nos últimos anos", diz a resolução.

Com a resolução, o Parlamento Europeu vai mais além – ainda que de maneira simbólica – do Conselho da UE, no qual os ministros do Exterior dos países do bloco decidiram não reconhecer a reeleição de Maduro, assim como seu possível papel como líder opositor.

<><> Exílio na Espanha

González Urrutia está atualmente exilado em Madrid. Sua saída do país gera incertezas aos milhões de venezuelanos que se mobilizaram para votar nele em 28 de julho. O septuagenário ex-diplomata alega que ele e sua família estavam sob risco, motivo pelo qual decidiu se estabelecer na capital espanhola.

A oposição venezuelana insiste que González venceu as eleições por ampla margem, e diz estar amparada por boletins de urna coletados de forma independente e relatos de testemunhas e membros das seções eleitorais no dia da votação.

Devido à publicação desses relatórios, González foi acusado de "suposto cometimento" de "usurpação de funções" e "falsificação de documentos públicos", entre outros crimes, pelos quais foi intimado três vezes pela Promotoria do regime chavista. Após não comparecer, González Urrutia se tornou alvo de um mandado de prisão, pouco antes de deixar o país.

 

Fonte: DW Brasil/Sputnik Brasil


 

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