Sexo, amor
e imortalidade: o que explica nossa obsessão por vampiros
Eles
são criaturas imortais, sedentas por sangue e se alimentam de seres humanos.
Eles têm presas afiadas e aversão ao alho e à luz do sol.
Os
vampiros não parecem ser o tipo de herói que costuma atrair simpatia. Ainda
assim, eles nos fascinam há séculos.
O
primeiro conto em língua inglesa sobre estes monstros foi escrito em 1819: O
Vampiro (Ed. Clepsidra, 2020), de John William Polidori (1795-1821).
Outros
se seguiram, entre eles Drácula, de Bram Stoker (1847-1912). O livro inspirou o
filme mudo Nosferatu (1922), do cineasta alemão F. W. Murnau (1888-1931).
A
obra foi refilmada pelo diretor Robert Eggers, estrelada pelos atores Bill
Skarsgård, Lily-Rose Depp e Nicholas Hoult. Seu lançamento no Brasil está
previsto para janeiro de 2025.
Mas
qual o motivo da nossa atração por histórias de vampiros?
A
fascinação do escritor e ator Mark Gatiss começou cedo. Um dos roteiristas das
séries da BBC Sherlock (2010-2017) e Drácula (2020), ele conta que é
"obcecado pelo terror" desde que se conhece por gente.
Sua
paixão de infância por histórias assustadoras fez com que Gatiss interpretasse
Drácula em uma produção de áudio. Ele depois produziu um documentário sobre o
monstro e uma série para a BBC, que mostra as aventuras do conde em Londres,
interpretado por Claes Bang.
Para
ele, a oportunidade de trazer à vida o emblemático vampiro de Stoker parecia
"boa demais para ser verdade".
"Como
Sherlock Holmes, ele é um mito imortal e, de fato, se alguém oferecer a chance
de produzi-lo — você tem que fazer", ele conta.
Rolin
Jones é roteirista e produtor executivo da adaptação para a TV de Entrevista
com o Vampiro (2022-2024). A série é baseada na coleção de romances da
escritora americana Anne Rice (1941-2021).
Nela,
o vampiro Louis de Pointe du Lac (interpretado por Jacob Anderson) conta a um
jornalista a história de sua vida e do seu relacionamento com Lestat de
Lioncourt (Sam Reid). No Brasil, Entrevista com o Vampiro de Anne Rice está
disponível na Amazon Prime Vídeo.
Jones
explica que as histórias de vampiros "vão e vêm com frequência"
porque "elas causam sensações fortes e apavoram as pessoas". Muitas
delas levantam questões sobre a imortalidade, o amor e a morte.
Podemos
observar a popularidade atual destas figuras nas redes sociais. A hashtag
#vampire, por exemplo, tem 2,7 milhões de postagens no TikTok.
Jones
destaca que, todos os dias, ele observa mais pessoas tatuando no corpo os
rostos dos personagens. Para ele, "este é um grupo de fãs fanáticos".
• 'Quase morri de susto'
As
características dos vampiros da ficção mudaram ao longo da história. Alguns
queimam até torrar na luz do sol, enquanto outros ficaram famosos pela sua pele
cintilante, por exemplo.
Mas
todos eles têm um ponto em comum: a imortalidade.
A
professora Sam George, da Universidade de Hertfordshire, no Reino Unido,
leciona sobre os vampiros da ficção.
Ela
explica que esses monstros fazem sucesso por tanto tempo, em parte, porque eles
"nos fazem pensar nas grandes questões que nos preocupam, as ideias sobre
o envelhecimento" e "o que acontece além do túmulo".
George
destaca que "o vampiro sempre teve forte relação com as doenças
contagiosas". Para ela, se examinarmos a história, podemos ver que o nosso
interesse pelo monstro imortal parece ser exacerbado em tempos de doenças em
massa.
"Quando
surgiu o primeiro vampiro da ficção, em 1819, havia uma forte relação com a
tuberculose", ela conta.
George
explica que o filme mudo Nosferatu, de 1922, é baseado em um personagem famoso
pelos ratos portadores da peste que o acompanhavam. O filme foi lançado pouco
depois da pandemia de gripe espanhola.
A
professora ressalta que isso "é muito importante para explicar por que os
vampiros são tão populares agora, se você analisar Nosferatu e sua relação com
a peste e pensar que, depois da covid, estamos tão interessados nos vampiros
como fontes de contágio".
Rolin
Jones acrescenta que, para ele, um ponto de interesse fundamental é descobrir
por que os vampiros querem continuar vivendo. Para ele, "a mortalidade
está presente em qualquer drama e isso é muito interessante".
Ele
destaca que a própria Anne Rice escreveu o romance depois de perder sua filha e
este sentimento de "luto e pesar" é "excepcionalmente bem
articulado" no livro.
• Sedutores
como
Assad Zaman, que interpreta o vampiro Armand, e Jacob Anderson, que vive Louis
de Pointe du Lac, na série de TV 'Entrevista com o Vampiro de Anne Rice'.
Os
vampiros podem fazer despertar nossos medos da morte e da nossa mortalidade,
mas Jones ressalta que existe algo mais que nos atrai nestes personagens de
dentes compridos.
"Eles
são os monstros mais sexy, mais sensuais que existem", segundo ele.
"Eles seduzem você."
Sam
George concorda. Ela explica que "os vampiros ficaram mais jovens e
atraentes ao longo dos anos", relembrando a diferença entre Nosferatu e
Edward Cullen, da saga Crepúsculo (2008-2012), interpretado por Robert
Pattinson.
A
professora destaca que a forma em que as pessoas leem histórias de ficção sobre
vampiros "mudou". Ela explica que houve um aumento do interesse pelo
tema da sexualidade dos vampiros, como a "família queer" apresentada
no romance de Rice.
A
combinação entre o amor e a imortalidade, segundo George, também aparece no
filme Drácula de Bram Stoker (1992), de Francis Ford Coppola. Seu slogan era
"o amor nunca morre".
Para
George, a "sensação de que o vampiro pode abordar uma série de questões de
uma vez", do amor até a morte, é o motivo que explica por que este
personagem permanece tão popular até os dias de hoje.
Fonte:
BBC News
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