segunda-feira, 28 de abril de 2025

Leonardo Attuch: Prisão de Collor prepara o terreno para Bolsonaro

A prisão do ex-presidente Fernando Collor de Mello na madrugada desta sexta-feira marca um divisor de águas na história política do Brasil. Trata-se de uma consequência direta da decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que rejeitou os últimos recursos da defesa e determinou o imediato cumprimento da pena de oito anos e dez meses em regime fechado, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, em esquema envolvendo a BR Distribuidora.

Collor foi preso por volta das 4h da manhã, em Maceió, quando se deslocava para Brasília com o objetivo de se apresentar espontaneamente à Justiça. Ainda assim, acabou sendo custodiado pela Polícia Federal e permanece na Superintendência da corporação na capital alagoana. Seu último recurso havia sido rejeitado na noite anterior, e o STF iniciou já nesta sexta-feira o julgamento virtual que avaliará se mantém ou revoga a ordem de prisão.

Do ponto de vista jurídico, a decisão de Moraes é natural. Collor foi condenado em última instância e já não dispunha de mecanismos para postergar o cumprimento da pena. Além disso, as provas de sua culpa eram abundantes, fartamente documentadas nos autos. O que impressiona é que, mesmo com uma trajetória política marcada pela desonra – tendo sido o primeiro presidente da Nova República a sofrer impeachment por corrupção – Collor ainda era tratado com certa reverência por parte da elite política e empresarial brasileira.

Esse tratamento diferenciado, que por décadas garantiu a impunidade de figuras de alto escalão, começa a ruir. E esse precedente, que já atinge Collor, se estende inevitavelmente a Jair Bolsonaro, que também coleciona provas esmagadoras contra si por envolvimento direto na tentativa de golpe de estado em 8 de janeiro de 2023. Bolsonaro foi apontado por diversos investigados como instigador e articulador dos atos golpistas, além de ter se cercado de militares e civis empenhados em reverter pela força o resultado das eleições presidenciais de 2022, vencidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A prisão de Collor e o destino já traçado de Bolsonaro revelam muito sobre a natureza da elite dominante no Brasil, definida pelo sociólogo Jessé Souza como a “elite do atraso”. Trata-se de uma classe dirigente que, em vez de abraçar projetos de soberania nacional e desenvolvimento com inclusão social, como os representados por Lula e Dilma Rousseff, prefere apostar em figuras desqualificadas, caricaturas políticas moldadas para servir ao atraso, à dependência e ao saque dos bens públicos.

Esses representantes da elite do atraso são escolhidos não por suas qualidades morais ou intelectuais, mas pela submissão aos interesses de uma minoria rentista, predadora e antinacional. Enquanto líderes como Lula e Dilma buscaram fortalecer a indústria nacional, expandir direitos sociais e projetar o Brasil no cenário internacional como um ator soberano, Collor e Bolsonaro foram, cada um a seu modo, instrumentos de regressão. Collor abriu indiscriminadamente a economia e desmantelou setores estratégicos do Estado. Bolsonaro governou para os setores mais retrógrados do capital financeiro, perseguiu adversários, incentivou a destruição ambiental e flertou com o autoritarismo.

A prisão de Collor, portanto, é mais do que um gesto de justiça tardia. É o prenúncio de uma nova etapa da vida institucional brasileira, onde a impunidade das elites começa a ser confrontada com a força do Direito. E essa nova etapa, se levada a sério, não poderá se furtar ao enfrentamento do caso Bolsonaro.

Punir quem comete crimes – seja ele ex-presidente, general ou empresário – é condição essencial para a reconstrução do pacto democrático brasileiro. E, mais do que isso, é o único caminho para romper com o ciclo vicioso em que a elite do atraso perpetua o subdesenvolvimento do Brasil, pela via da corrupção e da mediocridade. Se Collor, símbolo do retrocesso dos anos 1990, está atrás das grades, Bolsonaro, ícone da barbárie recente, também deverá prestar contas à Justiça.

O Brasil precisa virar essa página. E, para isso, não basta apenas prender os Collor e os Bolsonaro de hoje. É necessário também construir um novo projeto nacional, comprometido com a democracia, ética, a soberania e o progresso social.

•        Alerta Vermelho: entorno de Bolsonaro acende alerta após prisão de Collor

A decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou na última quinta-feira (24) a prisão imediata do ex-presidente e ex-senador Fernando Collor, aumentou a preocupação entre aliados de Jair Bolsonaro. Segundo informações do O Globo, o gesto é interpretado como um sinal claro de que o ministro pretende dar celeridade às investigações sobre a tentativa de golpe de Estado e adotar uma linha dura contra recursos considerados meramente protelatórios.

Collor foi condenado em maio de 2023 a oito anos e dez meses de prisão em regime fechado, por envolvimento em um esquema de corrupção na BR Distribuidora, revelado pela Operação Lava-Jato. Após a rejeição dos primeiros embargos de declaração pelo plenário do STF em novembro do ano passado, Moraes negou os segundos recursos em decisão monocrática e determinou o cumprimento imediato da pena. A decisão ainda será referendada pelos demais ministros em sessão extraordinária do plenário virtual nesta sexta-feira (25).Na avaliação do ministro, "o caráter procrastinatório do recurso pode e deve ser reconhecido monocraticamente pelo ministro relator, o qual tem competência também para determinar a certificação do trânsito em julgado e o imediato cumprimento da pena".

A atuação de Moraes tem provocado tensão no entorno de Bolsonaro, especialmente porque a defesa do ex-presidente considera fundamentais os recursos que ainda serão apresentados nos processos em que ele é investigado por participar de uma trama para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. A expectativa é que a Primeira Turma do STF julgue os primeiros embargos até dezembro, o que abriria caminho para que, usando o mesmo entendimento aplicado no caso de Collor, Moraes rejeite novos recursos e decrete a prisão de Bolsonaro antes do recesso de fim de ano.

Em maio de 2023, o STF considerou que Fernando Collor, com o apoio dos empresários Luis Pereira Duarte de Amorim e Pedro Paulo Bergamaschi de Leoni Ramos, recebeu R$ 20 milhões em propina para facilitar contratos da BR Distribuidora com a UTC Engenharia. O acerto teria envolvido, ainda, apoio político para nomeações e manutenção de diretores da estatal.Apesar de o plenário da Corte ter negado o primeiro recurso de Collor ainda em 2023, um pedido de destaque do ministro André Mendonça transferiu a análise do plenário virtual para o físico, o que acabou adiando a execução da pena. Com o novo entendimento firmado por Moraes, essa estratégia perde força.Nos bastidores do STF, ministros reconhecem que o julgamento da tentativa de golpe — considerado um dos processos mais sensíveis da história recente da Corte — deve ter desfecho antes do fim de 2025.

 A decisão envolvendo Collor sinaliza que recursos que apenas retardem a conclusão dos processos não terão espaço. Essa postura preocupa a defesa de Bolsonaro, que teme que o ministro esteja disposto a acelerar a responsabilização penal dos envolvidos.Para setores do Congresso, o endurecimento das decisões do STF também tem impacto político: ao agir com rapidez, Moraes reforça a autoridade da Corte diante de casos que abalam a institucionalidade democrática, além de reduzir margens para manobras jurídicas.Assim como Collor, Bolsonaro poderá enfrentar a mesma estratégia jurídica, com menor espaço para recursos e possibilidade de execução imediata da pena caso seja condenado.

•        Anistia: silêncio de Tarcísio gera desconfiança sobre 2026. Por Rachel Vargas

Nomes da esquerda que acompanham os movimentos em torno do PL da anistia avaliam que o silêncio do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, sobre o adiamento da votação do requerimento de urgência tem uma razão pontual: as eleições gerais de 2026. Para essas lideranças, Tarcísio seria o maior beneficiado com o adiamento ou, até mesmo, com o engavetamento da matéria. Isso porque, embora não admita ser candidato à Presidência da República, a provável ausência de Jair Bolsonaro na corrida eleitoral colocaria Tarcísio automaticamente no páreo, uma vez que é visto como o mais competitivo nome da direita atualmente.

O silêncio do governador também gerou ruídos no entorno de Jair Bolsonaro. O incômodo se deu pela ausência de uma manifestação pública de Tarcísio após o presidente da Câmara, Hugo Motta, decidir segurar a votação do requerimento de urgência, até que haja um texto consensual sobre a matéria. Tarcísio e Hugo são do mesmo partido.

Bolsonaro está inelegível por conta da reunião com embaixadores, onde apresentou dados falsos sobre o sistema eleitoral brasileiro, mas essas lideranças acreditam que uma eventual anistia aos envolvidos nas atos de 8 de janeiro poderia ser usado em futuras ações para tentar reverter a condenação do ex-presidente.

•        Os marcianos golpistas, o pneu cívico e agora a caneta infectada. Por Moisés Mendes

O Rio Grande do Sul teve alguns dos principais líderes do negacionismo deflagrado logo no início da pandemia de Covid. O médico e deputado Osmar Terra é o mais famoso deles, como defensor da teoria da imunidade de rebanho que iria conter o surto. Sem a necessidade de vacinas.

Pois se dissemina agora no Rio Grande do Sul, pelos mesmos que não temiam contágios na pandemia, a suspeita de que a caneta da oficial de Justiça que levou a intimação a Bolsonaro pudesse estar contaminada.

O fato irradiador da hipótese foi essa declaração do deputado federal Coronel Zucco, em entrevista na quinta-feira à Band News: “Mandar um oficial de Justiça, não sei qual era a qualidade das máscaras, não sei o que tinha naquela caneta, material que não está esterilizado…”

E assim ficou a frase, solta em reticências. Mas Zucco complementou: “São possibilidades que acabam prejudicando”. As possibilidades seriam as suspeitas sobre a máscara e a caneta, e os prejuízos seriam a recaída de Bolsonaro. O que tinha naquela caneta?

A partir daí, tem-se mais um ingrediente ao roteiro que é escrito dentro de uma UTI. Estagiários de marketing político e veteranos de todos as formas de vender alguma coisa convergem e também se desentendem sobre o que acontece no espaço de tratamento intensivo ocupado por Bolsonaro dentro de um hospital em Brasília.

E o que acontece é o aparentemente impossível, o imponderável, o improvável, o inacreditável. Um ex-presidente em estado grave vende capacetes em lives, confraterniza com visitas, ataca o Supremo, recebe uma oficial de Justiça e tem uma recaída. E logo depois um deputado sugere que uma caneta e uma máscara estão sob suspeita.

No conjunto de abordagens sobre o que se passa na UTI, já especularam sobre o óbvio, com platitudes diversas, a partir do mais elementar do marketing das bizarrices: Bolsonaro precisa ser exposto a qualquer custo.

É o que temos. Um ex-presidente que dá publicidade ao seu drama pessoal, como se esse fosse o drama de metade do país, da forma mais escatológica possível. Funciona?

O estagiário e os veteranos de marketing se juntam a chutadores sobre o que pode acontecer. Se o Datafolha fizer uma daquelas pesquisas terrivelmente estranhas, podemos até ficar sabendo que o povo aprova a série de horrores na UTI de Bolsonaro. E que a fidelização a ele se mantém ou pode até ter aumentado.

E agora temos a máscara e a caneta, que se juntam aos celulares erguidos para os céus em busca de marcianos que apoiassem o golpe, ao Hino cantado em torno de um pneu e a tudo que se viu desde a pandemia. Temos a máscara e a caneta suspeitas, que passam a ocupar a mesma prateleira dos chips espiões enfiados em vacinas.

E talvez essa exposição de absurdos continue funcionando. Não só para o contingente da raiz bolsonarista, mas também para os da antiga direita, que que alargaram essa base desde 2018.

Enganam-se os que acreditam que somente pessoas mais expostas às fake news e consideradas ignorantes possam estar ajudando a disseminar as suspeitas sobre a máscara e a caneta da servidora da Justiça.

Estamos diante do prolongamento do que poderia, depois da derrota na eleição e do fracasso do golpe, ter perdido força. A área da saúde, que mais propicia a disseminação desse tipo de informação, tem na UTI de Brasília um criadouro de novas suspeitas e conspirações.

Zucco não é um deputado qualquer, é o candidato de Bolsonaro e de toda a extrema direita ao governo do Rio Grande do Sul e aparece na liderança em algumas pesquisas.

Foi ele quem tirou do jogo pelo governo gaúcho o hiperbolsonarista Onyx Lorenzoni, o primeiro parlamentar a apostar em Bolsonaro em 2018 e que por isso ocupou vários ministérios. Onyx não evoluiu na sua radicalidade antilulista, e Zucco é agora a versão atualizada do bolsonarismo no Estado.

A máscara e a caneta vão entrar na campanha. Aguardem os próximos lançamentos desse Estado que se apresenta, pelo que diz seu hino, como modelo a toda Terra. O Rio Grande do Sul é altamente contagioso.

 

Fonte: Brasil 247

 

Nenhum comentário: