"Trump
implodiu a ordem econômica mundial", diz Paulo Nogueira Batista Júnior
O
economista Paulo Nogueira Batista Júnior, em entrevista concedida ao jornalista
Leonardo Attuch, editor da TV 247, classificou a era Trump como “ruim e pior do
que se esperava”.
Segundo
ele, “o que se esperava não era grande coisa, mas o que surpreendeu foi a
extensão do estrago”.
A
adoção de altas tarifas de importação pelo presidente dos Estados Unidos teria
abalado pilares da economia global, levando a um cenário de insegurança
generalizada.“Trump implodiu a ordem econômica mundial. Estou perplexo. Ele
é um sintoma muito grave da decadência dos Estados Unidos, pois está
enfraquecendo ainda mais a América. É uma espécie de colapso, um Nero
norte-americano”, afirmou o economista.
De
acordo com Batista Júnior, a equipe de Trump não demonstra “nenhuma clareza” na
condução da política comercial. Para ele, as ações parecem fruto de pura
improvisação, evidenciando que “eles estão desmontando a ordem
econômica que eles mesmos implantaram”.
O
reflexo desse movimento, segundo o economista, é a desconfiança até mesmo entre
setores plutocratas que apoiaram o republicano em sua campanha.Outra
consequência visível do tarifaço é o impacto direto no bolso
dos consumidores, especialmente os de renda mais baixa.
O que
Trump fez seria, na prática, “um impostaço que recai mais sobre os mais
pobres”, resultando em queda de poder aquisitivo e aumento do desemprego
nos Estados Unidos.
Batista
Júnior ressalta ainda que “o crash que está em curso no momento tem
pouquíssimos precedentes. É tudo muito imprevisível”.Segundo o economista,
o mundo vive “um período de tanta incerteza” que mesmo uma potência como a
China sofre consequências.
“Nunca
vivemos nada igual”,
diz ele, destacando que o atual cenário global amplifica a necessidade de cada
país defender mais intensamente suas indústrias e empregos.
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Em meio ao fracasso do tarifaço, Trump diz que "todo
mundo" quer acordo com os EUA, mas esconde detalhes
Um dia
após recuar na imposição global de tarifas comerciais, o presidente dos Estados
Unidos, Donald Trump, voltou a afirmar que seu governo estaria sendo procurado
por diversas nações interessadas em evitar prejuízos econômicos. No entanto,
tanto ele quanto o secretário de Comércio, Howard Lutnick, omitiram detalhes
sobre quem seriam esses interlocutores ou quais os termos das supostas
propostas, relata o The New York Times em matéria repercutida
pelo jornal O
Globo.
Durante
uma reunião de gabinete, Trump declarou: “todo mundo quer vir e fazer um
acordo, e estamos trabalhando com muitos países diferentes, e tudo vai dar
muito certo”. Segundo ele, sua administração estaria em “boa situação” e os
entendimentos “vão funcionar muito, muito bem”.
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Lutnick
reforçou a versão do presidente, destacando que “temos tantos países para
conversar”. Segundo o secretário, “eles vieram com propostas que jamais,
jamais, jamais teriam feito se não fossem as medidas que o presidente tomou
exigindo que tratassem os Estados Unidos com respeito”.
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Faltam detalhes e sobram dúvidas
Apesar
das declarações otimistas, Trump e seus auxiliares continuam evitando citar
quais líderes estrangeiros buscaram negociar e que tipo de concessões estão em
jogo. A abordagem genérica e a ausência de metas claras têm gerado desconfiança
entre analistas e investidores.
Kevin
Hassett, diretor do Conselho Econômico Nacional, chegou a dizer que havia
falado com o presidente da Suíça sobre um possível acordo. Já o secretário do
Tesouro, Scott Bessent, mencionou conversas com representantes do Vietnã e um
“bom papo” com o embaixador japonês durante uma recepção social. Segundo
Bessent, Japão, Coreia do Sul e Índia estariam entre os países prioritários
para a celebração de novos entendimentos comerciais.
“Durante
suas conversas, o secretário Bessent enfatizou a importância do engajamento
contínuo com os parceiros comerciais e da necessidade de progresso rápido e
demonstrável para resolver as questões pendentes”, afirmou o Tesouro em nota,
sem apresentar compromissos específicos.
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Medidas sob escrutínio e impacto econômico
Enquanto
isso, os mercados seguem voláteis. O índice S&P 500, que reúne as 500
maiores empresas de capital aberto dos EUA, caiu 3,5% na quinta-feira,
refletindo a apreensão com os rumos da política comercial da Casa Branca.
Mesmo
com a trégua de 90 dias anunciada por Trump, tarifas elevadas continuam em
vigor, especialmente contra a China. Importações do país asiático agora
enfrentam alíquotas mínimas de 145%, o que afeta diretamente produtos
consumidos pela população norte-americana.
A
promessa de acordos rápidos também esbarra na realidade dos trâmites legais.
Tratados comerciais amplos exigem anos de negociação e aprovação do Congresso.
Segundo associações empresariais de Washington, não há indícios de que qualquer
acordo esteja perto de ser formalizado.
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Foco em acordos parciais
Nos
bastidores, o governo norte-americano parece apostar em acordos bilaterais e
setoriais, que podem ser fechados com mais agilidade, mas têm impacto limitado
sobre o déficit comercial — alvo constante das críticas de Trump.
Na
terça-feira, o representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, reuniu-se com
autoridades da Europa, Coreia do Sul, Equador e México. Ele também informou que
representantes do Vietnã se ofereceram para reduzir tarifas sobre produtos como
maçãs, cerejas e etanol.
Ainda
assim, as informações permanecem fragmentadas e imprecisas. O histórico do
presidente norte-americano com acordos limitados — como o “miniacordo” firmado
com o Japão em seu primeiro mandato — indica que a estratégia pode se repetir.
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Para entender Donald Trump. Por Denise Assis
Voluntarista,
ele desarrumou o mundo tal como o conhecíamos. Isso é perigoso, traz
incertezas, mas é o que ele quer. E Donald Trump só faz o que ele quer. Ainda
que desarrume o mundo tal como o conhecíamos. Com isso, estamos fechando um
ciclo. Vimos e vivemos o apogeu do império. E é alguém tipicamente fruto desse
império que o está colocando abaixo. Um homem poderoso, de negócios e de
vontades.
Em seu
livro “Medo” – publicado pela Editora Todavia, em 2018 -, em que traça um
perfil impiedoso e dolorosamente verdadeiro, calcado em entrevistas, documentos
oficiais e pesquisas sobre Trump, Bob Woodward entrega tudo. Desenha quem foi
Trump no primeiro governo, e o que estaria pronto para vir agora.
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Sim,
Woodward é ele mesmo, um dos jornalistas da dupla Carl Bernstein/Bob Woodward,
que levaram Richard Nixon à renúncia, revelando o escândalo nas eleições
americanas. Em 18 de junho de 1972, membros do Partido Republicano (Estados
Unidos) tentaram instalar um sistema de espionagem na sede do Partido Democrata
e foram descobertos. O caso que envolvia o presidente Nixon, dos EUA, marcou o
jornalismo investigativo.
A
história se passa em início de setembro de 2017 e vale ser reproduzida tal como
Bob a escreveu:
“No
começo de setembro de 2017, no oitavo mês de governo Trump, Gary Cohn,
ex-presidente da Goldman Sachs e principal assessor econômico da Casa Branca,
caminhou cuidadosamente em direção à mesa do presidente no Salão Oval. (...)
Na
mesa, havia o rascunho de uma carta de uma página de Trump para o presidente da
Coreia do Sul, encerrando o tratado de livre-comércio entre os dois países,
conhecido como Korus. Cohn ficou chocado. Por meses, Trump tinha ameaçado
cancelar o acordo, um dos pilares de uma relação econômica, de uma aliança
militar e, o mais importante, de operações altamente confidenciais dos serviços
de inteligência.
Sob um
trabalho que datava dos anos 1950, os Estados Unidos posicionaram 28,5 mil
soldados na Coreia do Sul e operaram os mais altamente confidenciais e secretor
Programas de Acesso Especial (SAPs, na sigla em inglês), que forneciam
sofisticados códigos de inteligência e poderio militar. Os mísseis balísticos
intercontinentais da Coreia do Norte já tinham a capacidade de carregar
armamento nuclear, talvez até o continente americano. Um míssil saído de lá
levaria 38 segundos para chegar a Los Angeles.
Tais
programas permitiam que os Estados Unidos detectassem um lançamento de míssil
balístico intercontinental da Coreia do Norte em sete segundos. Fazê-lo a
partir do Alasca levaria quinze minutos – uma diferença impressionante.
A
capacidade de detectar um lançamento em sete segundos daria às forças militares
dos Estados Unidos tempo de derrubar um míssil norte-coreano. Talvez fosse a
operação mais importante e secreta do governo norte-americano. A presença dos
Estados Unidos na Coreia do Sul representava a essência da segurança nacional.
Desfazer
o acordo comercial Korus, que a Coreia do Sul considerava essencial para a sua
economia, poderia levar um desmantelamento de toda a relação. Cohn não podia
acreditar que o presidente arriscaria perder recursos vitais aos serviços de
inteligência cruciais para a segurança nacional.
Tudo
aquilo era resultado da fúria de Trump quanto ao déficit de 18 bilhões de
dólares anuais no comércio com a Coreia do Sul e nos gastos de 3,5 bilhões de
dólares para manter os soldados lá.
Apesar
dos relatos quase diários de caos e discórdia na casa Branca, o público não
sabia da gravidade da situação interna. Trump se mostrava sempre volátil,
errático, mal conseguia ficar parado. Quando ficava de mau humor porque algo
importante ou pequeno o enfurecia, o presidente comentava , referindo-se ao
acordo: “Vamos cancelá-lo hoje”.
Mas
agora havia a carta, datada de 5 de setembro de 2017, um potencial gatilho para
uma catástrofe na segurança nacional. Cohn ficou preocupado , se Trump a visse
poderia assiná-la.
Então
tirou o rascunho da mesa do presidente. E o colocou em uma pasta azul onde se
lia numa etiqueta: “MANTER”.
“Eu a
roubei”, Cohn contou depois a um colega. “Não podia deixar que a visse. Ele
nunca vai ver o documento. É preciso proteger o país.”
Na
anarquia e desordem da Casa Branca e da sua própria mente, Trump nunca notou a
falta da carta.
Cohn e
Porter trabalharam juntos para descarrilar o que acreditavam ser as ordens mais
impulsivas e perigosas de Trump. (...) Não se trata de fazer algo pelo país,
Cohn confidenciou. “Mas de impedir que ele faça.”
Àquela
altura, em 2017, em seu primeiro mandato, o que estava no alvo de Trump, na
mira de suas explosões emocionais era apenas um pequeno país, a Coreia do Sul.
Cohn e Porter estavam a postos para tirar da frente de Donald Trump a carta
estopim que poria um importante acordo comercial a perder. Dessa vez, eles não
estavam lá. Trump rompeu acordos com mais de 75 países e desmoronou a economia
e o mundo tal como o conhecíamos. Porque Trump quis. Porque Trump quer. Agora,
de laranja, está amarelo. Continua a dizer que está tudo maravilhoso, mas
colado ao telefone, esperando que Xi Jinping lhe faça um aceno.
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Nicolau Maquiavel a Donald Trump: mensagem do Além. Por
Luís Pellegrini
“Donald
caríssimo, sou Nicolau Maquiavel, de Florença. Vivi entre os anos de 1469 e
1527, em pleno Renascimento italiano, quase todos eles a serviço do príncipe
Lorenzo de Medici. Foi para ele que escrevi minha obra mais conhecida, O
Príncipe, cujo objetivo principal é oferecer um guia prático para governantes
sobre como conquistar, manter e consolidar o poder político. Nela desenvolvo a
ideia de que, para assegurar a estabilidade e a glória do Estado, o príncipe
deve estar disposto a agir com astúcia e, quando necessário, com firmeza,
separando a moral tradicional da política. Enfatizo que as ações do governante
devem ser orientadas pela eficácia na manutenção do poder, mesmo que isso
implique o uso de meios considerados imorais.
Hoje
estou numa área do paraíso reservada aos bons filósofos, cientistas, artistas e
mestres espirituais da humanidade. E é desde observatório privilegiado que, com
um misto de gáudio e preocupação, observo as ações que você vem desenvolvendo
no comando da maior potência do planeta neste momento. Com gáudio porque
verifico que, mesmo sem ter lido minha obra, você tem sido capaz – talvez por
puro instinto – de por em prática uma série de recomendações e conselhos meus.
Com preocupação porque vejo que você não percebeu que meus conselhos são, todos
eles, facas de dois gumes: um é o gume que corta e leva às vitórias e às
conquistas. O outro é o gume que serve de alerta e advertência, pois representa
uma das mais inelutáveis e inevitáveis leis de todo o universo: a Lei do
Retorno. Segundo essa lei, nossas ações, pensamentos e intenções geram
consequências que retornam para nós. Esse princípio está presente em quase
todas as tradições filosóficas e religiosas, enfatizando a responsabilidade
pessoal e a ética nas escolhas diárias. Para o seu próprio bem, digo que
todo governante precisa entender a Lei do Retorno. A título
de exemplo, cito o caso do religioso dominicano Savonarola, que viveu na minha época
e me detestava: ele utilizava sermões apocalípticos
para incitar o medo público e, dessa forma, coagir as pessoas a fazer o que ele
quisesse. Não levou em conta a Lei do Retorno que, no entanto, como
todo religioso cristão, conhecia muito bem. Resultado: foi preso, condenado e
executado em 1498.
No
momento, Donald, aqui na Central de Ciências Políticas do Paraíso, onde atuo
momento, cogita-se muito a respeito de quais são os seus verdadeiros objetivos
ao criar tanta celeuma, confusão e descaminho no mundo. Muitos externaram suas
hipóteses explicativas, mas creio que a que mais me interessou foi a visão de
Cassandra, antiga princesa troiana. Como você provavelmente não tem noção de
quem foi ela, explico que Cassandra tinha o dom da profecia e da leitura da
alma dos homens, mas, por uma maldição de Apolo, embora suas predições fossem
exatas, ninguém acreditava nelas. Pois bem, Donald: Cassandra perscrutou sua
alma e veio a nós para contar o que descobriu. Revelou que todo esse circo que
você está armando no mundo, guerra das taxações, tomada da Groenlândia, do
Canal do Panamá, e outras sandices não passam de cortinas de fumaça para
encobrir os seus verdadeiros desejos: as terras raras da Ucrânia e Gaza, aquela
belíssima faixa litorânea. Para isso você conta com dois súcubos de primeira
ordem: respectivamente Putin e Netanyhau. Ambos estão fazendo tabula rasa
naquelas terras, acabando com as populações locais, limpando o terreno, para
que, no momento oportuno chegue você carregando suas ambições desmedidas. Mas
Cassandra diz que tem muito mais: ela está garimpando continuamente na sua
cabeça, e assim que descobrir quais outras intenções de conquista e poder ela
abriga, ela vai nos revelar.
Donald,
observo ainda que você compreende bem uma lição central que deixei em meus
escritos: o poder, para ser mantido, exige aparência de virtude mais do que a
virtude em si. O povo não precisa amar seu líder — basta que o tema e o admire.
Nesse sentido, sua persona pública, ainda que controversa, serve para
consolidar sua imagem como alguém forte e decidido. Isso, por si só, é
maquiavélico no melhor dos sentidos.
Contudo,
tenho o dever de lhe alertar: a instabilidade constante, o desprezo pelas
instituições e a criação de muitos inimigos ao mesmo tempo pode fazer com que
mesmo os mais hábeis príncipes percam o controle. Um líder sábio deve saber
quando dividir para governar, mas também quando unir para não ser
destruído.
A arte
de governar requer não apenas conquistar o poder, mas mantê-lo. E manter-se no
trono exige mais que ruído e estardalhaço inútil - exige cálculo, contenção e
aparência de virtude. O povo perdoa muitos pecados ao governante, mas não
perdoa a perda de prestígio. Por isso, preste atenção às manifestações de
desagrado à sua pessoa que acontecem não apenas em seu próprio país, mas em
todo o mundo. O temor é eficaz apenas quando não se converte em desprezo. Um
príncipe pode ser temido, sim, mas nunca ridicularizado. Quando os bufões se
tornam reis, os súditos riem — até que parem de rir, e peguem as armas.”
Fonte:
Brasil 247
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