segunda-feira, 28 de abril de 2025

Hipertensão silenciosa: “Eu não sentia nada, até meus rins pararem”

Quando Carlos Roberto da Silva Lucas, militar reformado da Marinha, recebeu o diagnóstico de pressão alta em uma consulta de rotina, ele ignorou as recomendações médicas para iniciar o tratamento. Na época com 43 anos, não sentia sintomas relacionados à hipertensão e, por isso, não sentiu necessidade de seguir as orientações para tomar remédios e mudar sua alimentação.

Anos depois, aos 47, já atuando na reserva, Carlos Roberto se sentiu mal em um dia de trabalho. Ao procurar o atendimento médico, ele descobriu que sua pressão arterial chegou a 24 por 18 e estava a ponto de sofrer um infarto. Após consultas médicas, um nefrologista identificou um rim atrofiado e outro funcionando com apenas 30% da capacidade. O motivo: anos de hipertensão não tratada.

“O nefrologista descobriu que um dos rins estava paralisado havia mais de um ano”, relata Carlos Roberto à CNN. Hoje, ele tem 61 anos. “A partir daí, iniciei um tratamento com hemodiálise e fui imediatamente inscrito na fila de transplante”, conta.

A hipertensão é uma doença crônica caracterizada pelos níveis elevados da pressão arterial. A condição faz com que o coração exerça um esforço maior para que o sangue seja distribuído no corpo, aumentando o risco para diversas complicações, incluindo a insuficiência renal e problemas cardiovasculares, como acidente vascular cerebral (AVC), infarto, aneurisma arterial e insuficiência cardíaca.

Segundo o Ministério da Saúde, 388 pessoas morrem por dia devido à hipertensão no Brasil. No entanto, a doença é silenciosa, ou seja, só apresenta sintomas quando atinge níveis muito elevados, como o caso de Carlos Roberto.

Portanto, o diagnóstico precoce por meio de exames de rotina é fundamental para evitar complicações de saúde e, até mesmo, a morte. Ações como o Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão Arterial, reconhecido neste sábado (26), são fundamentais para a conscientização acerca da importância do tratamento adequado da condição.

“Nós temos tratamentos disponíveis para a hipertensão e nós precisamos aplicá-los. Mas tudo começa com a pessoa procurando atendimento médico e estando ciente da importância da doença”, afirma Luciano Drager, diretor da Unidade de Hipertensão da Disciplina de Nefrologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), à CNN.

“Se o paciente ficar nessa de só confiar em sintomas, nós vamos continuar em um cenário extremamente desfavorável com o impacto da hipertensão sobre várias doenças, incluindo as doenças renais”, completa.

<><> Tratamento da hipertensão pode evitar transplantes e outras complicações cardiovasculares

O caso de Carlos Roberto não é único. De acordo com Drager, a hipertensão não tratada é uma das principais causas para a necessidade de hemodiálise ou de transplante de rim no Brasil e em outros países.

O especialista explica que a pressão alta pode danificar os rins devido à falta de suprimento sanguíneo causada pelo enchimento dos vasos sanguíneos, característico da doença. “Existe uma série de mecanismos que vão, aos poucos, agredindo o rim, pela alta pressão e reduzindo o fornecimento de oxigênio e de nutrientes. O vaso sanguíneo vai ficando cada vez mais enfraquecido e mais espesso, determinando maior agressão aos rins”, afirma.

No entanto, assim como a própria hipertensão, as complicações decorrentes dela também podem ser silenciosas, muitas vezes causando sintomas apenas em quadros mais graves. “Em casos mais avançados, a pessoa pode começar a ter sangramentos, náuseas, vômitos, alteração de consciência e confusão mental, mas já são sinais alarmantes de uma doença renal crônica bem avançada”, completa.

“Mesmo em pessoas que não desenvolveram doença renal ainda, é preciso pensar que ela também não está isenta de risco. Em cinco a 10 anos, ela pode evoluir [para doença renal]. Então, é preciso tratar a pressão para impedir esse avanço e evitar consequências graves da hipertensão, incluindo, além de problemas renais, doenças cardiovasculares”, completa.

Usando sua própria história como exemplo para alertar outras pessoas dos cuidados com a hipertensão e cobrar atendimento médico e tratamentos adequados para pacientes renais, Carlos Roberto é, atualmente, presidente da Associação de Renais Crônicos, Transplantados e Doadores da Paraíba (Renais-Paraíba).

“Eu sabia que era hipertenso, mas não tinha o conhecimento desses efeitos que a hipertensão poderia trazer ao meu sistema renal. Por sorte, eu não fui afetado também pela parte cardiológica”, afirma. “Eu sou um exemplo de que a hipertensão pode te fazer ser um paciente renal crônico. Eu sou um exemplo para todos para fazer exatamente o contrário do que fiz, para procurar um médico, principalmente se houver histórico de hipertensão na família”, reforça.

<><> Atividade física e dieta também fazem parte do controle da hipertensão

O tratamento da hipertensão pode ser feito com medicamentos específicos que controlam a pressão arterial. No entanto, os cuidados também incluem mudanças no estilo de vida, com a adoção de uma alimentação saudável e a prática de atividade física.

Entre as principais recomendações do Ministério da Saúde estão:

•        Manter o peso adequado;

•        Evitar o excesso de sal, utilizando outros temperos para realçar o sabor dos alimentos;

•        Praticar atividade física regular;

•        Abandonar o fumo;

•        Moderar o consumo de álcool;

•        Evitar alimentos gordurosos;

•        Controlar o diabetes.

•        Tratar pressão alta pode reduzir risco de demência, diz estudo

Tratar adequadamente a pressão alta pode reduzir o risco de demência e de comprometimento cognitivo, de acordo com um estudo publicado na Nature Medicine, renomada revista científica. As descobertas foram divulgadas na segunda-feira (21) e destacam a importância do controle intensivo da hipertensão.

Pesquisas anteriores mostraram que o número de pessoas com demência no mundo aumentará de 57,4 milhões, em 2019, para 152,8 milhões até 2050, com maior impacto em países de baixa e média renda. Existem evidências que mostram que mudanças no estilo de vida, com a adoção de uma dieta saudável e a prática regular de exercícios, são maneiras de evitar o declínio cognitivo, mas poucos estudos testaram os efeitos de medicamentos que reduzem a pressão arterial sobre o risco de demência.

Diante disso, pesquisadores testaram a eficácia do controle da pressão arterial em 33.995 pacientes de 40 anos ou mais com hipertensão não tratada, em aldeias na China rural.

No grupo de intervenção (ou seja, aqueles que receberam tratamento), 17.407 pacientes tomaram medicação anti-hipertensiva e receberam orientação de saúde sobre monitoramento domiciliar da pressão arterial, mudanças no estilo de vida (perda de peso, redução de sódio na dieta e redução de álcool) e adesão à medicação.

Já no grupo controle (aquele que não recebeu tratamento), os participantes foram treinados apenas para o gerenciamento da pressão arterial e tiveram a pressão medida em um ambiente de saúde.

O estudo durou 48 meses, período em que os autores descobriram que o grupo que tomou medicação anti-hipertensiva obteve um melhor controle da pressão arterial do que o grupo controle. Segundo os pesquisadores, o gerenciamento intensivo da pressão arterial reduziu o risco de demência por todas as causas em 15% e o de comprometimento cognitivo em 16%.

As descobertas sugerem que intervenções comprovadas destinadas a reduzir a pressão arterial podem ajudar a reduzir a incidência e o impacto global da demência, e que essa intervenção deve ser amplamente adotada e ampliada para reduzir o número de pessoas com a condição no mundo.

•        Medicamento para baixar colesterol reduz o risco de demência, diz estudo

A demência, uma doença neurodegenerativa que afeta milhões de pessoas no mundo inteiro, com pouquíssimas opções eficazes para preveni-la ou tratá-la, pode ter seus riscos reduzidos por um medicamento extremamente comum: as estatinas.

Em um estudo recente, publicado na revista BMJ Journal of Neurology, Neurosurgery and Psychiatry, pesquisadores sul-coreanos descobriram que manter o colesterol “ruim” (LDL) em níveis baixos, mas não muito baixos, pode ser uma proteção contra a demência.

Segundo a pesquisa, essa proteção parece ser maior em pessoas que usam estatinas do que naquelas que têm LDL naturalmente baixo. Isso sugere que esses medicamentos para baixar os níveis de gordura no sangue podem ter efeitos protetores adicionais.

Embora os benefícios dos baixos níveis de LDL-C sejam conhecidos há longo tempo na proteção contra eventos cardiovasculares, sua relação com a demência tem sido menos clara. Não se conhece, principalmente, o limite abaixo do qual não há mais benefícios para reduzir o risco de declínio cognitivo.

Com isso, os autores destacam a complexidade do Colesterol da Lipoproteína de Baixa Densidade (LDL-C), uma “figurinha carimbada” nos exames de sangue. Eles também questionam o princípio geral de “quanto mais baixo, sempre melhor”.

Assim, o objetivo geral do estudo atual foi “explorar a correlação entre os níveis de LDL-C e o risco de desenvolver demência, abrangendo demência por todas as causas e demência relacionada à doença de Alzheimer”. Trata-se de um estudo robusto, baseado em dados clínicos de 11 hospitais universitários.

<><> Testando a relação entre colesterol “ruim” e demência

Para testar suas hipóteses, os autores analisaram dados ambulatoriais coletados entre 1986 e 2020 de mais de 12 milhões de pacientes adultos sem diagnóstico prévio de demência, acompanhados por pelo menos 180 dias após o teste de LDL-C no perfil lipídico.

O grupo inicial selecionado para o estudo de coorte “compreendeu 192.213 pacientes com níveis de LDL-C menores que 1,8 mmol/L (<70mg/dL) e 379.006 pacientes com níveis de LDL-C maiores que 3,4 mmol/L (>130mg/dL), e os combinaram em dois grupos de 108.980 pares.

As pessoas com níveis de LDL-C abaixo de 70 mg/dL tiveram um risco 26% menor de serem diagnosticadas com demência por todas as causas e um risco 28% menor de demência relacionada à doença de Alzheimer, do que aqueles com níveis de LDL-C superiores a 130 mg/dL.

No entanto, quando os níveis de LDL caíam abaixo de a 54 mg/dL, os participantes apresentavam somente um risco 18% menor de contrair demência ou Alzheimer. Mas, se os níveis de LDL caíssem abaixo de 31 mg/dL, o efeito protetor desaparecia completamente.

Quando tratadas com estatinas, as pessoas com LDL-C abaixo de 70mg/dL tiveram uma redução adicional de 13% no risco de demência e 12% no risco de Alzheimer, em comparação com os não usuários do medicamento.

Segundo os autores, mesmo nos pacientes com níveis mais altos de LDL-C, as estatinas reduziram ligeiramente o risco de demência. No entanto, a medicação não teve qualquer efeito naqueles com níveis de LDL-C abaixo de 55 mg/dL.

<><> Por que colesterol e estatina reduzem o risco de demência?

Para os autores, altos níveis de LDL-C provocam inflamação, estresse oxidativo e desequilíbrio no colesterol cerebral, fatores implicados no surgimento da demência. Já o colesterol baixo reduz o risco de aterosclerose e doença cerebrovascular, precursores do declínio cognitivo.

As estatinas, por sua vez, melhoram a função das células do revestimento interno dos vasos sanguíneos, reduzem a neuroinflamação e regulam os níveis da proteína beta-amiloide, cuja acumulação tóxica forma as placas características do Alzheimer.

“Isso sugere que as estatinas podem ter efeitos neuroprotetores além de simplesmente reduzir o LDL-C, possivelmente por meio de um mecanismo anti-inflamatório ou vascular”, explica a CEO da Re:Cognition Health, Emer MacSweeney, ao Medical News Today.

Ela adverte que o efeito observado foi modesto, e a confirmação da efetiva causalidade dependerá de mais estudos. Mas, mesmo sem provas de que o LDL-C baixo reduz o risco de demência, manter esses níveis abaixo de 100 mg/dL é recomendado para proteção cardiovascular, alertou.

Para a neurorradiologista consultora, que não participou do estudo, a manutenção de níveis saudáveis de LDL-C e otimização dos benefícios cognitivos, o ideal é manter uma dieta rica em frutas, vegetais, grãos integrais e gorduras saudáveis como azeite, nozes e peixes gordurosos.

Lembrando que a terapia com estatinas só deve ser considerada se houver indicação de um médico, MacSweeney aconselhou alguns itens da cartilha da saúde preventiva, como atividade física regular, evitar tabagismo, limitar consumo de álcool, controlar o peso e monitorar a hipertensão e o diabetes.

Este estudo dos pesquisadores da Universidade Hallym, em Chuncheon na Coreia do Sul, traz importantes implicações para o tratamento preventivo da demência. O destaque é o papel duplo das estatinas na proteção cardiovascular e, potencialmente, também na neurológica.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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