Conheça baianas que
fizeram transição de carreira em busca de satisfação pessoal e profissional
Nos
dias atuais, muito se discute sobre a necessidade de adotar um propósito de
vida e de fazer, todos os dias, o se que gosta. Isso pode ser aplicado tanto no
âmbito pessoal quanto no profissional, e para quem acredita no clichê "se
você gosta de seu trabalho, será sempre feliz", a transição de carreira
tem sido uma alternativa.
Por
diversos motivos, como má remuneração, dificuldades de colocação no mercado de
trabalho, esgotamento física e mental, ou, simplesmente, o desejo de
desenvolver novas habilidades e de se arriscar em atividades diferentes, a
mudança tem sido adotada por um número elevado de profissionais.
Muito
longe de outro clichê "trabalhe com o que ama e nunca mais trabalhará na
vida" - porque mudar de área requer estudo, planejamento e ação - nesta
segunda-feira (1º), Dia do
Trabalhador, o g1
Bahia celebra a data com histórias inspiradoras de baianas que
redescobriram a satisfação no trabalho ao mudar de atuação e com dicas de um
especialista em carreiras, para quem está pensando em fazer o mesmo.
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Das salas de aula e consultórios para a cozinha
Laís
Lima trabalhava como nutricionista e lecionava em uma instituição de ensino
superior de Feira de
Santana, cidade a cerca de 100 km de Salvador. Aos 31 anos,
após anos de jornadas triplas entre consultórios e salas de aula, as ocupações
empenhadas com tanto zelo deram espaço para outra que arrebatou o coração dela:
a confeitaria.
Durante
o período de medidas restritivas impostas pela pandemia de Covid-19, no início
de 2020, Laís começou a comercializar cookies, antes feitos somente como hobby
para consumo próprio, dos amigos e familiares. Em três meses, a baiana ampliou
o cardápio com doces e fidelizou clientes.
Na
época, ela atendia pacientes há oito anos e dava aulas há quatro, porém, viu a
rotina mudar da noite para o dia, assim como milhares de pessoas, e mesmo em
meio ao cenário incerto naquele momento, os brigadeiros e seus pares pesaram
mais na balança da decisão.
Ela
escolheu deixar as atividades anteriores, ainda que as coisas voltassem ao
normal rapidamente - o que não aconteceu - e seguir cozinhando. “Eu não busquei
um novo trabalho, mas foi uma nova atividade que surgiu e era muito mais
prazerosa. Em meados de julho, decidi me dedicar integralmente à
confeitaria", relatou.
Embora
tenha sido um processo, em princípio, natural, um dos fatores que levou Laís a
tomar uma decisão tão rápida foi um "sentimento negativo". "Por
vezes, a atuação enquanto nutricionista me frustrava no sentido de não atingir
nas pessoas o sentimento que a produção de alimentos me permite atingir",
comentou.
"Hoje
eu me sinto mais realizada em produzir os doces. Entendi que produzia algo
diferente, que satisfazia as pessoas e isso é realizador”.
Na
cozinha, ela uniu o talento nato com a gastronomia aos conhecimentos adquiridos
durante as atividades de nutricionista e especialista em gestão de bares e
restaurantes, como segurança alimentar, controle de estoque e precificação.
O
trabalho que começou sendo feito em casa, no ano passado ganhou um estúdio de
confeitaria dedicado somente às produções da marca Comida Doce,
devido ao aumento da demanda. Hoje, neste espaço que foi pensado
estrategicamente, além de preparar delícias que são vendidas sob encomenda ou
pronta entrega, Laís ensina outras pessoas a fazerem bolos através de cursos.
Portanto,
o amor pelas aulas se voltou para uma outra forma de exercer essa atividade,
assim como a nutrição. Os produtos vendidos por Laís são produzidos a partir de
insumos, prioritariamente, sem ultraprocessados e agrotóxicos. "Se é pra
comer açúcar, que seja o que vale a pena!", é o slogan da empresa dela.
Ingredientes
como creme de leite fresco, chocolates de origem e farinha de trigo orgânica
compõem a lista de produtos que dão sabor aos doces feitos pela confeiteira.
Para ela, esse é o grande diferencial, frente à concorrência.
''Ser
nutricionista me ajudou e me ajuda todos os dias. A especialização me permite
compreender como entregar um produto interessante e quais ingredientes utilizar
para conseguir fazer essa entrega".
E
se quem "quer moleza, senta no pudim", Laís garante que a vida de
empreendedora é tão - ou mais - corrida quanto a de antes. Ela é quem
desempenha, sozinha, todas as funções para manter o negócio de pé.
''Tenho
uma assistente que me dá um suporte nas semanas mais difíceis [em períodos como
o da Páscoa e Natal, por exemplo], mas no dia-a-dia eu cuido da produção,
entrega, atendimentos, redes sociais. Então o trabalho acaba sendo meu ponto de
estresse, também. Eu trabalho muito e, sem sombra de dúvidas, me sentir realizada
é o que dá sentido''.
·
''Cientista do cuidado''
Também
em Feira de Santana, mesma cidade onde vive Laís, Amarry Morbeck descobriu na
terapia holística a forma de cuidado que buscava na enfermagem tradicional.
Após seis anos atuando com gestão de saúde pública, ela ressignificou a relação
com o trabalho quando estava "à beira de um colapso", tanto no lado
pessoal quanto no profissional.
Há
uma década, em um período que em a filha dela, que atualmente tem 15 anos,
esteve internada em uma Unidade de Terapia Intensiva, Amarry Morbeck encontrou
o que tanto sonhava - e nem sabia - nas terapias alternativas aplicadas ao
tratamento tradicional da menina.
Mesmo
durante os 40 dias em que viu a filha em um leito de UTI, correndo sérios
riscos, Amarry não deixou de comparecer ao trabalho, e por pouco não adoeceu
também, com exaustão física e mental.
Amarry
Morbeck criou um espaço terapêutico em Feira de Santana — Foto: Rominik
Antes
disso, porém, ela já estava insatisfeita com a sobrecarga profissional, que
exigia uma carga horária entre 12h e 14h por dia.
“Eu
estava perdida de mim mesma. Tinha uma rotina completamente sem tempo para meu
marido, minha família. Nunca participava de eventos familiares pois sempre
estava trabalhando e isso tudo mudou. Um exemplo dessa mudança é que
recentemente meu gato passou mal e eu pude sair do trabalho e leva-lo ao
veterinário. No passado, eu jamais teria autonomia para isso”.
A
partir dessa realidade e diante do medo de perder a própria filha, ela decidiu
mudar totalmente o estilo de vida e, por consequência, a atividade
profissional. Aos poucos, fez outros cursos na área da saúde, conquistou o
título de mestre em produção do cuidado em 2015 e passou a se cuidar da saúde
das pessoas de uma maneira diferente.
Desde
então, ela é responsável pelo Vilarejo, um centro de terapias holísticas onde se
aplica reiki, limpeza energética, massagem reichiana e outras terapias
integrativas.
A
terapeuta holística Amarry Morbeck define sua relação com o trabalho como
''liberdade'' — Foto: Rominik
“Foi
muito difícil abrir mão do trabalho, devido ao medo de perder minha
independência financeira. Mas a mudança de trabalho é uma mudança de vida, para
melhor''.
Assim
como no caso de Laís, a graduação de Amarry é um complemento que a auxilia na
carreira de terapeuta energética. Para ela, o cuidado tradicional da enfermagem
com o integrativo permite uma melhor maneira de tratar as questões levadas
pelos pacientes, o que ela descreve como um diferencial no mercado.
O
investimento requer tempo e disposição. Amarry diz que hoje trabalha
"tanto quanto antes, mas como empresária da ciência do cuidado" pode
desempenhar, com mais leveza e energia, as demais funções que a vida lhe exige.
''Hoje
eu tenho a liberdade de ser Amarry por completo. Eu não sou apenas terapeuta,
sou mãe de animais, mãe da Júlia, esposa, filha, amiga. Eu consegui ser mais
flexível comigo mesma e com minhas rotinas. Eu sou mais do que o meu
trabalho".
·
Busca por satisfação
Busca
por satisfação é o fator principal para a transição de carreira, segundo o
especialista Cristiano Saback — Foto: Arquivo Pessoal
Segundo
o consultor de carreiras Cristiano Saback, existem, majoritariamente, dois
perfis de pessoas que decidem realizar transições de carreira.
A
primeira categoria é formada por pessoas que escolheram suas carreiras sob
influências e cobranças externas, como pressões sociais e familiares. Contudo,
após anos de atuação, fazem a descoberta de algo que realmente gostam e a
partir disso nasce o desejo da mudança.
A
segunda é composta por pessoas que realizam a transição pela necessidade de
autonomia e independência. Conforme Cristiano, há um grande número de
trabalhadores que se veem insatisfeitos com o modelo de atuação no mercado, e
procuram um plano B, como o caso de Amarry.
Segundo
Cristiano, o fator principal que acomete as questões de mudança de carreira é o
desprazer com a própria vida. "O bem-estar das pessoas está diretamente
atrelado ao trabalho, visto que é algo que toma muito tempo do dia, então se
não há satisfação no trabalho, não há satisfação na vida".
''Cada
vez mais as pessoas buscam por qualidade de vida, o que leva diretamente à
satisfação profissional e acaba impactando na transição de carreira''.
Buscar
o emprego dos sonhos não é uma tarefa fácil, nem imediata. Cristiano aponta que
é necessário ter planejamento e estudo sobre o mercado em que deseja atuar. A
pedido do g1, o
especialista deu dicas para quem pensa em mudar de carreira.
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Confira abaixo:
- Ao realizar a
escolha de uma carreira é importante que ela seja experimentada. Você vai
entender que existem vários direcionamentos para o trabalho naquela
profissão. Quando começamos a atuar, temos muitas expectativas, e se
focamos somente nelas, ao invés de sabermos como é trabalhar naquela área,
pode haver uma frustração. É necessário entender que ela pode proporcionar
outros caminhos. Há pessoas que não precisam, necessariamente, de
transições;
- Reflita sobre
a sua insatisfação. É sobre o emprego ou a carreira? Há casos que a
transição se refere somente a uma rotina dentro da própria área de
trabalho, como mudança de cargo ou funções, trazendo uma maior satisfação
profissional;
- Se a
insatisfação for, de fato, com a carreira, é preciso realizar uma
transição profissional. Para isso faça pesquisas, entenda como está o
mercado então descubra a nova área que atuar. Busque cursos, palestras,
workshops e, especialmente tenha coragem - este é o item principal.
Fonte:
g1
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