terça-feira, 15 de abril de 2025

"Trump implodiu a ordem econômica mundial", diz Paulo Nogueira Batista Júnior

O economista Paulo Nogueira Batista Júnior, em entrevista concedida ao jornalista Leonardo Attuch, editor da TV 247, classificou a era Trump como “ruim e pior do que se esperava”.

Segundo ele, “o que se esperava não era grande coisa, mas o que surpreendeu foi a extensão do estrago”.

A adoção de altas tarifas de importação pelo presidente dos Estados Unidos teria abalado pilares da economia global, levando a um cenário de insegurança generalizada.“Trump implodiu a ordem econômica mundial. Estou perplexo. Ele é um sintoma muito grave da decadência dos Estados Unidos, pois está enfraquecendo ainda mais a América. É uma espécie de colapso, um Nero norte-americano”, afirmou o economista.

De acordo com Batista Júnior, a equipe de Trump não demonstra “nenhuma clareza” na condução da política comercial. Para ele, as ações parecem fruto de pura improvisação, evidenciando que “eles estão desmontando a ordem econômica que eles mesmos implantaram”.

O reflexo desse movimento, segundo o economista, é a desconfiança até mesmo entre setores plutocratas que apoiaram o republicano em sua campanha.Outra consequência visível do tarifaço é o impacto direto no bolso dos consumidores, especialmente os de renda mais baixa.

O que Trump fez seria, na prática, “um impostaço que recai mais sobre os mais pobres”, resultando em queda de poder aquisitivo e aumento do desemprego nos Estados Unidos.

Batista Júnior ressalta ainda que “o crash que está em curso no momento tem pouquíssimos precedentes. É tudo muito imprevisível”.Segundo o economista, o mundo vive “um período de tanta incerteza” que mesmo uma potência como a China sofre consequências. 

“Nunca vivemos nada igual”, diz ele, destacando que o atual cenário global amplifica a necessidade de cada país defender mais intensamente suas indústrias e empregos. 

¨      Em meio ao fracasso do tarifaço, Trump diz que "todo mundo" quer acordo com os EUA, mas esconde detalhes

Um dia após recuar na imposição global de tarifas comerciais, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a afirmar que seu governo estaria sendo procurado por diversas nações interessadas em evitar prejuízos econômicos. No entanto, tanto ele quanto o secretário de Comércio, Howard Lutnick, omitiram detalhes sobre quem seriam esses interlocutores ou quais os termos das supostas propostas, relata o The New York Times em matéria repercutida pelo jornal O Globo.

Durante uma reunião de gabinete, Trump declarou: “todo mundo quer vir e fazer um acordo, e estamos trabalhando com muitos países diferentes, e tudo vai dar muito certo”. Segundo ele, sua administração estaria em “boa situação” e os entendimentos “vão funcionar muito, muito bem”.

Play Video

Lutnick reforçou a versão do presidente, destacando que “temos tantos países para conversar”. Segundo o secretário, “eles vieram com propostas que jamais, jamais, jamais teriam feito se não fossem as medidas que o presidente tomou exigindo que tratassem os Estados Unidos com respeito”.

<><> Faltam detalhes e sobram dúvidas

Apesar das declarações otimistas, Trump e seus auxiliares continuam evitando citar quais líderes estrangeiros buscaram negociar e que tipo de concessões estão em jogo. A abordagem genérica e a ausência de metas claras têm gerado desconfiança entre analistas e investidores.

Kevin Hassett, diretor do Conselho Econômico Nacional, chegou a dizer que havia falado com o presidente da Suíça sobre um possível acordo. Já o secretário do Tesouro, Scott Bessent, mencionou conversas com representantes do Vietnã e um “bom papo” com o embaixador japonês durante uma recepção social. Segundo Bessent, Japão, Coreia do Sul e Índia estariam entre os países prioritários para a celebração de novos entendimentos comerciais.

“Durante suas conversas, o secretário Bessent enfatizou a importância do engajamento contínuo com os parceiros comerciais e da necessidade de progresso rápido e demonstrável para resolver as questões pendentes”, afirmou o Tesouro em nota, sem apresentar compromissos específicos.

<><> Medidas sob escrutínio e impacto econômico

Enquanto isso, os mercados seguem voláteis. O índice S&P 500, que reúne as 500 maiores empresas de capital aberto dos EUA, caiu 3,5% na quinta-feira, refletindo a apreensão com os rumos da política comercial da Casa Branca.

Mesmo com a trégua de 90 dias anunciada por Trump, tarifas elevadas continuam em vigor, especialmente contra a China. Importações do país asiático agora enfrentam alíquotas mínimas de 145%, o que afeta diretamente produtos consumidos pela população norte-americana.

A promessa de acordos rápidos também esbarra na realidade dos trâmites legais. Tratados comerciais amplos exigem anos de negociação e aprovação do Congresso. Segundo associações empresariais de Washington, não há indícios de que qualquer acordo esteja perto de ser formalizado.

<><> Foco em acordos parciais

Nos bastidores, o governo norte-americano parece apostar em acordos bilaterais e setoriais, que podem ser fechados com mais agilidade, mas têm impacto limitado sobre o déficit comercial — alvo constante das críticas de Trump.

Na terça-feira, o representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer, reuniu-se com autoridades da Europa, Coreia do Sul, Equador e México. Ele também informou que representantes do Vietnã se ofereceram para reduzir tarifas sobre produtos como maçãs, cerejas e etanol.

Ainda assim, as informações permanecem fragmentadas e imprecisas. O histórico do presidente norte-americano com acordos limitados — como o “miniacordo” firmado com o Japão em seu primeiro mandato — indica que a estratégia pode se repetir.

¨      Para entender Donald Trump. Por Denise Assis

Voluntarista, ele desarrumou o mundo tal como o conhecíamos. Isso é perigoso, traz incertezas, mas é o que ele quer. E Donald Trump só faz o que ele quer. Ainda que desarrume o mundo tal como o conhecíamos. Com isso, estamos fechando um ciclo. Vimos e vivemos o apogeu do império. E é alguém tipicamente fruto desse império que o está colocando abaixo. Um homem poderoso, de negócios e de vontades.

Em seu livro “Medo” – publicado pela Editora Todavia, em 2018 -, em que traça um perfil impiedoso e dolorosamente verdadeiro, calcado em entrevistas, documentos oficiais e pesquisas sobre Trump, Bob Woodward entrega tudo. Desenha quem foi Trump no primeiro governo, e o que estaria pronto para vir agora.

Play Video

Sim, Woodward é ele mesmo, um dos jornalistas da dupla Carl Bernstein/Bob Woodward, que levaram Richard Nixon à renúncia, revelando o escândalo nas eleições americanas. Em 18 de junho de 1972, membros do Partido Republicano (Estados Unidos) tentaram instalar um sistema de espionagem na sede do Partido Democrata e foram descobertos. O caso que envolvia o presidente Nixon, dos EUA, marcou o jornalismo investigativo. 

A história se passa em início de setembro de 2017 e vale ser reproduzida tal como Bob a escreveu: 

“No começo de setembro de 2017, no oitavo mês de governo Trump, Gary Cohn, ex-presidente da Goldman Sachs e principal assessor econômico da Casa Branca, caminhou cuidadosamente em direção à mesa do presidente no Salão Oval. (...)

Na mesa, havia o rascunho de uma carta de uma página de Trump para o presidente da Coreia do Sul, encerrando o tratado de livre-comércio entre os dois países, conhecido como Korus. Cohn ficou chocado. Por meses, Trump tinha ameaçado cancelar o acordo, um dos pilares de uma relação econômica, de uma aliança militar e, o mais importante, de operações altamente confidenciais dos serviços de inteligência.

Sob um trabalho que datava dos anos 1950, os Estados Unidos posicionaram 28,5 mil soldados na Coreia do Sul e operaram os mais altamente confidenciais e secretor Programas de Acesso Especial (SAPs, na sigla em inglês), que forneciam sofisticados códigos de inteligência e poderio militar. Os mísseis balísticos intercontinentais da Coreia do Norte já tinham a capacidade de carregar armamento nuclear, talvez até o continente americano. Um míssil saído de lá levaria 38 segundos para chegar a Los Angeles.

Tais programas permitiam que os Estados Unidos detectassem um lançamento de míssil balístico intercontinental da Coreia do Norte em sete segundos. Fazê-lo a partir do Alasca levaria quinze minutos – uma diferença impressionante.

A capacidade de detectar um lançamento em sete segundos daria às forças militares dos Estados Unidos tempo de derrubar um míssil norte-coreano. Talvez fosse a operação mais importante e secreta do governo norte-americano. A presença dos Estados Unidos na Coreia do Sul representava a essência da segurança nacional.

Desfazer o acordo comercial Korus, que a Coreia do Sul considerava essencial para a sua economia, poderia levar um desmantelamento de toda a relação. Cohn não podia acreditar que o presidente arriscaria perder recursos vitais aos serviços de inteligência cruciais para a segurança nacional.

Tudo aquilo era resultado da fúria de Trump quanto ao déficit de 18 bilhões de dólares anuais no comércio com a Coreia do Sul e nos gastos de 3,5 bilhões de dólares para manter os soldados lá.

Apesar dos relatos quase diários de caos e discórdia na casa Branca, o público não sabia da gravidade da situação interna. Trump se mostrava sempre volátil, errático, mal conseguia ficar parado. Quando ficava de mau humor porque algo importante ou pequeno o enfurecia, o presidente comentava , referindo-se ao acordo: “Vamos cancelá-lo hoje”.

Mas agora havia a carta, datada de 5 de setembro de 2017, um potencial gatilho para uma catástrofe na segurança nacional. Cohn ficou preocupado , se Trump a visse poderia assiná-la.

Então tirou o rascunho da mesa do presidente. E o colocou em uma pasta azul onde se lia numa etiqueta: “MANTER”.

“Eu a roubei”, Cohn contou depois a um colega. “Não podia deixar que a visse. Ele nunca vai ver o documento. É preciso proteger o país.”

Na anarquia e desordem da Casa Branca e da sua própria mente, Trump nunca notou a falta da carta.

Cohn e Porter trabalharam juntos para descarrilar o que acreditavam ser as ordens mais impulsivas e perigosas de Trump. (...) Não se trata de fazer algo pelo país, Cohn confidenciou. “Mas de impedir que ele faça.”

Àquela altura, em 2017, em seu primeiro mandato, o que estava no alvo de Trump, na mira de suas explosões emocionais era apenas um pequeno país, a Coreia do Sul. Cohn e Porter estavam a postos para tirar da frente de Donald Trump a carta estopim que poria um importante acordo comercial a perder. Dessa vez, eles não estavam lá. Trump rompeu acordos com mais de 75 países e desmoronou a economia e o mundo tal como o conhecíamos. Porque Trump quis. Porque Trump quer. Agora, de laranja, está amarelo. Continua a dizer que está tudo maravilhoso, mas colado ao telefone, esperando que Xi Jinping lhe faça um aceno. 

¨      Nicolau Maquiavel a Donald Trump: mensagem do Além. Por Luís Pellegrini

“Donald caríssimo, sou Nicolau Maquiavel, de Florença. Vivi entre os anos de 1469 e 1527, em pleno Renascimento italiano, quase todos eles a serviço do príncipe Lorenzo de Medici. Foi para ele que escrevi minha obra mais conhecida, O Príncipe, cujo objetivo principal é oferecer um guia prático para governantes sobre como conquistar, manter e consolidar o poder político. Nela desenvolvo a ideia de que, para assegurar a estabilidade e a glória do Estado, o príncipe deve estar disposto a agir com astúcia e, quando necessário, com firmeza, separando a moral tradicional da política. Enfatizo que as ações do governante devem ser orientadas pela eficácia na manutenção do poder, mesmo que isso implique o uso de meios considerados imorais.

Hoje estou numa área do paraíso reservada aos bons filósofos, cientistas, artistas e mestres espirituais da humanidade. E é desde observatório privilegiado que, com um misto de gáudio e preocupação, observo as ações que você vem desenvolvendo no comando da maior potência do planeta neste momento. Com gáudio porque verifico que, mesmo sem ter lido minha obra, você tem sido capaz – talvez por puro instinto – de por em prática uma série de recomendações e conselhos meus. Com preocupação porque vejo que você não percebeu que meus conselhos são, todos eles, facas de dois gumes: um é o gume que corta e leva às vitórias e às conquistas. O outro é o gume que serve de alerta e advertência, pois representa uma das mais inelutáveis e inevitáveis leis de todo o universo: a Lei do Retorno. Segundo essa lei, nossas ações, pensamentos e intenções geram consequências que retornam para nós. Esse princípio está presente em quase todas as tradições filosóficas e religiosas, enfatizando a responsabilidade pessoal e a ética nas escolhas diárias. Para o seu próprio bem, digo que todo governante precisa entender a Lei do Retorno. A título de exemplo, cito o caso do religioso dominicano Savonarola, que viveu na minha época e me detestava: ele utilizava sermões apocalípticos para incitar o medo público e, dessa forma, coagir as pessoas a fazer o que ele quisesse. Não levou em conta a Lei do Retorno que, no entanto, como todo religioso cristão, conhecia muito bem. Resultado: foi preso, condenado e executado em 1498. 

No momento, Donald, aqui na Central de Ciências Políticas do Paraíso, onde atuo momento, cogita-se muito a respeito de quais são os seus verdadeiros objetivos ao criar tanta celeuma, confusão e descaminho no mundo. Muitos externaram suas hipóteses explicativas, mas creio que a que mais me interessou foi a visão de Cassandra, antiga princesa troiana. Como você provavelmente não tem noção de quem foi ela, explico que Cassandra tinha o dom da profecia e da leitura da alma dos homens, mas, por uma maldição de Apolo, embora suas predições fossem exatas, ninguém acreditava nelas. Pois bem, Donald: Cassandra perscrutou sua alma e veio a nós para contar o que descobriu. Revelou que todo esse circo que você está armando no mundo, guerra das taxações, tomada da Groenlândia, do Canal do Panamá, e outras sandices não passam de cortinas de fumaça para encobrir os seus verdadeiros desejos: as terras raras da Ucrânia e Gaza, aquela belíssima faixa litorânea. Para isso você conta com dois súcubos de primeira ordem: respectivamente Putin e Netanyhau. Ambos estão fazendo tabula rasa naquelas terras, acabando com as populações locais, limpando o terreno, para que, no momento oportuno chegue você carregando suas ambições desmedidas. Mas Cassandra diz que tem muito mais: ela está garimpando continuamente na sua cabeça, e assim que descobrir quais outras intenções de conquista e poder ela abriga, ela vai nos revelar.

Donald, observo ainda que você compreende bem uma lição central que deixei em meus escritos: o poder, para ser mantido, exige aparência de virtude mais do que a virtude em si. O povo não precisa amar seu líder — basta que o tema e o admire. Nesse sentido, sua persona pública, ainda que controversa, serve para consolidar sua imagem como alguém forte e decidido. Isso, por si só, é maquiavélico no melhor dos sentidos.

Contudo, tenho o dever de lhe alertar: a instabilidade constante, o desprezo pelas instituições e a criação de muitos inimigos ao mesmo tempo pode fazer com que mesmo os mais hábeis príncipes percam o controle. Um líder sábio deve saber quando dividir para governar, mas também quando unir para não ser destruído. 

A arte de governar requer não apenas conquistar o poder, mas mantê-lo. E manter-se no trono exige mais que ruído e estardalhaço inútil - exige cálculo, contenção e aparência de virtude. O povo perdoa muitos pecados ao governante, mas não perdoa a perda de prestígio. Por isso, preste atenção às manifestações de desagrado à sua pessoa que acontecem não apenas em seu próprio país, mas em todo o mundo. O temor é eficaz apenas quando não se converte em desprezo. Um príncipe pode ser temido, sim, mas nunca ridicularizado. Quando os bufões se tornam reis, os súditos riem — até que parem de rir, e peguem as armas.”

 

Fonte: Brasil 247

 

Nenhum comentário: