Dois de Julho: 200
anos de luta e resistência do povo baiano
Ficar
livre da opressão portuguesa e conquistar por completo o território nacional
eram os sentimentos que uniram o povo brasileiro há 200 anos. A tirania de
Portugal não combinava mais com os baianos. Mas foi no ano de 1823 que o povo
brasileiro que aqui residia decidiu que o despotismo não iria mais comandá-los.
Mas o processo de independência do Brasil na Bahia não foi rápido, ao contrário
durou um pouco mais de um ano, mesmo depois da declaração da independência do
Brasil no Sete de Setembro. Aconteceram diversos conflitos e muitas pessoas
morreram no processo para que hoje pudesse ser comemorada a vitória do 2 de
julho.
Para
que haja uma melhor compreensão sobre a Independência da Bahia em 1823, é
preciso voltar um ano antes. Alguns dos motivos que levaram a emancipação da
província baiana foi a grande cobrança de impostos por parte da coroa
portuguesa.
Além
disso, a substituição do até então governador de armas da Bahia, Manuel de
Freitas pelo Brigadeiro Madeira de Melo, um homem de personalidade perversa e
autoritária, foi um incentivo para que acontecessem os conflitos pela
emancipação.
O
historiador Ricardo Carvalho esclarece os motivos que resultaram nas lutas pela
independência da Bahia. “A Bahia guardou condições ideais para um movimento de
insurgência contra o domínio português no Brasil. Primeiro porque a opressão
fiscal era muito grande. A economia açucareira já vinha em processo de
decadência desde a saída dos holandeses do Brasil, e ainda assim as cobranças
de impostos eram muito grandes”, explicou.
Carvalho
ainda reforça que a Conjuração Baiana já dava sinais da insatisfação do povo
frente ao regime português. “Romper o vínculo com Portugal, acabar com o
sistema escravista e criar um regime republicano era uma premissa do que viria
mais adiante. Aqui na Bahia algumas condições favoreceram esse rompimento, que
aconteceram antes mesmo do sete de setembro”.
O
Brigadeiro Madeira de Melo enviado ao Brasil pela coroa portuguesa não foi
muito bem recebido pelas tropas
brasileiras,
diante da oposição ele tomou o poder à força. Muitos ataques e saques às
residências dos baianos foram ordenados por Madeira de Melo. Dentre eles, uma
tentativa de invasão ficou marcada na história da independência da Bahia: a
invasão ao Convento da Lapa. As forças portuguesas tentaram adentrar o
convento, pois eles achavam que homens do exército brasileiro podiam estar
escondidos naquele local. Mas a primeira mártir da guerra, a abadessa Joana
Angélica, tentou impedir a entrada deles, no entanto a mesma foi morta por
golpes de baionetas, um tipo de arma militar da época.
Outro
momento que foi fundamental para que houvesse finalmente a emancipação da Bahia
foi a Batalha de Pirajá. A declaração da Independência do Brasil já tinha
acontecido no dia 7 de setembro de 1822, mas mesmo assim, uma parte do Brasil,
a Bahia, ainda era colonizada por Portugal. Diante da opressão e violência do
exército português liderado por Madeira de Melo, o príncipe regente, Dom Pedro
I enviou reforços militares para a província baiana comandados pelo General
Pedro Labatut.
• Negros livres, brancos pobres e
indígenas no Exército
O
exército brasileiro que era formado por negros livres e escravizados, soldados
contratados, indígenas e por brancos pobres estavam com fome, cansados e
doentes.
Ainda
assim, o General Labatut com suas estratégias militares conseguiu montar um
cerco contra o brigadeiro Madeira de Melo tanto em terra, desde Pirajá até
Itapuã, quanto pela Baía de Todos-os-Santos, impedindo assim que suprimentos e
reforço militar chegasse para a tropa portuguesa.
Ainda
com a Batalha de Pirajá acontecendo em Salvador, um personagem teve
participação fundamental: o soldado Lopes. Mesmo com Negros livres, brancos
pobres e indígenas no Exército o cerco contra as forças portuguesas, os
brasileiros envolvidos na guerra estavam em desvantagem. Diante disso, o
corneteiro Lopes recebeu ordens para dar o toque de “recuar” na sua corneta,
mas o soldado fez o contrário, tocando “cavalaria avançar!”. Temendo a
represália, os militares portugueses partiram em retirada, dando vitória ao
exército brasileiro. Mas a luta pela independência da Bahia ainda não tinha
acabado.
Mesmo
perdendo a Batalha de Pirajá, Madeira de Melo não saiu do território baiano.
Ele tentou invadir a Ilha de Itaparica, mas não obteve sucesso graças à
lendária baiana Maria Felipa, que juntamente com outras mulheres detiveram as
tropas portuguesas. Já em maio de 1823 mais reforços marítimos a favor do povo
baiano chegaram ao porto de Salvador. Sem suprimentos e percebendo que estava
derrotado, o exército português comandado por Madeira de Melo finalmente deixou
a Bahia no dia 2 de julho de 1823. Toda a população saudou ao exército
brasileiro pela vitória. Após isso, todos os anos a Independência da Bahia é
celebrada.
O
historiador Ricardo Carvalho fala da importância da emancipação baiana ocorrida
no dia 2 de julho de 1823. “Sem a luta de independência da Bahia não existiria
a independência do Brasil. O Dois de julho é o dia da libertação nacional. Ele
representou a consolidação da unidade nacional. Após perder o sul do Brasil,
desde que Dom Pedro não aceitou a ingerência de Portugal a partir do ato
simbólico do sete de setembro de 1822, restava aos portugueses a esperança de
pelo menos manter o restante do Brasil, da Bahia para cima. Ou seja, o Brasil
estaria dividido hoje se a Bahia não tivesse consolidado a independência e não
tivesse garantido a unidade nacional”, pontuou.
Fonte:
Tribuna da Bahia
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