Ondas de calor estão associadas ao aumento
de partos prematuros nos EUA
As temperaturas mais
altas causadas pelas mudanças climáticas já são percebidas dia após dia no
mundo todo. O ano de 2023 foi considerado o mais quente da história e espera-se
que as temperaturas continuem alcançando níveis cada vez mais altos. Estar exposto
ao calor extremo pode causar alterações no organismo que trazem riscos à saúde,
especialmente para crianças, idosos e pessoas com a saúde fragilizada.
Agora, um novo estudo
realizado nos Estados Unidos mostra que o impacto das ondas de calor também
está associado ao aumento de partos prematuros no país. Os pesquisadores
acompanharam registros de nascimentos das 50 principais áreas metropolitanas do
país ao longo de 25 anos e cruzaram os dados com registros de temperatura no
período em uma janela de sete e quatro dias antes do parto. A onda de calor foi
definida como os dias em que a temperatura registrada ficou 2,5% mais quente do
que nos 25 anos que antecederam o estudo.
Foram considerados
partos prematuros aqueles realizados no intervalo entre 28 semanas e 36 semanas
e seis dias de gestação. Nascimentos antes da 28ª semana gestacional foram
classificados como prematuros extremos — mais frequentemente associados a
infecções intrauterinas e anomalias congênitas do que a questões ambientais.
O estudo avaliou mais
de 53 milhões de nascimentos — o que corresponde a mais da metade dos
nascimentos nos EUA no período considerado no estudo, de 1993 a 2017. Os
autores constataram que a ocorrência de partos prematuros cresceu após picos de
calor, sugerindo que o aumento da frequência e intensidade das ondas de calor
também tem implicações para a saúde perinatal.
Cada aumento de 1°C
acima da temperatura média foi associado ao aumento de 1% na taxa de
nascimentos prematuros. Os resultados apontam ainda que o impacto do calor na
prematuridade tem sido mais comum nos últimos anos e que esse efeito foi mais
evidente em populações com piores condições socioeconômicas.
“Ainda não sabemos o
impacto desses resultados na população do planeta todo. O que temos, por
enquanto, são estudos envolvendo países de clima mais frio que apresentam maior
taxa de prematuridade em períodos mais quentes. Isso precisaria ser avaliado
também em nações tropicais, como o Brasil”, pondera o ginecologista Rômulo
Negrini, coordenador-médico de Obstetrícia do Hospital Israelita Albert
Einstein. “De qualquer forma parece que temos uma pista sobre a influência
climática na gestação. Isso explicaria, em parte, por que os métodos de
detecção e prevenção de prematuridade evoluem dia a dia e as taxas de
nascimentos pré-termo continuam em ascensão.”
A ciência ainda não
sabe exatamente o que explicaria o impacto do calor na antecipação do parto.
Mas, segundo Negrini, existem dois mecanismos prováveis: a desidratação causada
pela transpiração da gestante poderia reduzir o fluxo sanguíneo placentário e
alterar consequentemente a ação hormonal local em prol das contrações.
Outra possibilidade é
que o estresse oxidativo que o calor causa no organismo da mulher leva a uma
resposta inflamatória com consequente produção de substâncias que elevam a
quantidade de receptores ativos de ocitocina no útero – que é justamente a
substância responsável pelas contrações que auxiliam o parto.
• Perigo para todos
O calor extremo está
associado a riscos importantes de saúde para toda a população, não somente para
as gestantes. Segundo o médico do Einstein, isso acontece, principalmente, por
conta da desidratação e da dilatação dos vasos. Com as altas temperaturas,
explica Negrini, o organismo precisa dilatar as veias da superfície para que
mais sangue passe por ali e perca calor para o ambiente, mantendo a temperatura
interna do organismo dentro da normalidade.
“Só que para manter o
fluxo nessas veias dilatadas, o coração precisa trabalhar mais, e isso pode
desencadear arritmias e até infarto. A desidratação, por exemplo, pode alterar
os íons do organismo e favorecer arritmias e outros distúrbios, inclusive cerebrais,
como convulsões. Todavia, pessoas mais jovens sofrem menos com esses problemas
e, em geral, as grávidas são mais jovens”, explica o ginecologista.
Negrini ressalta que o
risco do calor extremo nas gestantes, além da prematuridade, está relacionado à
queda de pressão arterial pela vasodilatação exacerbada, pois a própria
gravidez promove essa dilatação e ainda se soma ao efeito do calor. “Isso pode resultar
em risco de desmaios e menor fluxo de sangue ao feto, comprometendo seu
desenvolvimento. Por isso é imprescindível que a gestante se mantenha bem
hidratada”, alerta.
Segundo o médico, no
Brasil não existem dados sobre calor e parto prematuro, especialmente porque o
país passa o ano todo predominantemente sob temperaturas mais altas. “O que
temos de fato são taxas crescentes de prematuridade, mas ainda é precipitado associar
isso ao aumento da temperatura global. No entanto, creio que esse seja um ponto
importante a ser analisado”, sugere.
Fonte: Agência
Einstein
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