segunda-feira, 1 de maio de 2023

Conheça baianas que fizeram transição de carreira em busca de satisfação pessoal e profissional

Nos dias atuais, muito se discute sobre a necessidade de adotar um propósito de vida e de fazer, todos os dias, o se que gosta. Isso pode ser aplicado tanto no âmbito pessoal quanto no profissional, e para quem acredita no clichê "se você gosta de seu trabalho, será sempre feliz", a transição de carreira tem sido uma alternativa.

Por diversos motivos, como má remuneração, dificuldades de colocação no mercado de trabalho, esgotamento física e mental, ou, simplesmente, o desejo de desenvolver novas habilidades e de se arriscar em atividades diferentes, a mudança tem sido adotada por um número elevado de profissionais.

Muito longe de outro clichê "trabalhe com o que ama e nunca mais trabalhará na vida" - porque mudar de área requer estudo, planejamento e ação - nesta segunda-feira (1º), Dia do Trabalhador, o g1 Bahia celebra a data com histórias inspiradoras de baianas que redescobriram a satisfação no trabalho ao mudar de atuação e com dicas de um especialista em carreiras, para quem está pensando em fazer o mesmo.

·         Das salas de aula e consultórios para a cozinha

Laís Lima trabalhava como nutricionista e lecionava em uma instituição de ensino superior de Feira de Santana, cidade a cerca de 100 km de Salvador. Aos 31 anos, após anos de jornadas triplas entre consultórios e salas de aula, as ocupações empenhadas com tanto zelo deram espaço para outra que arrebatou o coração dela: a confeitaria.

Durante o período de medidas restritivas impostas pela pandemia de Covid-19, no início de 2020, Laís começou a comercializar cookies, antes feitos somente como hobby para consumo próprio, dos amigos e familiares. Em três meses, a baiana ampliou o cardápio com doces e fidelizou clientes.

Na época, ela atendia pacientes há oito anos e dava aulas há quatro, porém, viu a rotina mudar da noite para o dia, assim como milhares de pessoas, e mesmo em meio ao cenário incerto naquele momento, os brigadeiros e seus pares pesaram mais na balança da decisão.

Ela escolheu deixar as atividades anteriores, ainda que as coisas voltassem ao normal rapidamente - o que não aconteceu - e seguir cozinhando. “Eu não busquei um novo trabalho, mas foi uma nova atividade que surgiu e era muito mais prazerosa. Em meados de julho, decidi me dedicar integralmente à confeitaria", relatou.

Embora tenha sido um processo, em princípio, natural, um dos fatores que levou Laís a tomar uma decisão tão rápida foi um "sentimento negativo". "Por vezes, a atuação enquanto nutricionista me frustrava no sentido de não atingir nas pessoas o sentimento que a produção de alimentos me permite atingir", comentou.

"Hoje eu me sinto mais realizada em produzir os doces. Entendi que produzia algo diferente, que satisfazia as pessoas e isso é realizador”.

Na cozinha, ela uniu o talento nato com a gastronomia aos conhecimentos adquiridos durante as atividades de nutricionista e especialista em gestão de bares e restaurantes, como segurança alimentar, controle de estoque e precificação.

O trabalho que começou sendo feito em casa, no ano passado ganhou um estúdio de confeitaria dedicado somente às produções da marca Comida Doce, devido ao aumento da demanda. Hoje, neste espaço que foi pensado estrategicamente, além de preparar delícias que são vendidas sob encomenda ou pronta entrega, Laís ensina outras pessoas a fazerem bolos através de cursos.

Portanto, o amor pelas aulas se voltou para uma outra forma de exercer essa atividade, assim como a nutrição. Os produtos vendidos por Laís são produzidos a partir de insumos, prioritariamente, sem ultraprocessados e agrotóxicos. "Se é pra comer açúcar, que seja o que vale a pena!", é o slogan da empresa dela.

Ingredientes como creme de leite fresco, chocolates de origem e farinha de trigo orgânica compõem a lista de produtos que dão sabor aos doces feitos pela confeiteira. Para ela, esse é o grande diferencial, frente à concorrência.

''Ser nutricionista me ajudou e me ajuda todos os dias. A especialização me permite compreender como entregar um produto interessante e quais ingredientes utilizar para conseguir fazer essa entrega".

E se quem "quer moleza, senta no pudim", Laís garante que a vida de empreendedora é tão - ou mais - corrida quanto a de antes. Ela é quem desempenha, sozinha, todas as funções para manter o negócio de pé.

''Tenho uma assistente que me dá um suporte nas semanas mais difíceis [em períodos como o da Páscoa e Natal, por exemplo], mas no dia-a-dia eu cuido da produção, entrega, atendimentos, redes sociais. Então o trabalho acaba sendo meu ponto de estresse, também. Eu trabalho muito e, sem sombra de dúvidas, me sentir realizada é o que dá sentido''.

·         ''Cientista do cuidado''

Também em Feira de Santana, mesma cidade onde vive Laís, Amarry Morbeck descobriu na terapia holística a forma de cuidado que buscava na enfermagem tradicional. Após seis anos atuando com gestão de saúde pública, ela ressignificou a relação com o trabalho quando estava "à beira de um colapso", tanto no lado pessoal quanto no profissional.

Há uma década, em um período que em a filha dela, que atualmente tem 15 anos, esteve internada em uma Unidade de Terapia Intensiva, Amarry Morbeck encontrou o que tanto sonhava - e nem sabia - nas terapias alternativas aplicadas ao tratamento tradicional da menina.

Mesmo durante os 40 dias em que viu a filha em um leito de UTI, correndo sérios riscos, Amarry não deixou de comparecer ao trabalho, e por pouco não adoeceu também, com exaustão física e mental.

Amarry Morbeck criou um espaço terapêutico em Feira de Santana — Foto: Rominik

Antes disso, porém, ela já estava insatisfeita com a sobrecarga profissional, que exigia uma carga horária entre 12h e 14h por dia.

“Eu estava perdida de mim mesma. Tinha uma rotina completamente sem tempo para meu marido, minha família. Nunca participava de eventos familiares pois sempre estava trabalhando e isso tudo mudou. Um exemplo dessa mudança é que recentemente meu gato passou mal e eu pude sair do trabalho e leva-lo ao veterinário. No passado, eu jamais teria autonomia para isso”.

A partir dessa realidade e diante do medo de perder a própria filha, ela decidiu mudar totalmente o estilo de vida e, por consequência, a atividade profissional. Aos poucos, fez outros cursos na área da saúde, conquistou o título de mestre em produção do cuidado em 2015 e passou a se cuidar da saúde das pessoas de uma maneira diferente.

Desde então, ela é responsável pelo Vilarejo, um centro de terapias holísticas onde se aplica reiki, limpeza energética, massagem reichiana e outras terapias integrativas.

A terapeuta holística Amarry Morbeck define sua relação com o trabalho como ''liberdade'' — Foto: Rominik

“Foi muito difícil abrir mão do trabalho, devido ao medo de perder minha independência financeira. Mas a mudança de trabalho é uma mudança de vida, para melhor''.

Assim como no caso de Laís, a graduação de Amarry é um complemento que a auxilia na carreira de terapeuta energética. Para ela, o cuidado tradicional da enfermagem com o integrativo permite uma melhor maneira de tratar as questões levadas pelos pacientes, o que ela descreve como um diferencial no mercado.

O investimento requer tempo e disposição. Amarry diz que hoje trabalha "tanto quanto antes, mas como empresária da ciência do cuidado" pode desempenhar, com mais leveza e energia, as demais funções que a vida lhe exige.

''Hoje eu tenho a liberdade de ser Amarry por completo. Eu não sou apenas terapeuta, sou mãe de animais, mãe da Júlia, esposa, filha, amiga. Eu consegui ser mais flexível comigo mesma e com minhas rotinas. Eu sou mais do que o meu trabalho".

·         Busca por satisfação

Busca por satisfação é o fator principal para a transição de carreira, segundo o especialista Cristiano Saback — Foto: Arquivo Pessoal

Segundo o consultor de carreiras Cristiano Saback, existem, majoritariamente, dois perfis de pessoas que decidem realizar transições de carreira.

A primeira categoria é formada por pessoas que escolheram suas carreiras sob influências e cobranças externas, como pressões sociais e familiares. Contudo, após anos de atuação, fazem a descoberta de algo que realmente gostam e a partir disso nasce o desejo da mudança.

A segunda é composta por pessoas que realizam a transição pela necessidade de autonomia e independência. Conforme Cristiano, há um grande número de trabalhadores que se veem insatisfeitos com o modelo de atuação no mercado, e procuram um plano B, como o caso de Amarry.

Segundo Cristiano, o fator principal que acomete as questões de mudança de carreira é o desprazer com a própria vida. "O bem-estar das pessoas está diretamente atrelado ao trabalho, visto que é algo que toma muito tempo do dia, então se não há satisfação no trabalho, não há satisfação na vida".

''Cada vez mais as pessoas buscam por qualidade de vida, o que leva diretamente à satisfação profissional e acaba impactando na transição de carreira''.

Buscar o emprego dos sonhos não é uma tarefa fácil, nem imediata. Cristiano aponta que é necessário ter planejamento e estudo sobre o mercado em que deseja atuar. A pedido do g1, o especialista deu dicas para quem pensa em mudar de carreira. 

>>> Confira abaixo:

  1. Ao realizar a escolha de uma carreira é importante que ela seja experimentada. Você vai entender que existem vários direcionamentos para o trabalho naquela profissão. Quando começamos a atuar, temos muitas expectativas, e se focamos somente nelas, ao invés de sabermos como é trabalhar naquela área, pode haver uma frustração. É necessário entender que ela pode proporcionar outros caminhos. Há pessoas que não precisam, necessariamente, de transições;
  2. Reflita sobre a sua insatisfação. É sobre o emprego ou a carreira? Há casos que a transição se refere somente a uma rotina dentro da própria área de trabalho, como mudança de cargo ou funções, trazendo uma maior satisfação profissional;
  3. Se a insatisfação for, de fato, com a carreira, é preciso realizar uma transição profissional. Para isso faça pesquisas, entenda como está o mercado então descubra a nova área que atuar. Busque cursos, palestras, workshops e, especialmente tenha coragem - este é o item principal.

 

Fonte: g1

 

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