3 mitos sobre o
financiamento climático para cidades
Diante
da crise climática, as cidades brasileiras precisam acelerar ações de mitigação
e adaptação e sanar
lacunas de infraestrutura e serviços com investimentos de baixo carbono. Mas
como pagar por esses investimentos? É nesse contexto que o financiamento
climático tem
despontado como luz no fim do túnel: um eldorado de recursos, por vezes difícil
de alcançar devido ao caráter inovador que projetos sustentáveis e resilientes
representam para as cidades.
Decifrar
os caminhos do financiamento climático, porém, pode abrir acesso a capital de
menor custo para os municípios. Para auxiliar as cidades nesse processo, o CDP
Latin America e o WRI Brasil lançaram a publicação Desmistificando o financiamento
climático para municípios: ampliando as oportunidades de projetos climáticos
para governos subnacionais. Com gráficos explicativos e linguagem
acessível, o documento esclarece mitos e preconcepções recorrentes sobre os
recursos e instrumentos para investimentos de baixo carbono.
A
seguir, elencamos três mitos abordados:
1.
“Articulação governamental pode atrasar a execução dos projetos”
A
articulação governamental multinível é um trunfo para projetos climáticos em
cidades. A agenda do clima nas cidades se relaciona com uma série de políticas
nacionais implementadas ou em discussão, como o Marco Legal do Saneamento, a
Política Nacional de Mobilidade Urbana e a Política Nacional de Desenvolvimento
Urbano. Nesse contexto, o diálogo e a colaboração de diferentes partes
contribuem para reduzir a percepção de risco dos projetos e aumentar a chance
de sucesso ou agilidade de implementação.
Seguir
a esteira desses grandes movimentos nacionais ou setoriais facilita o
engajamento das partes interessadas e impactadas pelos projetos. A aderência a
essas políticas contribui para trazer segurança jurídica, eliminar barreiras e
abrir espaço para novos modelos de negócios. Ou seja, a articulação
governamental não é um entrave – pelo contrário, é um diferencial positivo que
cidades devem buscar ao elaborar projetos climáticos.
2.
“Projetos devem ser desenvolvidos exclusivamente pelas secretarias de
infraestrutura”
Um
dos trunfos de muitos projetos climáticos é o fato de abordarem,
simultaneamente, mais de um desafio – e de gerarem múltiplos benefícios. Por
conta disso, frequentemente se relacionam com atribuições de diferentes
setores, secretarias e órgãos municipais.
Por
exemplo, um parque linear multifuncional pode ser projetado com o intuito
principal de mitigar os efeitos do calor, das enchentes e das inundações. Desse
modo, se relaciona com pastas de infraestrutura, defesa civil, resiliência e
saneamento. Mas é, também, uma área de lazer e prática de esportes, e que pode
abrigar infraestrutura de mobilidade, como ciclovias.
O
envolvimento e a articulação das diferentes secretarias na construção do
projeto, portanto, tende a conferir robustez ao projeto e pode otimizar a
alocação de capital. A apresentação de uma proposta pode ser liderada por uma
secretaria, mas esta não precisa ser a única a contribuir com a construção do
projeto.
Muitas
vezes, municípios menores não possuem uma secretaria específica para cuidar de
projetos. Nesses casos, modelos de governança suprem a falta de secretarias
específicas, por meio da introdução de grupos de trabalho multidisciplinares,
com representantes das secretarias envolvidas, ou mesmo por meio da formação de
Comissões de Licitações. Esses grupos podem ainda ser o elo de diálogo entre
sociedade, prefeitura e iniciativa privada. Deste modo, têm o potencial de
trazer maior governabilidade para as propostas e promover impactos positivos
para além dos ganhos financeiros, como transparência, comunicação e
organização.
3.
“Projetos não reembolsáveis não são adequados para financiamento climático”
É
comum que projetos em estágios iniciais ou de pequeno porte utilizem fontes de
recursos disponíveis de forma não reembolsável. Etapas iniciais de projetos
climáticos, como as fases de planejamento ou pré-investimento, também podem
contar com recursos não reembolsáveis para a estruturação técnica dos projetos.
Diversos
fundos e instituições financeiras oferecem recursos não reembolsáveis para
projetos com foco em mitigação e adaptação climática e beneficiam projetos no
Brasil. É o caso do Fundo Amazônia, do Green Climate Fund e da Agência Francesa
de Desenvolvimento. Também há iniciativas com foco específico em adaptação,
como o Fundo de Adaptação das Nações Unidas e o Global Environment Facility.
·
Destravar o financiamento climático em cidades
Os
três pontos abordados acima são apenas algumas das ideias sobre financiamento
climático da publicação, que apresenta mais de uma dezena de mitos, mas também
fatos e pontos para discussão. Trata das restrições legais ao acesso de
municípios a certas modalidades de recursos climáticos, como os títulos verdes
– mas também de caminhos para contorná-las, como o estabelecimento de parcerias
público-privadas (PPPs). Explica os diversos tipos de instrumentos financeiros
à disposição das cidades, e aponta os caminhos a seguir, da capacitação à
mudança da visão de curto prazo.
O
WRI Brasil atua, desde 2017, para impulsionar a adoção de projetos climáticos
em cidades e regiões metropolitanas no Brasil. Em iniciativas como pesquisas
sobre infraestrutura
natural para a água,
a (Rede FISC) e o Acelerador de Soluções Baseadas na
Natureza em Cidades,
fica claro que há uma demanda por produtos de conhecimento que orientem
gestores e técnicos na estruturação de projetos inovadores. A publicação em
parceria com o CDP Latin America é mais um fruto importante dessa atuação, por
meio da qual esperamos que mais cidades qualifiquem seus projetos e obtenham
recursos para implementá-los.
Fonte:
WRI Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário