Denise Assis: Em
meio a cenário político conturbado, Lira rufa os tambores de guerra
A
tal da mídia “profissional”, sempre ela, é mestra em adubar malfeitos, para
depois cobrar mudanças éticas, em nome do que deixou passar. Fez vistas
grossas. Foi assim que nos últimos anos do governo findo (graças a Deus e ao
eleitorado consciente desse Brasil varonil), víamos manchetes que tratavam com
naturalidade de temas ligados ao “orçamento secreto”, como se aquilo fosse uma
rubrica burocrática aceitável. Não era. Era, isto sim, uma ilegalidade tratada
com a desfaçatez de quem tolera o intolerável para manter tudo no lugar. Ou
seja: não fazer marola.
Da
mesma maneira, toleraram a “PEC kamikaze”, que arrombou a festa do teto de
gastos, sem que ninguém incomodasse o governo de plantão. Passou no congresso o
jorro de milhões para a compra de votos, tratado como um fato inserido na vida
política, com a naturalidade de quem fala em colégio eleitoral, coeficiente de
votos, ou coisa parecida. Tudo sob a batuta ritmada do presidente da Câmara,
Arthur Lira, reconduzido ao posto com o apoio do governo chegante. Enquanto
Lira tirava do corpo a camisa azul com o reluzente número 22 em amarelo, com
que foi àquela festa de lançamento da campanha da ultradireita, e jurava
fidelidade eterna ao novo governo, no Supremo Tribunal Federal (STF), a
ministra Rosa Weber finalizava o julgamento das tais emendas – “orçamento
secreto” -, concluindo que, por inconstitucionais (e quem não sabia?) assim não
podia ficar. Deu-se um jeito.
O
jeito foi pegar os cerca de R$ 20 bilhões dos cofres do Tesouro Nacional, cuja
execução Bolsonaro terceirizava sob a forma de emendas sigilosas, e
redistribuí-las. Destinou-se um naco desse montante ao conjunto de emendas
individuais e de bancada. O outro tanto, de cerca de R$ 9 bilhões, passou a ter
um apelido: de RP9 foi para RP2, sendo gerido pelos ministérios. Com a manobra,
apesar dos parlamentares continuarem definindo o destino da verba, dissolveu-se
a vergonhosa fila que se formava no corredor em frente ao gabinete de Lira, e
transferiram a “boca, o movimento”, para os gabinetes ministeriais.
Mera
maquiagem para a redistribuição de emendas, dentro do jogo de interesses, mas
fora das mãos do insaciável Arthur Lira, que em entrevista para o jornalão,
deixou claro que não está gostando nada da nova brincadeira. E, mais: trocaria
de bom grado os cargos conseguidos na Codevasf e os ministérios dados ao seu
partido, desde que pudesse manejar a bufunfa ao seu bel prazer. Pelo que se
depreende, o pupilo superou o mentor, Eduardo Cunha.
Não
fora tudo isso, Lira ainda resolveu – mais uma vez com a naturalização da mídia
“profissional” -, bater pé e não mais cumprir o que estava descrito na
Constituição de 1988 (lembremos, a Carta Magna), para a formação de comissões
que cuidam dos trâmites das medidas provisórias. Não queria mais fazer do jeito
que estava na Lei. Queria mudar tudo, para designar mais deputados para as
comissões mistas, pois como estava previsto não lhe saciava a sede de poder e
domínio sobre o Centrão. Mesmo que como consequência tivesse de trocar de mal
com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Justiça seja feita, cordato a que
tudo voltasse ao seu lugar e os trâmites fossem seguidos.
Algum
posicionamento sério na “mídia profissional”? Não. Seguiram-se as análises e
comentários, dando conta de que o furdunço estava formado, e rendendo notícias
e fofocas, daí seguiram com o baile. Qual seria a atitude consequente? Pera lá!
Existe uma lei anterior à pandemia, que foi um tempo de excepcionalidades e
exigiu adaptações para que o Congresso desse providências condizentes com as
necessidades da população. Passada a excepcionalidade, tudo como d’antes no
quartel de Abrantes, não? Não foi o que aconteceu.
Permitiram
que Lira abrisse as suas asas e entrasse na festa das “exigências”, como se
fosse a coisa mais natural do mundo, alguém que participa da elaboração das
leis, cismar em descumpri-las.
Enquanto
isso, a mesma “mídia profissional” que lhe passou a mão pela cabeça, noticiando
as suas birras como se suas manobras fossem do jogo, gastou tempo, saliva,
tinta, para dizer que o novo governo estava imobilizado, sem ação, e que há
meses o Congresso não votava as questões de interesse da sociedade. Bingo! É o
que acontece quando o presidente da Câmara para o que está fazendo, para impor
e ditar regras novas, sobre o jogo jogado.
E
a cada crise de mau humor, ele vai para um jornalão e manda os seus recados. Na
primeira, disse que o governo chegante não tinha base consolidada e forte para
aprovar os seus projetos. Ato seguinte, rodadas de jantares e conversas para
novas concessões de “trocas”. Agora, quando percebeu que o seu “blocão” não
dava conta de controlar as emendas e subjugar deputados do baixo clero para
fazer pressão sobre o governo, a fim de obter mais poderes, cada vez mais
poderes, mandou de novo, a real: não vai “sacanear” (sim, esta é a novilíngua reinante
na Câmara) o governo, mas quer a cabeça do ministro das Relações
Institucionais, Alexandre Padilha. É ele agora quem maneja as “emendas” tão
cobiçadas por Lira...
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva já avisou que não vai dar. O cenário
político é o mais conturbado possível, quando se inicia uma CPMI para apurar o
golpe fascista de 8 de janeiro; há uma ameaça de CPMI sobre o Movimento dos
Sem-terra (MST) e uma crise instalada no Gabinete de Segurança Institucional
(GSI), que a despeito da ótima condução do ministro interino, Ricardo Capelli,
ainda não está de todo desenhado e concluído o modelo que vai vigorar.
Do
forte Apache os milicos olham para tudo de binóculo de campanha. Concordam em
dar os anéis – os bagrinhos, para serem investigados -, mas não vão entregar os
dedos: os generais do alto Comando, que, sim, deveriam responder porque
toleraram e protegeram os acampamentos golpistas, onde o golpe foi gerado, até
eclodir em atos terroristas de destruição dos prédios das três instituições
mais significativas da República. Nesse contexto, Lira rufa os tambores de
guerra. Haja emendas...
Ø
Investida
de Lira mostra que CPMI não é agenda positiva para Lula. Por Helena Chagas
À
primeira vista, o Planalto fez limonada do limão da CPMI do golpe e terá
maioria no colegiado. Nem por isso vai poder relaxar. Ainda que controlada, nas
mãos de presidente e relator da base governista, a CPI não é agenda positiva
para o governo Lula. Melhor seria se não existisse, e que o trabalho
legislativo estivesse focado na votação de projetos de interesse imediato, como
o arcabouço fiscal e a reforma tributária — o primeiro, com mais chances de
sair no curto prazo; a última, seriamente ameaçada de empacar sob o
diversionismo da CPMI.
Parlamentares
experientes acreditam que o melhor cenário hoje para o governo seria que seus
aliados, com o controle da pauta da CPI, conseguissem dar um nó nos trabalhos e
paralisá-la. Depois de algumas primeiras sessões e confrontos espetaculosos —
que parecem inevitáveis — a comissão iria aos poucos saindo dos
holofotes, com a oposição imobilizada pela ameaça de convocações e quebra de
sigilos de bolsonaristas como Anderson Torres e o general Heleno — e do
próprio Bolsonaro.
É
um desfecho improvável, mas não impossível. Seria preciso combinar com os
russos da própria bancada governista na CPMI. Alguns já estão pintados para a
guerra e veem a comissão como uma bela oportunidade para aparecer na mídia e
crescer politicamente.
O
governo teria ainda que se conformar em enterrar a comissão, em vez de, com
toda a legitimidade, usar sua maioria para derrotar a tese bizarra de que as
vítimas dos atos golpistas seriam responsáveis por eles — a fake news
bolsonarista que está na base de sua criação. E abrir mão de expor no
picadeiro, com espalhafato, personagens envolvidos no 8/1 e desmoralizá-los de
vez.
Politicamente,
esse seria o melhor resultado— concluir as investigações mostrando ao país os
autores intelectuais da tentativa de golpe, aqueles que aparentemente todo
mundo sabe quem são mas que ainda não foram desmascarados com provas.
Dificilmente, porém, uma CPI instalada quatro meses depois dos atentados terá
condições de ir além das apurações da PF e do Ministério Público, que caminham
bem e, muito provavelmente, vão chegar primeiro aos mesmos resultados.
Sem
contar que, antes mesmo de ser instalada, ou ter seus dirigentes indicados, a
CPMI já deixou o governo mais dependente ainda de aliados do centrão e, claro,
do presidente da Câmara, Arthur Lira. Sem cerimônias, Lira, que indicará o
presidente da comissão e boa parte dos deputados, aproveitou o fim de semana
para dar entrevista ao Globo pedindo a cabeça do ministro das Relações
Institucionais, Alexandre Padilha — que vem centralizando a distribuição das
emendas orçamentárias, esvaziando seus poderes.
Lula
não vai dar a cabeça de Padilha, mas deveria se acautelar em relação à abertura
de
mais
uma frente de batalha em território onde, na prática, não terá maioria real e
ficará nas mãos do centrão — caso da CPMI dos atos golpistas, como vem ficando
cada vez mais claro.
Ø
Arthur
Lira diz que "não vai sacanear" Lula na Câmara, mas critica Alexandre
Padilha e pede mais emendas
O
presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, concedeu entrevista ao jornal O
Globo, em que disse que o governo Lula não tem uma base sólida no Congresso,
mas prometeu "não sacanear". Na entrevista, Lira pediu mais emendas
parlamentares. "Aprovamos a PEC da Transição, que foi votada no governo
anterior, mas com gerência completa da equipe do Lula. Depois, houve uma
acomodação e a formatação de um governo de coalizão, com troca de ministérios
por apoios, que está comprovado que não vai dar certo. As emendas resolvem isto
sem ser necessário um ministério", diz ele. "Eu sempre disse que o
orçamento é muito mais democrático se decidido por 600 parlamentares do que por
dez ministros", acrescenta.
Lira
fez elogios pessoais ao ministro Alexandre Padilha, mas criticou sua atuação
política. "Um sujeito fino e educado, mas que tem tido dificuldades. Não
tem se refletido em uma relação de satisfação boa. Talvez a turma precise
descentralizar mais, confiar mais", ponderou. "Trabalho para dar
tranquilidade ao Brasil. Poderia ter sido eleito presidente da Câmara sem o PT,
mas aceitei o apoio e não vou sacanear o governo. Não vou trabalhar contra nem
atuar deliberadamente para prejudicar. Mas o presidente da Câmara não é um
agregado, ele é um parceiro", reforçou.
Lira
também fez alertas sobre os perigos da CPI do 8 de janeiro. "O governo
tentou derrubar, mas se tornou inevitável depois do vídeo do Gonçalves Dias. A
minha pergunta é o porquê deste vídeo não ter aparecido antes. Quem segurou as
imagens e decretou sigilo? Como foi parar na mídia? Quem tinha acesso? Se foi o
Gonçalves Dias, ele é o homem de confiança do Lula. Se foi o GSI, isto também
precisará ser explicado. O governo também quer apurar quem estava por trás dos
movimentos nos quartéis, quem financiou e o que era a minuta do golpe. Será uma
guerra de narrativas", afirmou.
Lira
também previu uma votação dura no PL 2630, o das fake news, que é uma das
principais causas da Globo e que preocupa
comunicadores progressistas. "Teremos que chamar líder por líder e contar
votos", disse ele.
·
Lula
avisa a aliados que não entregará a cabeça de Padilha a Arthur Lira
“O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) avisou a aliados que não pretende
afastar da coordenação política o ministro-chefe das Relações Institucionais,
Alexandre Padilha”, informa o jornalista Tales Faria em sua coluna no portal
UOL.
“Lula
não gostou do que considera um pedido público para entregar a cabeça de Padilha
feito pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em entrevista ao jornal O
Globo publicada neste domingo, 30. Na entrevista, Lira disse que Padilha não
está satisfazendo a base governista. Ele cobrou uma descentralização da
coordenação política”, informa.
De
acordo com o colunista, “a afirmação foi entendida no Planalto como a senha
para entregar mais autoridade ao líder do PT na Câmara, o deputado José
Guimarães (CE), a quem Lira considera um aliado fiel”.
Fonte:
Brasil 247
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