segunda-feira, 31 de julho de 2023

Agronegócio foi o primeiro a aderir ao golpismo, diz PF

Criado por plantadores de soja, o Movimento Brasil Verde Amarelo (MBVA) apoiou agendas golpistas durante os quatro anos do governo de Jair Bolsonaro (PL). Seus líderes doaram mais de R$ 100 mil à campanha do ex-presidente. A informação está em relatório da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) encaminhado à CPI do 8 de Janeiro, ao qual o UOL teve acesso.

O MBVA figura entre os envolvidos com a pauta golpista desde bem antes do 8 de janeiro, data em que houve depredação das sedes dos três Poderes e virou alvo de investigação pela CPI no Congresso.

O movimento aparece no inquérito comandado por Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), sobre os atos antidemocráticos. Em decisão proferida pelo ministro em 4 de setembro de 2021, foi citado como participante de prováveis atos de ataque à democracia.

O documento também cita o atual deputado federal Zé Trovão (PL-SC) e um prefeito preso transportando R$ 505 mil que ajudariam a financiar os atos de 7 de setembro de 2021 —data em que o então presidente Bolsonaro chamou Moraes de “canalha”. A Justiça arquivou esse inquérito em julho deste ano.

As lideranças do MBVA articularam diversos atos públicos de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro e de defesa de pautas antidemocráticas, como a intervenção militar.

Trecho do relatório da Abin

O prefeito de Cerro Grande do Sul (RS), Gilmar João Alba (PL), foi preso no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, com R$ 505 mil escondidos na mala de mão.

Semanas depois, ele disse que andava com dinheiro vivo para aproveitar oportunidades de negócio, como comprar gado. Procurado pelo UOL na semana passada, ele não quis se pronunciar.

Relatório da Polícia Federal apontou que a quantia seria usada para financiar os atos de 7 de Setembro, conforme despacho de 4 de setembro de 2021 de Moraes.

No mesmo documento, o ministro determinou uma operação de busca e apreensão contra Antônio Galvan, coordenador do Movimento Brasil Verde Amarelo e presidente da Aprosoja.

Galvan não quis comentar o assunto com a reportagem, dizendo não ter conhecimento do relatório. Ele acrescentou que ninguém pode falar pelo MBVA porque é uma entidade com comando descentralizado.

Apontado como porta-voz do movimento, Jeferson da Rocha negou envolvimento do grupo com o 8 de janeiro.

O MBVA também controla o programa “Sucesso no Campo”, transmitido em TV aberta e usado para convocações a manifestações, segundo ressaltou trecho do relatório da Abin.

O programa teria sido utilizado para falar contra o resultado das eleições depois da vitória de Lula (PT).

O que a sociedade não aceita, e dentro dessa sociedade logicamente está o produtor rural, [é] o sistema das nossas eleições. Deixou uma dúvida clara em todo cidadão brasileiro.

Galvan durante entrevista ao programa “Sucesso no Campo” em dezembro de 2022

O documento da Abin cita os líderes do MBVA. O cruzamento com o arquivo do TSE revela doações superiores a R$ 100 mil à campanha de Bolsonaro.

Chamado de “general” pelos colegas, Galvan enviou R$ 50 mil para o ex-presidente. Ele, que era candidato ao Senado, investiu apenas R$ 14,5 mil na própria campanha.

Mencionado em um organograma do Movimento Brasil Verde Amarelo elaborado pela Abin, o empresário Lucas Luis Costa Beber doou R$ 22 mil a Bolsonaro.

O produtor rural Adriano Antonio Barzotto também aparece no relatório da Abin e repassou R$ 33 mil ao ex-presidente.

A Abin organizou um organograma e listou os principais líderes.

Antônio Galvan é o líder e chamado de “general”. Ele é investigado por participação na tentativa de golpe.

Em dezembro, deu entrevista no programa do Movimento Brasil Verde Amarelo contestando as urnas. Tentou se eleger senador por Mato Grosso e foi derrotado.

Apontado como porta-voz do MBVA, Jeferson da Rocha entrava no ar no programa “Sucesso no Campo” para convocar pessoas para bloquear estradas, informou o relatório.

Natural de Lages (SC), tentou se eleger deputado federal por Santa Catarina e não teve sucesso. Ele disse que jamais pregou pautas contra a democracia ou atentou contra os Poderes.

O texto da Abin indica que os protestos antidemocráticos ocorreram após o período de colheita da soja (entre janeiro e abril no Centro-Oeste), quando há maior disponibilidade de máquinas e pessoal.

>>> São citados os seguintes atos em que há envolvimento do movimento e de seus integrantes:

# Organizar ato na Agrobrasília em maio de 2019 defendendo pautas do bolsonarismo.

# Participar do Acampamento 300 pelo Brasil. Na ocasião, em maio de 2020, manifestantes “bombardearam” o STF com fogos de artifício e declararam: “Entenderam o recado”.

# Liderar manifestações do 7 de Setembro de 2021 em Brasília, quando confrontaram o STF e duvidaram do sistema eleitoral.

# Atuar nos bloqueios de estrada e nos atos contra o resultado da eleição presidencial.

# O delegado suplente da Aprosoja Mato Grosso Vilso Grabiel Brancalione foi preso por trocar tiros com policiais depois de furtar e incendiar pneus em Nova Mutum (MT).

Além do Movimento Brasil Verde Amarelo, o relatório da Abin constatou que transportadoras do agronegócio enviaram caminhões para engrossar o acampamento em Brasília.

Foram identificados 272 caminhões que estacionaram junto ao QG do Exército, em Brasília, a partir de 4 de novembro de 2022.

Quase todos eram oriundos de quatro estados: Mato Grosso, Goiás, Bahia e Paraná. Todos fazem parte de área de atuação do Movimento Brasil Verde Amarelo.

Cerca de metade dos caminhões, mais precisamente 132, está registrada em nome de pessoas jurídicas, atuantes sobretudo no setor do agronegócio, informou o relatório da Abin.

O Movimento Brasil Verde Amarelo não é majoritário no agronegócio brasileiro. Ele tentou se impor sobre a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) e frigoríficos, mas não conseguiu.

A CNA atua de maneira pragmática e aderiu ao atual ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, assim que ele atendeu suas demandas no Plano Safra deste ano.

O Movimento Brasil Verde Amarelo trabalha de forma ideológica e preferiu se aproximar de Bolsonaro. A Aprosoja Mato Grosso, estado de Antônio Galvan, é considerada a entidade mais radical.

Sem produtores rurais e sem fazendas, não há comida!! — Movimento Brasil Verde e Amarelo (@MBVAOFICIAL) July 15, 2022

O grupo Movimento Brasil Verde Amarelo surgiu a partir da insatisfação de lideranças do agronegócio com uma decisão do STF.

A ação tratava do julgamento sobre a cobrança do Funrural (Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural) em 30 de março de 2017.

Um protesto em Brasília em 4 de abril de 2018 contra a decisão sobre o Funrural foi o ato de origem do MBVA.

•        Caso Mauro Cid terá novos personagens

A análise feita pela PF a partir do celular e dos documentos apreendidos na casa do ex-faz-tudo de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, permite afirmar que já foram identificados novos personagens ligados ao ex-presidente e que aparecerão em breve nesta investigação.

São, que fique claro, aliados que integravam o governo passado e que tramavam a articulação de um golpe.

 

       CPI só ouvirá GDias se Anderson Torres depuser antes

 

Parlamentares governistas que integram a CPMI do 8 de Janeiro decidiram rifar o general Gonçalves Dias, o G. Dias, ex-ministro do GSI de Lula, em troca do depoimento de Anderson Torres.

A ideia de deputados e senadores da base do governo é concordar com o pedido de bolsonaristas para ouvir G. Dias, mas, em troca, pedir que a oposição aceite marcar a oitiva de Torres.

 “Vamos concordar com o depoimento do Saulo e do G. Dias. Em troca, a situação vai pedir o Anderson Torres”, explicou à coluna um deputado governista.

O Saulo em questão é Saulo Moura da Cunha, ex-diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Ele era o responsável pelo órgão no dia dos ataques do 8 de janeiro.

O depoimento do ex-diretor acontecerá na terça-feira (1°/8), dia em que a CPMI retoma os trabalhos após o recesso. Como noticiou a coluna, Saulo será a primeira testemunha ouvida pela comissão a pedido dos bolsonaristas.

 

       CPMI dos Atos Golpistas: Ministério da Justiça não compartilha vídeos da tentativa de golpe

 

O ministro da Justiça, Flávio Dino, negou os pedidos da CPMI dos Atos Golpistas para ter acesso às imagens das câmeras de segurança da pasta durante os ataques golpistas às sedes dos Três Poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro. A decisão, explicou, visa preservar as investigações em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF)

O ministério informou que a questão está relacionada a uma investigação criminal em curso, portanto, não pode ser compartilhada neste momento, como resposta à comissão.

Na última sessão da CPMI, antes do recesso, realizada em 11 de julho, os parlamentares aprovaram requerimentos apresentados por bolsonaristas que buscam levantar teorias conspiratórias contra o governo federal. Um desses requerimentos autorizava o acesso aos planos de voo do presidente Lula no final de semana dos atos golpistas. O outro pedia explicitamente o acesso às imagens das câmeras de segurança do Ministério da Justiça.

Com o retorno do Congresso Nacional após o recesso, a Comissão também retomará suas atividades. A próxima sessão está agendada para terça-feira, 1º de agosto, às 9h, e contará com o depoimento de Saulo Moura da Cunha, ex-diretor-adjunto da Agência Brasília de Inteligência.

O retorno do Congresso Nacional aos trabalhos após o recesso marcará também a retomada da Comissão. A próxima sessão está agendada para a próxima terça-feira 1º, às 9h, com o depoimento de Saulo Moura da Cunha, ex-diretor-adjunto da Agência Brasília de Inteligência.

 

Fonte: UOL/Metrópoles/Fórum

 

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