Histórias, sabores
e raízes dos trabalhos culturais na capital baiana
Mudando,
refazendo, promovendo, crescendo… O movimento que faz uma cidade crescer vem de
quem vive nela, de homens e mulheres que acordam cedo, tarde ou de madrugada
para fazer a cidade acontecer. Em Salvador, não são poucos os trabalhadores que
exercem funções diretamente ligadas à cultura e história da primeira capital do
Brasil. Hoje, véspera do Dia do Trabalhador, o A TARDE traz histórias de alguns
dos muitos trabalhadores que movimentam a cidade exaltando puramente o que ela
tem de melhor para oferecer: ela mesma.
“Ser baiana de acarajé, para mim, é um prazer
tão grande que eu nem consigo explicar. Todo dia durante o preparo e já no meu
tabuleiro, juro, é como se fosse a primeira vez, mas já fazem 34 anos. Amo o
que faço e sei da importância do acarajé para a cidade. O acarajé é uma coisa
muito nossa, um cartão postal marcante de Salvador e é dignificante, criei meus
filhos com o acarajé, e carreguei muito cesto na cabeça durante anos antes de
chegar onde estou”, explica a baiana de acarajé, Eliana Anunciação Ferreira.
Filha
de baiana de acarajé, Eliana já ajudava a mãe com os clientes aos 15 anos e
hoje o seu tabuleiro, o Acarajé da Eliana (@acarajedaeliana1), também se tornou
‘escola’ dos filhos dela. “Três trabalham comigo e a mais nova, de 12 anos, vem
apenas às vezes, mas já tem tomado gosto. Para mim, o momento em que mais me
sinto realizada com o que faço é quando chego no meu tabuleiro, o arrumo e vejo
o acarajé fritando no dendê. É lindo e eu amo isso, mas a verdade é que nenhum
trabalho é fácil, mas cabe a nós fazer acontecer”, afirma.
Quem
também trabalha há anos na mesma função, mas tem a sensação que começou ainda
ontem, é o historiador e guia de turismo, Roberto Pessoa. Dos seus 64 anos
muito bem vividos, 44 foram dedicados ao turismo. "Quando a gente gosta do
que faz, não cansa. Depois que me formei em história, dava aulas durante a
semana, e nos finais de semana, folgas e férias, trabalhava com turismo. É uma
profissão que me encanta, sempre me encantou e a qual continuo exercendo com
todo entusiasmo, pois com ela posso transmitir e encantar os visitantes com a
história da Bahia, mas também do Brasil, de Portugal, da África… Sou movido por
isso”, explica.
E
foi com base nesse histórico cosmopolita de Salvador, que com a colonização e a
infeliz escravidão trouxe pessoas de todo o mundo para a capital baiana, é que
a cidade se tornou um caldeirão multicultural, e criou para si essa imagem de
lugar festivo e receptivo. Explorar o caldo cultural extremamente diverso da
cidade e seu patrimônio, explica a jornalista, doutora em antropologia e
colunista de A TARDE, Cleidiana Ramos, foi o caminho escolhido para construir a
nova imagem de Salvador, quando ela perdeu o status de capital das colônias.
“Da
baiana de acarajé e guia de turismo, até a pessoa que rega os pés daqueles que
saem da praia no Dia de Iemanjá, todos eles fazem parte dessa imagem e vocação
de Salvador como cidade festiva. O patrimônio simbólico e histórico da cidade é
muito forte e rico, e mesmo entrando na modernidade, ela sempre joga com esses
dois tempos muito bem. Perdeu a capital, mas não a pose, entende? Para nós, a
festa é algo estratégico do ponto de vista da geração de emprego e renda. Festa
em Salvador é algo muito sério”, explica a jornalista, que é especialista em
antropologia da festa.
• Multiplicidade
A
cultura múltipla de Salvador é o que torna a cidade tão rentável por si só - e
isso é o que faz ela ser uma Salvador que, realmente, dá trabalho. E claro, a
cadeia produtiva da cultura, aponta o diretor de patrimônio e equipamentos
culturais da Fundação Gregório de Matos (FGM), Chicco Assis, lida com muitos
elos. “Sabe por quantos profissionais passaram os insumos do acarajé que você
comeu? E o artesanato que decora sua mesa? E a roupa que te torna ímpar? E os livros
que você lê? Cada profissional envolvido cumpre papéis relevantes para que os
processos culturais e suas movências ocorram. Nós movimentamos o mundo, cada
peça dessa engrenagem”, explica.
E
ainda há aqueles que fazem de tudo um pouco, como Tárcis Rocha: ator, modelo
internacional, percussionista e capoeirista (dentre outras habilidades e
formações artísticas), Tárcis também é mediador cultural na Cidade da Música da
Bahia. “Na Cidade da Música sinto que faço parte da história da cidade e
relembro momentos marcantes da minha vida através das músicas. Além disso, a
música nos permite conhecer os visitantes de forma transparente, onde eles
acessam nosso equipamento cultural trazendo um pouco de sua cultura e
expressões, e se deparam com nossa essência cultural, que alcançou e continua
alcançando o mundo inteiro”, afirma.
Já
o estudante de museologia pela Universidade Federal da Bahia, Breno Luiz do
Nascimento Dias Coelho, é mediador cultural na Casa do Carnaval da Bahia e
conta que seu trabalho no museu serviu como combustível para sua auto estima
intelectual. “Minha habilidade com o inglês sempre foi aproveitada dentro do
espaço do museu, por exemplo, mas para além disso, a experiência como um todo
tem sido uma das mais enriquecedoras da minha vida, pois me sinto muito feliz
quando o público dialoga comigo durante o expediente, gerando um espaço de
escuta e acolhimento para ambos”.
Firme
no sonho de ser um escritor, Breno escreve nas horas vagas, mas ressalta a
importância de (parafraseando a cantora, compositora e atriz Liniker): fazer
tudo com o máximo de excelência. “Entregar excelência no trabalho todos os dias
pode não ser fácil, mas é seu dever como profissional se esforçar para entregar
o seu melhor. E falando do lugar de um homem negro, praticar a excelência no
meu dia a dia virou quase uma regra, visto que vivemos em uma sociedade
racista”, salienta.
E
além de tudo isso, cada cliente tem um perfil, cada evento tem uma
singularidade, um público e um projeto, salienta o analista de marketing pleno
do Centro de Convenções de Salvador, Alan Lobo. “Então quando você participa de
todas ou muitas das etapas e chega ao fim, é muito gratificante, pois nós
trabalhamos com sonhos, expectativas, e projetos de pessoas e marcas. Cada dia
mais tenho me empenhado em realizar as melhores entregas possíveis, para que a
gente continue movimentando o turismo de negócios em Salvador e posicionando o
Centro de Convenções de Salvador como o melhor equipamento do nordeste”,
afirma.
Fonte:
A Tarde
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