sábado, 29 de julho de 2023

Roberto Amaral: O Brasil posto à margem do desenvolvimento

A história da humanidade desconhece exemplo de país que se tenha desenvolvido e aspirado à categoria de potência (sob qualquer título) sem antes haver investido, sistemática e pesadamente, em educação, ciência e tecnologia e desenvolvimento industrial, exatamente nesta ordem, porque sem ciência e tecnologia não há indústria nem desenvolvimento, qualquer, a começar pelo desenvolvimento social, que exige pleno emprego e distribuição de renda. E sem desenvolvimento industrial nenhum país pode aspirar à soberania, e seu povo a algum grau de liberdade. A industrialização proporciona aumento da produtividade, enseja criação de empregos em todos os setores da economia, em face de seu poder multiplicador, promove o desenvolvimento de novas tecnologias e inovação, além de maior diversificação econômica. E quem não domina a tecnologia e a inovação, e não tem indústria, tampouco tem forças armadas dignas desse nome, ou seja, capazes de garantir a defesa do país, eis que terminam condenadas a fabricar o inimigo interno (a população que as sustenta) para construir o autoengano de que têm alguma razão de ser. A experiência brasileira é exemplar nesse triste sentido.

É notório o papel da Escola de Sagres para o ciclo das conquistas marítimas portuguesas. De igual modo é impensável a revolução industrial inglesa sem a invenção da máquina a vapor, que, por seu turno, mudou as regras do guerrear até então conhecido, regras que variam a cada conflito – e os conflitos, afora o mais, servem para o teste e aperfeiçoamento dos novos inventos.

A preeminência da tecnologia como condição para o desenvolvimento econômico e a soberania, que passa pelo desenvolvimento industrial, é o testemunho dos EUA desde o século 18, e da União Europeia de hoje, que sobrevive, mesmo politicamente subalternizada, graças aos frutos acumulados de seu passado de desenvolvimento científico, tecnológico e industrial. É de igual sorte a lição da Índia e dos “Tigres asiáticos”. Mas o modelo paradigmático de desenvolvimento acelerado e contínuo é oferecido pela China.

Os países asiáticos se desenvolveram na contramão do atraso brasileiro, persistente, porque é persistente, entre nós, a ditadura de uma mesma classe dominante, aquela que vem do engenho e da casa-grande e hoje se instala na Faria Lima para, dali, conectada com Wall Street, comandar o grande capital, o centro do poder real, desapartado da produção que gera bens e serviços.

Nos fins do século 18, quando ainda vegetávamos na colônia, avessa ao desenvolvimento, os EUA optaram pela integração na revolução industrial inglesa de 1780. O Report on Manufactures, de Alexander Hamilton, data de 1791. Naquele então continuávamos exportadores de açúcar e das matérias-primas demandadas pela Europa, proibida, pela corte de Lisboa, qualquer iniciativa visando à produção de manufaturas. Bem depois, já em 1864, em mais uma vitória da terra, os empreendimentos do Barão de Mauá, empresário pioneiro na industrialização nacional, conheceram a bancarrota, apressada pela má vontade de um imperador autoritário e incuravelmente reacionário, velho de senilidade precoce. Hoje somos tão só uma expectativa de desenvolvimento na periferia do capitalismo; uma sociedade obscenamente injusta, pois arrimada na desigualdade mais profunda – que se manifesta nos planos econômico, social, racial e de gênero – e gritantes desníveis regionais.

Enquanto os EUA caminhavam para a industrialização, o Brasil, ao se apartar de Portugal, erguia um império arcaico dominado pelos senhores da terra, usufrutuários de uma agricultura predatória, explorada como latifúndio, sustentada na escravidão de negros africanos e índígenas apresados e na exploração do branco pobre. O latifúndio, terras a perder de vista, que, pela vastidão de suas extensões dispensava cuidados, é consagrado em 1850, com a Lei das Terras, o estatuto da propriedade privada sacralizada e da agricultura de exportação, fechando o acesso à terra aos que nela queriam e precisavam trabalhar.

Como lecionava o Conselheiro Acácio, tudo tem suas consequências e elas sempre vêm depois, principalmente quando são daninhas. Uma delas é a incômoda distância do desenvolvimento de dois países nascidos na mesma época: Brasil e EUA. O PIB do Brasil, apurado em 2022, somava US$ 1,92 trilhão em 2022; o dos EUA, US$ 26,13 trilhões. O outro lado desses números: enquanto nos EUA a indústria participa com 25% da formação do PIB, no Brasil seu peso, em queda, está em 10%. Por fim, enquanto no Brasil a produção agrícola responde por algo próximo de 40% da balança comercial, no Grande Irmão do Norte seu peso varia entre 10 e 15%.

Neste século, tardiamente libertada do imperialismo inglês (1947), a Índia, devassada por lutas fraticidas e movimentos autonomistas, dividida em castas, dialetos e crenças religiosas, parecia mais uma civilização inviável. Hoje está no topo do desenvolvimento industrial. É uma potência nuclear e um exemplo de desenvolvimento industrial em curto prazo. E não há “milagres” a registrar – pois eles não existem na história –, senão investimentos maciços e continuados em ciência e tecnologia, a que o país se dedicou no último decênio. A qualidade de sua classe dominante, vis a vis a nossa, faz diferença e também vai explicar o desenvolvimento da Coreia do Sul.

O tigre asiático é hoje um país altamente industrializado, e seu povo desfruta, de modo geral, de boas condições de vida. Mas há poucas décadas, ao fim da guerra de 1950-53 que o partiu ao meio, era um país devastado, contando algo contando milhões de vítimas do conflito fratricida. Atualmente, é o maior exportador de chips do mundo.Na história não há “milagres econômicos”. Mas igualmente não há acaso, nem fenômeno sem causa. Anualmente, a Coreia do Sul forma 80 mil engenheiros (em uma população de cerca de 52 milhões), a Índia forma 200 mil e a China, aquele antigo país de camponeses até a segunda metade do século passado, forma 300 mil engenheiros. O Brasil, que nos anos 1940-50, na tradição do varguismo, investia em seu processo de industrialização, e que nos anos 1960 festejaria uma indústria automobilística que nunca veio a lume, forma apenas 20 mil engenheiros, em uma população E, mercê dos governos que se seguiram ao golpe de 2016, padece a inexistência de estratégia tecnológica, de inteligência artificial, de biotecnologia e cibernética; no governo do capitão, que impôs dieta de recursos à universidade pública, cerrou as portas do único embrião que possuíamos para a fabricação de chips, também a única iniciativa conhecida na América do Sul.As experiências de nossos países se encontraram nos idos de 1970. Quando a ditadura castrense cantava loas ao “milagre” dos números delfinianos, o então presidente da FINEP, José Pelúcio Ferreira, um homem honrado, recebeu uma comissão de altos dirigentes do governo e executivos sul-coreanos, que, projetando sua entrada na indústria automobilística, queriam conhecer a experiência brasileira. Após competente exposição de Pelúcio, os coreanos revelaram sua frustração, pois o projeto que os animava era, realmente, o de uma indústria automotiva nacional, e não, como se revelava o caso brasileiro, de um conjunto de montadoras estrangeiras de máquinas projetadas e produzidas no exterior. Este relato me foi passado pelo professor Wanderley de Souza, presente à citada reunião.

Ao final, passados cerca de 50 anos, o Brasil conhece apenas um número elevadíssimo de montadoras estrangeiras, inclusive sul-coreanas, e nenhuma marca nacional.

Em pouco mais de meio século a China, subdesenvolvida, país de camponeses, meio ambiente ingrato, entre geleiras e terras áridas, desindustrializada, devastada por guerras e invasões seculares, realizou, em ritmo de maratona, o percurso da pobreza aguda para a disputa da hegemonia política mundial, graças ao alto desenvolvimento científico. Essa China tampouco é fruto do desígnio de Deus, senão da perseverança de um projeto nacional, que, deitando raízes em 1949, seria formulado em 1975, por Deng Xiaoping: “A chave para conquistar a modernização é o desenvolvimento da ciência e da tecnologia. E a menos que prestemos especial atenção na educação, será impossível desenvolver a ciência e a tecnologia”. Nenhum membro da classe dominante brasileira seria capaz dessa formulação, mas o projeto nela implícito fez com que a China superasse o que, naquela ocasião, o mesmo Xiaoping identificava como vinte anos de atraso em relação aos países desenvolvidos em ciência, tecnologia e educação. Hoje, a China é o maior centro científico-tecnológico do mundo e o maior exportador de manufaturados. Do Brasil importa grãos, carne e minério de ferro in natura que devolve como trilhos. Dela importamos quase tudo, mas principalmente produtos tecnológicos e automóveis, bem como fábricas de automóveis e caminhões. Os chineses prometem nos ceder a tecnologia dos motores elétricos, a país que não teve a competência de registrar uma só patente de motor a explosão, essa próxima relíquia tecnológica. É de suas bases, e com seus foguetes, que o Brasil, que não tem foguete nem base, esta cedida aos EUA, lança os poucos satélites da linha CBERS, fabricados com cessão de tecnologia chinesa, e sofrendo embargos do Departamento de Estado dos EUA.

Nosso atraso, porém, pode tornar-se irreversível. O Brasil pode, no futuro muito próximo, passar o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação às mãos do Centrão, a choldra que exige o governo (e nele as verbas públicas) para permitir que o presidente eleito pela vontade popular possa governar.

 

       A felicidade de Lula é um tormento. Por Moisés Mendes

 

Só há uma área em que Lula ainda não venceu os que torcem contra ele e contra o governo no time de jornalistas, empresários, economistas, grileiros e rentistas da Faria Lima reunidos em torno de Roberto Campos Neto.

Lula venceu todas as batalhas que teve contra o agrupamento Wagner do mercado, em meio ano de governo, e não estamos falando da extrema direita, mas de gente com vício profissional em juros altos.

É contra eles que Lula duela desde que assumiu, mais do que contra o fascismo bolsonarista que se esfacela.

Pois só falta agora, depois que operar o quadril, desafiá-los para uma corrida de cem metros com barreiras. Para um duelo pessoal.

Lula venceu todos os urubus do mercado (que são fracos até como urubus) e do jornalismo que os sustentam em batalhas previsíveis.

Conseguiu aprovar a PEC da Transição, lá no começo da guerra. Teve base para fazer passar com folga na Câmara a reforma tributária. Eles não acreditavam.

Conseguiu provar que a economia iria começar a andar, com a confiança conquistada por Fernando Haddad dentro e fora do país. Eles duvidavam de Haddad.

Os inimigos se espantam com a queda da inflação, a expectativa de retomada do emprego e de recuperação do PIB para um patamar acima do esperado.

Estão assombrados com a queda do dólar e a reação da Bolsa e dos investidores estrangeiros. Estão com medo da euforia do povo com o preço da picanha.

O Brasil conseguiu agora que a agência de classificação de risco Fitch Ratings elevasse de BB- para BB a nota de crédito do Brasil.

Lula está confiante na conquista de uma base mais segura no Congresso. Por isso há um desalento entre os que ainda torcem contra ele e o governo porque é o que sabem fazer.

Para ampliar o desconforto, Lula apareceu na live de terça-feira, com Marco Uchoa, com a cara de quem remoçou 10 anos.

Foi a sua melhor live. O presidente estava leve para abordar uma dúzia de pautas, do combate ao armamentismo às próximas viagens que fará ainda esse ano.

Prepara-se agora para operar o quadril e deixar de sentir dores. É a sua prioridade no momento. Todas as outras urgências, e a mais desafiadora era a da fome, foram controladas ou estão sendo geridas sem atropelos.

Mas o que se vê, na sequência de notícias boas, é que os especialistas acionados pelos jornalões a serviço da Faria Lima não desistem.

Depois da nota da Fitch, a grande imprensa convocou seus cães de guarda para dizer que mas isso e mas aquilo, mas Haddad, mas Simone Tebet, mas o arcabouço, mas o déficit.

Há entre os grileiros do mercado um desconforto indisfarçável com a falta que sentem de Paulo Guedes e com a perspectiva de desmoralização de Campos Neto.

Perderam todas as batalhas e vão perder a guerra, desautorizados pelas próprias agências que consideram suas referências e aliadas.

Lula, com o quadril inteiro, poderá derrotá-los agora em confrontos pessoais, nos cem metros com barreiras e, quem sabe, até no judô. Mas a Faria Lima só joga peteca.

 

       Após Fitch, agência DBRS Morningstar também eleva nota de crédito do Brasil

 

Seguindo o movimento iniciado pela agência Fitch Ratings nesta quarta-feira (26), a canadense DBRS Morningstar também elevou, nesta sexta (28), a nota de crédito do Brasil, de BB- (low) para BB, apontando tendência estável da economia brasileira, informa a CBN.

Como justificativa para a melhora da classificação de risco, a DBRS cita as medidas implementadas para aumentar as receitas públicas e o novo arcabouço fiscal, que terá impactos positivos na disciplina fiscal brasileira no médio prazo e deve ajustar as contas públicas para um resultado primário de 1% do PIB em 2026. A reforma de impostos sobre valor adicionado que tramita no Congresso também foi mencionada como fator de ganhos de eficiência para o Brasil.

“Em nossa opinião, mesmo que as metas primárias não sejam alcançadas, o novo quadro sinaliza que os resultados fiscais continuarão melhorando durante o governo Lula”, diz um trecho do comunicado da DBRS Morningstar.

A agência ainda acrescentou que uma nova elevação na nota de crédito brasileira pode ocorrer se o governo avançar no controle da dívida pública com o aprofundamento de ajustes fiscais estruturais.

 

       'Se Campos Neto não torturasse o Brasil, cenário seria ainda melhor', diz Gleisi após dados positivos de desemprego

 

A presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), usou o Twitter nesta sexta-feira (28) para celebrar os dados divulgados pelo IBGE sobre o desemprego no Brasil: a taxa de desemprego apresentou notável queda no trimestre encerrado em junho, atingindo 8%. Essa marca representa o melhor resultado para o indicador durante esse trimestre desde 2014, quando foi registrada uma taxa de 6,9%.

Gleisi afirmou que se o Banco Central, presidido por Roberto Campos Neto, não estivesse "torturando" o Brasil com uma taxa básica de juros (Selic) de 13,75% ao ano - que compromete a retomada do crescimento econômico e a geração de emprego e renda -, o "cenário seria ainda melhor".

"Mais um dado positivo do governo Lula, o desemprego caindo, efeito de ações como a retomada das obras paradas e investimentos. Mas ainda temos muita informalidade e muita gente atrás de trabalho. Se Campos Neto não estivesse torturando o país com esses juros exorbitantes, o cenário seria ainda melhor", publicou.

Outro dado econômico relevante desta sexta-feira foi a queda do dólar, que chegou a bater R$ 4,69, menor patamar desde abril de 2022.

 

Fonte: Brasil 247

 

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