domingo, 2 de julho de 2023

Como Mercosul, Austrália recua e diz que oferta da UE para acordo de livre comércio é insatisfatória

Chefe do Comércio australiano diz que proposta do bloco "não é suficientemente boa", uma vez que não permite grande entrada de produtos agrícolas australianos na Europa, sendo o protecionismo uma das questões que também impede o Mercosul de assinar com os europeus.

De acordo com o ministro do Comércio australiano, Don Farrell, o bloco europeu "falhou em oferecer à Austrália termos satisfatórios para selar um acordo de livre comércio", uma vez que "pequenos, mas importantes pontos de atrito ameaçam inviabilizar os planos de assinatura até o final de agosto", disse Farrell segundo a Bloomberg.

De acordo com a mídia, a Austrália continua insatisfeita com o nível de acesso ao mercado europeu oferecido para seus produtos agrícolas - incluindo carne bovina, açúcar e carneiro - e Camberra não está preparada para assinar um acordo sem "acesso comercial significativo".

"Nesta fase, não recebemos uma oferta suficientemente boa dos europeus", afirmou Farrell.

Também há discordâncias sobre a insistência do bloco europeu na proteção da indicação geográfica para centenas de produtos que podem afetar a marca das exportações da Austrália, como prosecco e feta.

Os negociadores da UE consideram que isso não é negociável, segundo a mídia, enquanto Farrell disse anteriormente que era uma "questão emocional" para os agricultores australianos.

Para as autoridades europeias, nomeadamente o comissário de Comércio da UE, Valdis Dombrovskis, é possível que o acordo com a Austrália seja assinado em uma cúpula da OTAN na Lituânia em meados de julho, o comissário considerou a data ontem (28), segundo a Bloomberg.

A expectativa de Dombrovskis para o acordo com o Mercosul é a mesma, entretanto, a questão sobre produtos agrícolas é justamente um dos maiores impasses no pacto entre os europeus e os sul-americanos, assim como para os australianos.

Na semana passada o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, chegou a classificar como "ameaça" as novas exigências da UE para o acordo. Sobre a parte de produtos agrícolas, o Brasil, assim como a Austrália, também busca um novo texto, principalmente no que diz respeito à compensação para agricultura familiar, conforme noticiado.

·         Sul Global dificulta plano da Ucrânia na ONU para criar tribunal internacional, diz mídia brasileira

Para formar um novo tribunal, Kiev precisa de votos de dois terços dos 193 integrantes da Assembleia-Geral da ONU, mas até agora, na América Latina por exemplo, apenas quatro países apoiaram a iniciativa.

Desde o começo do ano, Kiev vem fazendo diversos movimentos para se aproximar do chamado Sul Global, com foco especial em países sul-americanos. O presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, tenta flertar com líderes da região declarando publicamente que a Ucrânia tem a intenção de estabelecer maior contato com os mesmos.

Em fevereiro – bem antes da reunião do G7 na qual o líder não encontrou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva – Zelensky propôs durante coletiva de imprensa que Lula o ajudasse a impulsionar uma cúpula Ucrânia-América Latina na região, conforme noticiado.

No entanto, desde então, a liderança ucraniana vem enfrentando grande resistência para mudar o status de neutralidade adotado por esses países diante do conflito, e, segundo a Folha de São Paulo, também encontra resistência para criação de um tribunal especial internacional por parte desses mesmos Estados.

A mídia relata que para formar o novo tribunal, a Ucrânia precisa dos votos de dois terços dos 193 integrantes da Assembleia-Geral das Nações Unidas.

Neste momento, a proposta foi endossada por cerca de 40 países, entre os quais Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha. Por outro lado, são poucas as nações emergentes que apoiam abertamente a iniciativa. Na América Latina, por exemplo, apenas Costa Rica, Guatemala, Uruguai e Chile, diz o jornal.

O advogado à frente do Global Rights Compliance, Wayne Jordash, vê com pessimismo a chance de Kiev conseguir criar a corte especial, devido à falta de apoio do Sul Global. Entretanto, ressalta que "os ucranianos são persuasivos, ninguém achava que eles conseguiriam caças F-16 e tanques".

A mídia afirma que o governo brasileiro reconhece o mérito de buscar a responsabilização dos envolvidos no conflito, mas vê a criação de um tribunal especial neste momento como contraproducente.

Ao estabelecer uma corte cuja finalidade seria, na prática, condenar Putin, haveria ainda menos incentivos para que o presidente russo negocie o fim do conflito. Além disso, poderia deixar o chefe do Kremlin com a sensação de estar sendo encurralado, uma ideia ruim para uma potência nuclear, segundo o raciocínio em Brasília, escreve o jornal.

Segundo o especialista em relações internacionais, Ivan Timofeev, ouvido pela Sputnik, os países do Sul Global agirão de acordo com seus próprios interesses e não serão inequivocamente pró-ucranianos, apesar da ativa pressão informacional dos EUA e de Kiev em relação ao conflito.

"Ao se distanciarem do conflito ucraniano, não apoiando Kiev e, ao mesmo tempo, evitando qualquer apoio inequívoco à operação militar especial, eles deixam espaço de manobra e não se prendem a uma única posição. Portanto, é do interesse deles continuarem com sua política, ou seja, defender um acordo pacífico, mas evitar uma clara associação com a posição de Kiev ou do Ocidente", enfatizou.

No final de semana passado, aconteceu na capital dinamarquesa Copenhague uma cúpula promovida pelos EUA, União Europeia e Ucrânia com países do Sul Global para tentar uma aproximação com nações da região e mostrar a proposta de Kiev para paz.

O Brasil e vários outros países compareceram, mas na visão de Timofeev o objetivo do evento – que contou até com a presença de Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional de Joe Biden – foi "querer minar uma das teses promovidas pela Rússia relacionada ao fato de que há uma mudança fundamental na ordem mundial, onde o Sul Global está se fortalecendo gradualmente".

 

Ø  Alemanha teve maior fuga de capital de sua história em 2022, revelam dados

 

O Instituto Econômico Alemão publicou um relatório em que colocou a Alemanha como o país que mais saiu a perder em termos de investimentos no ano passado.

A Alemanha teve em 2022 a maior saída de capital já registrada no país, com um recorde de US$ 132 bilhões (R$ 641,11 bilhões) de investimento direto deixando a maior economia da União Europeia naquele ano, informou na quarta-feira (28) um relatório.

De acordo com os dados do Instituto Econômico Alemão (IW, na sigla em alemão), a Alemanha encabeçou a lista dos países que mais perderam investimentos no ano passado, seguida pelo Japão, com uma saída de US$ 129 bilhões (R$ 626,54 bilhões), e pelo Reino Unido, com uma saída de US$ 116 bilhões (R$ 563,4 bilhões).

O relatório observa que 60% do capital alemão fluiu para a Zona do Euro e cerca de 10% para outros países da União Europeia, enquanto a Ásia e as Américas receberam, cada uma, 14% do dinheiro das empresas alemãs.

"Os números são alarmantes: na pior das hipóteses, esse é o início da desindustrialização", alertou o IW. Além dos altos preços da energia, foram mencionadas como outras razões para a perda de atratividade dos investimentos na Alemanha a falta de trabalhadores qualificados e o aumento do protecionismo, marcado pela Lei de Redução da Inflação dos EUA, que visa atrair mais investimentos para o país norte-americano.

De acordo com o estudo, a tendência negativa começou com a pandemia e foi agravada pela crise energética na Europa, desencadeada pelas sanções ocidentais contra a Rússia.

Christian Rusche, economista da IW, destacou que muitos dos problemas existentes são domésticos, incluindo altos impostos corporativos, burocracia excessiva e a infraestrutura em ruínas.

"O governo federal precisa urgentemente tomar contramedidas para garantir que a Alemanha volte a ser o primeiro endereço para investimentos estrangeiros no futuro", argumentou ele.

Na semana passada, o Instituto Ifo alemão, em Munique, previu que a recessão na Alemanha será mais profunda neste ano do que o esperado, com uma queda do PIB estimada em 0,4%.

Tal acontece após as sanções abrangentes impostas por países ocidentais, incluindo europeus, contra a Rússia, por ter começado a operação militar especial na Ucrânia. A maior parte das previsões econômicas para 2023 apontam para um crescimento de ou perto do zero.

·         Banco Mundial aprova linha de financiamento de US$ 1,5 bilhão para a Ucrânia, diz Kiev

De acordo com um alto responsável ucraniano, o Banco Mundial desembolsará dinheiro destinado a financiamento de objetivos não militares.

A Ucrânia receberá US$ 1,5 bilhão (R$ 7,29 bilhões) do Banco Mundial para apoiar sua reconstrução, anunciou na sexta-feira (30) Denis Shmygal, premiê ucraniano.

"Em particular, o empréstimo ajudará a apoiar subsídios para pessoas deslocadas internamente e pagamentos de pensões", comentou Shmygal.

Os fundos serão fornecidos com garantias do governo japonês e canalizados para apoiar a segurança social e o desenvolvimento econômico, disse ele.

A Ucrânia depende da ajuda financeira dos países ocidentais para cobrir seu déficit orçamentário. Na quinta-feira (29) o Fundo Monetário Internacional (FMI) concluiu a revisão dos empréstimos ucranianos, permitindo que Kiev retire imediatamente US$ 890 milhões (R$ 4,32 bilhão) para apoio orçamentário.

Em abril de 2023 o FMI aprovou um pacote de ajuda de US$ 15,6 bilhões (R$ 78,99 bilhões), o primeiro para Kiev, e cuja execução está sujeita a reformas do grupo credor liderado por países ocidentais.

 

Ø  Cavalo de Troia à francesa? A iniciativa de Emmanuel Macron de sabotar a reunião do BRICS

 

Alguns relatos da mídia francesa apontam que o presidente Emmanuel Macron gostaria de participar da próxima reunião do BRICS, marcada para agosto na África do Sul.

Se confirmada, a iniciativa de Macron representará uma das manobras diplomáticas mais inesperadas por parte do Ocidente em relação ao grupo BRICS. Nesse caso, estaríamos diante de uma espécie de "Cavalo de Troia" à francesa?

Primeiro de tudo, em se tratando de BRICS depositar algum tipo de confiança em Emmanuel Macron nesse momento é bastante arriscado. Vale lembrar que, na última reunião do G7 ocorrida no Japão em maio, a França cedeu seu avião presidencial para levar ao evento o presidente ucraniano Vladimir Zelensky.

A ideia era fazer com que a presença de Zelensky no local pudesse de algum modo pressionar Estados neutros como o Brasil e a Índia (dois dos membros do BRICS que também compareceram às reuniões) a tomarem o lado do Ocidente com relação ao conflito na Ucrânia. A França, como membro original do grupo G7, também endossou a declaração final da cúpula, cujo teor mostrou-se claramente antirrusso.

O BRICS, por sua vez, tem se mostrado firme no sentido de não ceder à pressão Ocidental em sua nova cruzada contra a Rússia, apelando à comunidade internacional para que se criem condições para um acordo de paz no Leste Europeu.

O interesse de Macron em participar de algum modo da reunião do BRICS em agosto, portanto, poderá refletir a mesma linha adotada por Olaf Scholz, de induzir a que países como Brasil, Índia e África de Sul colaborem com o esforço de guerra dos países ocidentais contra a Rússia, o que constitui um verdadeiro absurdo por si só.

Mas as diferenças entre os interesses da França e do BRICS não terminam por aqui. Os países do BRICS há tempos têm advogado pela necessidade da desdolarização do comércio internacional, ou seja, pelo estabelecimento de trocas bilaterais em suas próprias moedas locais. A França, por sua vez, faz parte da zona do euro, segunda moeda mais influente do sistema atualmente.

Além do mais, no plano cultural a França é um dos países-núcleo da civilização ocidental, cuja filosofia baseia-se na crença da "universalidade" de seus valores e ideais. Portanto, os franceses acreditam que o individualismo liberal e a economia de livre mercado (preferencialmente desregulada) devem ser a base para o desenvolvimento das nações, sem levar em conta as especificidades locais de cada civilização.

Em verdade, o próprio termo "desenvolvimento" tem sido historicamente usado para implicar um tipo de movimento em direção aos sistemas ocidentais de gestão da economia e de governo e até mesmo em direção a um estilo de vida similar ao dos países assim chamados "avançados".

Contudo, não há um caminho único para o desenvolvimento, como já foi provado por Estados como Rússia, Índia e China. Não obstante, o BRICS também simboliza uma iniciativa política que visa defender regras mais justas para o desenvolvimento global, de maneira que o poder decisório nas instituições de tomada de decisão (como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional) dominadas pelo Ocidente possa refletir adequadamente a crescente importância dos países emergentes no sistema.

Nesse quesito, qualquer que seja o princípio de justiça distributiva do poder internacional adotado pela França, ele é certamente diferente do conceito adotado pelos países do BRICS. A própria natureza da posição hierárquica da França (como membro do G7 e do Conselho de Segurança da ONU) a impele a defender o "status-quo" em prejuízo das nações menos privilegiadas do mundo.

Ora, o foco da 15ª Cúpula do BRICS na África do Sul deverá ser justamente sobre questões de reforma da governança global, tocando em pontos como a necessidade de diminuir a sobrerrepresentação ocidental (e sobretudo europeia) em instituições como o Banco Mundial e o FMI, por exemplo.

No mais, é preciso observar que hoje testemunhamos um crescente interesse de diversos Estados – principalmente do Sul Global – por se juntarem ao BRICS, entre eles a Argélia, que vivenciou uma complicada experiência de colonização francesa por mais de um século.

Afinal, como a Argélia e outros países do Mundo Muçulmano (também interessados em participar do BRICS) enxergariam a presença do líder francês na próxima reunião do grupo? Justo a França, que juntamente dos demais países ocidentais, tem se engajado em uma verdadeira política de imperialismo cultural pelo mundo afora.

Outro fator importante a se ter em consideração é que a França não é um país que conduz sua política externa de forma totalmente independente. Se em meados da década de 1960, Charles de Gaulle chegou até mesmo a retirar tropas da Organização do Tratado do Atlântico Norte de seu território por desacordar com as políticas da aliança, a França atual foi um dos países que mais participou de intervenções da OTAN no Norte da África e no Oriente Médio.

Um desses exemplos foi o calamitoso bombardeio da Líbia em 2011 pela Aliança Atlântica, que culminou na queda de Muammar Kadhafi e na derrocada da Líbia para uma condição de caos político e econômico que já dura anos.

Os países do BRICS, por sua vez, são críticos da intervenção desastrosa dos países ocidentais em assuntos domésticos de outros Estados, encobertas por seus discursos pseudo-humanitários.

A diferença, portanto, entre as duas abordagens é como da água para o óleo. Por fim, muito embora Macron possa reconhecer em alguma medida as implicações geopolíticas por trás do fortalecimento do BRICS, seu envolvimento com o grupo visa salvaguardar apenas e simplesmente os interesses do Ocidente no sistema internacional.

Afinal, a França, como membro fundador do G7 e como partícipe ativo da coalização ocidental hoje em confronto aberto com a Rússia, não se vê interessada em estabelecer nem sequer um equilíbrio de poder estável no próprio continente em que se encontra, quanto mais no mundo. Que confiança mereceria Macron em uma situação como essas? A resposta parece um tanto óbvia.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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