CPMI recomeça com foco em Cid e Michelle
O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, o
tenente-coronel Mauro Cid, entrou de vez na mira da Comissão Parlamentar Mista
de Inquérito (CPMI) que investiga os ataques de 8 de janeiro. O colegiado deve
analisar, na semana que vem, o relatório do Conselho de Controle de Atividades
Financeiras (Coaf) que mostra movimentações suspeitas de R$ 3,2 milhões nas
contas do militar. As transações foram feitas em um período de sete meses, de
julho de 2022 a janeiro de 2023.
As informações já foram enviadas para a CPMI, que
retomará as atividades na próxima terça-feira, com a oitiva do
ex-diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Saulo Moura da
Cunha. No recesso parlamentar, a comissão recebeu cerca de 3.500 páginas de
informações sigilosas, incluindo os relatórios do Coaf e documentos da Abin. A
expectativa é de que, com os novos dados, a investigação comece a obter
conclusões concretas, o que ainda não ocorreu no primeiro semestre, segundo
parlamentares.
Os relatórios do Coaf foram enviados à CPMI após
requerimento do senador Jorge Kajuru (PSB-GO). Ao Correio, o parlamentar
explicou que o objetivo é verificar eventual participação financeira de Cid nos
atos golpistas e se recursos internacionais também foram mobilizados. Aguarda votação,
ainda, outro requerimento do senador para convocar o irmão do militar, Daniel
Barbosa Cid, que mora na Califórnia, Estados Unidos.
Consta do relatório do Coaf que Cid movimentou R$
1,4 milhão em débitos e R$ 1,8 milhão em créditos entre 26 de julho de 2022 e
25 de janeiro de 2023. O valor seria incompatível com o salário bruto do
militar, de R$ 26.239. Cid também fez uma remessa “atípica” aos Estados Unidos,
de R$ 367.374, em 12 de janeiro deste ano, quando tanto ele quanto Bolsonaro
estavam em solo americano. Para o Coaf, as movimentações trazem indícios de
lavagem de dinheiro e tentativa de ocultação de patrimônio.
“A CPMI vai ter de analisar toda a documentação
oriunda do Coaf para ver até que ponto as movimentações atípicas, de uma
maneira ou de outra, mostram vínculos com os atos golpistas”, afirmou Kajuru.
“Será necessário levantar quem depositou na conta dele e para onde ele
encaminhou o dinheiro. Puxar o fio do novelo, levantar informações, cruzar
dados. Acredito que a comissão agora ingressa em outro patamar”, completou.
O relatório deu destaque a transferências feitas
pelo sargento Luiz Marcos dos Reis, no valor de R$ 70 mil, no segundo semestre
de 2022. O militar também é da confiança de Bolsonaro e atuou no gabinete do
ex-presidente. Ele é investigado pela Polícia Federal por serviços prestados à
ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Ainda há transações com um “ourives”, um
“caixeiro-viajante” e um tio da esposa de Cid, mas não existem investigações
mirando essas pessoas.
Com a retomada da CPMI, Michelle Bolsonaro também
pode ser convocada. A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) protocolou um
requerimento para que a ex-primeira-dama deponha ao colegiado. A justificativa
é de que a quebra do sigilo telemático de Cid revelou comprovantes de depósitos
em dinheiro vivo feitos pelo militar na conta de Michelle, entre março e agosto
de 2021, além de solicitações de saques em dinheiro vivo entre março e outubro
do mesmo ano.
Jandira Feghali pediu, ainda, a convocação do
ex-coordenador administrativo da Ajudância de Ordens da Presidência Osmar
Crivelatti, que integrava a equipe do tenente-coronel e, após o fim do mandato,
foi nomeado assessor pessoal de Bolsonaro.
Além das 3.500 páginas de documentos sigilosos
solicitados pelos parlamentares aos órgãos competentes, a CPMI recebeu, no
recesso, 39 vídeos do Ministério Público Militar (MPM) e 35 horas de gravação
das câmeras do Supremo Tribunal Federal (STF), um dos principais alvos dos
bolsonaristas no 8 de janeiro. Para dar conta do material, o colegiado fará uma
força-tarefa com servidores cedidos por Polícia Federal, Controladoria-Geral da
União (CGU), Banco Central e Receita Federal.
Na avaliação da relatora da comissão, senadora
Eliziane Gama (PSD-MA), os documentos apontam para “dias intensos” na retomada
dos trabalhos e devem respaldar tanto novas convocações quanto novos
depoimentos de quem já foi convocado. “Nas próximas semanas, teremos
reconvocações e acareações, de forma que possamos chegar aos autores
intelectuais e aos financiadores do 8 de janeiro, um ato terrível contra a
democracia”, pontuou.
• Michelle
pode ter que explicar depósitos na CPMI
A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ)
protocolou um requerimento para convocar a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro
a depor na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga os
ataques terroristas do 8 de janeiro.
A parlamentar justifica a convocação dizendo que,
após a quebra de sigilo telemático do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro
(PL), o tente-coronel Mauro Cid, foram encontrados comprovantes de depósitos em
dinheiro vivo feitos por Cid na conta de Michelle Bolsonaro, entre março e
agosto de 2021, e solicitações de saques em dinheiro vivo entre março e outubro
do mesmo ano.
O requerimento foi protocolado durante o recesso
parlamentar, que termina na próxima terça-feira (1º/8). No mesmo dia, a CPMI
retomará suas atividades, com a oitiva do ex-diretor-adjunto da Agência
Brasileira de Inteligência (Abin), Saulo Moura da Cunha, que ocupava o cargo
durante o 8 de janeiro.
>> Convocação de ex-coordenador de Cid
“A convocação da Sra. Michelle Bolsonaro se
justifica, pois, diante das evidências de sua ligação com um dos possíveis
mentores dos atos golpistas, cujo desfecho resultou na criminosa ação de
janeiro de 2023 na Praça dos Três Poderes em Brasília, sendo necessários os
esclarecimentos desta sobre possíveis interesses e/ou envolvimento nos citados
atos”, escreve ainda Jandira Feghali.
A deputada protocolou ainda outro requerimento,
para convocação do ex-coordenador administrativo da Ajudância de Ordens da
Presidência da República, Osmar Crivelatti, que integrava a equipe de Mauro
Cid. Após Bolsonaro deixar o cargo, ele nomeou Crivelatti como um de seus
assessores.
Planalto
ainda tem vestígios do 8 de janeiro
Destruídas na invasão de vândalos golpistas ao
Palácio do Planalto em 8 de janeiro, a galeria de fotos dos presidentes da
República ainda não foi reaberta.
A Presidência da República afirma que
reconstituição da galeria de imagens está em execução e que montagem será
realizada em breve, mas não informou em que data isso irá ocorrer.
A galeria de fotos dos presidentes da República é
formada por quadros com imagens de todas as pessoas que foram eleitas para
exercer a Presidência da República.
Além da foto e nome, o quadro também exibe data de
nascimento e também um painel com informações sobre os períodos de mandato de
cada presidente.
De acordo com o governo, o órgão do Palácio do
Planalto responsável pela documentação história da Presidência trabalha na
organização das fotos dos presidentes e das informações sobre os mandatos
presidenciais cumpridos por eles.
“A reconstituição da Galeria de ex-presidentes da
República está em execução. A Diretoria de Documentação Histórica da
Presidência da República trabalha atualmente na organização das fotos e das
informações e a montagem será realizada em breve”, disse a Secretaria de
Comunicação da Presidência (Secom) em respostas a questionamentos do g1.
A Secom foi questionada se os responsáveis pela
montagem da nova galeria de fotos encontram alguma dificuldade para reunir os
retratos de presidentes ou de informações, mas não respondeu ao questionamento.
Localizado no andar térreo do palácio, o painel
formado pelos retratos dos presidentes é um dos pontos de visita do Palácio do Planalto.
A galeria fica exposta numa parede revestida por pedras de mármore.
A galeria de fotos dos ex-presidentes exibia fotos
de todos os chefes do Executivo nacional desde Deodoro da Fonseca, presidente
do Brasil entre 1889 e 1891, até o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva
(PT).
Além de fotos dos ex-presidentes, a galeria também
conta com a foto do atual mandatário do país. Essa imagem é a única colorida da
galeria. Todas as outras são em preto e branco.
O rol de fotografias dos presidentes passou por uma
reformulação para que seja inserida a foto de Pedro Aleixo. Ele era
vice-presidente de Arthur Costa e Silva. Aleixo foi impedido de assumir a
Presidência da República em 1969, depois do afastamento de Costa e Silva em
razão de problemas de saúde. Uma junta militar assumiu e meses depois o general
Emilio Garrastazu Médici tomou posse na presidência. Pedro Aleixo teve o
mandato de vice considerado extinto.
A última mudança na galeria antes da destruição
pelos bolsonaristas foi realizada em 2 de janeiro, após a posse de Lula. Na
ocasião, a foto colorida do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi trocada por
uma em preto e branco. Além disso, foi adicionada ao rol de imagens a
fotografia colorida do petista.
Fonte: Correio Braziliense/g1
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