sexta-feira, 28 de julho de 2023

Em nova fase, CPI do 8 de janeiro vai mirar os financiadores dos atos antidemocráticos

A Comissão Parlamentar de Inquérito Mista (CPMI) dos atos golpistas entrará em uma nova fase após a volta do recesso, com a análise de documentos relacionados a quebra de sigilos de investigados e depoimentos do ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, e do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid.

A partir do dia 1º de agosto, quando vai retomar os trabalhos, o colegiado também focará na atuação dos suspeitos de financiar os ataques e em personagens-chave dos episódios ocorridos no dia 8 de janeiro, como o ex-ministro da Justiça e então secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres.

Embora tenha sido convocado, Torres ainda não foi chamado para depor à comissão. A expectativa é que ele seja ouvido logo na primeira semana da volta dos trabalhos do Congresso, a partir de 1º de agosto. Já o tenente-coronel afirmou que ficará em silêncio, não respondendo aos questionamentos feitos por deputados e senadores.

Vão chegar dados importantes para criar novas estratégias. Os relatórios de inteligência financeira serão fundamentais para o trabalho. Com os dados na mão, a gente reorienta os próximos depoimentos e acelera processos — afirmou a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) ao Globo.

A parlamentar se referia aos documentos produzidos pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que indicam movimentações consideradas atípicas de suspeitos de envolvimento nas investidas antidemocráticas.

A ideia é que, até o fim do recesso, os integrantes da CPI já tenham analisado documentos importantes. Os papéis trazem dados telemáticos, telefônicos e bancários de pessoas envolvidas em atos de cunho golpista. Os pedidos de informação foram aprovados no início de julho. Também foram solicitados dados de parentes dos alvos da CPI.

O colegiado já recebeu, por exemplo, relatórios sobre as atividades bancárias de Mauro Cid. Interlocutores que tiveram acesso ao documento identificaram a movimentação de grandes volumes de dinheiro. Os mesmos dados relativos a Silvinei foram requisitados.

Uma parte da base do governo deseja focar na análise dos dados sigilosos para SE preparar melhor. “Há uma necessidade de estudar os documentos sigilosos liberados para seguir com a investigação” — declarou o deputado Rafael Britto (MDB-AL).

Procuradas sobre as quebras de sigilo, a defesa de Cid não retornou. Já o advogado de Vasques, Eduardo Simão, diz que a ação da CPI é “uma cortina de fumaça para desviar o foco”.

A data do depoimento de Torres envolve uma queda de braço entre a relatora da CPI, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), e o presidente do colegiado, deputado Arthur Maia (União-BA). Ela gostaria de ter ouvido Torres antes do recesso, mas Maia atendeu a um pedido da oposição e do próprio ex-ministro, que alega depressão, e adiou a oitiva para o segundo semestre.

Maia também sinalizou que Saulo Cunha, que comandava a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o 8 de janeiro, será o primeiro a ser ouvido na comissão em agosto, quando o Congresso voltar do recesso. Eliziane Gama prevê que Torres seja o segundo.

O cronograma dos depoimentos ainda não foi fechado, mas pode ser finalizado na próxima semana. Saulo Cunha é nome de interesse da oposição, que tenta construir uma tese de que o governo Lula se omitiu durante os ataques. A maior parte dos depoimentos prestados antes do recesso parlamentar foram articulados pelo governo, que quer emparedar o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Outra quebra de sigilo que já chegou às mãos da CPMI foi o bancário de George Washington Oliveira, preso após uma tentativa com ataque a bomba nas imediações do aeroporto de Brasília em dezembro.

— O foco agora são os financiadores. Esperamos agora a quebra de sigilo não só desses personagens, mas das empresas que financiaram o golpe —afirmou o deputado Rubens Pereira Junior (PT-MA).

A CPI também pediu quebras dos sigilos bancário, telefônico, fiscal e telemático de Daniel Cid, irmão do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, além de informações sobre empresas estrangeiras que podem ter sido usadas por golpistas que atacaram os três Poderes.

 

       PGR diz que Bolsonaro fez PM fazer “corpo mole” em 8/1

 

A Procuradoria-Geral da República (PGR) passou a investigar a influência de Bolsonaro sobre a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF). A apuração ocorre no âmbito do inquérito policial 4.921, que busca identificar os autores intelectuais da invasão aos Três Poderes.

Embora o foco da investigação esteja em Bolsonaro, o Ministério Público Federal quer aprofundar se a conduta do ex-presidente colaborou para um suposto corpo mole da PMDF no 8 de Janeiro. A lupa está voltada, sobretudo, para a atuação do Departamento Operacional da Corporação.

Chamou a atenção do MPF o fato de a chefia da PM colocar policiais de sobreaviso no 8 de Janeiro, quando o correto, na visão de investigadores, seria colocá-los de prontidão ante as ameaças detectadas. “Até um policial botar todo o uniforme, todas as proteções, demora muito. Eles já tinham de estar vestidos e de prontidão”, disse uma fonte da PGR.

Integrantes do MPF disseram à coluna que o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, ficou “vendido na história”, mas suspeitam que Bolsonaro possa ter atuado para inflar um ânimo de boicote da PMDF no dia das invasões.

Coronel responsável pelo Departamento de Operações da PMDF, Jorge Eduardo Naime é a única autoridade ainda presa por suspeita de omissão nos atos antidemocráticos. No último dia 13, ele foi encontrado desacordado em sua cela.

 

       CPI do Golpe tem 3.500 documentos para analisar

 

A CPMI do 8 de janeiro já recebeu mais de 3.500 páginas em documentos considerados sigilosos ou reservados.

Os documentos respondem aos requerimentos aprovados pela Comissão, pedindo o compartilhamento de informações sobre a investigação dos atos antidemocráticos a órgãos públicos como o Ministério da Justiça, Receita Federal, o Tribunal de Justiça do DF, a Defensoria Pública e a Câmara dos Deputados, entre outros.

Além dos impressos, há também 39 vídeos do Ministério Público Militar e 35 horas de gravações em vídeo fornecidas pelo STF.

A PGR compartilhou as 1.399 denúncias contra participantes do 8 de janeiro. A Defensoria enviou 439 páginas de relatórios sobre situação dos presos.

A relatora dividiu o material em catálogos: financiadores, agentes políticos, ala militar, e agentes públicos em geral. A proposta é detalhar a participação de cada um dos atores desses segmentos no 8 de janeiro e nos acontecimentos antecedentes.

Para processar e analisar o material, a CPMI requisitou servidores da Controladoria-Geral da União, Polícia Federal, Consultoria do Senado e Tribunal de Contas da União.

Os funcionários já trabalharam em outras comissões parlamentares de inquérito e têm experiência no tratamento de dados sensíveis. Já foram cedidos dois delegados de Polícia Federal, um Auditor-Fiscal da Receita Federal, um servidor do Banco Central, dois Auditores Federais de Finanças e Controle da CGU.

A relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama, avalia que o volume de dados traz outra dimensão ao trabalho da comissão.

“O material é fundamental para a confrontação de informações com aquelas dadas por quem já foi alvo de oitiva e, principalmente, na orientação para buscarmos novos alvos”, afirma a relatora.

<><> CPMI dos atos golpistas terá “dias intensos”, prevê relatora

A relatora da CPMI do 8 de Janeiro, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), disse nesta semana que o colegiado terá “dias absolutamente intensos” a partir de agosto — a próxima reunião será já no primeiro dia do mês, às 9h. Segundo a parlamentar, documentos sigilosos encaminhados à comissão parlamentar mista de inquérito nas últimas semanas abrem novas frentes de investigação.

— No período de recesso, recebemos um volume muito grande de documentos sigilosos, que vão respaldar tanto as oitivas quanto a apresentação de requerimentos para novas quebras de sigilo. Nas próximas semanas, teremos reconvocações e acareações, de forma que possamos chegar aos autores intelectuais e aos financiados do 8 de Janeiro, um ato terrível contra a democracia brasileira — afirmou.

Eliziane Gama não antecipou quais testemunhas ou investigados devem ser reconvocados ou submetidos a acareação a partir de agosto. Desde o início dos trabalhos, a CPMI ouviu oito pessoas. Entre elas:

•        Mauro César Barbosa Cid, tenente-coronel do Exército e ex-ajudante-de-ordens do então presidente Jair Bolsonaro;

•        Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal;

•        George Washington de Oliveira Sousa, preso por tentativa de atentado próximo ao aeroporto de Brasília;

•        Jean Lawand Junior, coronel do Exército, pelas mensagens de conteúdo golpista que trocou com Mauro Cid; e

•        Jorge Eduardo Naime, coronel e ex-chefe do Departamento Operacional da Polícia Militar do Distrito Federal.

Para o senador Eduardo Girão (Novo-CE), os primeiros dois meses de trabalho da CPMI foram marcados pela tentativa de aliados do governo de “blindar os poderosos”. Em entrevista à Agência Senado, o parlamentar defendeu a convocação do general Marco Edson Gonçalves Dias. Conhecido como GDias, o militar comandava o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) em 8 de janeiro e foi gravado em vídeo ao lado de manifestantes dentro do Palácio do Planalto.

— Foram dois meses de trabalho e, infelizmente, só se olhou um lado e se blindou completamente o outro. Nesses 60 dias, só se buscou reforçar uma narrativa goela abaixo, com oitivas que nada têm a ver com o dia 8 de janeiro. A gente não está conseguindo investigar pelo sequestro da CPMI que foi feito pelo governo Lula. O interesse é apenas blindar os poderosos. Mas a população está acompanhando, e acredito que essas narrativas vão ser quebradas — disse Girão.

•        Novos requerimentos

A próxima reunião da CPMI do 8 de Janeiro está marcada para a terça-feira, 1º de agosto, às 9h. Senadores e deputados devem ouvir Saulo Moura da Cunha, que ocupava o cargo de diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no dia dos ataques às sedes dos Três Poderes.

A comissão parlamentar mista de inquérito tem 819 requerimentos pendentes de votação. A maior parte deles sugere novos depoimentos: são 504 pedidos de convocação e 31 convites. A oposição quer ouvir sete ministros do presidente Lula:

•        Flávio Dino, da Justiça e da Segurança Pública;

•        José Múcio Monteiro, da Defesa;

•        General Marcos Antonio Amaro dos Santos, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI);

•        Rui Costa, da Casa Civil;

•        Alexandre Padilha, da Secretaria de Relações Institucionais;

•        Paulo Pimenta, da Secretaria de Comunicação Social; e

•        Márcio Costa Macêdo, da Secretaria-Geral da Presidência da República.

Os governistas, por outro lado, querem a convocação do general Augusto Heleno, ministro do GSI durante a gestão do presidente Jair Bolsonaro. Um pedido apresentado durante o recesso sugere a convocação da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. De acordo com o requerimento, após a quebra do sigilo telemático do tenente-coronel Mauro Cid foram encontrados comprovantes de depósitos em dinheiro em uma conta bancária dela.

Os parlamentares apresentaram 158 requerimentos para a quebra de sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático. Uma parte dos pedidos se refere a empresas, sindicatos e pessoas físicas suspeitas de participação ou financiamento dos atos golpistas.

Outro lote de requerimentos busca alcançar figuras públicas. Há pedidos para a transferência de dados sigilosos do ex-presidente Jair Bolsonaro, do empresário Luciano Hang, do ex-deputado federal Daniel Silveira (RJ) e da mulher do tenente-coronel Mauro Cid, Gabriela Santiago Ribeiro Cid. Também há pedidos para a transferência de sigilos do ministro da Justiça, Flávio Dino, e do general Marco Edson Gonçalves Dias.

 

       STF vai assumir investigação sobre ex-chefinho da PRF

 

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, requereu do procurador-geral da República Augusto Aras parecer sobre um pedido de parlamentares aliados do governo Lula para turbinar, com documentos e informações da CPMI do 8 de janeiro, o inquérito sobre atos antidemocráticos após as eleições 2022, com bloqueios de rodovias promovidos por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro e manifestações de golpe de Estado.

Érika Hilton e Pastor Henrique, ambos do PSOL, querem deslocar investigação sobre a conduta do ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques – antes, durante e depois das eleições em 2022 -, para o gabinete e crivo de Alexandre. A Polícia Federal no Distrito Federal, fora do âmbito do STF, já investiga o ex-chefe da PRF por suspeita de prevaricação, violência política e omissão.

O chefe do Ministério Público Federal terá 15 dias para se manifestar. Os deputados também pedem que seja juntado à investigação em trâmite da Corte o depoimento de Silvinei, assim como os documentos por ele apresentados à CPMI.

O requerimento foi encaminhado ao STF pelos deputados no bojo do inquérito que investiga a responsabilidade de autoridades ante os atos golpistas de 8 de janeiro. Essa investigação foi aberta como um desdobramento da apuração sobre os atos antidemocráticos registrados após o pleito do ano passado – quando adeptos de Bolsonaro travaram rodovias com caminhões e carros.

Os parlamentares ainda pedem a análise de ‘eventuais quebras de sigilo telefônico e telemático e bancário, com o objetivo de investigar os ataques contra o processo eleitoral’. O procurador também deve dar parecer sobre essa sugestão.

Ao acionar o STF, Érika e Pastor Henrique argumentaram que Silvinei foi à CPI no último dia 20 de junho, onde depôs como testemunha. Segundo os parlamentares, ele ‘prestou diversas declarações falsas’ sobre a atuação da PRF no segundo turno das eleições – o que é alvo de investigação.

Os deputados contrapõem as declarações de Silvinei à CPI com relatório divulgado pelo Ministério da Justiça em abril. O documento mostrou intensa atuação de agentes da PRF, entre os dias 28 e 30 de outubro, na região Nordeste, onde se concentra o maior reduto eleitoral do presidente Lula.

Para os deputados, Silvinei ‘usou o seu posto e a instituição para favorecer o ex-presidente Jair Bolsonaro’.

O ex-chefe da PRF já foi alvo de ação de improbidade com base nas mesmas alegações. Os parlamentares do PSOL dizem que a conduta de Silvinei ‘se deu no contexto de fomento aos crimes contra o Estado Democrático de Direito, participando diretamente ou se utilizando do cargo público para incitar a prática dos atos golpistas’.

“Sendo assim, é de rigor que os fatos aqui narrados sejam incluídos no âmbito da investigação existente neste Supremo Tribunal Federal, considerando a prática de crimes tão graves contra a ordem democrática”, pleiteiam Érika e Pastor Henrique.

 

       Ao tentar fugir para a Argentina, bolsonarista envolvido em ataque à PF é preso

 

Tentando escapar para a Argentina, o influenciador bolsonarista Allan Frutuozo da Silva foi preso pela Polícia Federal nesta quarta-feira (26), no Aeroporto do Galeão, Rio de Janeiro.

Allan é investigado por participar, divulgar e incentivar o ataque ao principal prédio da PF naquele dia, quando golpistas tentaram libertar um indígena detido.

O episódio antecedeu os ataques aos edifícios dos Três Poderes no fatídico 8 de janeiro, quando uma desastrada e violenta tentativa de destituição do presidente eleito foi colocada adiante.

Antes, em 12 de dezembro de 2022, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tentaram invadir a sede da Polícia Federal, na Asa Norte, em Brasília. Durante os atos de vandalismo, ninguém foi preso.

Mesmo detido no Galeão, o influenciador manteve seu perfil atualizado sobre o que estava ocorrendo. “O ministro Alexandre de Moraes decidirá dentre os próximos minutos se dará prosseguimento na minha prisão política”, escreveu.

“Eu não tenho foro privilegiado, mas estou sendo preso pelo STF por ser antidemocrático”, declarou o influenciador alvo de um mandado de prisão por ameaça e associação criminosa.

•        Ataque violento

Os integrantes do grupo que atacou a sede da PF em dezembro de 2022 agiram à noite e danificaram dezenas de carros que estavam estacionados nos arredores do prédio da corporação.Três, inclusive, chegaram a ser incendiados.

Fardados com camisas da seleção brasileira, atearam fogo em um ônibus com o motorista dentro, que conseguiu escapar antes do veículo ser consumido pelo fogo. Outros quatro ônibus também foram incendiados. 

 

Fonte: O Globo/Metrópoles/CNN Brasil/Jornal GGN/Agencia Estado

 

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