Novo PAC faz acenos a estados e setor privado, mas precisa de ajustes
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) planeja
lançar em 11 de agosto uma nova versão do Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC), que reunirá uma série de obras de infraestrutura a serem executadas nos
próximos anos. O novo PAC, como o programa é chamado no Palácio do Planalto,
está em discussão desde a transição de governo, no final do ano passado.
Segundo especialistas ouvidos pelo g1, o governo
fez alguns acenos importantes ao setor privado e aos governadores, mas é
preciso aprimorar o planejamento para não repetir erros das gestões anteriores.
O PAC foi lançado em 2007, no início do segundo
mandato de Lula, e se tornou uma das marcas das gestões petistas, reunindo um
conjunto de obras de infraestrutura, a exemplo de construção e duplicação de
rodovias, plataformas de petróleo, pontes, linhas de transmissão de energia e
unidades do Minha Casa, Minha Vida.
Em 2016, após o impeachment da presidente Dilma
Rousseff, o PAC foi substituído no governo de Michel Temer pelo Programa de
Parceria de Investimentos (PPI), mantido na gestão de Jair Bolsonaro. Com o
retorno de Lula, o pacote de obras, concessões e parcerias público-privadas
(PPPs) prioritárias passará a ser chamado de Novo PAC.
Em janeiro, Lula pediu que cada governador
indicasse três obras prioritárias para integrar o programa. O novo PAC deve ter
cerca de R$ 60 bilhões por ano de recursos do orçamento federal, segundo o
ministro da Casa Civil, Rui Costa. Ele estima que o investimento da União fique
na faixa de R$ 240 bilhões nos quatro anos do terceiro mandato de Lula.
Também haverá linhas de financiamento para estados
e municípios abertas por bancos públicos - Caixa Econômica Federal, Banco do
Brasil, BNDES e Banco do Nordeste.
• Planejamento
dos investimentos
Para a economista e professora da Fundação Getúlio
Vargas (FGV), Carla Beni, o Novo PAC traz três novidades em relação às edições
anteriores:
• consulta
aos governadores sobre obras prioritárias
• intenção
de aproximar mais o setor privado do programa
• investimentos
em transição energética
Segundo ela, os PACs na gestão Lula e Dilma tiveram
erros de planejamento, de definição de projetos e o que a economista chama de
“um processo burocrático misturado com questões ambientais” que atrasaram a
execução das obras.
“Em grande medida, [houve] uma certa ansiedade em
querer anunciar programas novos, sem ter finalizado o projeto detalhado”,
afirma.
Um relatório do TCU de 2019 aponta que o PAC 1 (2007
a 2010) concluiu apenas cerca de 9% das ações previstas no período. Já o PAC 2
(2011 a 2014) entregou 26% das medidas previstas.
“O PAC 2 foi, na verdade, um requentado, digamos
assim, do próprio PAC 1, porque várias obras tiveram atraso de projeto. Então,
como não foi concluída [ou] foi concluído muito pouco, você acabou criando o
PAC 2”, disse Beni.
Para o sócio-fundador da Inter.B Consultoria,
Cláudio Frischtak, a consulta é recomendável, mas as prioridades definidas por
cada estado precisam fazer parte de “algo que dê uma racionalidade aos
investimentos em infraestrutura no país”.
Frischtak acrescenta que o Brasil investe “pouco e
mal” em infraestrutura. Segundo dados da Inter B, nas últimas duas décadas, o
país investiu cerca de 2% do Produto Interno Bruto. “Nós deveríamos estar
investindo possivelmente duas vezes mais que isso”, afirmou.
De acordo com o especialista, muitas obras ficam
pelo caminho ou atrasam e acabam custando mais do que a previsão inicial.
Frischtak destaca ainda a necessidade de se
melhorar a governança do programa, com análises de custo-benefício, antes do
investimento, e uma avaliação posterior à execução do projeto.
“A grande falha dos PACs 1 e 2 foram falhas de
governança. É um conceito amplo e fundamental, inclusive. Se não tivermos uma
boa governança, estaremos assegurando que vamos ter desperdício de recursos
públicos”, declarou.
• Eixos
prioritários
A nova versão do PAC reunirá retomada de obras
paradas, aceleração de obras em andamento e novos empreendimentos. Os projetos
devem ficar em sete grandes áreas:
• Transportes
• Infraestrutura
urbana
• Água
para todos
• Inclusão
digital e conectividade
• Transição
e segurança energética
• Infraestrutura
social
• Defesa
O governo federal discutiu com estados e municípios
a relação dos projetos que estarão no Novo PAC.
Lula discutiu o tema nesta sexta-feira (28) com a
secretária-executiva da Casa Civil, Miriam Belchior, que chefiou o programa nos
governos anteriores do presidente.
A relação completa dos projetos ainda não foi divulgada,
porém, Rui Costa tem adiantado empreendimentos que deverão entrar na carteira
do Novo PAC, seja para construção, concessão da administração e PPPs.
• Túnel
entre Santos e Guarujá, em São Paulo;
• Ferrovia
de Integração Oeste-Leste (Fiol) entre Caetité e Ilhéus (BA);
• Ferrovia
Transnordestina entre Ceará e Pernambuco;
• Ferrovia
Norte Sul, entre São Paulo e Maranhão;
• Operação
do sistema do rio São Francisco.
O ministro da Educação, Camilo Santana, adiantou
ainda que o Novo PAC também terá obras em universidades e institutos federais.
Haddad
conversa com banqueiros sobre juros às vésperas de reunião do Copom
Às vésperas da nova reunião do Comitê de Política
Monetária (Copom), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se reúne com
banqueiros, nesta segunda-feira (31), às 10h, no escritório do ministério em
São Paulo, e a pauta é crédito. Há expectativa entre os representantes dos
bancos de que o ministro coloque na mesa a discussão sobre os altos juros do
rotativo do cartão de crédito.
A taxa média de juros cobrada pelos bancos nas
operações com cartão de crédito rotativo subiu de 417,4% ao ano, em fevereiro,
para 430,5% ao ano em março, segundo o Banco Central.
O ministro dá a largada deste 3º trimestre do ano
conversando com Isaac Sidney, presidente da Febraban, Milton Maluhy, do Itaú, Octávio
Lazari, do Bradesco, Mario Leão, do Santander, e com André Esteves, do BTG
Pactual.
O encontro ocorre em meio a uma grande expectativa
do mercado e do governo quanto a um corte de pelo menos 0,25 ponto percentual
na taxa Selic na reunião do Copom na terça-feira e na quarta-feira (2). A Selic
é referência para outras taxas de juros, inclusive as cobradas ao consumidor.
• 1ª
reunião do Copom de Galípolo e Aquino
Esta é a reunião de estreia no Copom dos dois nomes
indicados por Lula para diretorias do Banco Central, Gabriel Galípolo
(diretoria de Polícia Monetária) e Ailton Aquino (diretoria de Fiscalização). O
comitê é formado por nove diretores do banco.
Haddad vem defendendo nos últimos dias um corte na
taxa básica de juros da economia de 0,5 ponto percentual. Até chegou a dizer
que, se nas próximas 10 reuniões houver esse corte de 0,5, a taxa de juros
ainda ficaria um pouquinho acima da taxa de juros neutra, que é aquela que nem
acelera nem puxa o freio de mão da economia.
Copom
deve cortar juros pela 1ª vez em 3 anos
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco
Central se reúne nesta terça-feira (1º) e na quarta (2) e deve promover a
primeira redução nos juros básicos da economia brasileira em três anos.
A última queda da taxa aconteceu em agosto de 2020,
quando, em meio à fase mais aguda da pandemia da Covid-19, a taxa Selic caiu de
2,5% para 2% ao ano (o nível mais baixo da história).
Desde então, veio subindo até atingir, em agosto do
ano passado, o atual patamar de 13,75% ao ano - o maior em seis anos e meio.
A expectativa de que a Selic comece a cair tem por
base pesquisa realizada com mais de 100 instituições financeiras na semana
passada (os bancos veem um corte para 13,50% ao ano) e também indicações do
próprio Banco Central - que deixou a "porta aberta" para a redução.
A projeção dos analistas do mercado financeiro é de
que a taxa continuará recuando nos próximos meses, terminando o ano de 2023 em
12% ao ano. Para o fim de 2024, a projeção é de que Selic caia para 9,5% ao
ano.
Além da queda da inflação, analistas apontam que o
avanço de reformas no Congresso Nacional, como o andamento do arcabouço fiscal
(a nova regra para as contas públicas) e a aprovação da reforma tributária
sobre o consumo pela Câmara, reduziram as incertezas e pavimentaram o início do
corte de juros.
Para Everton Gonçalves, da Associação Brasileira de
Bancos, uma série de fatores tem beneficiado a dinâmica dos preços no Brasil,
como o arrefecimento das pressões inflacionárias internas a redução das
incertezas nas contas públicas - com a tramitação favorável do novo arcabouço
no Congresso e as aprovações da Reforma Tributária e do voto de desempate do
governo nas decisões do Carf na Câmara dos Deputados.
• Críticas
de Lula
O corte de corte dos juros básicos da economia,
previsto para essa semana, acontece após críticas reiteradas do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, e de integrantes da equipe econômica, ao atual patamar da
taxa Selic.
O atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, foi
indicado para o cargo pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e confirmado pelo
Senado. Com a aprovação da autonomia do Banco Central, ele tem mandato até o
fim de 2024.
A avaliação de Lula é que juros altos freiam o
crescimento da economia e a geração de emprego e renda.
"Apenas o juro precisa baixar, porque também
não tem explicação. O presidente do Banco Central precisa explicar, não a mim,
porque eu já sei por que ele não baixa, mas ao povo brasileiro e ao Senado, por
que ele não baixa [a taxa]", afirmou o presidente, em junho.
As críticas de Lula foram acompanhadas pela pressão
feita por outros integrantes da equipe econômica nos últimos meses, como o
ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a ministra do Planejamento, Simone
Tebet.
O então secretário-executivo da Fazenda, Gabriel
Galípolo também reprovou a atuação do Banco Central. Este último foi indicado
por Lula para a diretoria da instituição e já teve seu nome aprovado pelo
Senado Federal. Ele participa da reunião do Copom da próxima semana.
• Queda
da inflação
A largada no ciclo de corte dos juros, indicado
pelo próprio Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, também ocorrerá
somente após a melhora da inflação.
Em maio, a inflação oficial desacelerou para 0,23%
de alta. E, em junho, foi registrada deflação, ou seja, queda de preços, de
0,08%.
Com os preços mais comportados nos últimos meses, o
mercado reduziu suas projeções para a alta de preços em 2023 e 2024 - que
começaram a se aproximar das metas de inflação.
No debate público com o presidente Lula, autoridades
do Banco Central têm lembrado que as decisões sobre a taxa básica de juros são
tomadas com base no sistema de metas de inflação.
Ou seja, o BC define o nível da taxa Selic com base
nas projeções de inflação considerando um prazo de 6 a 18 meses adiante -
período que as decisões demoram para ter impacto pleno na economia.
Se as projeções de inflação dos próximos anos estão
acima das metas, costuma subir ou manter a taxa estável (em patamar alto). Se
as estimativas estão em linha com as metas, pode baixar a taxa de juros.
O argumento do Banco Central, divulgado por meio de
seus documentos, é de que a desaceleração da atividade econômica, criticada por
Lula e pela equipe econômica, "é necessária para garantir a convergência
da inflação para suas metas, particularmente após período prolongado de
inflação acima das metas".
Isso ocorre, na visão do BC, porque existia nos
últimos meses "uma dinâmica inflacionária movida por excessos de demanda
[procura], inicialmente em bens e que atualmente se deslocou para o setor de
serviços".
Em abril, o presidente da instituição, Roberto
Campos Neto, também chegou a argumentar que a taxa de juros é alta no Brasil
por conta do atual nível de endividamento – considerado elevado para o padrão
de países emergentes.
"Na parte dos juros, a gente não pode
confundir causa e efeito. A dívida não e alta porque os juro é alto. É o
contrário, o juro é alto porque a dívida é alta. Quando você endividado vai ao
banco, e o banco faz uma análise que você é endividado e não paga a dívida, o
juro é alto", declarou Campos Neto, naquele momento.
E por diversas vezes o BC cobrou o Ministério da
Fazenda por uma melhora das contas públicas, com redução do déficit,
principalmente por meio do corte de gastos, para possibilitar uma redução mais
rápida da taxa Selic.
"É muito importante a gente entender que não
tem mágica no fiscal [contas públicas] e, infelizmente, nem bala de prata. Se
não tiver as contas em dia, em perspectiva a gente não consegue melhorar",
declarou Campos Neto, no Senado Federal, também em abril.
Apesar das cobranças, o presidente do Banco Central
também elogiou o chamado arcabouço fiscal, a nova regra para as contas
públicas, que passou pela Câmara e Senado Federal, mas que depende de nova
votação dos deputados para entrar em vigor.
Fonte: g1
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