Chefe da aliança do BRICS avalia parceria África-Rússia: 'Não é
política, amigos ajudam amigos'
Em entrevista à Sputnik, presidente da Aliança
Internacional de Projetos Estratégicos do BRICS diz que lhe perguntam qual é o
benefício na parceria Rússia-África, e que sua resposta é: amigos devem ajudar
uns aos outros. A líder da aliança também avaliou o atual contexto da segurança
alimentar africana.
No início desta semana, líderes e altos
funcionários russos e africanos se reuniram em São Petersburgo para a Segunda
Cúpula Rússia-África. Os participantes discutiram áreas de interesse mútuo,
incluindo a garantia da segurança alimentar no continente africano à luz do
conflito em curso na Ucrânia e a suspensão do acordo de grãos do mar Negro.
A presidente da Aliança Internacional de Projetos
Estratégicos do BRICS, Larisa Zelentsova, disse que a aliança – uma organização
pública que promove iniciativas cívicas, incluindo "diplomacia do
povo" apoiando vários projetos que vão desde cultura a aeroespacial e
inovação digital – está atualmente explorando formas alternativas de entregar
grãos russos aos países do continente.
Zelentsova reconheceu que no evento, realizado de
27 a 28 de julho, tanto o lado russo quanto o africano reiteraram a necessidade
de garantir a segurança alimentar na África. A presidente delineou o plano do
governo para resolver o problema, mas enfatizou que as empresas também
desempenham um papel crucial.
Ela explicou que, ao facilitar contatos e laços, o
órgão do BRICS está ajudando o setor privado russo a fornecer alimentos
essenciais ao continente africano.
"Acho que agora há uma necessidade de resolver
os problemas de logística, também é possível resolvê-los. E existem algumas
formas diferentes, não só governamentais. No nível governamental, às vezes é
difícil, mas estamos tentando encontrar e já encontramos maneiras de fornecer
alimentos", afirmou a líder em entrevista à Sputnik África.
Sobre a suspensão do acordo de grãos, embora
Zelentsova tenha explicado que a questão é em grande parte política, ela
expressou confiança em encontrar novas maneiras de fornecer grãos e
fertilizantes russos aos países africanos. Essas oportunidades, observou,
"são baseadas em relações e contatos humanos".
A presidente enfatizou a importância das interações
pessoais, lembrando que na Cúpula Rússia-África, reuniões com representantes de
empresas de fertilizantes geraram acordos incipientes e contatos futuros.
"Não é um negócio difícil, acredite.
Novamente, é apenas uma questão de contatos e como combinar todas as
possibilidades. E é possível. Não estamos falando de política. Temos que ajudar
as pessoas", disse Zelentsova, enfatizando que as questões políticas
permanecem separadas.
Ao mesmo tempo, a presidente destacou o
envolvimento de sua organização com Burkina Faso e seu compromisso em promover
a colaboração em vários setores.
No sábado (29), o presidente russo, Vladimir Putin,
anunciou durante uma reunião com o líder do país, Ibrahim Traore, que Moscou
planeja reabrir sua embaixada em Ouagadougou para ajudar a cultivar a
cooperação entre os dois países.
Zelentsova disse que a missão diplomática servirá
como o rosto da Rússia e desempenhará um papel importante na promoção da
amizade e relações estreitas com o governo e o povo burquinense.
"Portanto, é [o] exemplo de como mostramos que
a Rússia está aqui. A Rússia não saiu da África. Está aqui e está com os
africanos. E eles sempre perguntam: por que você está aqui? Ontem [29], a
propósito, algumas pessoas me perguntaram, e qual é o lucro para a Rússia fazer
[negócios] com a África? Eu disse [a eles] que somos amigos e amigos devem
ajudar uns aos outros. É por isso que estamos aqui", afirmou.
A presidente da aliança ainda revelou uma proposta
para convidar aproximadamente 50 estudantes de Burkina Faso para uma das
universidades na região russa do rio Volga.
Este programa de intercâmbio educacional ressalta a
devoção da Aliança Internacional de Projetos Estratégicos do BRICS em nutrir o
desenvolvimento do capital humano e promover o crescimento mútuo entre a Rússia
e a África.
"E então também nos encontraremos com o
presidente da República Centro-Africana porque queremos esclarecer algumas
questões para continuar nosso caminho e cooperação", acrescentou,
lembrando que será assinado um acordo sobre assuntos de comunicação e televisão
5G, significando progresso nestes campos-chave.
Zelentsova concluiu reafirmando o compromisso da
organização em avançar a cooperação com a África em todas as direções
possíveis, promovendo a diplomacia de pessoa para pessoa e implementando vários
projetos.
Ø Após golpe no Níger, EUA temem arco de países antiamericanos e novas
revoltas na África, diz mídia
A violência no Sahel tem aumentado nos últimos
anos, e vários países da região têm sido vítimas de golpes militares, havendo
agora a possibilidade de as forças dos EUA não serem bem-vindas no Níger.
O golpe militar no Níger "derrubou o último dominó"
em um grupo de países africanos, desde a Guiné, no extremo oeste do continente,
até o Sudão, no extremo leste, que agora são controlados por golpistas,
noticiou no sábado (29) o The New York Times (NYT).
O jornal considera o presidente nigerense Mohamed
Bazoum, que foi derrubado, um aliado dos EUA eleito democraticamente, e as
consequências do golpe, uma ameaça à luta americana contra os regimes
pró-islamistas na África.
"Para os Estados Unidos e seus aliados, o
golpe levantou questões urgentes sobre a luta contra os militantes islâmicos no
Sahel, uma vasta região semiárida onde grupos ligados à Al-Qaeda e ao Daesh
[ambas organizações consideradas extremistas e proibidas na Rússia] estão
ganhando força em um ritmo alarmante", disse a mídia.
Como observa o NYT, as imagens do golpe em Niamey,
a capital do Níger, onde os manifestantes agitaram bandeiras russas,
representam cenas semelhantes às durante o golpe na vizinha Burkina Faso,
embora elas, junto com os golpes na Guiné e Mali, tenham tido motivos diferentes.
O artigo nota que a presença das bandeiras não
significa que o Kremlin esteja por trás das ações dos rebeldes, mas
"simboliza como a Rússia se posicionou nos últimos anos como portadora de
um sentimento antiocidental e especialmente antifrancês em partes da
África".
O Níger, com pelo menos 1.100 militares e duas
bases de drones que custaram US$ 110 milhões (R$ 520,45 milhões), era
considerada uma "pedra angular" para os EUA. O NYT avalia que se a
junta chegar ao poder, os americanos poderão ser convidados a deixar o país e
"abrir as portas" para a Rússia.
O golpe foi condenado pela União Africana, a
Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental e a União Europeia, que
instaram ao retorno ao poder do presidente Bazoum, enquanto Antony Blinken,
secretário de Estado dos EUA, advertiu, junto com a UE, que o apoio econômico
ao país cessará caso o golpe de Estado não seja invertido. A Rússia, por sua
parte, também criticou o evento e instou as partes a não usarem a força.
Segundo o Instituto para a Economia e a Paz, o
Sahel tem sido o epicentro da violência jihadista nos últimos anos,
ultrapassando o Oriente Médio e o Sul da Ásia, representando 43% de tais mortes
em 2022, em comparação com 1% em 2007.
Ø 'Se juntar à Nova Rota da Seda da China foi uma decisão atroz', diz
ministro da Defesa italiano
A Itália assinou o acordo com Pequim em março de
2019. Caso o pacto não seja quebrado até dezembro, o mesmo se renova por mais
cinco anos automaticamente. Porém, tal renovação vem enfrentado resistência
dentro do governo italiano e pressão do G7.
Neste domingo (30), o ministro da Defesa italiano,
Guido Crosetto, disse que Roma tomou uma decisão "improvisada e
atroz" ao ingressar na Nova Rota da Seda da China (BRI, na sigla em
inglês) há quatro anos.
"A decisão de ingressar na Nova Rota da Seda
foi um ato improvisado e atroz, que multiplicou as exportações da China para a
Itália, mas não teve o mesmo efeito nas exportações italianas para a
China", disse Crosetto segundo a Reuters.
A Itália aderiu à nova rota sob governo anterior,
tornando-se o único grande país ocidental a dar esse passo. Crosetto faz parte
da atual administração da premiê Giorgia Meloni, a qual está considerando
romper com o acordo.
"A questão hoje é: como sair da BRI sem
prejudicar as relações [com Pequim]. Porque é verdade que a China é
concorrente, mas também é parceira", acrescentou o ministro.
No final de junho, o governo chinês enviou alto
diplomata à capital italiana para convencer Roma a ficar no acordo que tem
validade até 22 de dezembro.
Em maio, na reunião de países do G7, o
subsecretário do Ministério das Relações Exteriores da Itália, Giorgio Silli,
disse que "embora uma decisão final não tenha sido tomada, não há dúvidas
de que a Itália pertence estrategicamente ao Ocidente […]", acrescentando
que uma posição acontecerá "tendo em conta a reflexão mais ampla em curso
com a OTAN, G7 e parceiros da UE sobre a relação com a China", conforme
noticiado.
Ø Alemanha emite alerta sobre aumento de espionagem da China; chefe da
Bosch pede 'menos preocupação'
Órgão de contraespionagem alemã alertou
funcionários públicos e formuladores de políticas de que a China tem aumentado
sua atividade de espionagem no país. Entretanto, chefe da maior fornecedora de
autopeças da Europa acha preocupação excessiva.
De acordo com uma notificação emitida na
sexta-feira (28) pelo Bundesamt für Verfassungsschutz (Escritório Federal para
a Proteção da Constituição, na tradução), a liderança chinesa intensificou
significativamente seus esforços para obter informações de inteligência nos
últimos anos e "construiu uma rede mundial de contatos e está
constantemente se esforçando para expandi-la".
A entidade também disse que o Departamento
Internacional do Comitê Central do Partido Comunista da China (IDCPC, na sigla
em inglês) desempenhou um papel central nas ações de espionagem e pediu às
autoridades alemãs que fiquem vigilantes em suas interações com seus
representantes.
"Tenha cautela e moderação especiais" ao
entrar em contato com o IDCPC ou seus membros, disse a nota, enfatizando que
deve-se evitar qualquer ação que possa ser interpretada como cooperação com um
serviço secreto estrangeiro sob a lei alemã.
O governo de Olaf Scholz está tentando reduzir a
dependência do país de Pequim como um importante parceiro comercial e está
pressionando as maiores empresas da Alemanha a garantirem que seus riscos na
China sejam administráveis como parte de esforços mais amplos para restabelecer as relações com o governo chinês.
·
Mais competitividade menos preocupação
Ao mesmo tempo, o chefe da alemã Bosch, Stefan
Hartung, pediu aos governos europeus que gastem mais tempo melhorando a
competitividade da União Europeia, em vez de se concentrar nos riscos que as
empresas enfrentam ao fazer negócios na China, segundo o The Financial Times.
"Em várias áreas, você encontra barreiras
entre países e relações de importação e exportação que […] às vezes são piores
do que [ao fazer negócios] fora da Europa", acrescentou.
Segundo a mídia, ao ser questionado sobre a
"redução de riscos" da China, Hartung respondeu: "O que estamos
fazendo pelo mercado unificado da Europa? Isso não tem sido muito discutido
ultimamente".
Para ele, "reduzir o risco não é realmente um
ótimo termo, porque parece muito fácil" e que "você não pode reduzir
o risco isolando-se".
Em sua visão, os governos devem buscar melhorias no
mercado único "se nós, como europeus, queremos ser competitivos".
O apelo de Hartung para que os governos e Bruxelas
resolvam as próprias falhas do bloco ocorre quando o número de execuções contra
violações das regras do mercado interno – criadas para garantir a livre
circulação de bens, capitais, serviços e pessoas – caiu entre 2020 e 2022.
Falha na adesão às regras pode levar os
Estados-membros a adotarem padrões diferentes que impedem os negócios transfronteiriços,
diz o jornal.
Fonte: Sputnik Brasil
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