Bebê de pedra: entenda como fetos podem continuar no corpo humano por
anos
A imagem de um feto calcificado no corpo de uma
mulher idosa viralizou no Twitter nesta semana e deixou dúvidas entre os
internautas. O caso pode parecer bizarro, mas é bem semelhante à outros já
documentados, inclusive no Brasil.
Em 2014, Joaquina Costa Leite, idosa de 84 anos
moradora de Natividade, interior do Tocantins, descobriu que estava com um feto
de sete meses calcificado em seu corpo já havia mais de 40 anos.
Em reportagem ao programa “Domingo Espetacular”, da
TV Record, a mulher mostrou o ultrassom, que mostra com mais detalhes toda a
formação do filho que perdeu. Os especialistas chegaram a dizer que o caso é
intitulado como “bebê de pedra”.
Mariana Betioli, obstetra especialista em saúde
íntima e CEO da Inciclo, explicou à CNN que o ocorrido é possível e é chamado na medicina de
“litopédio”, quando o feto acaba se desenvolvendo fora do útero. Ele não tem
condições de se desenvolver no abdômen, então acaba morrendo com o passar dos
meses. Depois disso, se não retirado do corpo, os tecidos ressecam e acabam se
calcificando.
“Essa é um condição muito rara. Acontece quando é
uma gravidez ectópica, em que o feto morre e não é reabsorvido pelo organismo
da mãe e se calcifica. É como se se formasse uma concha de cálcio envolta do
feto, 60% dos casos acontece com mulheres acima dos 40 anos”, explica a
especialista.
O fato pode acontecer por negligência à retirada do
feto do organismo, assim que se tem ciência de que está morto. Os fatores podem
estar interligados com a falta de conhecimento e acesso à saúde por uma
população mais pobre. Mariana explica que a mulher pode nem sentir a
calcificação, dificultando ainda mais a identificação do feto morto ali:
“Normalmente a mulher não apresenta sintomas, por isso essa condição acaba
sendo diagnosticada por acaso somente anos depois da gravidez”.
Na época em que o feto morreu, Joaquina se
consultou com um curandeiro, já que sua cidade não possuía hospital. Ele
receitou uma bebida a base de ervas e raízes, o que fez com que a mulher
ficasse de cama por três meses. O feto, no entanto, permaneceu e ela nunca
consultou um ginecologista. A descoberta se deu após ela sentir fortes dores
abdominais, 40 anos depois.
A imagem que circula no Twitter se assemelha
bastante ao caso da chilena Estela Meléndez, de 92 anos que, em 2015, possuía
um feto na barriga há mais de 60 anos. A idosa também só foi descobrir o caso
muito tempo depois, quando foi ao hospital porque tinha machucado o cotovelo.
Durante exames, foi mostrada a calcificação.
Na época da morte do feto, Estela foi realizar uma
raspagem, mas mal sabia ela que o procedimento não teria dado certo. Ela
relatava dores abdominais ao longo dos anos. De acordo com a obstetriz, cada
caso pode ser diferente, mas no geral, o feto se torna perigoso pela
possibilidade de aderência à outras estruturas, por exemplo a bexiga.
“As complicações mais prováveis de acontecer no
caso de feto calcificado são infecção, dores fortes e danos à outras estruturas
em que o feto pode estar aderido. Isso pode levar a óbito”, afirma a
profissional
O caso mais recente é o documentado no “Journal of
Medical Case Reports”, de uma congolesa que morreu em março deste ano após
ficar com o feto por 50 anos. A mulher era uma refugiada que residia nos
Estados Unidos. Ela descobriu o litopédio após fortes cólicas estomacais e
indigestão. O feto acabou aderindo em seu intestino e, de acordo com a
publicação, interferiu na entrada de nutrientes vitais para a sobrevivência da
mulher.
Mariana Betioli ressalta que casos como estes são
possíveis, mas muito raros. “Existem menos de 400 casos registrados na história
da medicina. Hoje em dia, grande parte da população tem acesso a um pré-natal
de qualidade, o que praticamente zera a possibilidade de desenvolver um
litopédio. Sempre que acontece um aborto, é feito um ultrassom para garantir
que o corpo expeliu tudo”, finaliza.
Fonte: CNN Brasil
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