segunda-feira, 31 de julho de 2023

Delegada auxiliou assassinos de Marielle

Delatado como assassino da vereadora Marielle Franco, o ex-PM Ronnie Lessa costumava estacionar o carro usado no crime próximo à delegacia chefiada por Adriana Belém, delegada presa em 2022 com R$ 1,8 milhão em espécie dentro de casa. Belém foi denunciada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro por favorecer a milícia e o jogo do bicho no estado. Lessa e Maxwell Simões, ex-bombeiro preso na última segunda-feira (24/7), também fizeram parte da denúncia.

A informação sobre onde o Cobalt prata ficava estacionado foi citada pelo ex-PM Élcio Queiroz em sua delação premiada. Élcio confessou ter dirigido o carro, enquanto Lessa metralhou o automóvel da vereadora, matando Marielle e o motorista Anderson Gomes em 2018.

Segundo o documento, Lessa guardava o carro na Praia dos Amores, na região do Quebra-Mar, na Barra da Tijuca. A área é conhecida por ser comandada por grupos de contraventores. Fica a dois quilômetros da 16ª Delegacia de Polícia Civil, que era chefiada por Belém na época.

O local é citado cinco vezes na colaboração premiada. Foi na região do Quebra-Mar que Élcio de Queiroz viu o carro pela primeira vez, em 2017. Em 14 de março do ano seguinte, foi de lá que o veículo saiu no encalço de Marielle Franco.

“Relata [Élcio Queiroz] que viu o veículo pela primeira vez em 2017, quando se dirigia ao ‘quebra-mar’, viu Maxwell Simões, vulgo Suel, no banco do motorista, conversando com Ronnie Lessa, em pé do lado de fora, na Avenida do Pepê. Então, foi ao encontro deste que comentou que aquele carro estava sendo usado em um ‘trabalho’, dando a entender que se tratava de algo ilícito, mas sem especificar o quê”, afirmou o delator.

Na denúncia que o MP apresentou à Justiça em 2022 contra Lessa, Suel e a delegada Adriana Belém, a região do Quebra-Mar teve ainda mais destaque: 18 menções. A investigação apontou uma rede de jogos de azar no Rio de Janeiro cujos crimes eram acobertados por policiais, principalmente na delegacia de Belém.

“A casa ilegal de jogos gerida por Ronnie Lessa, situada na Avenida do Pepê, n.º 52, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, local conhecido como ‘Quebra-Mar’, também integrava o conglomerado de domínio da organização criminosa liderada por Rogério de Andrade, sendo este o ponto de convergência entre todos os envolvidos.”

•        Élcio de Queiroz revela novo envolvido em morte de Marielle

Em um dos depoimentos de delação premiada feito pelo ex-PM Élcio de Queiroz, confesso envolvido no assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, surgiu um nome de um novo envolvido no crime.

O ex-PM, que foi o responsável por dirigir o carro em que Ronnie Lessa atirou em Marielle e Anderson, afirmou que Bernardo Bello, acusado de ser um dos líderes do jogo do bicho no Rio de Janeiro.

Segundo o delator, Bernardo Bello e seu grupo teriam fornecido celulares utilizados pelos assassinos, além do veículo Chevrolet Cobalt utilizado pelo 'Escritório do Crime' no dia do crime.

"Vou falar posteriormente, encontros casuais, apareceu também celular, que eu achei estranho aquele celular aparecer pra ele. Ele [Lessa] costumava andar com celular de última geração, era um celular feio, mas era um smartphone. E o Ronnie não fala em telefone, só digita. Aí eu perguntei e ele falou que era de uma pessoa que tinha fornecido para ele", disse Élcio na delação.

Bello, que já enfrenta problemas na Justiça por ser uma das lideranças de um grupo de bicheiros na capital carioca, é um dos investigados no caso.

Além de Bello, Maxwell 'Suel' Simões Correia foi um dos investigados por envolvimento no caso Marielle Franco. O bombeiro apoiou a logística do assassinato, considerado o maior crime político da Nova República.

 

       Caso Marielle Franco: Bolsonaro aparece em foto ao lado de PM envolvido nas investigações

 

Alvo da operação Élpis, que levou de volta à cadeia o ex-sargento dos Bombeiros Maxwell Simões Correa, o Suel, como um dos articuladores do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, o policial militar Maurício da Conceição dos Santos Júnior, o Mauricinho, segue na ativa e está "apto para promoção".

Mauricinho é terceiro sargento da PM e está lotado no 15º Batalhão, em Duque de Caxias, e é considerado "apto para a promoção" na instituição, segundo informações do jornal O Globo.

Mauricinho, que foi alvo de busca e apreensão na operação desta semana, é um dos principais elos para se chegar ao principal suspeito de ser o mandante do crime: o ex-deputado estadual e atual conselheiro vitalício do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), Domingos Inácio Brazão.

No relatório da PF que motivou a operação - e a prisão de Suel -, a PF disponibilizou a imagem de uma conversa de WhatsApp datada de 11 de março de 2019, quando Jomar Duarte Bittencourt Júnior, conhecido como Jomarzinho, filho de um delegado da Polícia Federal, diz a Mauricinho que "pelo que me falaram vão até prender Brazão e Rivaldo Barbosa”.

•        Lado a lado

O jornalista Guga Noblat divulgou em sua conta do Twitter uma foto em que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) aparece ao lado do PM Mauricinho. Na legenda, Guga comenta:

“Impressão minha ou para fazer parte da milícia é preciso tirar uma foto com Bolsonaro ao lado? Mais um miliciano metido na morte da Marielle aparece ao lado do ex-presidente. Aquelas coincidências da vida, que azar do Bolsonaro.”

A seguir, ele explica quem é Mauricinho.

 

       Quem são Rivaldo Barbosa e Domingos Brazão, cujas prisões eram temidas por criminosos

 

A partir da delação premiada de Élcio de Queiroz, ex-PM preso acusado de dirigir o Cobalt prata utilizado no assassinato de Marielle Franco, em 14 de março de 2018, revelada na última segunda-feira (24), uma de série de novas informações têm contribuído com o esclarecimento do crime que chocou o país. Entre as informações obtidas, estão dois novos nomes: Rivaldo Barbosa e Domingos Brazão.

A dupla apareceu em uma conversa de WhatsApp trocada entre Jomar Duarte, o Jomarzinho, e Maxwell Simões, o Suel, que foi preso no começo da semana após Élcio de Queiroz confirmar sua participação em uma tentativa anterior, em 2017, de matar Marielle. Jomarzinho, por sua vez, é filho de um delegado da Polícia Federal e ficou sabendo da “Operação Marielle”. Ele colaborou com os assassinos, avisando-os.

Em 12 de março de 2019, quando o crime estava prestes a completar 1 ano, uma operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro e do Ministério Público levaram Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz para a cadeia. O alerta de que seriam alvos da mesma veio na véspera em 11 de março.

Naquela ocasião Jomarzinho enviou uma mensagem ao PM Maurício Conceição, conhecido como Mauricinho, informando que haveria uma “Operação Marielle” e que “pelo que me falaram vão até prender até Brazão e Rivaldo Barbosa não sei se é verdade”. Mauricinho é um policial militar que também colaborou com os milicianos.

Mauricinho em poucos minutos já teria avisado Suel, que concluiu a conversa com a seguinte mensagem: “Doido para isso acabar logo”. Na sequência ele teria avisado Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz.

•        Quem são Rivaldo e "Brazão"?

Rivado Barbosa, citado na conversa, é o delegado e ex-chefe da Polícia Civil do Rio, que foi associado pela PF a um suposto recebimento de R$ 400 mil em propinas para impedir avanços na investigação sobre o assassinato de Marielle e Anderson.

O outro personagem da troca de mensagens é Domingos Inácio Brazão. Atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, foi o pioneiro do clã Brazão a se empreitar na política, elegendo-se vereador em 1996.  Em 1998 tornou-se deputado estadual - cargo pelo qual foi reeleito por cinco vezes, após ter sido derrotado na campanha à prefeito da capital fluminense em 2000. Em abril de 2015, em sua última legislatura, foi eleito pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) para ser um dos sete conselheiros vitalícios do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ).

Além de carreira na política, Domingos Brazão tem uma extensa lista criminal e chegou a ser preso em 29 de março de 2017 durante a operação Quinto de Ouro, um desdobramento da Lava Jato que investigava uma organização criminosa, que incluía o filho do ex-governador e prefeito do Rio Marcello Alencar, suspeita de corrupção e desvio de verbas públicas.

Cerca de 10 anos antes, Domingos Brazão já havia enfrentado um processo de homicídio, quando teria perseguido dois homens e atirado pelas costas - um deles morreu. Ele alegou legítima defesa e o caso foi rejeitado 15 anos depois pela corte especial do Tribunal de Justiça, quando ele já era deputado estadual pelo MDB.

Em setembro de 2019, a então procuradora-geral da República, Raquel Dodge pediu autorização ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) para "apurar indícios de autoria intelectual de Domingos Brazão" na primeira tentativa de federalização das investigações sobre o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes.

"Domingos Brazão arquitetou o homicídio da vereadora Marielle Franco e visando manter-se impune, esquematizou a difusão de notícia falsa sobre os responsáveis pelo homicídio", diz o documento assinado pela ex-PGR.

 

       O que Marielle Franco denunciava na época que foi assassinada

 

Desde a última segunda-feira (24) uma série de novos detalhes a respeito do assassinato de Marielle Franco vêm sendo revelados a partir da delação premiada de Élcio de Queiroz, que compôs a quadrilha que executou a vereadora em 14 de março de 2018.

Além dele, também agiram o ex-bombeiro Maxwell Simões e os ex-PMs Edimilson Macalé e Ronnie Lessa, que à época era vizinho de Jair Bolsonaro no condomínio Vivendas da Barra. Mas as suspeitas de que o assassinato de Marielle tenha sido um crime político vão muito além das relações que o ex-presidente possa ter tido com os acusados e estão ancoradas, sobretudo, nas denúncias que a vereadora fazia.

Em 24 de fevereiro de 2018, cerca de três semanas antes do seu assassinato, o jornalista Gabriel Brito publicou no Correio da Cidadania uma extensa entrevista com Marielle. Uma das últimas publicadas com a vereadora em vida. Naquele momento, o Rio de Janeiro vivia uma crise generalizada que se expressava com gravidade, entre outras áreas, na segurança pública. Marielle analisava justamente esse momento, à luz da intervenção federal que levou o Exército para comunidades daquele Estado.

Para Marielle, naqueles tempos de Michel Temer na presidência e Pezão no governo estadual, o Estado do Rio de Janeiro não investia nos profissionais de segurança e a presença dos militares trazia prejuízos tanto no dia a dia da população como no âmbito da gestão pública.

“Já senti na prática o que é dormir e acordar com barulho de tanque, revistas e diversas violações de direitos, o que nos faz, favelados e faveladas, ter muita apreensão. Não só pela perspectiva do debate político e teórico. Na Maré, que é minha casa, meu lugar de vida, foram 14 meses de ocupação da Força Nacional na época das Olimpíadas. Despreparo, violação e violência foram a rotina (…) A população da Maré mais uma vez se vê sob o jugo de muitos fuzis, seja das Forças Armadas, da PM ou do crime. É um elemento que vulnerabiliza quem mora lá. E a política pública de segurança, ao invés de pensar numa perspectiva inclusiva, cidadã, com alternativas ao varejo da droga, infelizmente chega com a mão forte do general. Por isso vejo tudo com muito receio”, avaliou Marielle à época.

Marielle apontava que assim como a intervenção federal nos complexos do Alemão e da Maré em 2014, a nova intervenção que começava em 2018 também ocorria em ano eleitoral. Ela criticava que a vida da população não era levada em consideração quando políticas ‘faraônicas’ de segurança pública eram convertidas em capital eleitoral e questionava a própria legitimidade das intervenções.

“Intervenção militar é farsa. E não é conversa de hashtag. É farsa mesmo. Tem a ver com a imagem da cúpula da segurança pública, com a salvação do PMDB, tem relação com a indústria do armamentismo... Há uma série de fatores que me levam a essa convicção. Uma ação midiática. Não à toa o Temer se reuniu com seu time de marqueteiros para avaliar os impactos do anúncio da intervenção, saiu nos jornais”, criticou Marielle em fevereiro de 2018.”

E emendou: “o sentimento de insegurança é generalizado e nas favelas é ainda maior. E o que estamos vendo, nas áreas pobres da cidade, é o abuso, as ações totalmente inócuas no combate à violência – aliás, são elas próprias violentas e inconstitucionais -, como revistar mochila das crianças e fotografar cidadãos. Além de não coibir a criminalidade, criminaliza a pobreza. Armas e drogas não brotam nas favelas. Os que as financiam, e lucram com o mercado da criminalidade, estão bem longe dali”.

Marielle ainda fez críticas ao então presidente Michel Temer e ao governador Pezão antes de ser perguntada sobre declaração feita à época pelo general Eduardo Villas-Bôas, o mesmo do tuíte ameaçador ao Supremo Tribunal Federal quando Lula foi julgado impedido de concorrer nas eleições daquele ano.

 “Temos que agir com a garantia de que não haverá outra Comissão da Verdade”, disse Villas-Bôas à época. Marielle comentou a declaração, que claramente fazia referências às intervenções federais no Rio e à missão no Haiti (Minustah).

“Ele só pede licença pra violar. O próprio informe do Exército apresenta a ideia de que as instituições democráticas, se atuarem com sinergia e acompanhamento, podem comprometer sua atuação. O general quer o que, licença pra torturar e desaparecer? Pois as Comissões da Verdade trabalham também a questão do monitoramento de dados, da informação, coisas sobre as quais sempre se quis negar acesso. Ele quer se desobrigar de prestar contas, quer se despreocupar das relações sociais mais amplas? É muito preocupante. O general quer licença pra violar”, disse Marielle.

 

Fonte: Metrópoles/Fórum

 

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