Roberto Amaral: O Brasil posto à margem do desenvolvimento
A história da humanidade desconhece exemplo de país
que se tenha desenvolvido e aspirado à categoria de potência (sob qualquer
título) sem antes haver investido, sistemática e pesadamente, em educação,
ciência e tecnologia e desenvolvimento industrial, exatamente nesta ordem,
porque sem ciência e tecnologia não há indústria nem desenvolvimento, qualquer,
a começar pelo desenvolvimento social, que exige pleno emprego e distribuição
de renda. E sem desenvolvimento industrial nenhum país pode aspirar à
soberania, e seu povo a algum grau de liberdade. A industrialização proporciona
aumento da produtividade, enseja criação de empregos em todos os setores da
economia, em face de seu poder multiplicador, promove o desenvolvimento de
novas tecnologias e inovação, além de maior diversificação econômica. E quem
não domina a tecnologia e a inovação, e não tem indústria, tampouco tem forças
armadas dignas desse nome, ou seja, capazes de garantir a defesa do país, eis
que terminam condenadas a fabricar o inimigo interno (a população que as
sustenta) para construir o autoengano de que têm alguma razão de ser. A
experiência brasileira é exemplar nesse triste sentido.
É notório o papel da Escola de Sagres para o ciclo
das conquistas marítimas portuguesas. De igual modo é impensável a revolução
industrial inglesa sem a invenção da máquina a vapor, que, por seu turno, mudou
as regras do guerrear até então conhecido, regras que variam a cada conflito –
e os conflitos, afora o mais, servem para o teste e aperfeiçoamento dos novos
inventos.
A preeminência da tecnologia como condição para o
desenvolvimento econômico e a soberania, que passa pelo desenvolvimento
industrial, é o testemunho dos EUA desde o século 18, e da União Europeia de
hoje, que sobrevive, mesmo politicamente subalternizada, graças aos frutos
acumulados de seu passado de desenvolvimento científico, tecnológico e
industrial. É de igual sorte a lição da Índia e dos “Tigres asiáticos”. Mas o
modelo paradigmático de desenvolvimento acelerado e contínuo é oferecido pela
China.
Os países asiáticos se desenvolveram na contramão
do atraso brasileiro, persistente, porque é persistente, entre nós, a ditadura
de uma mesma classe dominante, aquela que vem do engenho e da casa-grande e
hoje se instala na Faria Lima para, dali, conectada com Wall Street, comandar o
grande capital, o centro do poder real, desapartado da produção que gera bens e
serviços.
Nos fins do século 18, quando ainda vegetávamos na
colônia, avessa ao desenvolvimento, os EUA optaram pela integração na revolução
industrial inglesa de 1780. O Report on Manufactures, de Alexander Hamilton,
data de 1791. Naquele então continuávamos exportadores de açúcar e das
matérias-primas demandadas pela Europa, proibida, pela corte de Lisboa,
qualquer iniciativa visando à produção de manufaturas. Bem depois, já em 1864,
em mais uma vitória da terra, os empreendimentos do Barão de Mauá, empresário
pioneiro na industrialização nacional, conheceram a bancarrota, apressada pela
má vontade de um imperador autoritário e incuravelmente reacionário, velho de
senilidade precoce. Hoje somos tão só uma expectativa de desenvolvimento na
periferia do capitalismo; uma sociedade obscenamente injusta, pois arrimada na
desigualdade mais profunda – que se manifesta nos planos econômico, social,
racial e de gênero – e gritantes desníveis regionais.
Enquanto os EUA caminhavam para a industrialização,
o Brasil, ao se apartar de Portugal, erguia um império arcaico dominado pelos
senhores da terra, usufrutuários de uma agricultura predatória, explorada como
latifúndio, sustentada na escravidão de negros africanos e índígenas apresados
e na exploração do branco pobre. O latifúndio, terras a perder de vista, que, pela
vastidão de suas extensões dispensava cuidados, é consagrado em 1850, com a Lei
das Terras, o estatuto da propriedade privada sacralizada e da agricultura de
exportação, fechando o acesso à terra aos que nela queriam e precisavam
trabalhar.
Como lecionava o Conselheiro Acácio, tudo tem suas
consequências e elas sempre vêm depois, principalmente quando são daninhas. Uma
delas é a incômoda distância do desenvolvimento de dois países nascidos na
mesma época: Brasil e EUA. O PIB do Brasil, apurado em 2022, somava US$ 1,92
trilhão em 2022; o dos EUA, US$ 26,13 trilhões. O outro lado desses números:
enquanto nos EUA a indústria participa com 25% da formação do PIB, no Brasil
seu peso, em queda, está em 10%. Por fim, enquanto no Brasil a produção
agrícola responde por algo próximo de 40% da balança comercial, no Grande Irmão
do Norte seu peso varia entre 10 e 15%.
Neste século, tardiamente libertada do imperialismo
inglês (1947), a Índia, devassada por lutas fraticidas e movimentos
autonomistas, dividida em castas, dialetos e crenças religiosas, parecia mais
uma civilização inviável. Hoje está no topo do desenvolvimento industrial. É
uma potência nuclear e um exemplo de desenvolvimento industrial em curto prazo.
E não há “milagres” a registrar – pois eles não existem na história –, senão
investimentos maciços e continuados em ciência e tecnologia, a que o país se
dedicou no último decênio. A qualidade de sua classe dominante, vis a vis a
nossa, faz diferença e também vai explicar o desenvolvimento da Coreia do Sul.
O tigre asiático é hoje um país altamente
industrializado, e seu povo desfruta, de modo geral, de boas condições de vida.
Mas há poucas décadas, ao fim da guerra de 1950-53 que o partiu ao meio, era um
país devastado, contando algo contando milhões de vítimas do conflito
fratricida. Atualmente, é o maior exportador de chips do mundo.Na história não
há “milagres econômicos”. Mas igualmente não há acaso, nem fenômeno sem causa.
Anualmente, a Coreia do Sul forma 80 mil engenheiros (em uma população de cerca
de 52 milhões), a Índia forma 200 mil e a China, aquele antigo país de
camponeses até a segunda metade do século passado, forma 300 mil engenheiros. O
Brasil, que nos anos 1940-50, na tradição do varguismo, investia em seu
processo de industrialização, e que nos anos 1960 festejaria uma indústria
automobilística que nunca veio a lume, forma apenas 20 mil engenheiros, em uma
população E, mercê dos governos que se seguiram ao golpe de 2016, padece a
inexistência de estratégia tecnológica, de inteligência artificial, de
biotecnologia e cibernética; no governo do capitão, que impôs dieta de recursos
à universidade pública, cerrou as portas do único embrião que possuíamos para a
fabricação de chips, também a única iniciativa conhecida na América do Sul.As
experiências de nossos países se encontraram nos idos de 1970. Quando a
ditadura castrense cantava loas ao “milagre” dos números delfinianos, o então
presidente da FINEP, José Pelúcio Ferreira, um homem honrado, recebeu uma
comissão de altos dirigentes do governo e executivos sul-coreanos, que,
projetando sua entrada na indústria automobilística, queriam conhecer a
experiência brasileira. Após competente exposição de Pelúcio, os coreanos
revelaram sua frustração, pois o projeto que os animava era, realmente, o de uma
indústria automotiva nacional, e não, como se revelava o caso brasileiro, de um
conjunto de montadoras estrangeiras de máquinas projetadas e produzidas no
exterior. Este relato me foi passado pelo professor Wanderley de Souza,
presente à citada reunião.
Ao final, passados cerca de 50 anos, o Brasil
conhece apenas um número elevadíssimo de montadoras estrangeiras, inclusive
sul-coreanas, e nenhuma marca nacional.
Em pouco mais de meio século a China,
subdesenvolvida, país de camponeses, meio ambiente ingrato, entre geleiras e
terras áridas, desindustrializada, devastada por guerras e invasões seculares,
realizou, em ritmo de maratona, o percurso da pobreza aguda para a disputa da
hegemonia política mundial, graças ao alto desenvolvimento científico. Essa China
tampouco é fruto do desígnio de Deus, senão da perseverança de um projeto
nacional, que, deitando raízes em 1949, seria formulado em 1975, por Deng
Xiaoping: “A chave para conquistar a modernização é o desenvolvimento da
ciência e da tecnologia. E a menos que prestemos especial atenção na educação,
será impossível desenvolver a ciência e a tecnologia”. Nenhum membro da classe
dominante brasileira seria capaz dessa formulação, mas o projeto nela implícito
fez com que a China superasse o que, naquela ocasião, o mesmo Xiaoping
identificava como vinte anos de atraso em relação aos países desenvolvidos em
ciência, tecnologia e educação. Hoje, a China é o maior centro
científico-tecnológico do mundo e o maior exportador de manufaturados. Do
Brasil importa grãos, carne e minério de ferro in natura que devolve como
trilhos. Dela importamos quase tudo, mas principalmente produtos tecnológicos e
automóveis, bem como fábricas de automóveis e caminhões. Os chineses prometem
nos ceder a tecnologia dos motores elétricos, a país que não teve a competência
de registrar uma só patente de motor a explosão, essa próxima relíquia
tecnológica. É de suas bases, e com seus foguetes, que o Brasil, que não tem
foguete nem base, esta cedida aos EUA, lança os poucos satélites da linha
CBERS, fabricados com cessão de tecnologia chinesa, e sofrendo embargos do
Departamento de Estado dos EUA.
Nosso atraso, porém, pode tornar-se irreversível. O
Brasil pode, no futuro muito próximo, passar o Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação às mãos do Centrão, a choldra que exige o governo (e nele
as verbas públicas) para permitir que o presidente eleito pela vontade popular
possa governar.
A
felicidade de Lula é um tormento. Por Moisés Mendes
Só há uma área em que Lula ainda não venceu os que
torcem contra ele e contra o governo no time de jornalistas, empresários,
economistas, grileiros e rentistas da Faria Lima reunidos em torno de Roberto
Campos Neto.
Lula venceu todas as batalhas que teve contra o
agrupamento Wagner do mercado, em meio ano de governo, e não estamos falando da
extrema direita, mas de gente com vício profissional em juros altos.
É contra eles que Lula duela desde que assumiu,
mais do que contra o fascismo bolsonarista que se esfacela.
Pois só falta agora, depois que operar o quadril,
desafiá-los para uma corrida de cem metros com barreiras. Para um duelo
pessoal.
Lula venceu todos os urubus do mercado (que são
fracos até como urubus) e do jornalismo que os sustentam em batalhas
previsíveis.
Conseguiu aprovar a PEC da Transição, lá no começo
da guerra. Teve base para fazer passar com folga na Câmara a reforma
tributária. Eles não acreditavam.
Conseguiu provar que a economia iria começar a
andar, com a confiança conquistada por Fernando Haddad dentro e fora do país.
Eles duvidavam de Haddad.
Os inimigos se espantam com a queda da inflação, a
expectativa de retomada do emprego e de recuperação do PIB para um patamar
acima do esperado.
Estão assombrados com a queda do dólar e a reação
da Bolsa e dos investidores estrangeiros. Estão com medo da euforia do povo com
o preço da picanha.
O Brasil conseguiu agora que a agência de
classificação de risco Fitch Ratings elevasse de BB- para BB a nota de crédito
do Brasil.
Lula está confiante na conquista de uma base mais
segura no Congresso. Por isso há um desalento entre os que ainda torcem contra
ele e o governo porque é o que sabem fazer.
Para ampliar o desconforto, Lula apareceu na live
de terça-feira, com Marco Uchoa, com a cara de quem remoçou 10 anos.
Foi a sua melhor live. O presidente estava leve
para abordar uma dúzia de pautas, do combate ao armamentismo às próximas
viagens que fará ainda esse ano.
Prepara-se agora para operar o quadril e deixar de
sentir dores. É a sua prioridade no momento. Todas as outras urgências, e a
mais desafiadora era a da fome, foram controladas ou estão sendo geridas sem
atropelos.
Mas o que se vê, na sequência de notícias boas, é
que os especialistas acionados pelos jornalões a serviço da Faria Lima não
desistem.
Depois da nota da Fitch, a grande imprensa convocou
seus cães de guarda para dizer que mas isso e mas aquilo, mas Haddad, mas
Simone Tebet, mas o arcabouço, mas o déficit.
Há entre os grileiros do mercado um desconforto
indisfarçável com a falta que sentem de Paulo Guedes e com a perspectiva de
desmoralização de Campos Neto.
Perderam todas as batalhas e vão perder a guerra,
desautorizados pelas próprias agências que consideram suas referências e
aliadas.
Lula, com o quadril inteiro, poderá derrotá-los
agora em confrontos pessoais, nos cem metros com barreiras e, quem sabe, até no
judô. Mas a Faria Lima só joga peteca.
Após
Fitch, agência DBRS Morningstar também eleva nota de crédito do Brasil
Seguindo o movimento iniciado pela agência Fitch
Ratings nesta quarta-feira (26), a canadense DBRS Morningstar também elevou,
nesta sexta (28), a nota de crédito do Brasil, de BB- (low) para BB, apontando
tendência estável da economia brasileira, informa a CBN.
Como justificativa para a melhora da classificação
de risco, a DBRS cita as medidas implementadas para aumentar as receitas
públicas e o novo arcabouço fiscal, que terá impactos positivos na disciplina
fiscal brasileira no médio prazo e deve ajustar as contas públicas para um
resultado primário de 1% do PIB em 2026. A reforma de impostos sobre valor
adicionado que tramita no Congresso também foi mencionada como fator de ganhos
de eficiência para o Brasil.
“Em nossa opinião, mesmo que as metas primárias não
sejam alcançadas, o novo quadro sinaliza que os resultados fiscais continuarão
melhorando durante o governo Lula”, diz um trecho do comunicado da DBRS
Morningstar.
A agência ainda acrescentou que uma nova elevação
na nota de crédito brasileira pode ocorrer se o governo avançar no controle da
dívida pública com o aprofundamento de ajustes fiscais estruturais.
'Se
Campos Neto não torturasse o Brasil, cenário seria ainda melhor', diz Gleisi
após dados positivos de desemprego
A presidente do PT, deputada federal Gleisi
Hoffmann (PR), usou o Twitter nesta sexta-feira (28) para celebrar os dados
divulgados pelo IBGE sobre o desemprego no Brasil: a taxa de desemprego
apresentou notável queda no trimestre encerrado em junho, atingindo 8%. Essa
marca representa o melhor resultado para o indicador durante esse trimestre
desde 2014, quando foi registrada uma taxa de 6,9%.
Gleisi afirmou que se o Banco Central, presidido
por Roberto Campos Neto, não estivesse "torturando" o Brasil com uma
taxa básica de juros (Selic) de 13,75% ao ano - que compromete a retomada do
crescimento econômico e a geração de emprego e renda -, o "cenário seria
ainda melhor".
"Mais um dado positivo do governo Lula, o
desemprego caindo, efeito de ações como a retomada das obras paradas e
investimentos. Mas ainda temos muita informalidade e muita gente atrás de
trabalho. Se Campos Neto não estivesse torturando o país com esses juros
exorbitantes, o cenário seria ainda melhor", publicou.
Outro dado econômico relevante desta sexta-feira foi
a queda do dólar, que chegou a bater R$ 4,69, menor patamar desde abril de
2022.
Fonte: Brasil 247
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