Luís
Nassif: As dúvidas sobre a cirurgia de Bolsonaro
A
imprensa em Brasília deve aos seus leitores uma investigação sobre o Hospital
DF Star. O que está ocorrendo entre o hospital e Jair Bolsonaro não obedece a
normas básicas de medicina.
Vamos a
um Xadrez sobre as relações entre as cirurgias de Bolsonaro e as crises
políticas que ele enfrenta.
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Peça 1 – as cirurgias de Bolsonaro em momentos políticos críticos
A
eleição de Bolsonaro foi garantida pela facada e pelas cirurgias a que foi
submetido. Depois disso, sofreu outras cirurgias coincidindo com momentos de
agravamento de crises políticas. Em todos os episódios, seu primeiro movimento
pós-cirúrgico era aparecer de barriga de fora, em foto, expondo de forma quase
pornográfica sua situação. Em uma das fotos, há uma simulação óbvia da foto “A
Lamentação Sobre Cristo Morto”, do pintor italiano Andrea Mantegna. Até a
presença de pessoa ao lado direito dele a foto copia.
Agora,
chegou-se ao ponto mais crítico: o início do julgamento de Bolsonaro. Qual a
melhor forma de defender-se, segundo os padrões pouco corajosos de Bolsonaro:
fazer-se de vítima.
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Peça 2 – a crise em Natal
A
equipe médica que o atendeu em Natal deu entrevista coletiva no dia 12 de abril
descartando a necessidade de uma cirurgia e sustentando que o tratamento médico
já melhorara a situação de Bolsonaro. Bastaria a continuidade do tratamento
para normalizar sua situação. A alegação para a transferência para Brasília foi
a de que Bolsonaro queria ficar mais perto da família.
Na
viagem, esbanjou sorrisos e corações.
Em
Brasília, surpresa! Uma cirurgia já acertada com um novo médico, Cláudio
Birolini, apresentado à imprensa como “ próximo da ex-primeira dama Michele
Bolsonaro”, descartando o cirurgião-geral Antonio Luiz Macedo, que o operou nas
quatro vezes anteriores. Ou seja, um dia
depois da ocorrência em Natal, e da melhora de Bolsonaro, já havia sido
escolhido o novo cirurgião e marcada a cirurgia. Tudo isso coincidindo com o
próximo julgamento de Bolsonaro.
Não se
toma uma decisão dessa ordem da noite para o dia. E qual o conhecimento médico
de Michelle para dar uma ordem de tamanha responsabilidade – sem uma reclamação
sequer dos filhos? Sabendo-se do histórico de conflitos entre filhos e
Michelle, é evidente que a troca obedeceu a um consenso familiar prévio.
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Peça 3 – a urgência improvisada
De
repente, o paciente que, segundo os médicos de Natal, já estava em processo de
melhora, foi submetido a uma cirurgia de 12 horas no dia seguinte à sua chegada
no hospital.
Na
entrevista coletiva, o cardiologista da equipe, Leandro Echenique, deu o tom da
suposta gravidade da situação:
“Isso
(a resposta do organismo do paciente) pode levar a uma série de
intercorrências. Aumenta o risco de algumas infecções, de precisar de
medicamentos para controlar a pressão. Há um aumento do risco de trombose,
problemas de coagulação do sangue. O pulmão, a gente acaba tendo um cuidado
específico […] Todas as medidas preventivas serão tomadas, por isso que ele se
encontra na UTI neste momento”.
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Peça 4 – a surpreendente recuperação
Segundo
o próprio médico, na manhã do dia seguinte, o paciente que corria riscos de
trombose, coagulação e o escambau, já fazia “piadinhas” com os médicos. À
tarde, Michele entrou no quarto de Bolsonaro e o fotografou fazendo sinal de
positivo.
Havia a
orientação de repouso e isolamento absoluto. No entanto, o hospital permitiu a
livre movimentação de políticos e familiares dentro da UTI, e até a gravação de
uma live – repito: dentro da UTI! -para ajudar a vender um capacete de grafeno,
da empresa da qual é sócio, e para receber políticos.
O
comercial do capacete foi acompanhado por dois filhos e por Nelson Piquet, com
autorização do hospital. No início da transmissão, os filhos disseram que
Bolsonaro evitaria falar, devido à recuperação da cirurgia. Mas o doente de
cirurgia gravíssima fugiu ao enredo e falou por diversas vezes na live. Volte
um pouco, leia os alertas do médico no ítem 4 e veja se guarda qualquer lógica
com a live em família.
Peça 5
– à guiza de inconclusão
Como
foi possível esse livre trânsito de pessoas na UTI, depois de uma cirurgia
complexa de 12 horas e de todos os alertas da equipe sobre riscos
pós-cirúrgicos?
Tem
algo de estranho nessa história, que talvez confirme as avaliações dos sistemas
de Inteligência Artificial, em cima das fotos de Bolsonaro.
Há
várias hipóteses:
1. Bolsonaro precisaria mesmo de uma nova
cirurgia e tratou-se de escolher o melhor momento para utilizá-la como
atenuante à ação do Supremo.
2. Bolsonaro é extremamente sensível a
pressões, e sofre efeitos psicossomáticos que se refletem no seus intestino.
3. Em qualquer das hipóteses, houve a
dramatização da cirurgia pela equipe médica.
Seja
qual for a hipótese, os bravos colegas de Brasilia nos devem uma investigação
mais apurada e in loco.
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CRM-DF investigará “UTI da fuleragem” de Jair Bolsonaro
Nos
últimos dias o Brasil conheceu um conceito até então inédito por aqui: a “UTI
da fuleragem”. Jair Bolsonaro (PL) fez uma cirurgia de 12 horas no hospital de
luxo DF Star, da Rede D'Or, em Brasília, e desde o encerramento do
procedimento, há 12 dias, foi colocado numa UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
Quem imagina um local hermeticamente fechado, blindado contra infecções, com
acesso restritíssimo e protocolos rígidos aparentemente se engana. Pelo
menos ao constatar a sucessão de eventos inacreditáveis e descabidos que
ocorrem por lá.
O que
se viu desde então é um verdadeiro show de horrores. Quase sempre seminu e com
inúmeros fios, sensores e sondas grudados pelo corpo, para monitoramento,
Bolsonaro grava vídeos várias vezes por dia, recebe dezenas de visitantes
esfuziantes e empolgados sem qualquer tipo de equipamento de proteção, faz
lives, dá entrevistas, faz anúncio de venda de capacetes, coloca o filho
Eduardo para ameaçar ministros do Supremo, grita com profissionais enquanto
recebe e constrange (em tom intimidatório) uma oficial de justiça e ainda
acolhe seu ex-ministro sanfoneiro. Pois é, parece um festival de forró, uma
quermesse ou um baile funk, mas é uma UTI.
"O
Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal irá apurar os fatos ocorridos
no Hospital DF Star, entretanto tais procedimentos são amparados pelo sigilo
processual. As UTIs acolhem pacientes em condições de saúde delicadas, exigindo
ambientes rigorosamente controlados para favorecer a recuperação. O aumento no
número de pessoas circulando nesses espaços pode comprometer a evolução clínica
dos pacientes e aumentar o risco de infecções hospitalares”, diz uma nota do
Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal enviada à coluna Painel, da Folha de
S.Paulo.
Não
fica claro se a reação do órgão resultará em algum tipo de sanção ou
investigação mais rigorosa em relação à unidade em questão, tendo em vista o
alinhamento do CFM e dos CRMs às pautas bolsonaristas nos últimos anos, uma das
mais incompreensíveis “parcerias” surgidas desde o
levante ultrarreacionário que se instalou no Brasil, especialmente por
Bolsonaro ser um sujeito abertamente negacionista, anticiência e
dar sempre declarações relativizando e brindando a morte, posturas que
deveriam ser prontamente rechaçadas por médicos.
Por
outro lado, fontes ouvidas pela Fórum afirmam que a instauração do
procedimento poderia ter outra razão. Na verdade, os bolsonaristas do CRM-DF
teriam ficado irritados com o ingresso no local da oficial de justiça enviada
pelo STF que foi citar o ex-presidente. A indignação não seria pela balbúrdia
generalizada instalada numa área de cuidados intensivos do hospital, mas
sim pelo fato de a servidora ter cumprido sua função após o ministro Alexandre
de Moraes ter determinada a citação do réu por vê-lo "bem" na UTI,
fazendo lives, dando entrevistas, rindo, gritando e até lançando ameaças contra
as autoridades constituídas da República.
• UTI e a espetacularização feita por
Bolsonaro! Por Arnóbio Rocha
Segundo
o Google: "UTI significa Unidade de Terapia Intensiva. É uma área
hospitalar especializada no tratamento de pacientes que necessitam de cuidados
intensivos, com monitorização contínua e suporte vital para órgãos e funções
essenciais. A UTI acolhe pacientes em estado crítico ou com risco de morte,
oferecendo tratamento e suporte para que possam se recuperar."
A
decisão médica de levar um paciente para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é
a medida mais extrema para isolar o paciente de contatos externos para evitar
riscos de contaminação, aumentar a monitoração de parâmetros vitais e respostas
imediatas às crises mais agudas que possam evitar o evento morte.
São
regras duras, de pouco contato com o restante do hospital e de restrições às
visitas, quase sempre apenas de familiares e por curtos horários, pois a
prioridade máxima é a saúde do paciente e o movimento de médicos, enfermeiros e
profissionais da área, inclusive todos eles são os mais qualificados dos
hospitais. Os equipamentos são os mais sofisticados e exames constantes, além
das melhores equipes hospitalares tornam as UTIs extremamente caras.
É um
ambiente tenso e de extremos cuidados, para garantir a recuperação plena dos
casos mais graves.
Dito
isso, é inacreditável o espetáculo promovido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro
na UTI do mais sofisticado hospital particular de Brasília, o Hospital DF Star,
de uma rede hospitalar famosa, o que consequentemente é um dos mais caros e dos
mais modernos do Brasil, obviamente a saúde de figuras importantes do país
merece o melhor para garantir sua vida. (Sem demagogia de que deveria ir para o
SUS).
O
comportamento de tornar a internação dele num circo parece o oposto do que se
espera para um paciente em estado grave, a UTI é medida extrema para melhor
atendimento e com regras restritas que são incompatíveis com o que se assiste,
o que põe em dúvida a gravidade, senão a responsabilidade de quem o trata e
dele próprio.
Fazer
lives, promover venda de produtos, esculhambar as autoridades, a movimentação
intensa de visitas, um BBB ao vivo, que foi coroado com uma citação e uma
intimação judicial feita pelo STF, afinal se ele, o paciente pode tudo, por que
não receber um oficial de justiça? Nem vale a cena de vitimização de que ele
está na UTI, se esta foi descaracterizada por ele e pelo ambiente cenográfico
montado.
A cena
é constrangedora obviamente, o STF fez a comunicação aos demais réus, exceto a
Bolsonaro, até então pela situação dele, no entanto em todos esses últimos
dias, a movimentação na UTI, o entra e sai e até lives, entrevistas para
jornalistas demonstram que o réu não está em repouso efetivo, ao contrário, fez
da UTI um palanque, o que de certa forma desmoraliza o sentido da UTI, que é um
ambiente tão importante para a vida dos pacientes em estado grave, cujo acesso
à UTI é tão restrito, mas Bolsonaro não parece ter essas preocupações éticas e
humanas.
Um
espetáculo triste, um desafio para os que entendem que a dignidade humana é
preceito fundamental, a doença fragiliza, expõe nossos limites, não obstante
ela não é recurso para politização de qualquer espécie.
PS:
Essa é uma reflexão dura de quem já esteve acompanhando entes queridos em UTI,
aqueles poucos minutos, com todos os cuidados para não levar doenças, além do
receio de que seja uma última visita, é um ambiente triste e extremo, não tem
espaço para festa ou oba-oba, sei o quanto me foi cara a experiência e perda.
Fonte:
Jornal GGN/Fórum/Brasil 247

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