Evangélicos aliados
de Bolsonaro citam chapa Tarcísio-Michelle para 2026
Com
o predileto Jair Bolsonaro (PL) julgado inelegível até 2030 pelo TSE (Tribunal
Superior Eleitoral), aliados evangélicos começam a esboçar alternativas para a
próxima eleição presidencial.
Sem
mover grandes esforços para defender Bolsonaro às vésperas do julgamento, a
maioria vota por manter relações amistosas com o presidente Lula (PT), possível
candidato à reeleição. Mas, na "hora do vamos ver", dizem, não vai
rolar repetir a parceria vista entre várias igrejas e os primeiros governos do
PT.
Uma
dobradinha citada por muitos inclui o governador Tarcísio de Freitas
(Republicanos-SP) na cabeça de chapa e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro,
hoje presidente do PL Mulher, como sua vice.
Mas
outros arranjos não são descartados.
Os
dois últimos pleitos, de apoio maciço a Bolsonaro, dificultaram a marcha à ré
eleitoral vista no passado, segundo cinco líderes evangélicos com quem a
reportagem conversou, todos de expressão nacional.
Se
antes pastores mostravam maior desembaraço fisiológico para aderir ao
governante da vez, estivesse ele à direita (melhor ainda) ou à esquerda (dá
para superar), é mais complicado agora justificar um endosso a nomes
progressistas.
Redes
sociais aumentaram a cobrança por coerência ideológica —não dá mais para passar
uma campanha repetindo que tal adversário é inimigo da fé evangélica e achar
que seus seguidores não vão lembrar se você aparecer abraçado com ele na
eleição seguinte.
E,
se tem uma coisa que a internet sabe, é fazer barulho.
A
escalada das guerras culturais, que polarizam a sociedade em torno de temas
como aborto e direitos LGBTQIA+, é outro empecilho. Esses rachas morais se
fortaleceram nos ciclos eleitorais recentes e contagiaram os templos
evangélicos, de maioria conservadora.
Há
bônus e ônus, na ótica dessa cúpula cristã que respaldou o bolsonarismo, em ter
o ex-presidente fora do páreo.
Por
um lado, Bolsonaro tem altos índices de rejeição, e tudo pode piorar se ele for
preso por conta de uma das inúmeras ações que ele enfrenta na Justiça.
Oficialmente,
eles adotam o discurso do mártir —a ideia de que a inelegibilidade e uma
eventual prisão o tornariam um injustiçado aos olhos do eleitorado, sentimento
dominante entre entusiastas do PT após Lula ser encarcerado.
Nos
bastidores, contudo, gostam do quadro sem o ex-presidente na linha de frente,
ativo apenas como um poderoso cabo eleitoral.
Mas
os mesmos líderes apontam, com certo saudosismo, que Bolsonaro foi o primeiro a
realmente lhes abrir a porta do Palácio do Planalto. Outros presidentes até
fizeram alguns acenos ao segmento, os petistas Lula e Dilma Rousseff inclusos,
mas nada comparável ao político do PL.
Ele
é o que o sociólogo da religião Paul Freston definiu como "um candidato
híbrido ideal, talvez o primeiro presidente pancristão, reunindo as vantagens
eleitorais da identidade evangélica, mas evitando as desvantagens".
Um
autodeclarado católico, que se casou com a fiel Michelle sob a bênção do pastor
Silas Malafaia, topou ser batizado em 2016 no simbólico rio Jordão e se
aproximou de quase todos os pastores de quilate no meio.
Trata-se
de uma trupe no controle de igrejas que somam alguns milhões de fiéis. Embora
não representem o grosso dos evangélicos brasileiros, espalhado por uma rede
pulverizada de pequenos templos, servem de bússola para líderes menores. Foi
assim que o bolsonarismo se alastrou pelas igrejas.
Bolsonaro
pode não ser evangélico, mas incorporou como ninguém os anseios dessas
lideranças religiosas.
"Sua
capacidade de mobilização ainda não sofreu nenhum baque", aposta o
apóstolo César Augusto, à frente da Igreja Fonte da Vida e frequentador de
comitivas pastorais no Planalto bolsonarista. "Ele vai ser o grande
divisor de águas. Quem ele apoiar, boa parcela do povo evangélico vai
seguir."
Michelle,
"por ser evangélica e se posicionar", tem simpatia no segmento,
"e isso é incontestável", diz. Até dá para ladear com alguém de fora
dessa fé, como o católico Tarcísio. Mas Augusto admite não saber se o
governador "vai ter disposição de abraçar os princípios evangélicos como
Bolsonaro fez".
Mas
a esposa de Jair, uma neófita em eleições, não teria estofo político para
almejar o maior cargo majoritário do país já de primeira, afirmam outros
pastores. Daí a opção de colocá-la na vice.
Outra
hipótese é Michelle concorrer ao Senado, e o posto de número dois ir para outra
mulher, a ex-ministra e hoje senadora Tereza Cristina (PP-MS).
De
quebra, seria uma forma de garantir o tempo de TV do PP na propaganda
eleitoral, diz o deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), ex-presidente da
bancada evangélica.
"E
talvez seja interessante incentivar no primeiro turno a candidatura do
[governador mineiro Romeu] Zema, Ronaldo Caiado [governador de Goiás] e mais
alguém do MDB."
A
estratégia por trás de múltiplas candidaturas à direita: unir forças para bater
em Lula e aumentar sua rejeição, em especial no Nordeste.
O
entrave para Tarcísio, segundo Sóstenes, seria se ele decidir não trocar o
Republicanos pelo PL. "Ele terá que ser [o número de chapa] 22."
O
bispo Robson Rodovalho, da igreja Sara Nossa Terra, concorda que Tarcísio
"tem sintonia conosco". O pastor Silas Malafaia também cita o
governador que serviu na Esplanada bolsonarista, assim como Michelle.
"Claro que pode ser, por que não ela?"
A
unção do ex-presidente, que em entrevista à Folha de S.Paulo disse ter uma
"bala de prata" para 2026, será determinante, na opinião desses
pastores. De resto, sobra alguma resignação de que o próximo presidenciável
defendido por eles nas igrejas não empolgará tanto quanto o "mito"
Bolsonaro.
Só
Michelle seria capaz dessa façanha, mas sua viabilidade eleitoral para o posto
máximo da República é desacreditada.
Nas
palavras de um pastor, que prefere manter esta fala anônima: vai ser como nos
tempos tucanos de Geraldo Alckmin, atual vice de Lula, mas com histórico de
rusgas com o PT. Evangélicos até simpatizavam sua fervorosa catolicidade. Mas
ele era no máximo aliado, não um amigo que os colocava em primeiro plano. A
vida vai seguir, mas Bolsonaro vai deixar saudades.
• Michelle Bolsonaro volta a atacar de
“pastora”
A
ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro marcou presença em um culto evangélico pela
primeira vez desde outubro, após a derrota eleitoral de seu marido, o
ex-presidente Jair Messias Bolsonaro. A visita aconteceu na igreja ADTAG
durante o evento conhecido como Sexta-Feira ADTAG, voltado para o público
jovem.
No
mesmo dia, o culto contou com a ministração da renomada cantora e pastora
Eyshila Santos. Em um momento especial, Michelle Bolsonaro foi convidada a
compartilhar uma palavra com os jovens presentes.
O
Instagram da igreja destacou a presença de Michelle com a publicação de um
vídeo do seu momento de ministração. A legenda da publicação enfatizava a honra
de receber a ex-primeira-dama e o compromisso com a intercessão e oração:
“Recebemos em nosso culto @sextaferaadtag a visita da nossa amada irmã
@michellebolsonaro, e declaramos ao Senhor a honra e a Glória que só Ele
merece. Estamos juntos, em intercessão e oração por nossa nação, sua vida e de
sua família @michellebolsonaro.”
Analistas não enxergam sucessor de
Bolsonaro
A
antropóloga Isabela Kalil e o cientista político Claudio Couto avaliaram hoje
em participação no UOL Debate que ainda não há substituto claro para o
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está inelegível até 2030. Bolsonaro
ainda é figura importante, mas inelegibilidade o fragiliza, concordaram os
especialistas. “Bolsonaro se enfraquece do ponto de vista institucional, mas
não quer dizer que enfraquece do ponto de vista social”, disse Kalil.
Para
ela, não há atualmente alguém que possa substituir o ex-presidente. “Não vejo
nenhuma figura que consegue fazer o que ele fez, de unir campos antagônicos”,
disse. “Não consigo ver no curto prazo uma figura que consiga aglutinar”.
Couto
avalia que Romeu Zema, Tarcísio de Freitas e membros da família Bolsonaro são
possíveis candidatos. Para ele, se o campo conservador decidir por um candidato
mais moderado, os governadores de Minas Gerais e São Paulo podem ser opções.
Caso a preferência seja pela continuidade do bolsonarismo, ele aposta em um dos
filhos do ex-presidente, como Eduardo. “Sempre foi visto como o verdadeiro
herdeiro, provável sucessor, que se assemelha em agressividade, contundência,
radicalismo ideológico”, afirmou. Para Kalil, nome da extema-direita será o de
uma mulher. “O futuro da extrema-direita é a candidatura de uma mulher, deve
ter uma roupagem diferente”, disse. “A Michelle [Bolsonaro] tem chance de ser
uma candidata forte. Couto avaliou que o presidente Lula acertou ao não
comemorar inelegibilidade de adversário. “Não ajudou a levantar a bola. Ao não
dar muita importância, ele vai bem”, declarou.
Despertar de seguidores assusta Bolsonaro
Dê-se
Bolsonaro por feliz se não for preso, tantos são os processos que responde no
Supremo Tribunal Federal, Tribunal Superior Eleitoral e, em breve, no Tribunal
de Contas da União. E dê-se por feliz porque seu atual partido, o PL, ainda
está disposto a pagar os advogados que o defendem. Será assim por muito tempo?
A
ver. A ver também se ficará em apenas oito anos o período de inelegibilidade de
Bolsonaro. Nesta segunda-feira (3), ele disse que “não morreu ainda”, que está
na UTI e que “não é justo alguém querer dividir” seu espólio eleitoral
acumulado em mais de 30 anos de vida pública. A divisão é inevitável.
O
Tribunal de Contas da União deverá abrir um novo processo contra Bolsonaro a
partir da decisão do Tribunal Superior Eleitoral que considerou ter havido
abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação na reunião com
embaixadores, ocorrida em 2022, em que Bolsonaro desacreditou as urnas
eletrônicas.
A
Lei da Ficha Limpa determina que gestores públicos que tiverem as contas
reprovadas por irregularidade que configure ato doloso de improbidade ficam os
oito anos seguintes da decisão impedidos de disputar eleições. Se condenado
nesse caso, Bolsonaro ganhará mais alguns aninhos de inelegibilidade. E assim
por diante.
Outro
dia, Bolsonaro afirmou que será salvo porque guarda uma “bala de prata”.
Perguntado, ontem, sobre qual seria a bala, respondeu que não vê ninguém com
conhecimento suficiente do país para substitui-lo como candidato a presidente em
2026. É o que ele pensa, mas não o que pensam os outros.
Citou
os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) e Romeu Zema (Novo-MG)
como nomes que carecem de condições para substituí-lo. Sobre Zema, comentou:
“Eu
não vou dar conselho para o Zema, mas quem queimar largada agora vai levar tiro
de bazuca no lombo. Então vai com calma. Tem tempo ainda. 2026 passa por 2024”.
Como
não deixa passar uma oportunidade de mentir, Bolsonaro garantiu que não foi seu
pessoal “que fez o quebra-quebra” em 8 de janeiro último na Praça dos Três
Poderes, em Brasília, em mais uma tentativa fracassada de golpe. Foi pessoal de
quem? Seus devotos fiéis sugerem que foram “infiltrados de esquerda”.
Ou
seja: embora ninguém de esquerda tenha sido preso em meio à baderna: embora
ninguém de esquerda tenha sido preso quando o Exército permitiu a prisão dos
baderneiros acampados à porta do seu QG; e embora à esquerda não interessasse
derrubar um governo de esquerda, o golpe de 8 de janeiro foi de esquerda.
Dá
para acreditar? Bolsonaro não espera que a maioria dos brasileiros acredite.
Basta que seus seguidores, em número decrescente, acreditem. E que, pelo menos,
continuem acreditando até que aconteça um milagre capaz de reabilitá-lo a tempo
de voltar a disputar eleições – em 2026, 2030 ou 2034, quem sabe?
O
fim de linha chegou para Bolsonaro, só ele finge que não vê. Político sem
perspectiva real de poder, pouco ou nada vale. E, de novo: agradeça a Deus e
dê-se por feliz se não acabar preso.
Fonte:
FolhaPress/UOL/Metrópoles/O Fuxico
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