segunda-feira, 31 de julho de 2023

Um terceiro elemento entra em campo no negócio das ligas do futebol brasileiro

Nos últimos meses, a disputa pela organização do calendário, direitos comerciais e direção do futebol brasileiro atingiu níveis de rivalidade comparáveis aos embates nos principais campos do país.

Duas propostas têm protagonizado esse embate: a Liga Brasileira de Futebol (Libra), com investimento do Mubadala Capital, braço do fundo soberano do governo de Abu Dhabi; e a Liga Forte Futebol (LFF), apoiada pela gestora brasileira Life Capital Partners e o fundo americano Serengeti Asset Management.

Contudo, surge agora um terceiro ator no cenário. O NeoFeed descobriu que a CVC Capital Partners, uma das principais empresas globais de private equity, está em negociações com o Mubadala, e isso poderá levar, em uma segunda etapa, à união com o bloco da LFF para criar uma única liga.

Independentemente dos detalhes, essa nova movimentação traz um reforço significativo para a discussão. Com sede em Luxemburgo e mais de € 140 bilhões de ativos sob gestão, a CVC captou recentemente € 26 bilhões para o maior fundo de private equity da história.

As conversas entre Mubadala e CVC, protegidas por um acordo de exclusividade, tiveram início há cerca de quatro meses e têm ganhado força desde então, com novas possibilidades sendo consideradas.

“A Mubadala e a CVC já estão empenhadas em chegar a um acordo entre elas, seja para um bloco comercial ou uma liga”, afirma uma fonte do NeoFeed. “E, neste momento, estão dispostas a explorar a possibilidade de incluir uma terceira parte, no caso a LCP/Serengeti, nesse formato.”

De acordo com informações obtidas pelo NeoFeed, essa avaliação da dupla já progrediu para uma aproximação com o consórcio da LFF, que conta com a assessoria da XP, do escritório Alvarez & Marsal e a Livemode em sua proposta de criação da liga brasileira de futebol.

Embora as conversas ainda sejam preliminares, o ponto de convergência é a formação de uma liga unificada. A entrada da CVC e a perspectiva de um modelo com três sócios são vistas como facilitadoras para alcançar esse consenso.

“Potencialmente, a CVC pode ser a peça-chave e equilibrar uma equação que, até pouco tempo atrás, parecia impossível”, afirma outra fonte. “A presença de um terceiro sócio de grande porte, em uma governança tripartite, parece ser a solução para que ambas as partes possam conviver.”

Apesar da abertura para o diálogo com os “rivais” até então, o NeoFeed descobriu que o grupo do Mubadala, assessorado pelo BTG Pactual e Codajas Sports Capital, não estaria disposto a aceitar um acordo que equiparasse sua participação à fatia do consórcio da LFF na operação.

Esse foi justamente o motivo que interrompeu uma tentativa anterior de diálogo entre as duas partes há pouco menos de dois meses. Naquela ocasião, a aproximação foi intermediada por dirigentes do Atlético-MG, que ainda fazia parte do bloco da LFF na época.

No entanto, outro desafio surge no caminho de um acordo. “Os investidores tendem a ser mais pragmáticos e dispostos a negociar”, diz uma das fontes ouvidas pelo NeoFeed. “Mas não adianta chegar a um acordo nesse nível se os clubes, os principais interessados, não concordarem com o que for proposto.”

Apesar de ser o mais recente jogador nessa equação, a CVC Capital Partners já está familiarizada com esse debate. Desde o primeiro semestre de 2022, quando o BTG Pactual apresentou a proposta da Libra a 141 fundos globais, a gestora mostrou interesse no projeto.

Entretanto, na época, a CVC considerou que o processo de chegar a um acordo com todos os clubes demandaria muito tempo e esforço, e optou por não participar. No entanto, continuou acompanhando os acontecimentos até se aproximar do Mubadala, que já estava apoiando a tese da Libra.

Até o momento, não há perspectivas de mudanças nos valores e propostas oferecidas pelo Mubadala aos 16 clubes que compõem a Libra. Entre eles, destacam-se Flamengo, Corinthians, Palmeiras e São Paulo.

No caso da LFF, a proposta é de R$ 2,3 bilhões, também por um período semelhante e para um bloco comercial intermediário, com uma participação de 20%. Atualmente, 21 times têm um acordo direto com esse grupo, incluindo Fluminense, Athletico-PR, Goiás, Ceará e Fortaleza.

Em relação à entrada da CVC, a perspectiva é que sua experiência seja valiosa em questões operacionais para uma possível parceria em uma liga unificada. Isso inclui aspectos como fair play financeiro entre os clubes e a elaboração de um plano de negócios para aumentar as receitas.

A CVC possui um portfólio diversificado e relevante nesse contexto, incluindo investimentos em ligas e propriedades esportivas ao redor do mundo.

Enquanto a CVC se prepara para entrar em campo, alguns clubes recentemente mudaram de lado ou reafirmaram suas posições na disputa. O Internacional, por exemplo, aderiu finalmente à proposta da LFF após um período de consideração.

Já o Atlético-MG, que era um dos principais apoiadores da LFF, migrou para a Libra algumas semanas atrás. Botafogo, Cruzeiro e Vasco também seguiram um caminho semelhante, assinando um acordo separado com a LCP e o Serengeti, formando o Grupo União, que também inclui o Coritiba.

Os grupos por trás da Libra e da LFF não concederam entrevistas ao NeoFeed, e o Serengeti Asset Management, representado por seu fundador e CEO, Jody LaNasa, declarou que continuará buscando maneiras de aprimorar a proposta para todas as partes interessadas. A ênfase é na conclusão da transação atual, embora a unificação da liga seja vista como prioridade.

 

Ø  Libra ou LFF: veja as principais diferenças entre as propostas de liga no Brasil

 

A semana começou com alguns clubes assinando e aceitando propostas para a construção de uma nova liga para o futebol brasileiro. Libra e Liga Forte Futebol são os dois grupos que disputam interesse das agremiações no Brasil.

As duas partes tentam um acerto para unificar as propostas e criar uma ideia única. O principal entrave para esse acordo está na divisão de receitas entre os clubes.

No atual formato do Campeonato Brasileiro, a diferença entre o clube que mais ganha com o que menos arrecada em direitos televisivos é de 6 vezes. A Libra e a Liga Forte Futebol querem diminuir essa distância para 3,5 vezes, mas de formas distintas.

A Libra propõe atingir esse número de maneira gradual e com cinco anos de transição até alcançar o índice considerado ideal. Sendo que, Flamengo e Corinthians vão manter o mesmo patamar nesses cinco anos. A Liga Forte Futebol propõe que a distância já comece em 3,5 vezes. Veja como seriam as divisões de receita em cada uma das ligas:

  • Divisão Igualitária
  • Libra – 40% da receita total
  • Futebol Forte – 45% da receita total
  • Performance
    Libra – 30% da receita total
  • Futebol Forte – 30% da receita total
  • Audiência
    Libra – 30% da receita total
    Futebol Forte – 25% da receita total

>>>> Divisão igualitária

Todos os clubes receberão um valor-base, que representará a maior fatia da arrecadação total, como acontece na Premier League.

·         Performance

A porcentagem distribuída por performance esportiva não apresenta diferença entre Libra e LFF, mas há distinções nos critérios estabelecidos para medir o dinheiro que será repassado para cada clube.

A Libra elaborou uma tabela onde a colocação no Campeonato Brasileiro vai determinar o valor que o clube vai receber. Já a LFF não estabelece percentual fixo para o que cada clube receberá.

·         Audiência

A divisão da receita de audiência também é diferente nas duas propostas. Na LFF a medição é feita pela média proporcional ao valor do direito de cada plataforma. Essa média gera um ranking de posições onde tem uma tabela pré-estabelecida de valor por clube. Na Libra, é o somatório de audiência sem tabela pré-definida.

·         Divisão dos blocos

# Liga Forte Futebol: Cruzeiro, Fluminense, Vasco, Athletico-PR, Botafogo, Coritiba, Goiás, Sport, Ceará, Fortaleza, América-MG, Avaí, Chapecoense, Juventude, Atlético-GO, Criciúma, Cuiabá, CRB, Vila Nova, Londrina, Tombense, Figueirense, CSA, Brusque e Operário;

# Libra: Atlético-MG, Bahia, Corinthians, Flamengo, Grêmio, Guarani, Ituano, Mirassol, Novorizontino, Palmeiras, Ponte Preta, Red Bull Bragantino, Sampaio Corrêa, Santos, São Paulo e Vitória;

Não assinaram: Internacional, Náutico e ABC

 

Ø  Futebol brasileiro desperdiça chance de formação de liga de clubes. Por Adalberto Leister Filho

 

O futebol brasileiro desperdiçou a chance de formação de uma liga de clubes a partir de 2025, quando chega ao fim o atual contrato de TV. A frase parece hoje meio óbvia, mas o problema foi se agravando no último ano e meio de (falta de) diálogo entre os dois grandes blocos que se formaram por aqui: a Liga do Futebol Brasileiro (Libra) e a Liga Forte Futebol (LFF).

As discussões iniciais se referiam à divisão de receitas arrecadadas com direitos comerciais e de mídia da futura liga. De um lago, Flamengo e Corinthians, os dois clubes de maior torcida do país, impondo a manutenção de um mínimo garantido de receitas que hoje recebem principalmente pelos contratos de TV.

Com isso, os outros 18 times da elite teriam que correr o risco conjunto de perda financeira caso a nova liga não alcançasse o nível de receitas atuais (o que era improvável). Surgiu daí a Libra, defendendo a manutenção dos privilégios de Flamengo e Corinthians até que a liga atingisse certo patamar de arrecadação, e a LFF, uma reunião de clubes menores, defendendo que a divisão de receitas mais igualitárias acontecesse desde a primeira edição do novo campeonato.

·         Libra x LFF

A Libra mostrou força ao ter em suas frentes, Flamengo, Corinthians, São PauloPalmeiras e Vasco, os cinco clubes de maior torcida do país, além de ter atraído outros importantes times, como CruzeiroGrêmioSantos e Bahia.

O Forte Futebol, por sua vez, conseguiu arregimentar alguns dos chamados 12 grandes, como Atlético-MGFluminense e Internacional, outros times em ascensão, casos de Athletico e Fortaleza, e uma boa porção de equipes da Série B.

Cedo ficou claro que mais do que atrair uma composição com os clubes rivais, tanto Libra como LFF quiseram mostrar força. Por isso, apresentaram possíveis parceiros comerciais de suas ligas, antes mesmo que elas houvessem sido formadas. A ideia ali era atrair clubes do grupo rival ao divulgar vantagens financeiras da adesão a seus investidores.

·         Mubadala x Serengeti/LCP

Mubadala Capital, dos Emirados Árabes, surgiu como investidora dos times da Libra. A LFF, por sua vez, apresentou a norte-americana Serengeti Asset Management e a brasileira Life Capital Partners (LCP) como sua parceira. Ambas com ofertas parecidas por 20% dos direitos comerciais e de mídia da futura liga brasileira, em caso de adesão de 40 times, por um período de 50 anos.

Muito foi discutido sobre qual oferta seria mais vantajosa. Ambos os grupos vazaram para a imprensa a divisão de receitas, com alguns milhões de reais entrando rapidamente no caixa dos times para investimento em infraestrutura, como modernização de estádios e centros de treinamento, pagamento de dívidas mais urgentes e, claro!, gastos com salários e mercado de transferência.

Assim, o consórcio Serengeti/LCP conseguiu assinatura com 21 times. Após negociações adicionais, mais quatro clubes ligados a SAFs (Botafogo, Coritiba, Cruzeiro e Vasco) também aceitaram o contrato com esse grupo. Esse bloco de equipes conta com clubes que deixaram a Libra (Botafogo, Cruzeiro e Vasco) e a LFF (Coritiba) e aprofundaram ainda mais a divisão do futebol brasileiro ao ironicamente formar o “Grupo União”.  

Com eles, a Serengeti/LCP conta com dez times da Série A, 11 da Série B e quatro da Série C. Já a Mubadala, por sua vez, acertou acordo na última sexta-feira (7) com outros 15 clubes, incluindo Flamengo, Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Grêmio, Bahia e Santos. São oito equipes da Série A e sete da Série B.

·         Liga x blocos

A proposta inicial dessas empresas de private equity era investir na formação da futura liga brasileira. Na prática, adquiriram direitos comerciais e de transmissão (através da lei do mandante) de dois blocos de times. No momento, dos 40 clubes das duas principais divisões do país, apenas quatro não firmaram acordo com nenhuma investidora: Atlético-MG, Internacional, ABC e Botafogo-SP. Os três primeiros integram a LFF, mas são assediados pela Mubadala.

Independentemente do próximo passo que ocorra, já há uma divisão inconciliável. Como compor com os 36 clubes, divididos em acordos com investidoras diferentes? Como dividir receitas geradas numa improvável união dos times? O que caberia à Mubadala e à Serengeti/LCP?

O Brasil estava 50 anos atrasado da elite do futebol mundial ao não ter formado sua liga. Com os acordos e desacordos da vez, pode demorar ao menos mais 50 anos para dar esse passo.

 

Fonte: Neofeed/CNN Brasil/Máquina do Esporte

 

 

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