Por que o dólar cai e a bolsa brasileira se
segura após o ‘tarifaço’ de Trump
No dia
seguinte ao anúncio das esperadas tarifas recíprocas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, os mercados financeiros globais estão
em polvorosa.
O dólar
é um dos ativos mais afetados. O índice DXY, que mede o desempenho da moeda
americana em relação às principais moedas do mundo, está em forte queda. Por
volta das 15h30, o índice caía cerca de 1,50%, atingindo a menor cotação desde
setembro. No Brasil, o dólar tinha baixa de 1,32%, a R$
5,62.
As
principais bolsas de valores do mundo registram fortes quedas. Na Ásia, os
mercados fecharam em baixa, com destaque para recuo de quase 3% no Japão. A
Europa teve o mesmo desfecho, com quedas na casa dos 3%.
Nos
EUA, a situação é ainda pior: o índice Dow Jones caía 3,47%, o S&P 500,
4,25%, e o Nasdaq recuava 5,33%.
A queda
no dólar e recuo das bolsas é consequência da expectativa de que as
tarifas de Trump podem levar os EUA a uma recessão econômica. Tarifas
maiores também devem encarecer produtos que chegam aos EUA, subindo o preço de
insumos para a produção de bens e serviços no país. É um cenário que reduz o
lucro das empresas e piora a inflação.
Na
contramão do mercado global, o Ibovespa, principal índice de ações da bolsa
brasileira, opera quase estável, mas sustenta os 131 mil pontos. A avaliação de
analistas é de que as taxas anunciadas para o Brasil, de 10%, foram as menores
do tarifaço.
Além
disso, as tarifas podem abrir portas para exportadores brasileiros, que podem
ganhar espaço com novos parceiros comerciais.
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Dólar em queda, com medo de recessão no radar
Os
agentes do mercado financeiro reagiram mal às tarifas anunciadas por Trump,
pois há uma grande expectativa de que essas taxas possam levar o país a uma
recessão.
Especialistas
ouvidos pelo g1 explicam que o impacto das
tarifas será sentido em duas áreas:
- Primeiro, as
taxas maiores devem gerar mais inflação;
- Depois, a
uma queda na atividade econômica.
As
regiões que receberam as maiores tarifas dos EUA foram Ásia e Europa, porque
são as regiões com as quais os EUA têm os maiores déficits comerciais, pontua o
economista Paulo Gala, do Banco Master. (veja a lista abaixo)
O
especialista explica que muitos desses países se especializaram na produção de
certos produtos e têm grande presença no mercado americano, como chips
taiwaneses e bebidas europeias.
Como o
mercado americano consome muitos desses produtos importados, a cobrança das
tarifas — que variam de 10% a 50% — deve causar um grande choque inflacionário
no país.
Tanto
os produtos que chegam prontos aos EUA quanto os insumos usados em várias
cadeias produtivas ficarão mais caros devido às tarifas, e esse aumento de
custo será repassado ao consumidor.
Após
esse choque inicial, especialistas acreditam que o consumidor americano
reduzirá seus níveis de consumo devido ao aumento dos preços.
Com as
empresas enfrentando dificuldades para produzir bens e serviços, com insumos
mais caros e redução do consumo, os EUA podem passar por um período de
desaceleração econômica e até enfrentar uma recessão.
A
perspectiva de recessão faz os investidores acreditarem que o Federal Reserve (Fed, o banco central
americano) iniciará um ciclo de cortes nas taxas de juros em breve.
Isso
ocorre porque, quanto maiores os juros, mais caro fica o crédito para empresas
e população, reduzindo ainda mais o nível de investimentos em produção e
consumo. Assim, o mercado espera esses cortes para que a desaceleração
econômica no país não seja tão intensa.
"Os
investidores (já estão) passando a precificar até três cortes na taxa básica de
juros dos Estados Unidos ainda neste ano", afirma Gustavo Sung,
economista-chefe da Suno Reaserach. Hoje, os juros estão entre 4,25% e 4,50% ao
ano.
Juros
menores nos EUA reduzem a competitividade do país no cenário de ativos
internacionais, pois servem de referência para a rentabilidade dos títulos
públicos americanos. Esse conjunto de expectativa de recessão e juros menores é
responsável pela queda do dólar no mundo neste pregão, explica Sung.
Além
disso, André Valério, economista do Inter, destaca que o diferencial de juros
entre Brasil e EUA também beneficia a moeda brasileira em detrimento do dólar.
A Selic, taxa básica de juros brasileira, está em 14,25% ao ano e ainda há
perspectiva de pelo menos mais uma alta — ao contrário das baixas esperadas nos
EUA.
Com
isso, a rentabilidade dos títulos públicos brasileiros torna-se muito mais
atrativa do que a dos americanos, privilegiando os investimentos no país e
contribuindo para a valorização do real.
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Bolsa brasileira em alta, na contramão do resto do mundo
Enquanto
as bolsas asiáticas e europeias registram quedas de mais de 3% em alguns casos,
o Ibovespa está em alta. Por volta das 13h30, o índice caía apenas 0,06%.
O
analista financeiro Vitor Miziara explica que a razão para esse movimento
oposto é simples: o Brasil recebeu a menor tarifa
apresentada por Trump, de 10%.
"Brasil
pode ser um belo beneficiado por ter uma das menores tarifas em relação a todos
emergentes e exportadores para os EUA e isso pode beneficiar o mercado",
diz Miziara.
Com
taxas menores do que outros exportadores, os produtores americanos que importam
produtos e insumos podem buscar fornecedores brasileiros e fechar mais negócios
com o país, já que a tarifa menor torna a importação mais barata.
Da
mesma forma, outro país que também recebeu tarifas de 10% e está em alta nos
mercados, embora em menor proporção que o Brasil, é o Chile.
Além de
poder exportar mais para os EUA, especialistas acreditam que, com as tarifas
anunciadas por Trump para outras regiões, o Brasil também pode ter mais
facilidade para negociar com outros parceiros comerciais.
Em
entrevista à GloboNews, Carlos Frederico Coelho, professor de Relações
Internacionais da PUC-RJ, explicou que, apesar de não serem ideais, as tarifas
podem abrir novos caminhos para o Brasil.
"O
Brasil não foi um dos mais prejudicados, primeiramente. A maior concentração é
em relação à China, e isso deve abrir algumas oportunidades específicas para a
indústria brasileira", pontua Coelho. "“O efeito que isso tem ou pode
ter é abrir novos mercados, que estão sendo afetados por essas novas tarifas,
para produtos brasileiros. Ganhos setoriais são possíveis para o Brasil".
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Lula critica 'tarifaço' de Trump
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comentou, nesta quinta-feira (3), a
decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas recíprocas a uma série
de países que
cobram taxas nos produtos norte-americanos, entre eles, o Brasil.
Nessa
quarta-feira (2), Trump anunciou que o país passará a cobrar 10% de todas as
importações do Brasil, como parte do decreto que estabelece tarifas
recíprocas aos parceiros comerciais dos EUA.
Lula
citou o caso nesta quinta, durante um evento com ministros, aliados e
parlamentares, para fazer um balanço de governo. O evento recebeu o slogan
de "Brasil dando a volta por cima".
Segundo
o petista, o governo brasileiro irá responder a qualquer iniciativa de
impor protecionismo, que não cabe mais ao mundo.
"Somos
um país que não tolera ameaça à democracia, que não abre mão de sua soberania,
que não bate continência para nenhuma outra bandeira que não seja a bandeira
verde e amarela, que fala de igual para igual e que respeita todos os países —
dos mais pobres aos mais ricos —, mas que exige reciprocidade no
tratamento", afirmou o presidente.
"Diante
da decisão dos EUA de impor uma sobretaxa aos produtos
brasileiros, tomaremos todas as medidas cabíveis para proteger as nossas
empresas e nossos trabalhadores brasileiros, tendo como referência a lei
de reciprocidade econômica aprovada ontem no Congresso Nacional e as diretrizes
da OMC", prosseguiu.
Também
em reação ao anúncio de Trump, o Congresso Nacional aprovou um projeto de lei
que cria um marco legal para que o governo brasileiro possa reagir a
eventuais cobranças de tarifas de outros países que considere
"injustas".
O texto foi chamado de Lei da
Reciprocidade Econômica.
✏️ Atualmente, o Brasil não adota
tarifas específicas contra este ou aquele país. O país segue hoje uma regra da
Organização Mundial do Comércio (OMC) que proíbe favorecer ou penalizar um
colega do bloco com tarifas.
Mas, o
projeto aprovado no Congresso permite que o governo descumpra essa norma
internacional.
Também
determina que as medidas de retaliação do governo brasileiro deverão ser,
"na medida do possível", proporcionais ao impacto econômico causado
pelas medidas unilaterais de outros países ou blocos.
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Evento de governo
O
presidente Lula cumpriu dois anos e três meses dos quatro anos de seu terceiro
mandato como presidente, e optou por fazer um evento fora do Palácio do
Planalto, nesta quinta (3), para destacar as ações do governo.
➡️O evento seguiu um formato diferente das
cerimônias convencionais do governo federal. Em lugar do "display de
autoridades" – a fileira de ministros e secretários no palco, que se
reveza ao microfone –, duas apresentadoras comandaram o roteiro.
O
próprio presidente Lula e a primeira-dama Janja, por sinal, se sentaram na
primeira fila da plateia na parte inicial do evento. Em seguida, Lula foi
convidado ao palco, onde fez um breve discurso.
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Revista 'The Economist'
chama anúncio de tarifas recíprocas de 'Dia da Ruína'
A
revista britânica "The Economist" chamou as tarifas recíprocas
anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de "Dia da Ruína", em referência
ao termo usado pelo republicano na quarta-feira (2), que chamou a medida de "Dia da
Libertação".
A capa
da edição da revista publicada nesta quinta-feira (3) estampa uma arte de Trump
abrindo um buraco abaixo de seus pés com um serrote, no formato do mapa dos
EUA. No texto, a revista afirma que o presidente "cometeu o erro
econômico mais profundo, prejudicial e desnecessário da era moderna".
A
"Economist" alega que as tarifas irracionais do presidente Trump
"causarão estragos econômicos", mas afirma que o resto do mundo pode
limitar os danos. A capa da revista ainda traz a seguinte
frase: "como limitar os danos globais".
O texto
ainda diz que as afirmações do republicano "são um absurdo completo, e a
compreensão dos detalhes técnicos foi patética". Segundo a revista, não há
como evitar o caos que Trump causou na economia.
"Trump
chamou este momento de um dos dias mais importantes da história americana. Ele
quase está certo. Seu "Dia da Libertação" marca o abandono total dos
EUA da ordem comercial mundial e a adoção do protecionismo. A questão para os
países que sofrem com o vandalismo irracional do presidente é como limitar os
danos", afirma o edital da revista britânica.
A
"Economist" ainda diz que todas as falas de Trump esta semana foram
"completamente delirantes" e que a leitura do presidente sobre a
história econômica dos EUA "está de cabeça para baixo". Isso
porque Trump glorifica a era de altas tarifas e baixos impostos sobre a renda
do final do século XIX.
Porém,
estudos mostram que as tarifas prejudicaram a economia dos EUA naquela época.
Na Grande Depressão nos anos 1930, "as árduas rodadas de negociações
comerciais nos 80 anos seguintes reduziram tarifas e ajudaram a aumentar a
prosperidade".
"Do
ponto de vista econômico, as afirmações de Trump são um completo absurdo. O
presidente diz que as tarifas são necessárias para eliminar o déficit comercial
dos EUA, que ele vê como uma transferência de riqueza para estrangeiros. No
entanto, como qualquer um de seus economistas poderia lhe dizer, esse déficit
geral surge porque os americanos escolhem poupar menos do que seu país
investe—e, crucialmente, essa realidade de longa data não impediu a economia
dos EUA de superar o restante do G7 por mais de três décadas", completa o
texto.
Além
disso, o editorial afirma que o protecionismo prejudicará tanto os consumidores
americanos, que pagarão mais caro pelos produtos, quanto os próprios
fabricantes, que perderão a competitividade.
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Quais foram as tarifas anunciadas?
Donald
Trump detalhou nesta quarta-feira (2), quais serão as tarifas recíprocas que
pretende cobrar de produtos importados a partir de abril.
O
republicano afirmou que o país cobrará 10% de todas as importações feitas do
Brasil, e as demais tarifas que serão cobradas dos países que taxam produtos
norte-americanos serão ao menos metade da alíquota cobrada dos EUA.
As
tarifas serão aplicadas a partir de 5 de abril. Já as tarifas recíprocas
individualizadas, mais altas, serão impostas aos países com os maiores déficits
comerciais com os EUA a partir do dia 9.
Chamada
pelo republicano de "Dia da Libertação", esta quarta-feira (2) marca
o início de um conjunto de tarifas que, segundo Trump, libertarão os EUA de
produtos estrangeiros.
"A
partir de amanhã, os EUA implementarão tarifas recíprocas sobre outras nações.
[...] Vamos calcular a taxa combinada de todas as suas tarifas, barreiras não
monetárias e outras formas de trapaça. [...] cobraremos deles aproximadamente
metade do que eles têm cobrado de nós", afirmou o presidente dos EUA.
Trump
afirmou que "teria sido difícil para muitos países" cobrar a mesma
alíquota cobrada dos EUA, e que daria descontos porque os americanos são
"muito gentis".
"Se
vocês olharem para aquela primeira linha da China, 67%, essas são as tarifas
cobradas dos EUA, incluindo manipulação cambial e barreiras comerciais. [...]
vamos cobrar uma tarifa recíproca com desconto de 34%", disse.
"União
Europeia, eles são muito duros, comerciantes muito, muito duros. Vocês sabem,
vocês pensam na União Europeia, muito amigáveis. Eles nos exploram. É tão
triste de ver. É tão patético. 39%, vamos cobrar deles 20%."
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Macron pede suspensão de
investimentos europeus nos EUA após tarifas
O
presidente da França, Emmanuel Macron, pediu nesta quinta-feira (3) que as
empresas europeias suspendam os investimentos planejados nos Estados Unidos
depois que Donald Trump anunciou
tarifas globais abrangentes nas importações norte-americanas.
"Acho
que o que é importante, e isso é todo o trabalho que deve ser feito por setor,
é que os investimentos futuros ou os investimentos anunciados nas últimas
semanas sejam suspensos até que as coisas sejam esclarecidas com os Estados
Unidos", disse Macron durante uma reunião com representantes da indústria
francesa.
Macron
afirmou que nenhuma resposta foi descartada ainda e sugeriu usar o mecanismo
anticoerção, respostas visando serviços digitais e analisando os mecanismos de
financiamento da economia dos EUA.
O
presidente francês acrescentou que a resposta às tarifas recíprocas será
"mais massiva" do que sua retaliação anterior às tarifas de aço e
alumínio dos EUA.
Macron
chamou as tarifas de "brutais e infundadas" e um choque para o
comércio internacional, e que a Europa precisa responder "setor por
setor".
Fonte: g1
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