União Europeia,
tensão com Uruguai e Venezuela: os pontos que marcaram a cúpula do Mercosul
Durante
a 62ª Cúpula do Mercosul em Puerto Iguazú, Argentina, os presidentes dos países
membros — Brasil, Uruguai, Paraguai, Argentina — e a Bolívia, Estado associado,
abordaram as expectativas e necessidades para o futuro do bloco.
A
reunião teve a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como líder
temporário do bloco, posto que ele assumirá até o fim de 2023. Entre suas
prioridades no posto estão acelerar a adesão oficial da Bolívia ao bloco,
incluir os setores automotivo e açucareiro no livre comércio entre os países e
ampliar a adoção de uma moeda comum para transações comerciais entre os
vizinhos.
Durante
os discursos dos líderes, foram mencionadas questões de interesse comum, tais
como a expansão de acordos comerciais, o uso de uma moeda comum para
importações e exportações e a proteção ambiental nos territórios
sul-americanos.
Temas
mais desafiadores também receberam destaque, como o acordo comercial com a
União Europeia, a possível reinserção da Venezuela, suspensa do bloco em 2016,
e as queixas do Uruguai, que ameaçam a permanência do país no Mercosul.
A
seguir, listamos os detalhes desses desafios para o bloco sul-americano:
·
1. Acordo com a União Europeia
Em
seu discurso de abertura, o anfitrião Alberto Fernandéz fez críticas ao que
considera praticas protecionistas do acordo com a UE.
A
carta da União Europeia prevê sanções caso os países não cumpram as exigências
ambientais, que incluem a proibição de alimentos cultivados com agrotóxicos
amplamente utilizados no Brasil, mas banidos na Europa, e a entrada de madeira
não proveniente de cadeias sustentáveis.
“A
apresentação de novas demandas ambientais pela União Europeia nos apresenta uma
visão parcial de desenvolvimento sustentável. Uma visão excessivamente centrada
no meio ambiente, sem registro das três dimensões da sustentabilidade
(ambiental, econômica e social) e sua interação entre si”, disse o presidente
da Argentina.
Na
sequência, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu posição semelhante,
acrescentando detalhes sobre sua visão em relação ao acordo.
"O
Instrumento Adicional apresentado pela União Europeia em março deste ano é
inaceitável. Parceiros estratégicos não negociam com base em desconfiança e
ameaça de sanções. É imperativo que o Mercosul apresente uma resposta rápida e
contundente."
O
governo brasileiro também defende a manutenção do direito de priorizar produtos
nacionais nas compras governamentais, "um dos poucos instrumentos de
política industrial que nos restam", segundo Lula.
"Se
abrirmos mão de empresas brasileiras para comprar de empresas estrangeiras,
simplesmente vamos matar pequenas e médias empresas brasileiras, pequenos e
médios empreendedores, e reduzir empregos no Brasil", declarou Lula em
live no seu canal do Youtube algumas horas antes da cúpula.
O
presidente brasileiro mencionou brevemente a possibilidade de uma reunião entre
ministros dos países do bloco para resolver, em nível técnico, as questões que
ainda travam o acordo.
O
presidente espera que o assunto seja retomado no encontro da Celac (Comunidade
dos Estados da América Latina e do Caribe) com a União Europeia, em uma cúpula
que acontecerá em Bruxelas, capital da Bélgica, entre os dias 17 e 18 de julho.
·
2. Queixas do Uruguai
No
início da cúpula do Mercosul na última segunda-feira (3/7), o chanceler
uruguaio, Francisco Bustillo, surpreendeu ao afirmar que seu país pode
reconsiderar sua adesão ao bloco.
"Ou
para modificar o próprio tratado fundador, ou eventualmente considerar a
possibilidade de deixar o Mercosul como Estado fundador e tornar-se um Estado
associado", disse o chanceler após participar do primeiro dia do encontro
realizado em Puerto Iguazú.
No
Mercosul, os estados associados têm menos responsabilidades e mais liberdades
comerciais, mas ficam sem poder de voto e participação plena no mercado comum.
Na
terça-feira, sem mencionar a possibilidade descrita pelo chanceler, o
presidente uruguaio, Luis Alberto Lacalle Pou, defendeu a flexibilização do
bloco.
Ele
afirmou que sua prioridade é avançar junto com o Mercosul nos acordos
comerciais, mas, se não for possível, seu governo considera fazer acordos
bilaterais com países como a China.
O
governo uruguaio diz que não irá aceitar uma posição de imobilidade e criticou
a falta de avanço em tratados com outras regiões do mundo.
"O
Uruguai luta para conseguir mercados. A nossa balança comercial entre os países
sócios é deficitária", disse Lacalle Pou.
·
3. Volta da Venezuela ao bloco
O
presidente Lula já havia mencionado, no passado, a possibilidade de readmitir a
Venezuela ao bloco. O país foi suspenso do Mercosul em 2016. Na época, o bloco
justificou a decisão afirmando que a Venezuela não cumpria critérios
democráticos.
Lacalle
Pou, do Uruguai, foi o primeiro a tocar no assunto, se posicionando contra a
volta do país ao grupo.
“O
Mercosul tem que dar um sinal claro para que o povo venezuelano caminhe para
uma democracia plena que não tem hoje”.
“Todos
aqui sabem o que pensamos sobre o regime venezuelano. Você tem que tentar ser
objetivo. É claro que a Venezuela não conseguirá uma democracia sã se, quando
se vislumbra a possibilidade de eleições, uma candidata como María Corina
Machado, de enorme potencial, for desclassificada por motivos políticos e não
jurídicos.”
Segundo
a agência France Presse, María Corina Machado é o nome da oposição que aparece
mais bem colocada para disputar as eleições presidenciais do país.
Na
semana passada, a Controladoria Geral venezuelana anunciou que ela estará
impedida de ocupar cargos públicos por 15 anos por causa de
"irregularidades administrativas".
Machado
contestou a decisão.
“Eles
estão errados se pensam que neste momento, com manobras (...), o povo da
Venezuela vai parar ou abaixar a cabeça. Isso acabou. Aqui há uma única
entidade, uma única voz que empodera e é o povo da Venezuela”, disse.
Alberto
Fernandez, presidente da Argentina, e Lula, defenderam manter o diálogo aberto
com a Venezuela.
"Com
relação à questão da Venezuela, todos os problemas que a gente tiver de
democracia, a gente não se esconde deles, a gente enfrenta eles. Não conheço
pormenores do problema com a candidata (María Corina Machado) da Venezuela,
pretendo conhecer", disse Lula.
Fonte:
BBC News Brasil
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