Bolsonaro
inelegível pelas mãos dos protagonistas do golpe institucional. Reformas e
militares seguem intactos
Em
2018 as eleições para presidente no Brasil confirmaram os objetivos do golpe
institucional articulado em 2016 contra o governo de Dilma Rousseff. Aplicar um
plano de ajustes ainda mais duro do que o PT já vinha aplicando. Temer como
presidente golpista conseguiu aprovar a reforma trabalhista com ajuda das
centrais sindicais que impediram o desenvolvimento da luta da classe
trabalhadora mesmo depois de uma paralisação nacional histórica. Mas era
preciso mais: fosse qual fosse o candidato para assumir a presidência do país
contando com a prisão arbitrária de Lula. Com forte protagonismo dos Ministros
do STF, dos setores da direita e extrema-direita do Congresso Nacional, das forças
mais reacionárias do país como a bancada evangélica e os grandes nomes do
agronegócio, com as forças armadas intervindo de forma cada vez mais ostensiva
na política do país, foi assim que o país viu Bolsonaro, quem sempre vociferou
contra as mulheres, os negros, os LGBTs e a classe trabalhadora, entrar no
poder.
A
resposta por parte das direções de massas, como os sindicatos dirigidos pelo PT
e PCdoB foi de trégua. Estratégia puramente eleitoral permitindo 4 anos de
desastre e miséria contra a classe trabalhadora e o povo pobre, de inúmeros
ataques, como a reforma da previdência, e retrocessos nos direitos, mantendo
uma atuação pacífica com atos espaçados ao longo dos meses que nunca colocaram
em xeque o governo Bolsonaro. Hoje o novo governo Lula-Alckmin volta a
alimentar os mesmos agentes do golpe institucional com novos planos de
investimento recorde no agronegócio, destinando 340 bilhões para o plano Safra
(valor superior ao que próprio Bolsonaro destinava), que vai significar mais
ataques aos povos indígenas e o meio ambiente, além de apresentar o seu próprio
teto de gastos com o arcabouço fiscal, e liberar sua base na câmara para votar
a favor do marco temporal. Nada se fala sobre as reformas e privatizações, esse
legado drástico do governo Bolsonaro e do golpe institucional, que ficará
intacto como parte de todos os ataques que seguem em curso. Faz parceria com
governadores bolsonaristas, como o reacionário Tarcísio de Freitas em SP ("somos sócios
para o desenvolvimento do país", disse Tarcísio sobre Lula), a provável nova
aposta da extrema direita para suceder Bolsonaro nas eleições executivas.
Tudo
que a classe trabalhadora vem sentindo na pele todos os dias com trabalhos
precários, aumento do preço dos alimentos, salários baixos, moradia precária,
transporte com recorrente aumento dos preços, ataques na educação com a reforma
do ensino médio, ataques aos povos indígenas com o marco temporal e toda
precariedade da vida é sustentado pelas mãos dos mesmos atores que hoje se
dizem “em defesa da democracia” como o TSE no caso da inelegibilidade de
Bolsonaro. Na mesma sessão que deixou Bolsonaro inelegível, Braga Netto, seu
candidato a vice e representante do generalato que deu sustentação para que
Bolsonaro continuasse no poder, saiu inocentado. Essa é a cara desse
judiciário, que agora quer se mostrar como defensor da democracia por estar
investindo contra Bolsonaro, mas preserva e pactua todos os setores do regime
político que foram fundamentais em seu governo. O fato é que estes mesmos
setores como TSE e o STF de Alexandre de Moraes, que foi parte de avançar com a
lei de terceirização irrestrita e recentemente julgou contra os direitos dos
trabalhadores por aplicativo, além do Congresso Nacional, foram os que tornaram
Bolsonaro “elegível” ao tomar medidas tremendamente arbitrárias. Esses métodos
vão se voltar ainda mais contra a classe trabalhadora. Enfrentar Bolsonaro, sim
e sempre, mas confiando apenas na força da luta de classes para combater a
extrema direita e não nos feitos do “autoritarismo de toga” no Brasil, porque
vai contra os interesses da nossa classe. Esses mesmos juízes que não foram
eleitos por ninguém e recebem salários milionários, que agora posam de
democratas, não somente viabilizaram o golpe institucional e todos ataques que
vieram com ele, como estão a cada greve julgando de forma autoritária e anti
sindical essas lutas, que para eles sempre são ilegais.
O
que está colocado neste momento é que o regime político brasileiro está
buscando também uma extrema-direita “institucional” que se coloque por dentro
das instituições, pressionando para que os ataques sigam em curso sem tamanhas
crises políticas no país ou ações reacionárias como foi o 8 de janeiro. Se por
um lado o ódio legítimo a Bolsonaro se faz sentir em todo o país, por outro
lado as lições dos últimos anos precisam apontar um caminho que seja
efetivamente de independência da classe trabalhadora para que não fique refém
dos interesses de outra classe e a mercê das decisões das instituições do
regime que atuam como um balcão de negócios dos capitalistas. Por isso dizemos:
nenhuma confiança no TSE! Nenhuma confiança no STF! Nenhuma confiança no
Congresso Nacional!
Para
enfrentar o legado odioso de Bolsonaro e sua corja e o legado do golpe
institucional, é preciso confiar nas forças da classe trabalhadora e dos
setores oprimidos buscando fortalecer sua luta e auto-organização o que passará
também por enfrentar os ataques do novo governo Lula-Alckmin como o arcabouço
fiscal. Basta de paralisia das centrais sindicais, precisamos de um plano de
luta imediato com paralisação nacional: abaixo o marco temporal, não ao arcabouço
fiscal, revogação integral de todas as reformas. O PSOL que hoje compõe o
governo cumpre um papel de cobrir pela esquerda a paralisia das direções do
movimento de massas e os ataques em curso, dando seu aval a um governo
ajustador. Por isso é também fundamental batalhar para que as entidades de
massas da juventude, como a UNE, sejam independentes do novo governo. Junto com
a classe trabalhadora é preciso conformar um polo de independência de classes
se apoiando na luta da nossa classe internacional, como vemos hoje em Jujuy na
Argentina com uma forte rebelião popular, unindo trabalhadores e indígenas para
enfrentar o legado reacionário da direita dura neste país. Este é o caminho
para enfrentar todos os ataques e abrir a perspectiva de um enfrentamento não
somente aos governos mas com o conjunto do estado capitalista.
Ø
Bolsonaristas
correm para herdar votos do ex-presidente condenado
O
acórdão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de hoje (30), que condenou Jair
Bolsonaro,
mal saiu e integrantes da extrema direita já se articulam para recolher as
migalhas do ex-presidente. Políticos bolsonaristas que pretendem herdar o
potencial eleitoral de Bolsonaro. Deve-se levar em conta, também, que o
condenado está inelegível. Contudo, ainda tem seus direitos políticos, ou seja,
deve participar das campanhas eleitorais dos próximos anos.
Bolsonaro
não poderá ocupar cargo eletivo até, pelo menos, 2030. Ainda tramitam uma série
de processos contra ele. Inclusive, na Justiça Comum, em casos envolvendo
enriquecimento ilícito, como o das joias sauditas, entre outros. Dado o cenário
desolador que circunda o político radical, alguns herdeiros mais óbvios já se
pronunciaram.
Para
o presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre, a condenação de hoje é um avanço.
Contudo, ele reforça a necessidade de julgamento destes outros processos,
incluindo na Justiça Comum. “A decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral),
que, nesta sexta-feira (30/06), tornou Jair Bolsonaro inelegível, com a perda
dos direitos políticos por oito anos, até 2030, é uma vitória da democracia,
das instituições e, principalmente, da classe trabalhadora, que foi tão atacada
pelo ex-presidente durante seu governo”, disse.
“A
classe trabalhadora, porém, não vai parar de lutar até que Bolsonaro pague por
todos os crimes que cometeu, em especial pela morte de milhares de brasileiros
e brasileiras, em consequência do negacionismo, da corrupção e da incompetência
no enfrentamento à pandemia de Covid-19. A luta continua”, completou.
·
Bolsonaristas em disputa
Já
entre os bolsonaristas em disputa, destaque para a esposa dele, Michelle
Bolsonaro. A ex-primeira-dama, que também tem envolvimento em escândalos, como
o das joias, agrada o eleitorado evangélico mais extremista, uma vez que ela se
apresenta como religiosa radical. “Estou às suas ordens, meu capitão”, escreveu
Michelle em uma postagem de redes sociais, onde também aproveitou para criticar
a Justiça.
Ontem,
o ex-presidente inelegível chegou a cogitar a candidatura de sua esposa. “apoio
uma candidatura de Michelle. Se eu estiver fora do jogo político, serei um bom
cabo eleitoral. Tem vários bons nomes por aí, mas acredito até o último segundo
na isenção e em um julgamento justo e sem revanchismo por parte do TSE”, disse.
Outro
que corre pela tangente é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas
(Republicanos). Considerado menos radical, o político também se manifestou
sobre Bolsonaro. “A liderança do presidente Jair Bolsonaro como representante
da direita brasileira é inquestionável e perdura. Dezenas de milhões de
brasileiros contam com a sua voz. Seguimos juntos, presidente”, disse.
Entretanto,
o caminho de Tarcísio na disputa ao Planalto não parece tão óbvio. Aliado de
primeira ordem de Gilberto Kassab, existe uma intenção de que ele concorra à
reeleição do governo paulista. Então, também há de ser ponderado que Lula pode
disputar a reeleição em 2026. Logo, com resultados robustos em áreas como meio
ambiente, educação e economia, existe a avaliação que o petista seria
imbatível. Então, Tarcísio pode não querer correr o risco de perder sua atual
cadeira.
·
Heranças
A
cientista social Rosemary Segurado, professora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP) avalia, em entrevista para o programa Central do
Brasil, na TVT em
parceria com o Brasil de Fato, que a disputa
será acirrada na extrema direita.
“Já
tem vários cenários sendo colocados, e me parece que o momento agora é esse
dessa reconfiguração. Acho interessante a gente pensar quem pode ser capaz
de catalisar essa força, que ainda é muito grande, do bolsonarismo. As apostas
estão colocadas, existem vários nomes na mesa e agora vai começar uma disputa,
obviamente entre esses nomes, para que isso ocorra”, disse.
Por
fim, ela sentencia que estas disputas serão tratadas, sobretudo, nas cúpulas
partidárias das legendas mais alinhadas com o bolsonarismo. “O que nós temos
que pensar: a inelegibilidade do Bolsonaro não é o fim do
bolsonarismo. Esse momento agora é fundamental para que inclusive,
dependendo da postura do próprio Bolsonaro: se ele vai conseguir pegar para si
essa articulação ou vai deixar Valdemar da Costa Netto (presidente do PL)
atuar livremente nesse processo”.
Fonte:
Esquerda Diário/RBA
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