Monsanto e Bayer:
saiba por que transnacionais não querem que você conheça o substituto da soja
Novo
contexto geopolítico leva Rússia a acelerar substituição de importação de bens
essenciais, inclusive a soja. A Sputnik Brasil conversou com cientista russa
para saber qual a leguminosa desenvolvida por Moscou para alimentar o seu
rebanho e se livrar dos transgênicos.
O
novo contexto geopolítico acelerou a determinação da Rússia de diminuir a dependência
internacional do país e substituir importações, principalmente em
setores-chave, como a agricultura. A Universidade Agrária Timiryazev quer ir à
raiz do problema e garantir que as sementes plantadas na Rússia sejam
produzidas nacionalmente.
A
diretriz estatal de Segurança Alimentar prevê que até 2030 o país deve utilizar
cerca de 75% de sementes produzidas e selecionadas nacionalmente. Em 2022, este
nível atingiu 60%, graças ao alto índice de uso de sementes nacionais no
cultivo do trigo. Já culturas como beterraba e batata contaram com somente 3% e
9% de sementes nacionais, respectivamente, informou o jornal russo Kommersant.
Uma
das principais armas que a Rússia dispõe para garantir a substituição de
importações e sua segurança alimentar é a Universidade Agrária Estatal Russa, a
Academia Agrícola de Moscou. K. A. Timiryazev.
A
universidade está na linha de frente do esforço para substituir as importações
russas de soja pelo cultivo nacional do tremoço branco, uma leguminosa de alto
valor proteico.
"A
segurança proteica estatal está no topo da agenda. Uma das maneiras de lidar
com ela é desenvolvendo uma alternativa russa à soja", disse a chefe do
departamento de produção agrícola e ecossistemas de pastagens, Aleksandra
Shitikova, à Sputnik Brasil.
Segundo
ela, o tremoço branco desenvolvido na Rússia "tem quantidades
significativas de aminoácidos, óleos e proteínas, alta produtividade e nenhuma
alteração genética". Além de ter custos de produção inferiores, o tremoço
branco é duas vezes mais produtivo do que a soja.
A
Universidade Agrária Timiryazev é pioneira no desenvolvimento do tremoço branco
em escala industrial – dos 14 tipos da leguminosa registrados na Rússia, oito
foram desenvolvidos pela universidade.
"Países
da Europa, América e Oceania pesquisam o uso do tremoço branco para produtos
alimentícios, como massas e biscoitos. Mas nós queremos garantir o papel dessa
cultura como substituto da soja em ração animal", disse Shitikova.
A
produção de proteína animal cresce de forma acelerada na Rússia, com destaque
para as carnes de aves e suína. O aumento do rebanho local, porém, aumenta a
demanda por soja, um dos principais componentes da ração animal.
"Já
experienciamos um aumento na demanda pelo tremoço branco, mas muitos produtores
ainda não sabem dos benefícios dessa cultura como ração animal para produção de
carnes", notou Shitikova. "A adição de tremoço branco na ração de
aves aumenta a produção de carnes e de ovos. Isto já está comprovado."
A
universidade prevê "um aumento de três vezes da área plantada de tremoço
branco na Rússia nos próximos três anos".
Um
dos principais obstáculos para o cultivo do tremoço branco são os lobbies de
grandes empresas transnacionais como BASF, Bayern e Monsanto, interessadas que
suas sementes de soja continuem alimentando o agronegócio mundial.
"Os
produtores internacionais de sementes de soja têm interesse de manter os campos
russos todos ocupados com os seus próprios produtos", disse Shitikova.
"Já os tipos de tremoço branco registrados na Rússia são todos nacionais."
O
emprenho russo pode soar alarmes em produtores brasileiros, que venderam US$
239 milhões (cerca de R$ 1,15 bilhão) do produto para o mercado russo no
primeiro trimestre de 2023, de acordo com dados da Secretaria de Comércio
Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e
Serviços (MDIC).
A
pesquisadora Shitikova, no entanto, acredita que o desenvolvimento do tremoço
branco também possa vir a beneficiar o Brasil no longo prazo.
"O
tremoço branco pode ser cultivado em países tropicais [...] por isso o Brasil
também pode ter interesse nessa cultura. Talvez o tremoço branco esteja na
pauta de exportações brasileiras no futuro", concluiu Shitikova.
Nesta
terça-feira (4), a Universidade Agrária Estatal Russa, a Academia Agrícola de Moscou.
K. A. Timiryazev, recebeu jornalistas para apresentar suas principais pesquisas
e avanços acadêmicos. Dentre eles, o cultivo de bens alimentícios sob condições
climáticas adversas para garantir a segurança alimentar do Ártico e a
disseminação do tremoço branco como alternativa viável à soja.
Fonte:
Sputnik Brasil
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