Dólar americano vai
ser substituído pelo yuan chinês?
À
medida que a desdolarização está ganhando força, os investidores globais estão
olhando cada vez mais para o yuan chinês como um futuro substituto potencial
para o dólar.
A
tendência de desdolarização veio para ficar, admitem especialistas
norte-americanos, argumentando, porém, que ainda não há substituto para o
dólar, meio de pagamento livremente conversível e moeda de reserva dominante.
"Há
uma razão muito boa para o dólar ser amplamente usado no comércio, e é porque
temos mercados de capitais abertos, líquidos e profundos, Estado de direito e
instrumentos financeiros longos e profundos", insistiu a secretária do
Tesouro dos EUA, Janet Yellen, na semana passada.
No
entanto, o presidente do VTB Bank da Rússia, Andrei Kostin, não compartilha da
posição de Yellen, projetando em maio que "há todos os motivos para
esperar que o yuan chinês substitua o dólar americano como a principal reserva
mundial e moeda de liquidação já na próxima década". Então, quem está
certo?
Quando
o yuan ingressou na cesta de moedas de elite?
No
dia 1º de outubro de 2016, o yuan chinês, ou renminbi (RMB), passou a fazer
parte da cesta de moedas de reserva do Fundo Monetário Internacional (FMI) que
compõem o Direito Especial de Saque (SDR, na sigla em inglês). A cesta
anteriormente incluía o dólar americano, o euro, o iene japonês e a libra
esterlina.
O
SDR, um ativo de reserva internacional, foi criado pelo FMI em 1969 para
complementar as reservas oficiais de seus países membros. De acordo com o FMI,
a inclusão do yuan no SDR se tornou um "marco importante" na
integração da economia chinesa ao sistema financeiro global.
·
Por
que o yuan ainda não é uma importante moeda de reserva?
Os
céticos dizem que o RMB ainda não é tão amplamente utilizado quanto o dólar
americano. O dólar continua sendo a moeda dominante do mundo, estando presente
em 88% de todas as negociações em abril de 2022, enquanto o RMB foi usado em
apenas 7% de todas as transações. A participação do yuan nas reservas cambiais
mundiais era inferior a 3% no final de 2022, enquanto o dólar e o euro
ostentavam 58% e 20%, respectivamente.
Da
mesma forma, a participação global da moeda chinesa foi de 2,5% em maio, de
acordo com a Sociedade para as Telecomunicações Financeiras Interbancárias
Mundiais (SWIFT, na sigla em inglês), que está muito longe dos 43% do dólar ou
32% do euro.
Especialistas
ocidentais argumentam que os controles de capital da China e a transparência
limitada dos mercados financeiros ainda impedem que o yuan se torne uma
importante moeda global. Em resposta, seus pares chineses observam que a
principal característica do yuan é "servir à economia real", acrescentando
que controles negligentes podem levar a uma demanda especulativa pela moeda
chinesa.
·
O
yuan vai se tornar uma moeda global?
O
yuan chinês demonstrou recentemente o maior aumento na participação de mercado,
saltando de 4% em 2019 para 7% em 2022 e tornando-se a quinta moeda mais
negociada, subindo do 35º lugar em 2001. Além disso, o RMB acabou sendo a
quinta moeda mais negociada e mais usada para pagamentos globais em abril de
2023, embora tenha ficado em 30º lugar em 2011.
A
China está pressionando pela internacionalização do RMB. Em 2015, criou o
Sistema de Pagamentos Interbancários Transfronteiriços (CIPS, na sigla em
inglês) para facilitar os pagamentos transfronteiriços em yuans. Em 2018, a
República Popular iniciou os primeiros contratos futuros de petróleo bruto
denominados em yuan do mundo para permitir que os exportadores vendessem
petróleo bruto em renminbi.
Anteriormente,
o Banco Popular da China (PBOC, na sigla em inglês) também iniciou pesquisas
sobre uma moeda digital em 2014 e iniciou testes em quatro cidades da China em
abril de 2020, ou seja, Shenzhen, Suzhou, Chengdu e Xiongan. Além disso, os
pagamentos Alipay e Tencent da China foram amplamente adotados no exterior.
A
Iniciativa do Cinturão e Rota de Pequim – um conjunto de projetos ousados de
infraestrutura e rotas comerciais – também facilitou a internacionalização do
yuan. A China também está desempenhando o papel de credor, com o governo e as
empresas oferecendo grandes empréstimos aos países em desenvolvimento.
·
Dólar
americano vai ser substituído pelo yuan?
No
ano passado, a participação das reservas cambiais denominadas em dólares
americanos caiu para 59,8%, de 72% em 1999, de acordo com o FMI.
Embora
o yuan ainda esteja atrás do dólar e do euro, a mudança geopolítica em
andamento pode elevá-lo a um status de moeda importante, de acordo com
observadores internacionais. Após o início da operação militar especial da
Rússia na Ucrânia, o Ocidente coletivo restringiu o acesso da Rússia ao sistema
global de pagamentos baseado em dólares, o SWIFT, e congelou os ativos de seu
banco central. Essa situação demonstrou que o dólar poderia se transformar
rapidamente em um mecanismo punitivo, gerando preocupações entre os players
globais.
Ao
mesmo tempo, os aumentos agressivos das taxas de juros do Federal Reserve (Fed)
dos EUA tornaram o dólar especialmente caro para os tomadores de empréstimos
estrangeiros e para aqueles que pagaram por alimentos, matérias-primas e outras
commodities em dólares americanos. Antes da ação do Fed, a diretora-geral do FMI,
Kristalina Georgieva, alertou em janeiro de 2022 que o aumento das taxas de
juros dos EUA poderia sair pela culatra na economia global e especialmente em
países com níveis mais altos de dívida denominada em dólares.
À
medida que a tendência de desdolarização ganhou força, os países em
desenvolvimento começaram a mudar cada vez mais para o yuan ou moedas locais,
vendo-os como um antídoto para o uso de Washington do sistema financeiro global
e de sistemas alternativos ou domésticos para pagamentos internacionais como
uma arma.
·
Quais
países usam yuan?
Tendo
sido banida do sistema financeiro centrado no dólar, a Rússia mudou para
pagamentos em yuan por seu petróleo e gás natural. No início deste ano, o RMB
substituiu o dólar como a moeda mais negociada na Rússia. Da mesma forma, o
Ministério das Finanças da Rússia dobrou a quantidade de RMB e ouro no fundo do
tesouro nacional.
Algumas
empresas russas, como a Rosneft, emitiram títulos nominais em renminbi. Em
março de 2023, a oferta totalizou ¥ 15 bilhões (cerca de R$ 10 bilhões), com
cupom de 3,5% ao ano. De acordo com a Rosneft, "em termos de rublos, esta
colocação é a maior das emissões corporativas atualmente em circulação".
Por
sua vez, a Argentina mudou para o RMB para enfrentar sua crise cambial: como o
país enfrenta uma grave escassez de dólares americanos, permitiu que os bancos
comerciais abrissem contas de depósito na moeda chinesa, segundo comunicado do
Banco Central da Argentina na quinta-feira (29). A nação latino-americana
também deve emitir títulos na moeda chinesa. Ainda em abril, a Argentina
começou a pagar as importações da China em RMB.
No
início deste ano, o Brasil e a China fecharam um acordo para usar ambas as
moedas no comércio bilateral, que vale cerca de US$ 163 bilhões (cerca de R$
783,6 bilhões) por ano. Foi noticiado em abril que Bangladesh pagaria à Rússia
em RMB pela construção de uma usina nuclear. Em março, a gigante nacional de
energia da China CNOOC e a francesa TotalEnergies concluíram seu primeiro
acordo de gás natural liquefeito (GNL) liquidado em yuan por meio da Bolsa de
Petróleo e Gás Natural de Xangai.
Da
mesma forma, em fevereiro, descobriu-se que Bagdá planejava pagar as
importações do setor privado da China em RMB para diminuir a pressão sobre o
dinar iraquiano. No mesmo mês, foi noticiado que a TESCO, uma cadeia de
supermercados britânica, decidiu pagar seus fornecedores chineses em yuan.
·
O
que está por trás da depreciação do yuan?
A
mídia chinesa admitiu recentemente que, embora o yuan tenha feito progressos
marcantes na internacionalização, seu valor caiu em relação ao dólar americano.
Na semana passada, a moeda chinesa atingiu uma mínima de sete meses em relação
ao dólar, levantando dúvidas sobre se as autoridades monetárias do país iriam
interferir.
No
início desta semana, o PBOC emitiu fortes orientações em relação às taxas de
câmbio da moeda chinesa, enquanto Pan Gongsheng, chefe da Administração Estatal
de Câmbio, foi nomeado chefe do Banco Central no final da semana passada.
Embora
a desvalorização do renminbi seja citada como um grande desafio para o
recém-nomeado chefe do PBOC, observadores chineses acreditam que o yuan não tem
base para uma queda de longo prazo. De acordo com o Global Times, à medida que
a tendência de desdolarização ganha força, a proporção de empresas que usam a
liquidação do renminbi no comércio aumentou. Com mais liquidez sendo injetada
no sistema financeiro mundial para atender à crescente demanda pelo yuan, as
flutuações da moeda pareciam previsíveis, observou a mídia, esperando que a
participação global do renminbi crescesse ainda mais.
"É
normal ver flutuações de curto prazo do yuan, mas a especulação e a arbitragem
devem ser evitadas, o que ajudará a manter a estabilidade do yuan e promover
ainda mais a internacionalização do yuan", enfatizou o meio de
comunicação.
Economia chinesa é essencial ao mundo e
não será afetada pelas restrições dos EUA, diz analista
O
analista político da Croácia Mladen Plese afirmou à agência Xinhua que, graças
ao grande mercado e economia forte, a China fornece mais oportunidades do que
riscos ao mundo.
Segundo
o analista, a China tem uma "economia excepcional", além de ser o
maior exportador do mundo e o segundo maior importador, o que faz com que
Pequim tenha uma influência significativa na economia mundial, bem como nos
processos comerciais.
O
analista também destaca que o gigante asiático proporciona oportunidades
abundantes às empresas em torno do mundo.
"A
China não pode ser um risco, mas apenas uma oportunidade para as empresas
estrangeiras e países", observou.
Além
disso, Plese enfatizou que medidas como a imposição de tarifas e restrições aos
produtos chineses, impostas pelos EUA, não afetarão o desenvolvimento da
economia chinesa.
"A
pressão das empresas americanas evidencia a importância da economia
chinesa", destacou o analista, ressaltando que as principais empresas
americanas estão pressionando o governo dos EUA para estabilizar as relações
com Pequim, para que possam realizar seus negócios normalmente.
De
acordo com os dados publicados pela agência governamental americana U.S. Bureau
of Economic Analysis em fevereiro, o comércio de mercadorias entre EUA e China
atingiu um novo recorde de US$ 690,6 bilhões (R$ 3,3 trilhões) em 2022.
Ø
Irã
recebe adesão plena à Organização para Cooperação de Xangai
Irã
aderiu oficialmente à Organização para Cooperação de Xangai (OCX), informou o
secretariado da OCX nesta terça-feira (4).
A
adesão à Organização para Cooperação de Xangai proporcionará ao Irã condições
para fortalecer a segurança, garantir a soberania e o desenvolvimento econômico
sustentável, afirmou hoje (4) o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, durante a
vigésima terceira cúpula da OCX.
Além
disso, Raisi declarou que o dólar, como instrumento da hegemonia ocidental,
deve ser removido da prática mundial para criar uma nova ordem econômica.
"A
hegemonia do mundo ocidental promove a hegemonia do dólar. Para criar uma nova
ordem econômica, é necessário remover esse instrumento de hegemonia na prática
mundial, usar moedas nacionais nas transações entre países", disse líder
iraniano.
O
Irã tornou-se o nono membro da associação intergovernamental. Em setembro de
2022, a cúpula da OCX em Samarcanda assinou um memorando sobre os compromissos
do Irã para se juntar à organização.
Assim,
segundo Vitaly Danilov, diretor do Centro de Análise Aplicada das
Transformações Internacionais da RUDN, candidato em Ciências Históricas e
professor associado do Departamento de Teoria e História das Relações
Internacionais, a admissão do Irã à OCX é uma decisão muito importante,
especialmente para a Rússia.
Em
primeiro lugar, como parte da implementação do projeto Norte-Sul (corredor de
transporte internacional entre a Rússia, a Índia, o Irã e os países vizinhos).
Como observa o especialista, as realidades geopolíticas realmente reformataram
as rotas logísticas.
O
corredor oeste está agora fechado. Ao mesmo tempo, o corredor leste e a direção
Azov-mar Negro estão sobrecarregados, eles não conseguem lidar com o fluxo de
carga existente.
"Neste
contexto, o corredor de transporte internacional Norte-Sul será muito
promissor. Uma vez que sua infraestrutura esteja instalada, isso será
simplesmente uma explosão econômica no comércio entre nossos países. Este ano o
tráfego no corredor já duplicou", explica ele.
Ele
também notou que a data de adesão do Irã à OCX não é acidental. 4 de julho é o
Dia da Independência dos EUA. O confronto entre o Irã e os EUA já dura há mais
de 40 anos, e aqui o Irã quis enfatizar mais uma vez que as relações com os EUA
não são as relações com o mundo inteiro.
"Teerã
dessa forma como que 'espicaçou' Washington. Nova Deli, Moscou e Pequim, em
geral, não se opuseram a esse tópico, porque estamos todos juntos construindo
uma casa multipolar. A admissão do Irã à nossa família comum, à família da OCX,
é uma grande conquista e contribuição para a nossa causa comum", enfatizou
especialista.
A
Organização para Cooperação de Xangai (OCX) foi fundada em 2001 e inclui Índia,
Cazaquistão, China, Quirguistão, Rússia, Tajiquistão, Paquistão e Uzbequistão.
Fonte:
Sputnik Brasil
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