sábado, 29 de julho de 2023

Coaf aponta transações suspeitas entre Mauro Cid e militar que teria planejado golpe

O segundo-sargento Luis Marcos dos Reis, preso em maio deste ano na operação da Polícia Federal (PF) sobre a suspeita de fraude no cartão de vacina de Jair Bolsonaro, depositou mais de R$ 70 mil na conta do braço-direito do ex-presidente, o tenente-coronel Mauro Cid, no período de julho de 2022 a janeiro de 2023. A informação consta no relatório do Conselho de Controle e Atividades Financeiras (Coaf) ao qual a Agência Pública teve acesso.

As transações entre Cid e Dos Reis foram apontadas pelo órgão como suspeitas: “Considerando a movimentação atípica sem justificativa e as citações desabonadoras na mídia tanto do analisado como do principal beneficiário, comunicamos pela possibilidade de constituir em vício do crime de lavagem de dinheiro ou com ela relacionar-se”.

Os dados foram enviados à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os atos golpistas de 8 de janeiro, que retomará os trabalhos na volta do recesso parlamentar, na semana que vem. Segundo o Coaf, Mauro Cid movimentou em seis meses – de 26 de julho de 2022 a 25 de janeiro de 2023 – o montante de R$ 3,2 milhões. A informação foi revelada pelo jornal O Globo.

As transações bancárias do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que recebe salário de R$ 26.239, foram consideradas “atípicas e incompatíveis” pelo órgão que identificou ainda que Cid enviou mais de R$ 367 mil para os EUA em 12 de janeiro de 2023, quando ele se encontrava no país com Jair Bolsonaro.

“Considerando a movimentação elevada, o que poderia indicar tentativa de burla fiscal e/ou ocultação de patrimônio, e demais atipicidades apontadas, comunicamos pela possibilidade de constituir-se em indícios do crime de lavagem de dinheiro, ou com ele relacionar-se”, destacou o Coaf em seu relatório que revela ainda que Mauro Cid teria autorização para fazer movimentações financeiras em nome do ex-presidente.

Ainda de acordo com o Coaf, entre janeiro e maio deste ano, Mauro Cid teria depositado R$11.740,00 na conta de Dos Reis. Segundo os dados obtidos pela reportagem, o militar teria movimentado como “remetente e beneficiário” mais de R$ 151 mil no período analisado pelo órgão — o segundo-sargento recebe mensalmente R$ 13.346,79.

Cid e Dos Reis trabalharam juntos desde o início do mandato de Jair Bolsonaro, até agosto de 2022, quando Dos Reis foi transferido para o Ministério do Turismo. Em 3 de maio eles foram presos na Operação Verine, da PF, que investiga a atuação de associação criminosa suspeita de inserir dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde.

Além de estarem envolvidos no escândalo do cartão de vacinas, os militares também teriam discutido um plano de golpe, conforme mensagens encontradas pela PF no celular de Mauro Cid – que enviou para Luis Marcos dos Reis, o que seria uma minuta para a decretação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem). A apreensão do celular de Mauro Cid pela PF também trouxe à tona a participação do sargento nos atos golpistas, conforme revelado pelo UOL.

Em suas redes sociais, Dos Reis fez ataques a Alexandre de Moraes, do STF, defendendo seu impeachment, e estimulou o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19. Em currículo publicado no site do governo federal após assumir o cargo no Ministério do Turismo, ele incluiu que sua principal atividade no órgão era ser o “Responsável pelo atendimento das demandas Pessoais do Sr. Presidente da República”.

Dos Reis também é investigado por sacar dinheiro vivo e pagar contas da ex-primeira dama Michelle Bolsonaro. De acordo com investigação da PF, ele recebia recursos da Cedro do Líbano Comércio de Madeiras e Materiais para Construção, que tem contratos com o governo federal.

Relatório do Coaf sobre as contas da Cedro, também enviados à CPMI ao qual a Pública teve acesso, indicam “aparente incompatibilidade entre o porte/estrutura, vis à vis, o volume transacionado a crédito analisado”. O que, de acordo com o órgão “supostamente pode demonstrar que cliente esteja utilizando a conta para transacionar recursos provenientes de atividades não declaradas”. Além disso, foram identificados na análise da movimentação financeira o envio de R$ 8.330,00 via transferências interbancárias ao sargento dos Reis. 

De acordo com análise do Coaf, a Cedro movimentou R$ 33.272.706,00 no período de 1 de janeiro de 2020 a 30 do 4 de 2023, sendo que R$ 16.609.427 foram em débitos e R$: 16.663.279,00 em créditos – valor apontado como incompatível.

A Pública tentou contato com Mauro Cid e Luis Marcos dos Reis mas não obteve retorno até a publicação. Também não conseguimos contato com o ex-secretário de Comunicação Social Fabio Wajngarten e com representantes da Cedro. O espaço segue aberto para manifestação de todos os citados.

 

       Cid movimentou R$ 3,2 milhões de forma "atípica" e "incompatível", diz Coaf

 

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão responsável pelo combate à lavagem de dinheiro, identificou movimentação "atípica" e "incompatível" nas contas bancárias do tenente-coronel Mauro Cid, que atuou como ajudante de ordens de Jair Bolsonaro. Os dados foram enviados à CPMI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que investiga os atos golpistas de 8 de janeiro e revelados pelo jornal O Globo.

Cid encontra-se detido e está sob investigação da Polícia Federal (PF)  por seu suposto envolvimento em um esquema de fraudes no cartão de vacinação, além de ter sido identificado em conversas de teor golpista.

Segundo o jornal, o documento do Coaf revelou que foram encontrados nas contas de Cid indícios de "movimentação de recursos incompatível com o patrimônio, atividade econômica ou a ocupação profissional e capacidade financeira do cliente", além de "transferências unilaterais que, pela habitualidade e valor ou forma, não se justifiquem ou apresentem atipicidade."

Durante a análise das transações financeiras de Cid, o Coaf registrou que o militar movimentou um montante de R$ 3,2 milhões ao longo de 7 meses, de 26 de junho de 2022 a 25 de janeiro de 2023.

Nesse período, foram identificadas operações de débitos no valor de R$ 1,4 milhão e créditos no valor de R$ 1,8 milhão. O tenente-coronel é militar da ativa e recebe uma remuneração mensal de R$ 26.239.

Dentre as operações identificadas pelo Coaf, uma das que mais chamou atenção foi o envio de remessas aos Estados Unidos no valor de R$ 367.374 em 12 de janeiro de 2023. Essa data coincidiu com a presença de Cid e Bolsonaro no país.

Os dois haviam deixado o Brasil no fim de 2022 e, portanto, não acompanharam a cerimônia de posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"Considerando a movimentação elevada, o que poderia indicar tentativa de burla fiscal e/ou ocultação de patrimônio e demais atipicidades apontadas, comunicamos pela possibilidade de constituir-se indícios do crime de lavagem de dinheiro ou com ele relacionar-se", diz trecho do relatório.

Além disso, o Coaf também identificou 4 pessoas que estiveram envolvidas em transações com Mauro Cid. Entre elas, estão um "caixeiro viajante", um "ourives", um tio de sua esposa e o sargento Luis Marcos dos Reis. Este último era subordinado do ex-ajudante de ordens na Presidência e também está sob investigação da PF.

"Considerando a movimentação atípica sem justificativa e as citações desabonadoras na mídia tanto do analisado como do principal beneficiário, comunicamos pela possibilidade de constituir em vício do crime de lavagem de dinheiro ou com ela relacionar-se", diz outro trecho do relatório sobre a movimentação financeira entre Cid e Reis.

Desde o dia 3 de maio, Mauro Cid encontra-se preso preventivamente em um batalhão do Exército, após ser alvo de uma operação da PF que investiga possíveis fraudes no cartão de vacinação do ex-presidente Bolsonaro e de pessoas associadas a ele.

•        O que diz Cid

Em resposta ao O Globo, o advogado Bernardo Fenelon, responsável pela defesa de Cid, declarou que "todas as movimentações financeiras do tenente-coronel, incluindo as transferências internacionais, são legítimas e já foram devidamente esclarecidas perante a Polícia Federal".

O advogado também enfatizou que "todas as manifestações da defesa estão devidamente registradas nos autos do processo".

 

       Bolsonaro recebeu mais de R$ 17 milhões via Pix neste ano, diz relatório do Coaf

 

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu cerca de R$ 17,2 milhões via Pix nos seis primeiros meses deste ano, segundo o relatório produzido pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). De acordo com o órgão, o número alto de recebimentos pode estar atrelado à vaquinha que apoiadores do ex-presidente fizeram para pagar suas multas com a Justiça.

As informações são do jornal Folha de S. Paulo, que apontou que apenas entre os dias 1º de janeiro e 4 de julho, Bolsonaro recebeu mais de 769 mil transações via Pix, que totalizam R$ 17.196.005,80. Esse valor representa a maior parte do valor movimentado pelo ex-presidente durante o período, de R$ 18.498.532.

O Coaf considerou que os valores foram recebidos em uma "situação atípica e incompatível".

O relatório traz ainda uma lista de diferentes depósitos realizados por Pix ou por meio convencional. O detalhamento só informa depósitos a partir de R$ 5 mil e não é possível saber se foram via Pix ou transferência.

O PL, partido de Bolsonaro, transferiu R$ 47,8 mil em dois lançamentos e mais 18 nomes pagaram de R$ 5 mil a R$ 20 mil ao ex-presidente, segundo o relatório. A descrição dos nomes inclui empresários, advogados, pecuarista, militar, agricultor, estudante e duas pessoas identificadas como "do lar".

Há também três empresas, sendo que uma delas fez 62 lançamentos a Bolsonaro que totalizaram o valor de R$ 9.647.

As informações do relatório do Coaf foram enviadas para a CPI do 8 de janeiro junto a dados de outras pessoas ligadas a Bolsonaro.

 

       Empresa investigada por pagar despesas de Michelle Bolsonaro movimentou R$ 32 milhões

 

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) avalia que houve movimentação "incompatível" de recursos nas contas de uma empresa investigada por supostamente financiar despesas pessoais da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. A suspeita envolve a Cedro do Líbano Comércio de Madeira e Materiais para Construção.

A empresa recebeu R$ 16,6 milhões e desembolsou R$ 16,6 milhões entre o começo de janeiro de 2020 e o fim de abril deste ano. A movimentação de R$ 32,2 milhões foi considerada incompatível com o porte, o patrimônio, a atividade e a capacidade financeira da empresa.

"Chama atenção a aparente incompatibilidade entre o porte / estrutura, vis à vis o volume transacionado a crédito no período analisado, o que supostamente pode demonstrar que cliente esteja utilizando a conta para transacionar recursos provenientes de atividades não declarada", diz o relatório do Coaf sobre a Cedro do Líbano, que também é investigada pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

Os dados sobre a movimentação financeira "atípica" da empresa foram enviados à CPI do 8 de janeiro. A Cedro é investigada em inquérito da Polícia Federal, em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF).

No relatório do Coaf, é destacado que a empresa fez duas transferências bancárias, de R$ 8.330,00 cada, para o sargento Luís Marcos Dos Reis, um dos militares da equipe de Mauro Cesar Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro. Tanto Cid quanto Reis estão presos desde maio por suspeita de envolvimento em esquema de fraude nos cartões de vacinação de Bolsonaro. Antes de ser preso, Reis tinha participado pessoalmente dos ataques golpistas de 8 de janeiro em Brasília.

A Cedro do Líbano entrou na mira da CPI e da PF não só pelas transações com o militar que trabalhou com o ex-presidente, mas também porque fechou contratos com a Codevasf durante o governo de Bolsonaro.

 

Fonte: Por Por Alice Maciel e Thiago Domenici, da Agencia Pública/Terra/Agencia Estado

 

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