sábado, 26 de abril de 2025

Luís Nassif: As dúvidas sobre a cirurgia de Bolsonaro

A imprensa em Brasília deve aos seus leitores uma investigação sobre o Hospital DF Star. O que está ocorrendo entre o hospital e Jair Bolsonaro não obedece a normas básicas de medicina.

Vamos a um Xadrez sobre as relações entre as cirurgias de Bolsonaro e as crises políticas que ele enfrenta.

<><> Peça 1 – as cirurgias de Bolsonaro em momentos políticos críticos

A eleição de Bolsonaro foi garantida pela facada e pelas cirurgias a que foi submetido. Depois disso, sofreu outras cirurgias coincidindo com momentos de agravamento de crises políticas. Em todos os episódios, seu primeiro movimento pós-cirúrgico era aparecer de barriga de fora, em foto, expondo de forma quase pornográfica sua situação. Em uma das fotos, há uma simulação óbvia da foto “A Lamentação Sobre Cristo Morto”, do pintor italiano Andrea Mantegna. Até a presença de pessoa ao lado direito dele a foto copia.

Agora, chegou-se ao ponto mais crítico: o início do julgamento de Bolsonaro. Qual a melhor forma de defender-se, segundo os padrões pouco corajosos de Bolsonaro: fazer-se de vítima.

<><> Peça 2 – a crise em Natal

A equipe médica que o atendeu em Natal deu entrevista coletiva no dia 12 de abril descartando a necessidade de uma cirurgia e sustentando que o tratamento médico já melhorara a situação de Bolsonaro. Bastaria a continuidade do tratamento para normalizar sua situação. A alegação para a transferência para Brasília foi a de que Bolsonaro queria ficar mais perto da família.

Na viagem, esbanjou sorrisos e corações.

Em Brasília, surpresa! Uma cirurgia já acertada com um novo médico, Cláudio Birolini, apresentado à imprensa como “ próximo da ex-primeira dama Michele Bolsonaro”, descartando o cirurgião-geral Antonio Luiz Macedo, que o operou nas quatro vezes anteriores.  Ou seja, um dia depois da ocorrência em Natal, e da melhora de Bolsonaro, já havia sido escolhido o novo cirurgião e marcada a cirurgia. Tudo isso coincidindo com o próximo julgamento de Bolsonaro.

Não se toma uma decisão dessa ordem da noite para o dia. E qual o conhecimento médico de Michelle para dar uma ordem de tamanha responsabilidade – sem uma reclamação sequer dos filhos? Sabendo-se do histórico de conflitos entre filhos e Michelle, é evidente que a troca obedeceu a um consenso familiar prévio.

<><> Peça 3 – a urgência improvisada

De repente, o paciente que, segundo os médicos de Natal, já estava em processo de melhora, foi submetido a uma cirurgia de 12 horas no dia seguinte à sua chegada no hospital.

Na entrevista coletiva, o cardiologista da equipe, Leandro Echenique, deu o tom da suposta gravidade da situação:

“Isso (a resposta do organismo do paciente) pode levar a uma série de intercorrências. Aumenta o risco de algumas infecções, de precisar de medicamentos para controlar a pressão. Há um aumento do risco de trombose, problemas de coagulação do sangue. O pulmão, a gente acaba tendo um cuidado específico […] Todas as medidas preventivas serão tomadas, por isso que ele se encontra na UTI neste momento”.

<><> Peça 4 – a surpreendente recuperação

Segundo o próprio médico, na manhã do dia seguinte, o paciente que corria riscos de trombose, coagulação e o escambau, já fazia “piadinhas” com os médicos. À tarde, Michele entrou no quarto de Bolsonaro e o fotografou fazendo sinal de positivo.

Havia a orientação de repouso e isolamento absoluto. No entanto, o hospital permitiu a livre movimentação de políticos e familiares dentro da UTI, e até a gravação de uma live – repito: dentro da UTI! -para ajudar a vender um capacete de grafeno, da empresa da qual é sócio, e para receber políticos.

O comercial do capacete foi acompanhado por dois filhos e por Nelson Piquet, com autorização do hospital. No início da transmissão, os filhos disseram que Bolsonaro evitaria falar, devido à recuperação da cirurgia. Mas o doente de cirurgia gravíssima fugiu ao enredo e falou por diversas vezes na live. Volte um pouco, leia os alertas do médico no ítem 4 e veja se guarda qualquer lógica com a live em família.

Peça 5 – à guiza de inconclusão

Como foi possível esse livre trânsito de pessoas na UTI, depois de uma cirurgia complexa de 12 horas e de todos os alertas da equipe sobre riscos pós-cirúrgicos?

Tem algo de estranho nessa história, que talvez confirme as avaliações dos sistemas de Inteligência Artificial, em cima das fotos de Bolsonaro.

Há várias hipóteses:

1.       Bolsonaro precisaria mesmo de uma nova cirurgia e tratou-se de escolher o melhor momento para utilizá-la como atenuante à ação do Supremo.

2.       Bolsonaro é extremamente sensível a pressões, e sofre efeitos psicossomáticos que se refletem no seus intestino.

3.       Em qualquer das hipóteses, houve a dramatização da cirurgia pela equipe médica.

Seja qual for a hipótese, os bravos colegas de Brasilia nos devem uma investigação mais apurada e in loco.

¨      CRM-DF investigará “UTI da fuleragem” de Jair Bolsonaro

Nos últimos dias o Brasil conheceu um conceito até então inédito por aqui: a “UTI da fuleragem”. Jair Bolsonaro (PL) fez uma cirurgia de 12 horas no hospital de luxo DF Star, da Rede D'Or, em Brasília, e desde o encerramento do procedimento, há 12 dias, foi colocado numa UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Quem imagina um local hermeticamente fechado, blindado contra infecções, com acesso restritíssimo e protocolos rígidos aparentemente se engana. Pelo menos ao constatar a sucessão de eventos inacreditáveis e descabidos que ocorrem por lá.

O que se viu desde então é um verdadeiro show de horrores. Quase sempre seminu e com inúmeros fios, sensores e sondas grudados pelo corpo, para monitoramento, Bolsonaro grava vídeos várias vezes por dia, recebe dezenas de visitantes esfuziantes e empolgados sem qualquer tipo de equipamento de proteção, faz lives, dá entrevistas, faz anúncio de venda de capacetes, coloca o filho Eduardo para ameaçar ministros do Supremo, grita com profissionais enquanto recebe e constrange (em tom intimidatório) uma oficial de justiça e ainda acolhe seu ex-ministro sanfoneiro. Pois é, parece um festival de forró, uma quermesse ou um baile funk, mas é uma UTI.

"O Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal irá apurar os fatos ocorridos no Hospital DF Star, entretanto tais procedimentos são amparados pelo sigilo processual. As UTIs acolhem pacientes em condições de saúde delicadas, exigindo ambientes rigorosamente controlados para favorecer a recuperação. O aumento no número de pessoas circulando nesses espaços pode comprometer a evolução clínica dos pacientes e aumentar o risco de infecções hospitalares”, diz uma nota do Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal enviada à coluna Painel, da Folha de S.Paulo.

Não fica claro se a reação do órgão resultará em algum tipo de sanção ou investigação mais rigorosa em relação à unidade em questão, tendo em vista o alinhamento do CFM e dos CRMs às pautas bolsonaristas nos últimos anos, uma das mais incompreensíveis “parcerias” surgidas desde o levante ultrarreacionário que se instalou no Brasil, especialmente por Bolsonaro ser um sujeito abertamente negacionista, anticiência e dar sempre declarações relativizando e brindando a morte, posturas que deveriam ser prontamente rechaçadas por médicos.

Por outro lado, fontes ouvidas pela Fórum afirmam que a instauração do procedimento poderia ter outra razão. Na verdade, os bolsonaristas do CRM-DF teriam ficado irritados com o ingresso no local da oficial de justiça enviada pelo STF que foi citar o ex-presidente. A indignação não seria pela balbúrdia generalizada instalada numa área de cuidados intensivos do hospital, mas sim pelo fato de a servidora ter cumprido sua função após o ministro Alexandre de Moraes ter determinada a citação do réu por vê-lo "bem" na UTI, fazendo lives, dando entrevistas, rindo, gritando e até lançando ameaças contra as autoridades constituídas da República.

•        UTI e a espetacularização feita por Bolsonaro! Por Arnóbio Rocha

Segundo o Google: "UTI significa Unidade de Terapia Intensiva. É uma área hospitalar especializada no tratamento de pacientes que necessitam de cuidados intensivos, com monitorização contínua e suporte vital para órgãos e funções essenciais. A UTI acolhe pacientes em estado crítico ou com risco de morte, oferecendo tratamento e suporte para que possam se recuperar."

A decisão médica de levar um paciente para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é a medida mais extrema para isolar o paciente de contatos externos para evitar riscos de contaminação, aumentar a monitoração de parâmetros vitais e respostas imediatas às crises mais agudas que possam evitar o evento morte.

São regras duras, de pouco contato com o restante do hospital e de restrições às visitas, quase sempre apenas de familiares e por curtos horários, pois a prioridade máxima é a saúde do paciente e o movimento de médicos, enfermeiros e profissionais da área, inclusive todos eles são os mais qualificados dos hospitais. Os equipamentos são os mais sofisticados e exames constantes, além das melhores equipes hospitalares tornam as UTIs extremamente caras.

É um ambiente tenso e de extremos cuidados, para garantir a recuperação plena dos casos mais graves.

Dito isso, é inacreditável o espetáculo promovido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro na UTI do mais sofisticado hospital particular de Brasília, o Hospital DF Star, de uma rede hospitalar famosa, o que consequentemente é um dos mais caros e dos mais modernos do Brasil, obviamente a saúde de figuras importantes do país merece o melhor para garantir sua vida. (Sem demagogia de que deveria ir para o SUS).

O comportamento de tornar a internação dele num circo parece o oposto do que se espera para um paciente em estado grave, a UTI é medida extrema para melhor atendimento e com regras restritas que são incompatíveis com o que se assiste, o que põe em dúvida a gravidade, senão a responsabilidade de quem o trata e dele próprio.

Fazer lives, promover venda de produtos, esculhambar as autoridades, a movimentação intensa de visitas, um BBB ao vivo, que foi coroado com uma citação e uma intimação judicial feita pelo STF, afinal se ele, o paciente pode tudo, por que não receber um oficial de justiça? Nem vale a cena de vitimização de que ele está na UTI, se esta foi descaracterizada por ele e pelo ambiente cenográfico montado.

A cena é constrangedora obviamente, o STF fez a comunicação aos demais réus, exceto a Bolsonaro, até então pela situação dele, no entanto em todos esses últimos dias, a movimentação na UTI, o entra e sai e até lives, entrevistas para jornalistas demonstram que o réu não está em repouso efetivo, ao contrário, fez da UTI um palanque, o que de certa forma desmoraliza o sentido da UTI, que é um ambiente tão importante para a vida dos pacientes em estado grave, cujo acesso à UTI é tão restrito, mas Bolsonaro não parece ter essas preocupações éticas e humanas.

Um espetáculo triste, um desafio para os que entendem que a dignidade humana é preceito fundamental, a doença fragiliza, expõe nossos limites, não obstante ela não é recurso para politização de qualquer espécie.

PS: Essa é uma reflexão dura de quem já esteve acompanhando entes queridos em UTI, aqueles poucos minutos, com todos os cuidados para não levar doenças, além do receio de que seja uma última visita, é um ambiente triste e extremo, não tem espaço para festa ou oba-oba, sei o quanto me foi cara a experiência e perda.

 

Fonte: Jornal GGN/Fórum/Brasil 247

 

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