sexta-feira, 28 de julho de 2023

Líder do bloco governista reclama espaço no governo

Alçado ao cargo de líder do maior bloco da Câmara — o do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), que reúne União Brasil, PP, PSDB, Cidadania, PSB, Avante, Solidariedade, Patriota e PDT —, o deputado André Figueiredo (PDT-CE) ainda vê dificuldades para o governo consolidar sua base. Segundo o parlamentar, no momento, não há como garantir maioria folgada, mesmo com a reforma ministerial que se avizinha.

No momento em que PP e Republicanos, do Centrão, negociam o comando de ministérios, Figueiredo critica o Palácio do Planalto por colocar em segundo plano partidos aliados, como a sua sigla. Em fevereiro, ele assumiu interinamente a presidência do PDT após a licença de Carlos Lupi para assumir o Ministério da Previdência.

LEIA A ENTREVISTA:

•        O senhor lidera o maior bloco da Câmara, com 174 deputados. Como vê a reforma ministerial, que deve contemplar o PP e o Republicanos?

É imprescindível para a governabilidade. O país de hoje é muito diferente do primeiro mandato do Lula. Ele sempre foi muito responsável, sabe que é necessário muito diálogo, sem aderir a uma pauta conservadora. Ele sabe que precisa manter diálogo com esses partidos. É oportuno que tenham ministérios.

•        Com pastas para Republicanos e PP, o Congresso se verá representado na Esplanada?

Falando pelo bloco que lidero, acho extremamente salutar que Esporte e Desenvolvimento Social fiquem com esses partidos. André Fufuca e Silvio Costa Filho são respeitados e poderíamos, sim, dialogar com eles. Mas as pastas que serão deixadas com cada um dependem do Lula. Se ele vai redirecionar o Bolsa Família, se não vai, não sei. Mas seriam bons nomes e nós no Congresso adoraríamos dialogar com eles.

•        O seu antecessor na liderança do bloco, Felipe Carreras, disse haver uma dificuldade de interlocução com o governo. Esses ministérios acabariam, de uma vez, com esta questão?

Não posso dizer que há uma facilidade consolidada, até o momento, neste diálogo. Há um esforço maior do governo e, às vezes, a demora no diálogo complica votações. Basta ver o que ocorreu na Reforma Tributária, aprovada no limite do prazo. Esperamos, sim, que isto seja resolvido no segundo semestre. Mas, não posso dizer que isto será resolvido apenas com uma reforma ministerial. No PDT mesmo, existem muitas reclamações. Temos um ministério, mas acabamos tendo pouco poder de execução. Perdemos o DataPrev, por exemplo. Além disso, há mais esforços em dialogar com os partidos de centro do que com a base. Nós temos também as nossas insatisfações. O governo tem sido bastante pragmático na questão numérica. Somos 18 deputados com coerência com os nossos princípios. Ninguém vai nos impor posicionamentos na nossa bancada e temos, sim, insatisfações.

•        A despeito de uma ala do seu partido defender a independência, o senhor se compromete a trabalhar para garantir a governabilidade?

Claro. Temos o próprio Ciro Gomes se manifestando favoravelmente à governabilidade. Ele tem uma posição da qual discordo. Mas não abriremos mão dos nossos princípios. Esperamos ter uma pauta voltada para a recuperação das pensionistas neste segundo semestre, por exemplo. Essa é uma prioridade do ministro Carlos Lupi. Precisamos reduzir as filas da Previdência e queremos uma mitigação dos danos previdenciários em todos os setores.

•        PDT e PSB foram criticados por aderirem ao superbloco de Lira . Como avalia a convivência com legendas como o PP e o União ? O PDT está no lugar certo?

Não haveria ambiente melhor, eu digo com convicção. A decisão em aceitar participar do superbloco foi extremamente acertada, até para a governabilidade do presidente Lula. União e PP nos procuraram, já cedendo a presidência do bloco e dispostos a fazer um acordo por sucessão. O bloco não vincula as legendas em todas as votações. Eventualmente, podemos discordar. Aprovamos o novo arcabouço e a Reforma Tributária.

•        O senhor preside interinamente o PDT e é do Ceará, estado de Ciro Gomes. Ele se mostra contrário a uma aliança local com o PT. Qual é a sua opinião?

Na questão estadual, me licenciei do diretório para que o Cid Gomes assuma. O PDT quer, sim, a prefeitura de Fortaleza. Temos dez deputados estaduais, de um total de 13, com apoio ao governador Elmano de Freitas (PT). Então, somos independentes e liberamos a bancada. Mas as atitudes demonstradas pelo PT, parecem que não querem o PDT em sua base. Me mantenho em acordo com Ciro. Fortaleza precisa de atenção do governo do estado. O PT precisa olhar com mais atenção para isso, estivemos do mesmo lado deles na trincheira nos últimos anos. Precisam nos respeitar, já que no ano que vem teremos eleições. Essa discussão agora pertence ao Cid. Hoje, acho que se o PT não apoiar o José Sarto para a prefeitura de Fortaleza no ano que vem, não temos motivos para estarmos com eles hoje.

•        Como a Câmara e seu bloco se comportarão para chegar ao texto final do PL das Fake News?

Temos discutido a importância de aprovar este projeto. Nas palavras de Lira, precisaremos de um grande esforço para chegarmos ao consenso.

•        Será possível entregar qual percentual de votos?

Dependerá do momento. É difícil estimar num bloco tão heterogêneo. Eu espero que ao menos 50% nos acompanhe. Mas o PL só será pautado se tivermos votos suficientes.

<><> Lula pode tirar ministério de Alckmin

Apesar da resistência pública da cúpula do PSB à eventual redução do espaço da legenda no governo, um dos esboços da reforma ministerial submetido à análise do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contempla mudanças nas pastas comandadas pelo partido.

Num dos movimentos considerados mais sensíveis, Lula teria que afastar o vice-presidente Geraldo Alckmin do comando do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic). A se confirmar esse movimento, entretanto, o Mdic não entraria no lote de ofertas ao Centrão.

Para reduzir o desgaste com o vice e com a legenda, a alternativa sugerida a Lula é de que o ministro Márcio França, também do PSB, assumisse a cadeira de Alckmin, abrindo espaço para que o Ministério de Portos e Aeroportos fosse negociado com Republicanos ou Progressistas (PP).

Inicialmente, o time de articuladores de Lula cogitou o afastamento de Alckmin do Mdic para confiar a pasta ao Republicanos, contemplando um dos pedidos da legenda, que já esteve à frente do ministério.

O presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), foi titular do Mdic na gestão de Michel Temer, entre 2016 e 2018.

Outra opção encaminhada pelo Republicanos aos auxiliares de Lula para ingressar no governo foi a direção do Ministério do Esporte, pasta que o partido comandou na gestão Dilma Rousseff entre 2015 e começo de 2016, com o então deputado federal George Hilton (MG).

Esse pleito, entretanto, ensejou forte reação da ala feminina contra a diminuição das mulheres no primeiro escalão, já que a campeã olímpica Ana Moser está à frente do ministério.

Um auxiliar presidencial observou, em conversa reservada com o Valor, que diante da delicadeza da eventual requisição do Mdic ao vice-presidente, uma compensação seria manter a pasta na cota do PSB, de modo que nenhum dos quadros da legenda ficasse sem um posto de projeção no governo.

Se essa hipótese se confirmar, Lula daria missões especiais a Alckmin, a fim de empoderar ainda mais o vice-presidente.

Nesses últimos sete meses, em que acumulou a função com o Mdic, o vice viabilizou a retomada do diálogo de Lula com o setor produtivo, incluindo o agronegócio.

Entre outros feitos, deu fôlego à indústria automotiva, com a entrega do pacote encomendado por Lula.

Nos últimos dias, Alckmin tem cumprido uma intensa agenda de viagens, em visita às federações da indústria nos Estados. Na segunda-feira, tem agenda na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Em paralelo, se for necessário entregar Portos e Aeroportos ao Centrão, Márcio França permaneceria no primeiro escalão.

Lideranças do PSB têm lembrado o papel do ex-governador na campanha: além de aproximar Alckmin e Lula, renunciou à disputa ao governo paulista para apoiar a candidatura de Fernando Haddad (PT), num dos gestos mais relevantes da campanha.

Mesmo com a preocupação de não tirar protagonismo de Alckmin e de manter França em um ministério, uma liderança do PSB disse ao Valor, em anonimato, que qualquer mudança seria muito ruim para a legenda, sobretudo porque os ministros do partido estão bem avaliados.

“Ainda que não se tenha mais gratidão na política, a memória continua firme”, criticou esta liderança do PSB ao relembrar o papel de Alckmin e França na vitória de Lula.

Ele acrescentou que remanejar França seria prejudicá-lo politicamente, porque ele está desenvolvendo um projeto estratégico ligado ao Porto de Santos, município que é um de seus redutos eleitorais.

Até o momento, Lula não teve conversa definitiva sobre as mudanças no primeiro escalão com nenhum dos principais interlocutores, inclusive com Alckmin.

A pauta, entretanto, tem sido monitorada de perto pela cúpula do PSB. No fim de semana, Alckmin encontrou-se com o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, que tem feito as críticas mais incisivas à eventual intervenção nos espaços do PSB para abrir espaço à entrada do Centrão no governo.

 

       ‘Dança das cadeiras’ conflagra base de Lula

 

O ingresso de partidos do Centrão no primeiro escalão do governo Luiz Inácio Lula da Silva já começa a gerar atritos entre adversários regionais e tem o potencial de ampliar os conflitos internos na base. O Palácio do Planalto vai ter que administrar, por exemplo, o enfrentamento entre o PP e o ministro Wellington Dias (Desenvolvimento Social), que e ex-governador do Piauí. Já a entrada do Republicanos na Esplanada vai colocar em evidência o deputado Silvio Costa Filho, que há pouco estava em disputa com o PT de Pernambuco.

Essas disputas se somam às já conhecidas entre o senador Renan Calheiros (MDB-AL) e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), bem como do líder do União Brasil, deputado Elmar Nascimento (BA), e o ministro da Casa Civil, Rui Costa.

O PP é presidido pelo senador Ciro Nogueira, que é rival de Wellington Dias no Piauí. A legenda quer emplacar o deputado André Fufuca (PP-MA) na pasta que hoje é comandada pelo ex-governador petista. O dirigente partidário tem negado participação na articulação para a entrada de filiados do PP ao governo, mas tanto Fufuca, quanto a ex-deputada Margarete Coelho (PP-PI), cotada para presidir a Caixa Econômica Federal, são nomes próximos de Nogueira. Procurado, ele não retornou.

Nogueira era aliado de Dias até 2020, mas o presidente do PP decidiu embarcar na base do ex-presidente Jair Bolsonaro, de quem foi ministro da Casa Civil, e rompeu com o PT no Piauí. Em 2022, Nogueira patrocinou a candidatura de Silvio Mendes (União), que perdeu para Rafael Fonteles (PT) na disputa pelo governo estadual. Agora, a tendência é que o PT e PP também estejam em lados opostos na maioria das eleições municipais no estado.

Entenda: Corrida por vagas no STJ movimenta corredores do tribunal mesmo no recesso

Lula já disse publicamente que a pasta de Dias não seria trocada. No entanto, o PP não desistiu. Mesmo dentro do PT há quem reconheça que ele pode sair do cargo, mas cobram que o partido gerencie o Bolsa Família.

— Prefiro aguardar a decisão do presidente Lula. Ele é um líder experiente e sabe que tem meu apoio nas decisões que toma, pelo interesse maior do nosso país — disse Dias.

Já o deputado Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), cotado para comandar Esportes, Portos e Aeroportos ou Ciência e Tecnologia, passou parte do primeiro semestre deste ano em uma queda de braço com o senador Humberto Costa (PT-PE) pelo comando da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) no estado. Um acordo só saiu em maio, quando foi decidido que Pernambuco teria duas superintendências, indicadas pelos dois partidos.

Além disso, com a saída do PSB do governo daquele estado, o PT vislumbra ter candidatura própria em 2026, algo que não acontece desde 2006, quando o próprio Humberto Costa concorreu. Já o Republicanos, que avalia lançar Costa Filho ao Senado, está mais próximo do PSB.

O senador do PT admite que houve uma disputa com o Republicanos, mas nega qualquer conflito eleitoral. Da mesma forma, Silvio Costa Filho declarou que tem uma boa relação com o petista.

<><>Lula aumenta demandas no Congresso durante recesso

O governo enviou à Câmara nas últimas semanas projetos que pretendem ampliar a agenda prioritária do Palácio do Planalto dentro do Congresso Nacional.

O novo marco fiscal e a reforma tributária, consideradas balas de “bronze” e de “prata” pela equipe econômica para equilibrar as contas públicas, já passaram por votação na Câmara. O arcabouço fiscal também foi aprovado no Senado e voltará para nova análise dos deputados.

Já a reforma tributária e o projeto que altera as regras em casos de empate de julgamentos no Carf – também aprovado pelos deputados – passará por análise dos senadores.

>> A estes textos, se juntarão novas propostas protocoladas pelo Poder Executivo durante o recesso parlamentar e que pretendem:

# estabelecer causas de aumento de pena aplicáveis aos crimes contra o Estado Democrático de Direito;

# permitir a apreensão de bens, o bloqueio de contas bancárias e ativos financeiros de suspeitos de financiar atos antidemocráticos, em qualquer fase do processo, e até antes da apresentação de denúncia ou queixa;

# estabelecer estratégias de prevenção e enfrentamento de violência nas escolas;

regulamentar mercado de apostas esportivas.

Ao todo, o Palácio do Planalto já enviou ao Congresso 67 projetos desde o início do ano, entre medidas provisórias, projetos de lei, projetos de lei complementar e projetos de lei do Congresso Nacional.

Nesta quarta (26), o governo informou que também vai enviar ao Congresso um texto para mudar a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e o regime de recuperação fiscal, e impulsionar crédito aos estados.

Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, as matérias pretendem estimular os investimentos no país.

>> As propostas anunciadas pelo governo incluem:

# endurecimento da Lei de Reponsabilidade Fiscal (LRF), no que se refere ao controle de gastos dos estados e municípios;

# medidas para estimular Parcerias Público-Privadas (PPPs) e concessões.

Além disso, o Tesouro Nacional também quer ampliar o acesso de municípios menores a operações de crédito com aval da União (o que facilita as operações e pode resultar em juros mais baixos). Em contrapartida, buscará incentivar a melhoria das contas públicas.

Ainda está sendo proposta alteração na lei para permitir que bancos públicos possam garantir as prestações integrais dos entes federativos nas Parcerias Públicos Privadas (PPPs). Hoje, a regra autoriza os bancos a garantirem apenas a parte relativa à amortização do investimento.

 

       Cargo para Jean Wyllys sobe no telhado

 

O ex-deputado federal Jean Wyllys (PT) foi cotado para integrar a equipe de comunicação do governo Lula. Mas seu possível cargo entrou em “banho-maria”, segundo o UOL apurou, após uma discussão nas redes sociais entre ele e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB).

Wyllys foi encorajado a voltar ao Brasil pelo próprio presidente Lula, segundo apurou a reportagem com interlocutores do petista. Ele se autoexilou fora do país durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).

No dia 6 de junho, o ex-parlamentar se encontrou com Lula em Brasília. Foi quando teria sido convidado a trabalhar na área de comunicação da Presidência.

Seu nome foi uma sugestão da primeira-dama Janja da Silva, segundo apurou a reportagem.

Contudo, ele foi alvo de “fogo amigo” vindo de aliados e integrantes da equipe de Lula. Foi mencionado seu estilo “agressivo” nas redes e que poderia acabar usando nas ações da pasta.

Ele também teve certo apoio interno. Outra ala de governistas encorajaram a indicação, por verem Wyllys como um jornalista e com habilidades políticas.

O Planalto teria mantido a escolha até a discussão com Leite. Foi quando a avaliação sobre o tema teria mudado.

A pressão para o Planalto desistir da contratação aumentou. Desde então, o cargo para Wyllys está “em suspenso” e, por enquanto, com baixa probabilidade de acontecer.

A ideia é esperar o conflito com o governador sair dos holofotes para sair uma decisão definitiva.

Segundo apurou a reportagem, Wyllys tem evitado comentar o tema para não ter ruídos com o governo. Ele foi procurado pelo UOL, mas preferiu não se manifestar.

•        Bate-boca com preconceito

A discussão pública começou após o governo Lula anunciar o fim do programa federal de escolas cívico-militares, principal bandeira do governo de Jair Bolsonaro na educação.

Leite apoiou Bolsonaro nas eleições de 2018 e se declarou homossexual em 2021.

O governador usou suas redes sociais para anunciar que manteria as escolas cívico-militares na rede estadual gaúcha. Wyllys reagiu, e a discussão começou. Veja abaixo o diálogo.

Que governadores héteros de direita e extrema direita fizessem isso já era esperado. Mas de um gay…? Se bem que gays com homofobia internalizada em geral desenvolvem libido e fetiches em relação ao autoritarismo e aos uniformes; se for branco e rico então… Tá feio, ‘bee’ [gíria para homem homossexual].

Jean Willys, ex-deputado federal

Leite denunciou Wyllys no Ministério Público do estado por homofobia. A Justiça do Rio Grande do Sul determinou que Wyllys apague as ofensas ao governador.

Quem discorda da chegada de Wyllys vê possíveis problemas para o governo com um comportamento mais “agressivo” nas redes sociais. O exemplo que citam agora é justamente a discussão com Eduardo Leite.

Há também crítica por uma eventual atitude mais “combativa”, principalmente contra opositores políticos, enquanto Lula tem falado reiteradamente sobre reconstrução de pontes e diálogo com todos os lados.

Semanas antes da briga, Leite havia recebido Lula e Janja para um jantar no Rio Grande do Sul.

 

Fonte: O Globo/Valor Econômico/UOL

 

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