O que pretende a
CPMI do 8 de janeiro?
A
crise aberta pela aparição do ex-ministro do GSI, o general Gonçalves Dias, em
vídeos vazados do 8 de Janeiro determinou a relocalização do governo e o giro
do cenário político para a CPMI no congresso. Delineia-se por parte do petismo
e de partidos como o PSOL a continuidade da aliança com alas do reacionário
“centrão” com o objetivo de supostamente conter o bolsonarismo, o que tem como
pressuposto a manutenção dos ataques econômicos dos últimos anos contra a
classe trabalhadora e o povo pobre. Para enfrentar realmente o bolsonarismo e
sua obra, é necessário uma saída na luta de classes.
Nas
últimas semanas, acompanhamos a queda de Gonçalves Dias, general próximo de
Lula e até então seu ministro no GSI, que foi flagrado em novos vídeos
revelados do interior do Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro, durante os
atos golpistas em Brasília. Diante da iminência da proposta de uma Comissão
Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre a data, apoiada pelo bolsonarismo
na Câmara, o governo Lula-Alckmin se relocalizou para comandar a narrativa e
evitar maior desgaste político. Agora, a tendência é que se reaglutine na CPMI
um arco amplo de forças, colocando lado a lado novamente desde alas do centrão
golpista e ex-bolsonarista até as forças governistas como PT e PSOL.
Enquanto
se conforma esse quadro da CPMI e Ricardo Cappelli assume provisoriamente o
GSI, órgão tradicionalmente controlado pelos militares, o Alto Comando do
Exército cotou o general Marcos Antônio Amaro dos Santos, nome que dirigia a
pasta no governo Dilma, como sucessor. Lula já estaria em diálogo com Amaro e
sua nomeação indicaria um novo movimento de pactuação de Lula com a cúpula
militar.
É
diante deste novo espetáculo parlamentar do vale-tudo da política burguesa - e
em debate particularmente com o PSOL e suas correntes que se reivindicam
socialistas e revolucionárias, como o MES - que mais uma vez levantamos a
questão: como enfrentar a extrema-direita bolsonarista e sua obra? Enquanto o
PT e o governo Lula estão seguindo o mesmo caminho de conciliação de classes e
aliança com a grande patronal e seus políticos, a mesma política que fortaleceu
a direita, abriu caminho ao golpe de 2016, ao bolsonarismo e permitiu
aprofundar os ataques aos direitos da classe trabalhadora, é preciso uma
esquerda que resgate o legado do marxismo revolucionário e levante uma saída de
independência de classe, contra todas as variantes burguesas e que confie na
força organizada das trabalhadoras e trabalhadores, capaz de alavancar as
demandas da população negra, indígena, das mulheres, LGBTQIA+ e da população
mais pobre da cidade e do campo.
Pelo
contrário, mesmo nos aproximando de uma data histórica de luta como o 1º de
Maio, mesmo com fortes exemplos internacionais como as batalhas do movimento
operário e da juventude na França contra a reforma da previdência e o
autoritarismo e repressão de Macron - sobre onde MES e Resistência inclusive
buscam se posicionar - mesmo com a classe trabalhadora brasileira amargando a
precarização e a terceirização, com diversos casos de trabalho escravo vindo à
tona, a mira política do PSOL, agora parte integrante do novo governo, com um
ministério e a vice-liderança na Câmara, se nega, junto ao PT e suas
burocracias sindicais e estudantis, a travar qualquer luta séria contra a
herança econômica do golpe e do bolsonarismo, bem como contra a Reforma do
Ensino Médio - o primeiro dos ataques e que hoje ressona com o ódio da
extrema-direita contra a educação, refletido nos ataques e ameaças às escolas.
Por
sua parte, o MES/PSOL levanta que a luta “contra a desbolsonarização (sic)
passa por seguir acompanhando os desdobramentos dos atos golpistas de 8 de
janeiro [...]; a CPI para criminalizar os golpistas [...]; e a luta contra as
ameaças às escolas pelo terrorismo dos neofascistas”. Em outra nota de análise
desta mesma corrente, além da reivindicação da unidade com o novo governo,
Moraes, STF, Globo e a direita não-bolsonarista, lemos que a CPMI deve ser
encarada como uma “trincheira voraz”.
Como
levantávamos durante a febre política da CPI da Covid, aderida entusiasticamente
pelo PSOL, estas são recursos do próprio regime para disputas que ocorrem em
seu interior e ainda podem ter o efeito de “limpar a barra” de vários de seus
atores. Impulsionando um artifício institucional assim, as alas e figuras como
Lira no Congresso lançam uma névoa sobre a memória de que foram eles os
responsáveis por aplicar uma série de ataques que também conduziram ao
fortalecimento da extrema-direita e à situação política e social a que chegamos
hoje.
Entre
os defensores e apoiadores da CPMI, um argumento utilizado é que ela conseguirá
catalisar crises maiores para o bolsonarismo. No entanto, a magnitude desse
desgaste, e se ele vai se dar, é bastante questionável, ainda mais visto que a
CPMI até então era uma pauta do bolsonarismo e o governo agora, com a queda de
G. Dias, teve de cerrar fileiras e adentrar essa campanha sob uma demanda
defensiva. Como podemos acompanhar da boca dos porta-vozes do reacionarismo no
parlamento e na Jovem Pan, já se estabelece o clima de uma guerra de versões,
como fez a extrema-direita durante todo o mandato de Bolsonaro, inflamando e
reorganizando sua base social, que havia se desmoralizado no último período.
Seguindo
com a definição de uma disputa entre “democracia x fascismo”, os que se dizem
socialistas se localizam atrás de uma ala com forte composição burguesa, com
golpistas e ajustadores vestindo roupagem mais “democrática” e contando com
atores autoritários desse regime cada vez mais degradado. Essa é a lógica da
“frente ampla pela democracia”: trégua na luta de classes e unidade no
fortalecimento do regime das reformas e privatizações, realizando uma oposição
ao bolsonarismo puramente eleitoral, parlamentar e institucional, nos limites
do que a direita liberal propõe.
Nos
fatos, o caminho que a maioria do PSOL (junto com MES e Resistência), vem
trilhando é o de tentar impedir qualquer possibilidade de surgir uma
alternativa de independência de classe para os trabalhadores no país, inclusive
definindo em seu Diretório Nacional que não irá se contrapor ao novo “teto dos
gastos” costurado por Fernando Haddad e o Congresso, chamado agora de arcabouço
fiscal.
Para
abrirmos uma saída pela esquerda, é inaceitável que o 1º de Maio seja marcado
pela política de conciliação com a burguesia, patronal e os governos, como quer
o PT e as grande centrais sindicais, como CUT e CTB, com suas direções
integrantes do novo governo, que convidaram para os atos até mesmo o
bolsonarista governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas. Esse contexto
político nacional nos coloca a necessidade da reorganização do movimento de
trabalhadores, do movimento sindical e do movimento estudantil (com a
aproximação de um novo CONUNE) de maneira independente, atravessada pelas
principais tarefas e pautas da classe trabalhadora e da população, que passam
pela revogação e reversão de todas as reformas, cortes, privatizações e ataques
de Temer e Bolsonaro, mas também dos ataques já em curso por Lula 3, como a
privatização do metrô de BH.
Chamamos
todos que aspiram verdadeiramente lutar contra o conjunto das reformas e
ataques, do qual o PSOL não só se afasta, mas adota uma política em sentido
oposto, de apoio à preservação do regime atual. Não é possível construir uma
posição de independência de classe dentro do PSOL e dentro do governo de frente
ampla. Assim, precisamos erguer um programa de independência política,
anti-burocrático e classista, com os setores que se colocam independentes do
governo e à esquerda do PT e das burocracias sindicais e dos movimentos sociais
e estudantil. Neste 1º de Maio, chamamos a construir atos independentes do
governo, pela independência política dos sindicatos, contra as reformas e,
portanto, independentes dos atos convocados pela burocracia sindical.
Para livrar PMs flagrados tomando água de
coco no 8/1, coronel mentiu ao depor na CPI
Uma
das responsáveis por elaborar planos de contenção para o protesto organizado
por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no dia 8 de janeiro, a
coronel PM Cíntia Queiroz tentou livrar os policiais flagrados pelo Estadão
bebendo água de coco enquanto os prédios dos Três Poderes eram invadidos.
A
policial militar, que também atua como subsecretário de Operações Integradas da
Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (DF), apresentou essa
versão em seu depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Câmara
Legislativa do DF que investiga os responsáveis pelos ataques golpistas
ocorridos na capital federal.
PEGA
NA MENTIRA
“A
gente tem que tomar muito cuidado. Por exemplo, a imprensa muitas vezes divulga
uma imagem fora de contexto. Por exemplo, a Polícia Militar, foi divulgada uma
imagem de três policiais no dia 8 de dezembro (sic) tomando água de coco, como
se aquilo tivesse acontecido às 15 horas da tarde, no horário da invasão, mas
isso aconteceu às 8 horas da manhã”, disse Cíntia.
Ao
contrário do alegado pela subsecretária, a foto foi tirada pela reportagem do
Estadão às 15h50, conforme registrado nos metadados do dispositivo usado para
fazer o registro.
A
captura foi feita logo na chegada da reportagem à Esplanada dos Ministérios no
dia 8 de janeiro. No momento em que a fotografia foi feita o Congresso, o
Supremo Tribunal Federal (STF) e o Palácio do Planalto já se encontravam
depredados pelos golpistas.
A
declaração mentirosa da coronel Cíntia à CPI do DF foi feita em resposta a uma
pergunta do deputado distrital Fábio Feliz (PSOL) a respeito da ausência de
prisões imediatas dos extremistas que tentaram invadir a sede da Polícia
Federal (PF) e cometeram atos de vandalismo no centro de Brasília no dia 12 de
dezembro do ano passado, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi
diplomado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Para
embasar a pergunta, o deputado mostrou um vídeo em que os manifestantes
aparecem sentados no chão cercados por policiais.
Na
resposta, a coronel Cíntia alegou que o grupo não foi preso porque não havia
flagrante dos ataques ao patrimônio público. Na sequência, a coronel argumentou
que a imprensa teria publicado conteúdos descontextualizados e citou o caso da
água de coco como exemplo.
PREVARICAÇÃO
A
coronel foi alvo de uma proposta de indiciamento por prevaricação no dia 8 de
janeiro proposta pela Corregedoria da Polícia Militar do Distrito Federal.
Ela
foi responsável por um dos planos de contenção e controle de multidões elaborado
pela Secretaria de Segurança Pública da capital para lidar com as manifestações
convocada para aquele dia.
A
coronel Cíntia alega em sua defesa que nunca prevaricou e que o plano elaborado
seguiu os atos normativos previstos pela legislação e pelo regramento do
governo do DF.
Fonte:
Esquerda Diário/Agencia Estado
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