Agronegócio foi o primeiro a aderir ao golpismo, diz PF
Criado por plantadores de soja, o Movimento Brasil
Verde Amarelo (MBVA) apoiou agendas golpistas durante os quatro anos do governo
de Jair Bolsonaro (PL). Seus líderes doaram mais de R$ 100 mil à campanha do
ex-presidente. A informação está em relatório da Abin (Agência Brasileira de
Inteligência) encaminhado à CPI do 8 de Janeiro, ao qual o UOL teve acesso.
O MBVA figura entre os envolvidos com a pauta
golpista desde bem antes do 8 de janeiro, data em que houve depredação das
sedes dos três Poderes e virou alvo de investigação pela CPI no Congresso.
O movimento aparece no inquérito comandado por
Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), sobre os atos
antidemocráticos. Em decisão proferida pelo ministro em 4 de setembro de 2021,
foi citado como participante de prováveis atos de ataque à democracia.
O documento também cita o atual deputado federal Zé
Trovão (PL-SC) e um prefeito preso transportando R$ 505 mil que ajudariam a
financiar os atos de 7 de setembro de 2021 —data em que o então presidente
Bolsonaro chamou Moraes de “canalha”. A Justiça arquivou esse inquérito em
julho deste ano.
As lideranças do MBVA articularam diversos atos
públicos de apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro e de defesa de pautas
antidemocráticas, como a intervenção militar.
Trecho do relatório da Abin
O prefeito de Cerro Grande do Sul (RS), Gilmar João
Alba (PL), foi preso no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, com R$ 505 mil
escondidos na mala de mão.
Semanas depois, ele disse que andava com dinheiro
vivo para aproveitar oportunidades de negócio, como comprar gado. Procurado
pelo UOL na semana passada, ele não quis se pronunciar.
Relatório da Polícia Federal apontou que a quantia
seria usada para financiar os atos de 7 de Setembro, conforme despacho de 4 de
setembro de 2021 de Moraes.
No mesmo documento, o ministro determinou uma
operação de busca e apreensão contra Antônio Galvan, coordenador do Movimento
Brasil Verde Amarelo e presidente da Aprosoja.
Galvan não quis comentar o assunto com a
reportagem, dizendo não ter conhecimento do relatório. Ele acrescentou que
ninguém pode falar pelo MBVA porque é uma entidade com comando descentralizado.
Apontado como porta-voz do movimento, Jeferson da
Rocha negou envolvimento do grupo com o 8 de janeiro.
O MBVA também controla o programa “Sucesso no
Campo”, transmitido em TV aberta e usado para convocações a manifestações,
segundo ressaltou trecho do relatório da Abin.
O programa teria sido utilizado para falar contra o
resultado das eleições depois da vitória de Lula (PT).
O que a sociedade não aceita, e dentro dessa
sociedade logicamente está o produtor rural, [é] o sistema das nossas eleições.
Deixou uma dúvida clara em todo cidadão brasileiro.
Galvan durante entrevista ao programa “Sucesso no
Campo” em dezembro de 2022
O documento da Abin cita os líderes do MBVA. O
cruzamento com o arquivo do TSE revela doações superiores a R$ 100 mil à
campanha de Bolsonaro.
Chamado de “general” pelos colegas, Galvan enviou
R$ 50 mil para o ex-presidente. Ele, que era candidato ao Senado, investiu
apenas R$ 14,5 mil na própria campanha.
Mencionado em um organograma do Movimento Brasil
Verde Amarelo elaborado pela Abin, o empresário Lucas Luis Costa Beber doou R$
22 mil a Bolsonaro.
O produtor rural Adriano Antonio Barzotto também
aparece no relatório da Abin e repassou R$ 33 mil ao ex-presidente.
A Abin organizou um organograma e listou os
principais líderes.
Antônio Galvan é o líder e chamado de “general”.
Ele é investigado por participação na tentativa de golpe.
Em dezembro, deu entrevista no programa do
Movimento Brasil Verde Amarelo contestando as urnas. Tentou se eleger senador por
Mato Grosso e foi derrotado.
Apontado como porta-voz do MBVA, Jeferson da Rocha
entrava no ar no programa “Sucesso no Campo” para convocar pessoas para
bloquear estradas, informou o relatório.
Natural de Lages (SC), tentou se eleger deputado
federal por Santa Catarina e não teve sucesso. Ele disse que jamais pregou
pautas contra a democracia ou atentou contra os Poderes.
O texto da Abin indica que os protestos
antidemocráticos ocorreram após o período de colheita da soja (entre janeiro e
abril no Centro-Oeste), quando há maior disponibilidade de máquinas e pessoal.
>>> São citados os seguintes atos em que
há envolvimento do movimento e de seus integrantes:
# Organizar ato na Agrobrasília em maio de 2019
defendendo pautas do bolsonarismo.
# Participar do Acampamento 300 pelo Brasil. Na
ocasião, em maio de 2020, manifestantes “bombardearam” o STF com fogos de
artifício e declararam: “Entenderam o recado”.
# Liderar manifestações do 7 de Setembro de 2021 em
Brasília, quando confrontaram o STF e duvidaram do sistema eleitoral.
# Atuar nos bloqueios de estrada e nos atos contra
o resultado da eleição presidencial.
# O delegado suplente da Aprosoja Mato Grosso Vilso
Grabiel Brancalione foi preso por trocar tiros com policiais depois de furtar e
incendiar pneus em Nova Mutum (MT).
Além do Movimento Brasil Verde Amarelo, o relatório
da Abin constatou que transportadoras do agronegócio enviaram caminhões para
engrossar o acampamento em Brasília.
Foram identificados 272 caminhões que estacionaram
junto ao QG do Exército, em Brasília, a partir de 4 de novembro de 2022.
Quase todos eram oriundos de quatro estados: Mato
Grosso, Goiás, Bahia e Paraná. Todos fazem parte de área de atuação do
Movimento Brasil Verde Amarelo.
Cerca de metade dos caminhões, mais precisamente 132,
está registrada em nome de pessoas jurídicas, atuantes sobretudo no setor do
agronegócio, informou o relatório da Abin.
O Movimento Brasil Verde Amarelo não é majoritário
no agronegócio brasileiro. Ele tentou se impor sobre a CNA (Confederação da
Agricultura e Pecuária do Brasil) e frigoríficos, mas não conseguiu.
A CNA atua de maneira pragmática e aderiu ao atual
ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, assim que ele atendeu suas demandas no
Plano Safra deste ano.
O Movimento Brasil Verde Amarelo trabalha de forma
ideológica e preferiu se aproximar de Bolsonaro. A Aprosoja Mato Grosso, estado
de Antônio Galvan, é considerada a entidade mais radical.
Sem produtores rurais e sem fazendas, não há
comida!! — Movimento Brasil Verde e Amarelo (@MBVAOFICIAL) July 15, 2022
O grupo Movimento Brasil Verde Amarelo surgiu a
partir da insatisfação de lideranças do agronegócio com uma decisão do STF.
A ação tratava do julgamento sobre a cobrança do
Funrural (Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural) em 30 de março de 2017.
Um protesto em Brasília em 4 de abril de 2018
contra a decisão sobre o Funrural foi o ato de origem do MBVA.
• Caso
Mauro Cid terá novos personagens
A análise feita pela PF a partir do celular e dos
documentos apreendidos na casa do ex-faz-tudo de Jair Bolsonaro, Mauro Cid,
permite afirmar que já foram identificados novos personagens ligados ao
ex-presidente e que aparecerão em breve nesta investigação.
São, que fique claro, aliados que integravam o
governo passado e que tramavam a articulação de um golpe.
CPI só
ouvirá GDias se Anderson Torres depuser antes
Parlamentares governistas que integram a CPMI do 8
de Janeiro decidiram rifar o general Gonçalves Dias, o G. Dias, ex-ministro do
GSI de Lula, em troca do depoimento de Anderson Torres.
A ideia de deputados e senadores da base do governo
é concordar com o pedido de bolsonaristas para ouvir G. Dias, mas, em troca,
pedir que a oposição aceite marcar a oitiva de Torres.
“Vamos
concordar com o depoimento do Saulo e do G. Dias. Em troca, a situação vai pedir
o Anderson Torres”, explicou à coluna um deputado governista.
O Saulo em questão é Saulo Moura da Cunha,
ex-diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Ele era o
responsável pelo órgão no dia dos ataques do 8 de janeiro.
O depoimento do ex-diretor acontecerá na
terça-feira (1°/8), dia em que a CPMI retoma os trabalhos após o recesso. Como
noticiou a coluna, Saulo será a primeira testemunha ouvida pela comissão a
pedido dos bolsonaristas.
CPMI
dos Atos Golpistas: Ministério da Justiça não compartilha vídeos da tentativa
de golpe
O ministro da Justiça, Flávio Dino, negou os
pedidos da CPMI dos Atos Golpistas para ter acesso às imagens das câmeras de
segurança da pasta durante os ataques golpistas às sedes dos Três Poderes, em
Brasília, no dia 8 de janeiro. A decisão, explicou, visa preservar as
investigações em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF)
O ministério informou que a questão está
relacionada a uma investigação criminal em curso, portanto, não pode ser
compartilhada neste momento, como resposta à comissão.
Na última sessão da CPMI, antes do recesso,
realizada em 11 de julho, os parlamentares aprovaram requerimentos apresentados
por bolsonaristas que buscam levantar teorias conspiratórias contra o governo
federal. Um desses requerimentos autorizava o acesso aos planos de voo do
presidente Lula no final de semana dos atos golpistas. O outro pedia
explicitamente o acesso às imagens das câmeras de segurança do Ministério da
Justiça.
Com o retorno do Congresso Nacional após o recesso,
a Comissão também retomará suas atividades. A próxima sessão está agendada para
terça-feira, 1º de agosto, às 9h, e contará com o depoimento de Saulo Moura da
Cunha, ex-diretor-adjunto da Agência Brasília de Inteligência.
O retorno do Congresso Nacional aos trabalhos após
o recesso marcará também a retomada da Comissão. A próxima sessão está agendada
para a próxima terça-feira 1º, às 9h, com o depoimento de Saulo Moura da Cunha,
ex-diretor-adjunto da Agência Brasília de Inteligência.
Fonte: UOL/Metrópoles/Fórum
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