quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Aldo Fornazieri: Queimadas - omissão e fracasso do governo

Não basta ter Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente para que o governo garanta o selo de compromisso com a sustentabilidade ambiental. Não basta ter Sônia Guajajara no Ministério dos Povos Indígenas para que o governo ostente o emblema de responsabilidade para com os povos originários. As queimadas que assolam o país ante a inércia do governo são prova da sua omissão. A falta de demarcação de terras indígenas a leniência com invasões e garimpeiros e outros grupos criminosos também são fatos que testemunham contra o governo. No início de 2024 vimos yanomamis esquálidos tal como vimos no início de 2023. É inaceitável.

Repito o que afirmei em outro espaço: no governo Bolsonaro, o negacionismo ambiental era ideológico. No governo Lula, o negacionismo é omissivo. Acrescente-se: o governo Bolsonaro era inimigo e combatia a ciência. O governo Lula tem ouvidos moucos para com o que diz a ciência sobre da crise ambiental.

O governo não pode alegar surpresa acerca do que vem acontecendo com as queimadas. Os cientistas, há meses, vêm alertando sobre o advento de seca severa. Ano após ano, também, vêm proliferando o aumento de incêndios intencionais, criminosos. O governo não se preparou: não comprou equipamentos em quantidade necessária para combater queimadas, não elaborou planos logísticos de combate, não fez campanhas públicas, não apostou em interação educativa com agricultores e fazendeiros, não capacitou militares, não recrutou funcionários para os órgãos ambientais, não articulou estratégias federativas para o enfrentamento do problema, não interagiu de forma adequada com o Judiciário e com o Congresso para que medidas legais e legislativas eficazes fossem adotadas.

Somente na semana passada, depois de ser empurrado, quase sob vara, pelo ministro Flávio Dino, o governo saiu de sua letargia e adotou algumas medidas já num contexto de fim do período mais forte das queimadas. Com essa passividade, o governo legou à sociedade brasileira uma vastidão de troncos de árvores carbonizados, um país coberto por densa fumaça e por imagens apocalípticas de desaparecimento do sol em pleno dia e uma chuva escura em partes do centro-sul do Brasil.

O Brasil viu dolorosas imagens de animais silvestres e de pássaros sendo queimados pelas chamas. Viu o abnegado esforço de brigadistas, alguns deles também queimados, exauridos pelo cansaço no cumprimento do dever. Dever que não é apenas funcional, mas moral, pois nenhum ser humano sensível pode ficar indiferente com a tragédia das queimadas. Esses brigadistas são os heróis anônimos que deveriam ser condecorados no final do ano. Mas, normalmente, o governo prefere condecorar os áulicos do poder, oriundos de gabinetes climatizados de Brasília.

Milhões de pessoas tiveram, nos últimos tempos, dificuldade para respirar com a combinação do tempo seco e fumaça. Tosse, rouquidão, dor de cabeça e agravamento de doenças respiratórias encheram as unidades de Saúde por todo país. Especialistas alertaram para o aumento de risco de AVC, câncer e infarto. Os particulados produzidos pelas queimadas penetram no coração, pulmões, rins, cérebro e fígado. Circulando pela corrente sanguínea, além de agravar o Alzheimer, podem provocar câncer no médio e longo prazo.

Se o governo tivesse a responsabilidade ambiental que proclama ter, teria dotado o Ministério do Meio Ambiente, o IBAMA e outros órgãos ambientais com equipamentos, pessoal capacitado e treinado e recursos para combater as queimadas. Teria constituído nos estados críticos e nos municípios críticos Comitês federativos com as várias polícias, representantes interministeriais, Defesa Civil, Corpos de Bombeiros, representantes da sociedade civil e das comunidades, representantes dos setores produtivos para definir linhas preventivas de ações.

Mas o que se vê é um governo letárgico, cansado, sem imaginação, sem inovação, claudicante em várias frentes governamentais. Se o presidente Lula está assoberbado com mil afazeres, o ministro Rui Costa não pode deixar que o governo assuma a fisionomia do burocratão lento e lerdo. O governo é um trambolho de 39 ministérios, a maioria dos quais não funciona e não tem chance de funcionar.

O espírito da burocracia leva os governos à indolência, ao descompromisso, à miséria da inatividade e ao fracasso. Geralmente, esse espírito vem acompanhado de soberba e arrogância. Esse espírito sufoca a inteligência e mata a criatividade e a inovação. A emergência climática é um problema que não pode esperar. Precisa de encaminhamentos urgentes na busca de mitigação, resiliência, adaptação e regeneração.

Os custos econômicos e humanos da omissão e da não ação são enormes. São incomparavelmente maiores do que os custos da ação. São bilhões de reais em prejuízos públicos e privados. Os impactos negativos se acumulam e se prolongam no tempo. Empobrecimento do solo, redução da produção de alimentos e inflação climática são alguns desses custos cumulativos e prorrogáveis. As queimadas liberam quantidades absurdas de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, agravando o aquecimento global. Na medida em que as florestas queimam, será reduzido o estoque de árvores para capturar gás carbônico num efeito cumulativo desastroso.

O governo parece não ter percebido que a questão ambiental, a questão das queimadas é uma questão estratégica, de segurança nacional. Além de adotar uma série de medidas necessárias e urgentes, deveria deslocar funções das Forças Armadas para este fim e começar capacitações e treinamentos desde já, além de dotá-las com equipamentos necessários para estas atividades fins.

O presidente do IBAMA, Rodrigo Agostinho, declarou, há poucos dias, guerra contra os incêndios. Essa guerra sempre será perdida se os principais órgãos ambientais do Brasil continuarem como pequenos exércitos de Brancaleone.

O governo Lula começa a pagar um preço político elevado por conta da sua omissão. Crescem as críticas e a percepção de que o governo não se preparou para o enfrentamento dos incêndios. A presidente Lula chegou a reconhecer este fato. As críticas agora florescem em setores que sempre votaram em Lula. A imagem internacional de compromisso para com o meio ambiente vai ficando cada vez mais chamuscada pelas labaredas. Compromisso com o meio ambiente não é só impedir a derrubada da floresta amazônica. Pouco resolve não deixar derrubar se deixa o fogo queimar.

Pesquisa do IPEC mostra que, em abril, 33% da população avaliava que a ação do governo na questão ambiental era boa ou ótima e 33% julgava que era ruim ou péssima. Já em setembro, o ruim e péssimo subiu para 44% e o bom e ótimo caiu para 27%. A desaprovação vem crescendo também entre eleitores do presidente. De forma tímida ainda, os protestos começam a ganhar as ruas.

Chegou a hora de o governo assumir de fato e na prática, não só no papel, o compromisso com uma sustentabilidade forte. Até agora sequer conseguiu demostrar que se compromete com uma sustentabilidade fraca. Precisa ter grandes e exequíveis programas nacionais em várias frentes. Não fará a transição energética se não estabelecer metas e prazos de redução de combustíveis fosseis. Lula III corre o risco de terminar o mandato de forma constrangedora acerca do seu compromisso com a transição ecológica.

 

•        Transformação econômica ecológica para conter a crise climática. Por José Guimarães

O relatório Unidos na Ciência, elaborado por cientistas pesquisadores do clima, recentemente divulgado pela ONU, traz um alerta assustador: o aquecimento global pode chegar a 3ºC, com consequências devastadoras para o planeta. Países continentais como o Brasil, com imensos biomas vitais para o planeta, correm risco de sofrer impactos de grandes proporções.

A secretária-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Celeste Saulo, disse que 2023, mais os primeiros oito meses de 2024, foram o período mais quente registrado no mundo e que estamos ainda muito longe de alcançarmos as metas globais sobe o clima.

Secas, incêndios e inundações têm ocorrido cada vez mais frequentes e mais intensas.  É o caso, por exemplo, do dilúvio no Rio Grande do Sul, na Europa Central, com a tempestade Boris, a Itália sob alerta máximo, evacuações em massa na Polônia, República Tcheca, Áustria e Romênia, seca na Amazônia, incêndios no Brasil e em Portugal, derretimento de geleiras e ondas de calor. São eventos severos provocados pelas mudanças climáticas, que requerem mobilização da sociedade, ações governamentais planejadas, urgentes e definitivas, de prevenção e assistência a populações atingidas.

No Brasil, os biomas podem entrar em colapso, por conta do avanço do desmatamento, das queimadas, e da crise climática causada pela ação humana. O Brasil terá a maior área terrestre exposta ao calor perigoso, de um aquecimento de 3ºC. Toda a região Norte, o Planalto Central, Mato Grosso e Goiás, além de Maranhão, Piauí e Ceará serão afetados.

Quanto ao governo, é importante lembrar que o compromisso do presidente Lula, do vice-presidente Geraldo Alkmin, (Ambos ex-constituintes) e dos movimentos sociais, com o meio ambiente, remonta à Assembleia Nacional Constituinte, em 1988, quando lutaram para fazer constar, na Carta Magna, o direito ao meio ambiente num capítulo exclusivo, a fim de que esse direito fosse garantido pelo Estado em todos os níveis da Federação.

O Brasil é pioneiro na inclusão de um capítulo sobre meio ambiente na sua constituição e dispõe de legislação e infraestrutura institucional incomum no mundo, para cuidar do meio ambiente.

Além do compromisso e da institucionalidade, o presidente Lula tem levado a crise ambiental global, a erradicação da pobreza e a paz entre as nações aos mais importantes fóruns internacionais.

Nos eventos da abertura dos trabalhos da Assembleia-Geral da ONU, diante de 193 representantes das nações-membro, e na Cúpula do Futuro, o presidente Lula apresentou a crise climática como emergência global e cobrou, mais uma vez, das nações-membro, o cumprimento das metas de redução das emissões assinadas no Acordo de Paris, em 2015, para manutenção do aquecimento global abaixo de 2ºC. Disse que as metas e o financiamento são insuficientes.

As causas da crise climática, apontadas pela comunidade científica, são por demais conhecidas. É preciso mudar os padrões de produção e consumo da sociedade, e incluir a sustentabilidade, definitivamente, na produção econômica.

Nesse sentido, o governo Lula trabalha na implementação do projeto do governo, de desenvolvimento sustentável com justiça social e ambiental, tendo como eixo principal o Plano de Transformação Ecológica do Brasil. Uma mudança profunda na produção econômica que envolve todos os ministérios do governo, a fim de transformar o Brasil em uma economia verde, reverter os impactos negativos da produção na biodiversidade e no clima.

O Brasil é uma das maiores potências em recursos naturais do mundo, com abundantes fontes de energia. Com 88% da matriz energética limpa, o Brasil está entre os países líderes da transição energética mundial, no 3º lugar entre as nações do G20.

A Política de Transição Energética do governo Lula, para descarbonização avança, mobilizando imensa cadeia produtiva, para aumentar a produção de energia limpa (biocombustíveis, solar, eólica, entre outras, de forma descentralizada), com políticas públicas e vultosos investimentos. Até 2028, o Programa de Aceleração do Crescimento vai investir mais de R$ 200 bilhões na transição energética. Instituições de pesquisa estimam que o Brasil deve investir R$ 2 trilhões na economia verde, nos próximos 10 anos, com geração de 3 milhões de empregos.

Apesar das heranças malditas do governo anterior - inimigo do meio ambiente - do negacionismo, do desmonte dos órgãos ambientais, do desmatamento recorde, dos incêndios criminosos, na Cúpula do Futuro, da Assembleia-Geral da ONU, e na COP-30, que será realizada em Belém-PA, em 2025, o presidente Lula teve a oportunidade de mostrar o esforço do governo para reconstrução do Brasil e conclamou a todos os governos das nações-membro a promoverem o desenvolvimento sustentável..

Entre outras medidas emergenciais, ações para socorrer e reconstruir o estado do Rio Grande do Sul, para enfrenta o desmatamento na Amazônia, (queda de 45,7%, entre agosto de 2023 e julho de 2024), foram tratadas de forma federativas para conter os incêndios criminosos em todos os biomas brasileiros.

O governo anunciou a liberação de R$ 514 milhões, por meio de edição de Medida Provisória, para combater incêndios florestais em todos os biomas do país, com autorização do STF para que os gastos emergenciais não incidam sobre as metas fiscais. Os recursos serão distribuídos a diversos ministérios, para aquisição de equipamentos, e financiamento de ações emergenciais para o combate aos incêndios.

Além do Ministério do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas e outros ministérios, estados e municípios serão apoiados com recursos, em parcerias, na distribuição de alimentos em comunidades como da Amazônia, afetadas pela seca e pelos incêndios.  A Polícia Federal e a Força Nacional também receberão recursos para o combate e investigação dos incêndios e outros crimes ambientais.

Além disso, o governo Lula conta com o Plano de Transformação Ecológica, a Política de Transição Energética, a criação da Autoridade Climática e de um Comitê Técnico-Científico, para apoiar e articular as ações do governo federal de combate às causas e efeitos impostos pelas mudanças climáticas.

Dada a dimensão dos problemas causados pelos fenômenos climáticos, os chefes dos três poderes da República firmaram, recentemente, o Pacto pela Transformação Ecológica. Toda a sociedade precisa ser mobilizada para um grande pacto, por meio de suas instituições e associações, para uma aliança solidária, a fim de enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas. O Brasil tem um projeto nacional de desenvolvimento sustentável com justiça social e ambiental, e o presidente Lula, para liderar a mudança.

 

Fonte: Jornal GGN

 

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