Insegurança na
Bahia: Universitários viram presas fáceis sem policiamento no entorno das
faculdades de Salvador
A vida do estudante universitário em Salvador
não está nada fácil – e o assunto desta vez não são as agruras do mundo
acadêmico. A falta de segurança no entorno das instituições vem transformando
os alunos em presas fáceis da criminalidade. Muitos são assaltados chegando
para a aula ou logo após sair dela ou quando deixam temporariamente a
instituição por algum motivo particular. Uma média de duas vítimas por semana,
nos últimos 30 dias, segundo relatos de estudantes de três faculdades
privadas.
A
vulnerabilidade nos arredores é tamanha, que em alguns casos a violência se
estende para dentro da instituição, como foi o caso do “arrastão” no dia 31 de
março em Coutos, que começou em via pública – onde bandidos roubaram
comerciantes – e terminou dentro de um ambulatório mantido pelo Centro
Universitário Unidompedro. Alunos de medicina, professores e pacientes foram
feitos reféns e em seguida tiveram celulares, dinheiro e outros objetos levados
por três jovens armados de pistolas.
Segundo
os estudantes ouvidos pelo CORREIO, a situação era prevista porque até o dia do
“arrastão”, não havia viaturas circulando nas imediações do ambulatório. “Até o
dia do fato, nunca teve um policial por perto. Em outras situações, alguns
colegas que esperavam do lado de fora o serviço de motorista por aplicativo,
acabavam sendo roubados e ameaçados. Eles ficavam do lado de fora porque o
sinal de internet no ambulatório é péssimo”, contou uma aluna do curso de
medicina, que, por questão de segurança, optou por não revelar o nome.
A
Unidompedro mantém o ambulatório ao lado do Lar Fabiano de Cristo. A unidade
presta serviços gratuitos a comunidade com os serviços de pequenas cirurgias e
consultadas de cardiologia e urologia. Na manhã do dia 31 de março, os três
assaltantes iniciaram o “arrastão” por volta das 10h, abordando comerciantes.
“Eles sabem que viatura aqui é uma raridade e começaram a fazer a limpa. Quando
desceram para a Suburbana, já sabiam que ali iam encontrar celulares, porque já
roubaram alguns estudantes, e aí fizeram a limpa no ambulatório”, contou o dono
de uma lanchonete, que no dia do “arrastão” fechou o estabelecimento assim que
percebeu o tumulto.
Os
estudantes relaram a ausência de vigilância na entrada também favoreceu a ação
dos criminosos. “O portão sempre estava escancarado, sem ninguém pra regular a
entrada e saída de pessoas. Eles (bandidos) entraram e mandaram todo mundo
deitar no chão. Foi desesperador. Apontavam as armas pra a gente e, à medida
que iam pegando os celulares, mandavam desbloquear e dar as senhas dos
aparelhos sob ameaça de atirar na cabeça”, disse uma outra aluna do curso de
medicina e que também optou pelo anonimato.
Ela cogitou a possibilidade de uma transferência. “É um curso muito
caro, são quase R$ 10 mil por mês e não dar pra sair assim. O que a gente
precisa é de mais segurança não só dentro, mas também fora da instituição,
porque a violência contra os alunos não é algo pontual e sem falar que quem
perde também com isso é a comunidade”, declarou a futura médica.
Depois
dos momentos de terror, hoje portão do ambulatório ganhou um cadeado e um
segurança e todo o serviço é prestado à comunidade é agendado. Além disso,
alunos passaram a ver viaturas passando pela frente da instituição. “Foi
preciso acontecer algo mais grave para que medidas sérias fossem aplicadas. Às
vezes a polícia sobe e desce na rua. Mas vamos ver até quando, porque daqui a
alguns dias tudo vai voltar como era antes. De uns 30 dias para cá, a gente
teve conhecimento de uns dois relatos por semana de pessoas daqui abordadas por
meninos, que diziam estar armados, exigindo o celular ”, disse a
estudante.
• Mais casos
Para
evitar os assaltos constantes, principalmente à noite, alunos da UniFTC, na
Avenida Paralela, andam em grupos. “A gente só desce sozinha quando não tem
jeito, porque está muito perigoso, toda hora a gente sabe de alguém que foi
vítima”, relatou Ana Beatriz Souza, 21 anos, estudante do 8º semestre de
Nutrição. “Há 15 dias, houve um
‘arrastão’ no ponto de ônibus. Todo mundo correu de volta para a faculdade. Era
umas 18h. Um cara só levou o celular de todo mundo que aguardava o ônibus”,
emendou a amiga de Ana Beatriz, a aluna de Fisioterapia, Lorena Souza, 22.
E
os relatos não param. No mesmo dia do “arrastão”, mas à tarde, um aluno de
Medicina foi vítima de uma dupla de criminosos. “Ele se aproximava da passarela
do metrô quando eles chegaram. Levaram o leptop, celular, relógio e até o
tênis”, detalhou Wedja Maria Medeiros de Carvalho, 17, estudante do 1º semestre
de Medicina. “Enquanto estamos na faculdade, a sensação de segurança é maior,
mas basta a gente sair pra tudo mudar. Dificilmente alguém ver uma viatura
passando pela região. E a situação é pior à noite, porque é o fluxo maior de
pessoas e é quando eles (bandidos) mais agem”, disse Gabriela Cunha, 18 anos,
do 1º semestre de Medicina.
A
situação enfrentada por alunos da Unijorge não é diferente. “Quem tem carro,
vai tranquilo para casa, mas quem não tem, como eu, tem que andar um pouco para
pegar o metrô e é aí que tudo acontece. Os bandidos chegam a pé, de carro e até
de bicicleta”, contou Camila Queirós, 20, aluna do curso de Administração. O
também estudante de Administração Rafael Nunes, 23, relatou que colegas já
foram assaltados. “Foram violentos com a minha amiga. Ela não queria passar o
celular e lutou com eles, eram dois. Uns caras que passavam na hora de carro
foram ajudá-la e os ladrões pararam de bater nela e fugiram com o aparelho
dela. Está demais. Nos grupos (de WhatsApp) tem dois, três, relatos por semana
e a gente não vê policiamento aqui”, declarou.
• Ronda Universitária
Diante
das elevadas ocorrências de roubos e furtos no entorno das instituições de
privadas de ensino, há 10 anos a Polícia Militar criou a Ronda Universitária,
que aumentava o efetivo do policiamento, principalmente nos horários de pico.
Mas, segundo a Associação Baiana Mantenedoras do Ensino Superior (Abames),
houve redução drástica do efetivo, o que pode estar relacionado com as
ocorrências de hoje.
“Para
se ter uma ideia, havia uma dupla circulando e viaturas subindo e descendo
constantemente entre a Unidompedro e a Unirb de Patamares. Agora é só uma viatura. Mas eu não tenho
visto em policiais circulando próximo a outras faculdades, como a Católica de
Pituaçu. Essa redução começou há uns cinco anos. É preciso que retome isso. É
preciso ampliar a atuação da Polícia Militar nesses ambientes para dar
segurança as pessoas”, declarou o presidente da Abames, Carlos Joel.
No
entanto, a PM diz que redução da Ronda Universitária “não procede”. Em nota, a
corporação informou que, de acordo com dados do Batalhão de Polícia de Reforço
Operacional (BPRO), a unidade realiza rondas frequentes, atendendo às
faculdades e universidades da capital baiana em reforço às companhias independentes
da PM que já fazem o patrulhamento dos bairros de Salvador.
“A
corporação ressalta que, em face de qualquer situação que fuja à normalidade, a
PM deverá ser acionada através de seus canais institucionais para que
guarnições sejam imediatamente encaminhadas para a averiguação de quaisquer
denúncias”, diz a nota. O CORREIO
solicitou os números das ações da Ronda Universitária, mas a PM não informou.
Fonte:
Correio
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