Moro trai Bolsonaro
de novo e troco vem aí
A
decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na última sexta-feira, de tornar
Jair Bolsonaro inelegível por oito anos expôs a falta de unidade em torno dele,
embora o ex-presidente seja tratado como a principal liderança de direita no
país. Aliados próximos não escondem o incômodo em relação ao silêncio de
figuras como o senador Sergio Moro (União-PR) e o governador do Rio, Cláudio
Castro (PL), diante da condenação do ex-titular do Palácio do Planalto por
abuso de poder político e mau uso dos meios de comunicação.
Advogado
de Bolsonaro e ex-secretário de Comunicação Social da Presidência, Fabio
Wanjgarten tentou minimizar a falta de manifestações públicas de apoio de
alguns aliados emblemáticos, sobretudo nas redes sociais.
—
Os apoios privados são mais sinceros que públicos — afirmou Wajngarten.
Correligionário
do ex-presidente, Cláudio Castro fez seu último aceno na véspera da condenação.
Na ocasião, ele disse que a inelegibilidade de Bolsonaro aumentaria a sua
relevância política. A tentativa de demonstrar apoio, no entanto, foi
considerada “um equívoco” e “infeliz” pelo ex-titular do Planalto.
—
(Bolsonaro será) talvez até mais importante do que se estivesse elegível. Não
tenho dúvidas de que um candidato à Presidência que teve 49% (dos votos) tem
uma infinidade de seguidores, que terão um sentimento de injustiça. Com
certeza, (será) ainda melhor do que elegível, não tenho dúvida — disse Castro,
no 22º Fórum Empresarial Lide.
Após
a decisão do TSE, o governador não se pronunciou mais sobre o assunto.
O
senador Romário (RJ), reeleito pelo mesmo partido do ex-presidente, também
ignorou a condenação. Eles estão afastados desde que Bolsonaro anunciou apoio à
candidatura de Daniel Silveira (PTB) ao Senado nas últimas eleições.
Governadores
que estiveram no palanque com o ex-chefe do Planalto em 2022, como Ratinho
Júnior (PSD), do Paraná, e Ronaldo Caiado (União Brasil), de Goiás, também não
lhe prestaram solidariedade de forma pública. Ambos têm mantido distância
segura de Bolsonaro e investido em um bom relacionamento com o governo do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como mostrou o GLOBO. A ideia é estreitar
o diálogo para conquistar mais recursos para seus estados e cacifar seus
aliados nos próximos pleitos.
No
Congresso, a cobrança mais enfática é por um posicionamento público do ex-juiz
e senador Sergio Moro. Ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, ele saiu brigado do
governo, mas se reconciliou durante a campanha do ano passado numa empreitada
contra Lula.
O
ex-juiz da Lava-Jato chegou a ser cobrado pelo próprio filho do ex-presidente,
Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ). No domingo, o vereador carioca ironizou
Moro ao responder a uma publicação de uma influenciadora que questionava o
silêncio do senador.
“Alguma
manifestação do Moro em relação à inelegibilidade de Bolsonaro?”, escreveu a
bolsonarista. “Terceira via tá chamuscando a beirola”, respondeu o vereador.
Procurado pelo GLOBO, Moro afirmou que não tem se pronunciado sobre a
condenação do ex-presidente.
Já
a sua mulher, a deputada federal Rosangela Moro (União-SP), assinou um projeto
que visa a anistiar condenados em crimes eleitorais desde 2016. Ela, contudo,
também não fez menção pública a Bolsonaro.
• Aliados, porém calados
#
Sergio Moro: Foi o silêncio mais sentido pelo entorno de Jair Bolsonaro. O
ex-ministro deixou o governo como desafeto do ex-presidente, mas eles se
reconciliaram nas eleições para tentar derrotar Lula.
#
Ratinho Júnior: Governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD) também tem adotado
postura de diálogo com o governo petista. Esteve no palanque com Bolsonaro, mas
não demonstrou apoio ao aliado no pós-julgamento.
#
Cláudio Castro: O governador do Rio, do PL, se calou após o resultado. Na
véspera, disse que uma condenação deixaria o ex-presidente mais relevante.
Bolsonaro considerou a declaração do correligionário “infeliz”.
#
Ronaldo Caiado: Aliado de Bolsonaro em 2022, o governador de Goiás (União) é
uma das principais lideranças ruralistas. De olho em recursos da União para o
seu estado, tem sido discreto no apoio ao ex-titular do Planalto.
#
Romário: Afastado desde que o ex-presidente declarou voto em um adversário nas
eleições passadas, o senador reeleito pelo PL não manifestou opinião sobre os
oito anos de inelegibilidade impostos a Bolsonaro.
#
Eli Borges: Líder da bancada evangélica, é um dos seis deputados do núcleo
bolsonarista do PL (composto por 66 parlamentares dos 99 eleitos) que não
externaram apoio ao ex-presidente após a condenação pelo TSE.
A
postura de aliados menos radicais tem motivado críticas de “bolsonaristas raiz”
no Parlamento:
—
Uma das coisas que nós conservadores achamos muito importante é lealdade,
existem muitas pessoas que usaram o nome de Bolsonaro para se eleger e num
momento que ele foi considerado inelegível, viraram as costas. Isso incomoda a
todos nós — disse a deputada federal Silvia Waiãpi (PL-AP).
Do
núcleo bolsonarista do PL na Câmara — do qual fazem parte 66 deputados entre os
99 da legenda — seis não comentaram a condenação de Bolsonaro, segundo levantamento
do GLOBO. Um deles é Eli Borges (TO), líder da bancada evangélica, um dos
segmentos mais fiéis ao ex-presidente. Ferrenho defensor de pautas
conservadoras, como a criminalização das drogas e do aborto, ele se absteve da
defesa de Bolsonaro.
O
deputado Bibo Nunes (PL-RS), autor de um projeto de lei que prevê a redução do
tempo de inelegibilidade de oito para dois anos, afirma que “quem fica em
silêncio, não tem direito a nada”.
—
Eles se escondem — concluiu o parlamentar. — Essa decisão (do TSE) foi muito
errada. A atitude (de Bolsonaro) era cabível de punição, mas jamais esta pena.
Nos
bastidores, a avaliação é que a decisão da Corte Eleitoral já era esperada, o
que enfraqueceu a repercussão da derrota. Na próxima quinta-feira, a bancada do
PL se reunirá em Brasília para definirá os próximos passos da legenda.
Aliados
do ex-presidente ficaram inconformados também com setores da direita que são
contrários a Bolsonaro. Líderes do Movimento Brasil Livre, por exemplo, foram
às redes celebrar a decisão do TSE, mesma Corte que havia sido criticada pelo
MBL dias antes por cassar o mandato do deputado Deltan Dallagnol (Podemos-PR).
Coordenadora do movimento, Amanda Vettorazzo afirmou que a inelegibilidade de
Bolsonaro representa “um pequeno passo para a direita”.
A
deputada Júlia Zanatta (PL-SC), do núcleo duro bolsonarista, reagiu no
Instagram: “Olha a falsa direita aí”.
—
Eles não são de direita. Essas pessoas, quando Bolsonaro estava no poder,
tentavam destruir sua imagem, faziam palanque com sindicalista para derrubá-lo.
Agora dizem que a direita foi libertada com a condenação do ex-presidente. Quem
for por esse caminho, vai cair do cavalo mais uma vez — disse Zanatta.
Já
o deputado Kim Kataguiri (União-SP) avaliou que haverá uma reconstrução da
direita a partir da saída de Bolsonaro do jogo eleitoral:
—
Politicamente, abre o campo para o Tarcísio (de Freitas, governador de São
Paulo), que é o candidato mais forte.
Tarcísio
e Romeu Zema (Novo), governador de Minas, são apontados como dois possíveis
herdeiros do espólio político de Bolsonaro, impedido de disputar um cargo
público até 2030. Ontem, em entrevista ao programa Pânico, da Jovem Pan, o
ex-presidente respondeu que ainda não tinha morrido quando questionado quem
seria seu sucessor como representante da direita para as eleições de 2026:
—
Eu tô na UTI, não morri ainda. Não é justo alguém querer dividir o meu espólio.
Quando
questionado sobre qual seria sua “bala de prata”, que declarou ter para a
próxima eleição presidencial, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo na
semana passada, Bolsonaro disse não ver hoje alguém com conhecimento suficiente
do país para substituí-lo.
Moro não defende Bolsonaro e este não o
defende
O
senador Sergio Moro (União-PR) foi alvo de críticas do vereador Carlos
Bolsonaro (Republicanos-RJ) por silenciar sobre a inelegibilidade do
ex-presidente decretada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na sexta-feira.
O
ex-juiz não esconde de aliados seu incômodo com a ação que o PL, partido de
Bolsonaro, apresentou para cassar seu mandato no Senado, após ele ter abraçado
a candidatura do ex-presidente no segundo turno de 2022.
Moro
chegou a ir a debates na televisão com Bolsonaro e posar ao lado do então chefe
do Executivo, que tentou a reeleição, mas perdeu para Lula.
Moro
e seu entorno carregam uma decepção sobre promessas não cumpridas de pessoas
ligadas a Bolsonaro. Havia o comprometimento de conversarem com o presidente do
PL, Valdemar Costa Neto, para convencê-lo a desistir da ação contra o senador,
sob o argumento de que a direita não deve se dividir. O PL, no entanto, segue
processando Moro e pede sua cassação em uma ação que foi juntada a outra apresentada
pelo PT e que corre no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR).
A
leitura é que, diante desse cenário, Moro não deve sair em defesa de Bolsonaro
para gerar mais desgastes com a corte eleitoral, até porque seu caso também
será apreciado no futuro pelo TSE.
Ø
Tony
Garcia: "começou a queda de Sergio Moro e seus cúmplices. Agora é pra
valer"
O
empresário Tony Garcia sugeriu nesta terça-feira (4) que o senador Sergio Moro
(União Brasil-PR) terá mais prejuízos na carreira política ao lembrar que o
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli iniciou investigação sobre as denúncias contra o
parlamentar enquanto juiz da Operação Lava Jato.
"Começou
a queda de @SF_Moro e seus cúmplices. Agora é pra valer, é na instância máxima
que serão investigados sobre as denúncias que venho fazendo. A República de
Curitiba está com os dias contatos. É só questão de tempo para eu PROVAR seus
crimes. TIC TAC", escreveu Garcia no Twitter.
O
empresário denunciou algumas ilegalidades de Moro. Durante entrevista ao 247 de 2 de junho, Garcia
disse ter sido instruído na Lava Jato a dar uma entrevista à Veja e fornecer à revista informações que pudessem comprometer a
carreira do ex-ministro José Dirceu (PT). O delator afirmou que, a mando de
Sergio Moro, gravou de forma ilegal o ex-governador do Paraná Beto
Richa (PSDB) em 2018. Garcia afirmou que Moro transformou "Curitiba na Guantánamo brasileira".
Moro
foi juiz da Lava Jato em primeira instância jurídica. A partir de 2019
começaram a ser publicadas na imprensa nacional algumas conversas dele com
procuradores do Ministério Público Federal no Paraná (MPF-PR). De acordo com os
diálogos, o ex-magistrado interferia na elaboração de denúncias, que devem ser
feitas apenas por promotores, para, em seguida, o juiz decidir se condena ou
não a pessoa investigada.
Em
2021, ministros do STF declararam a suspeição de Moro nos processos contra o atual presidente
da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No ano seguinte, o ex-juiz foi
derrotado no Tribunal Regional Eleitoral (TRE-SP) por fraude em domicílio eleitoral, e decidiu ser candidato no
estado do Paraná.
Fonte:
O Globo/Brasil 247
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