sexta-feira, 25 de abril de 2025

Fraude milionária do INSS: órgão foi alertado várias vezes pelas inúmeras queixas deixadas', afirma Miriam Leitão

Uma operação realizada nesta quarta-feira (23) pela Polícia Federal (PF) e pela Controladoria-Geral da União (CGU) mirou um esquema bilionário de fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A investigação aponta que recursos destinados a aposentados e pensionistas teriam sido desviados ao longo de anos.

Miriam Leitão comentou o caso no Bom Dia Brasil desta quinta-feira (24), destacando que o "INSS foi alertado várias vezes pelas inúmeras queixas deixadas".

Ela questionou se os valores desviados serão ressarcidos e defendeu a criação de uma comissão de reparação:

“É importante para entender como devolver o dinheiro. Essa é uma etapa fundamental. O país precisa saber tudo o que aconteceu, identificar os responsáveis, recuperar ao menos parte dos recursos e garantir a devolução."

A jornalista também chamou atenção para as dificuldades enfrentadas por pessoas com pouca familiaridade digital. Segundo ela, muitas vítimas sequer sabem que foram lesadas:

“Quem tem alguma limitação para usar os aplicativos do governo encontra barreiras para verificar se foi afetado. Muita gente perdeu dinheiro e nem sabe que perdeu."

•        TCU avisou INSS de fraude em 2023, mandou órgão mudar sistema, mas esquema foi mantido, diz Daniela Lima

Auditores do TCU (Tribunal de Contas da União) alertaram ainda em 2023 que o sistema de convênios do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) estava contaminado e apresentava fortes indícios de fraude e desvio de dinheiro de aposentados e pensionistas. Não só: a corte determinou no início de 2024 que o INSS tomasse providências para cessar o esquema e adotasse medidas para impedir a lesão aos beneficiários, mas a ordem foi ignorada.

Decisão do ministro Benjamin Zymler, de 2024, atesta claramente a inércia do agora ex-chefe do INSS Alessandro Stefanutto diante das ordens da corte. A inação foi exatamente o que levou a Justiça a afastar Stefanutto do cargo. Depois, ele foi demitido por ordem do presidente Lula.

"Ressalto, neste ponto, que foi verificado o flagrante descumprimento do art. 655, III, § 1º, da Instrução Normativa PRES-INSS 128/2022 (vigente à época da execução da inspeção, e revogado pela Instrução Normativa PRES-INSS 162, de 14/3/2024), o qual previa a apresentação de termos de filiação e de desconto de mensalidade associativa para a autorização dos descontos pelas associações, confederações e entidades de aposentados e/ou pensionistas. Mesmo com a expressa previsão normativa, os gestores do INSS ignoram os normativos", escreveu o ministro.

Já na decisão de 2024, o TCU apontou "um preocupante descontrole nesses processos". "Foi demonstrado o avanço vertiginoso na quantidade de filiados/associados a essas entidades.

O quantitativo total de associados subiu mais de 150% em dois anos, passando de 2.222.460 para 5.558.715 entre dezembro de 2021 e dezembro de 2023. Algumas associações como Ambec, ABSP, CBPA tiveram crescimentos exponenciais. A Ambec, por exemplo, tinha apenas 3 associados em Dez/2021, mas saltou para mais de 600 mil associados em Dez/2023".

O TCU ainda atestou absoluta falta de investimento em pessoal e recursos para o combate às fraudes. "Apenas para se ter uma ideia da precariedade da Autarquia, ficou registrado que a Divisão de Consignação em Benefícios, responsável pelo controle das consignações, é composta apenas de um chefe de divisão e dois servidores."

"Assim, fica a dúvida: por que o INSS autorizou essa sistemática de desconto consignado para mensalidades associativas e sindicais se não tinha condição alguma de fiscalizar?", indagou o ministro do TCU.

"Parece óbvio que se o órgão não tem capacidade de fiscalizar, não deve liberar a consignação de descontos em sua folha. Esse é um dos motivos pelos quais será revisitada a autorização de consignação por meio de acordos de cooperação técnica em face dessa incapacidade de fiscalização", concluiu o TCU na ocasião.

•        Governo vai buscar ressarcimento dos aposentados, diz ministro

O ministro-chefe da AGU (Advocacia-Geral da União), Jorge Messias, diz que o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) é alvo de uma "fraude sistêmica que perdura, pelo menos, desde o ano de 2019, para prejudicar aposentados e pensionistas".

Dada a magnitude do caso -- os valores envolvidos passam de R$ 6 bilhões --, o órgão criou um grupo de trabalho específico para atuar na apuração e Messias afirma ter destacado "advogados federais com ampla experiência no combate a fraudes e na recuperação de ativos" para trabalhar no caso.

Segundo Messias, a "atuação da AGU se concentrará em duas frentes principais:

1) trabalhar junto ao INSS para eliminar as fragilidades institucionais que possibilitaram a ocorrência dessa fraude;

2) assegurar que as verdadeiras vítimas, incluindo o próprio INSS, além de aposentados e pensionistas, sejam devidamente ressarcidas por fraudes comprovadamente identificadas".

A amplitude da fraude, que levou centenas de policiais federais e auditores da CGU (Controladoria-Geral da União) às ruas nesta quarta-feira (23) para cumprir mais de 200 mandados de busca e apreensão, torna a missão hercúlea.

"É, sem dúvida, um grande desafio, considerando o tempo transcorrido, o número de vítimas e os valores em questão. A sociedade brasileira pode contar com o compromisso do governo em defender a previdência social como um valor essencial. Estaremos ao lado dos aposentados e dos pensionistas para que possam ser integralmente ressarcidos pelos fraudadores", disse Messias.

A fala de Messias se soma a um esforço de comunicação do governo Lula para transformar a suspeita de corrupção detonada pela CGU e pela PF (Polícia Federal) de um limão em uma limonada. Desde que soube do tamanho do problema, o presidente Lula determinou medidas enérgicas e destacou o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira, para comandar a linha de divulgação dos resultados da investigação e ação conduzida ontem pela PF.

Todo o esforço, porém, foi comprometido pelo ministro da Previdência, Carlos Lupi, que contrariou uma ordem direta de Lula e decidiu não demitir o agora ex-presidente do INSS Alessandro Stefanutto durante a coletiva de imprensa dada sobre o caso ontem. Pior: Lupi saiu em defesa do aliado, que ele colocou no cargo e que já havia sido notificado da existência de pelo menos 130 mil queixas de cobranças indevidas de aposentados e pensionistas.

•        Escândalo desgasta relação entre Lula e Lupi

A relação entre o presidente Lula e seu ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, sofreu um desgaste depois que o dirigente do PDT não demitiu, durante entrevista coletiva, o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto.

Pelo contrário, o defendeu e assumiu ser o responsável pela sua indicação.

Lula havia determinado a Lupi na quarta-feira (23), ainda pela manhã, que o presidente do INSS deveria ser demitido.

Sua expectativa era que Lupi anunciaria a demissão de Stefanutto na entrevista no Ministério da Justiça para detalhar a operação Sem Desconto, que mira um esquema de corrupção com a cobrança irregular de contribuições de aposentados e pensionistas do INSS.

Depois que a demissão não foi anunciada na entrevista, o Palácio do Planalto confirmou oficialmente que a ordem do presidente Lula era de demitir Stefanutto.

Durante a tarde, assessores de Lula receberam a informação de que o agora ex-presidente do INSS estaria se antecipando e pedindo demissão, o que não agradou Lula.

No final da tarde, a Casa Civil publicou no Diário Oficial da União a exoneração de Stefanutto.

A Polícia Federal, por enquanto, não encontrou nada de muito grave contra o presidente do INSS, mas as investigações estão em curso.

A demissão, na avaliação da equipe de Lula, se justifica mais pelo fato de o INSS não ter tomado nenhuma medida preventiva para estancar o roubo de dinheiro de aposentados e pensionistas.

Segundo assessores de Lula, Stefanutto foi alertado de que estariam ocorrendo fraudes e, inclusive, recomendou o uso de uma biometria desenvolvida pela Dataprev para evitar irregularidades. O INSS, porém, optou por uma biometria alternativa.

Ela, segundo a equipe da CGU, não é eficaz e permite fraudes, por exigir uma foto de um documento do segurado.

“O presidente do INSS, no mínimo, cometeu uma falha grave, não há nada até esse momento de grave contra ele, mas ele falhou gravemente na condução do órgão”, comentou um assessor presidencial.

Apesar do desgaste entre Lula e seu ministro da Previdência Social, interlocutores de Carlos Lupi dizem que tudo será superado e que ele segue no governo.

Esses aliados do ministro destacam que ele avalia que o governo pode estar cometendo uma injustiça com Alessandro Stefanutto, porque, segundo eles, não há nada ligando o agora ex-presidente do INSS às fraudes.

•        Entenda o esquema de fraudes no INSS que roubava os  aposentados

➡️De acordo com as investigações, os suspeitos cobravam mensalidades irregulares, descontadas dos benefícios de aposentados e pensionistas, sem a autorização deles.

Os desvios ocorreram entre 2019 e 2024 e podem chegar a R$ 6,3 bilhões, segundo as estimativas.

➡️O presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, foi demitido, e cinco servidores públicos foram afastados de suas funções.

<><> Como funcionava o esquema?

Segundo a investigação, o esquema consistia em descontar de aposentados e pensionistas do INSS valores mensais, como se eles tivessem se tornado membros de associações de aposentados, quando, na verdade, não haviam se associado nem autorizado os descontos.

Segundo o ministro da CGU, Vinícius de Carvalho, as associações envolvidas no esquema diziam prestar serviços como assistência jurídica para aposentados e ofereciam descontos em mensalidades de academias e planos de saúde, por exemplo, mas não tinham estrutura.

💲Os descontos indevidos nas pensões e aposentadorias pagas pelo INSS podem chegar a R$ 6,3 bilhões, de acordo com os investigadores.

Ao todo, 11 entidades foram alvos de medidas judiciais. Os contratos de aposentados e pensionistas com essas entidades foram suspensos, segundo o ministro da CGU.

Uma das entidades é o Sindicato Nacional dos Aposentados (Sindnapi), que tem como vice-presidente o irmão do presidente Lula, José Ferreira da Silva, conhecido como Frei Chico.

Em nota, o Sindnapi afirmou que apoia as investigações contra descontos indevidos e que "é uma entidade séria, transparente e responsável." "Atuamos sempre com autorizações formais, em conformidade com as normas do INSS", conclui a manifestação.

<><> Quando começou a investigação?

A investigação começou em 2023 na CGU, no âmbito administrativo. Em 2024, após a CGU encontrar indícios de crimes, a Polícia Federal foi acionada.

Segundo o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, a PF abriu 12 inquéritos para investigar as fraudes.

A CGU entrevistou uma amostra de 1.273 aposentados e pensionistas. A maioria — 97% dessa amostra — afirmou nunca ter autorizado descontos em seus benefícios.

"O que apuramos é que a maioria dessas pessoas não tinha autorizado esses descontos, que eram em sua maioria fraudados, em função de falsificação de assinaturas e de uma série de artifícios para simular essa que não era uma vontade real dessas pessoas", disse Carvalho.

Segundo ele, além de ter havido falsificações de assinaturas, em 72% dos casos as entidades não tinham entregue ao INSS a documentação necessária para fazer os descontos diretamente nos benefícios.

<><> Cinco pessoas foram presas

A operação desta quarta, autorizada pela Justiça Federal, ocorreu em 13 estados e no Distrito Federal, com 211 buscas e apreensões em 34 municípios.

De acordo com Lewandowski, foram apreendidos pela PF nesta manhã carros de luxo, joias, obras de arte e dinheiro vivo.

Também foram determinadas as prisões provisórias de seis pessoas.

Cinco já foram presas e uma estava foragida até a última atualização desta reportagem. Os investigados são de organizações associativas de Sergipe.

Além disso, a Justiça afastou cautelarmente de suas funções seis agentes públicos, que ainda não tiveram seus papéis no esquema divulgados pelos investigadores.

<><> Quem são os servidores afastados?

•        procurador-geral do INSS, Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho;

•        coordenador-geral de Suporte ao Atendimento ao Cliente do INSS, Giovani Batista Fassarella Spiecker;

•        diretor de Benefícios e Relacionamento com o Cidadão, Vanderlei Barbosa dos Santos;

•        coordenador-geral de Pagamentos e Benefícios do INSS, Jacimar Fonseca da Silva;

•        o sexto é um policial federal suspeito de dar suporte ao grupo criminoso, utilizando o cargo para isso. Ele não teve o nome divulgado.

<><> O que mais a investigação descobriu

As irregularidades estão relacionadas a mensalidades cobradas por associações sobre os benefícios do INSS. Os descontos eram feitos como se os beneficiários tivessem concordado em se associar, o que não aconteceu.

Segundo o ministro da CGU, essas entidades supostamente prestavam serviços como assistência jurídica e ofereciam descontos em academias e planos de saúde.

As apurações mostraram que "as entidades não tinham estrutura operacional para prestar o serviço que era oferecido", explicou Carvalho.

Além dos casos em que houve falsificação de assinaturas, 70% das 29 entidades analisadas não tinham entregado ao INSS a documentação completa para fazer os descontos nos benefícios.

As associações formalizam Acordos de Cooperação Técnica (ACT) com o INSS para realizar descontos mensais na folha de pagamento de aposentados e pensionistas. Mas, para isso, precisam de autorização expressa dos beneficiários do INSS.

No entanto, a investigação verificou a ausência de verificação rigorosa dessas autorizações e a possibilidade de falsificação de documentos de filiação e autorização.

A investigação começou em 2023 na CGU, no âmbito administrativo. Em 2024, após a CGU encontrar indícios de crimes, a Polícia Federal foi acionada.

Segundo Lewandowski, a PF abriu 12 inquéritos para investigar as fraudes.

<><> Quem era o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto?

O presidente demitido do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Alessandro Stefanutto, é filiado ao PDT e foi indicado, em julho de 2023, para a chefia da autarquia previdenciária pelo aliado e ministro Carlos Lupi (Previdência Social).

Conforme currículo divulgado no site do INSS, Stefanutto é graduado em Direito pela Universidade Mackenzie e mestre em Gestão e Sistema de Seguridade Social pela Universidade de Alcalá (Espanha).

Antes de ser nomeado presidente do INSS, foi diretor de Orçamento, Finanças e Logística da autarquia.

Também foi procurador-federal especializado junto ao INSS, de 2011 a 2017. Antes disso, atuou no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) e foi técnico da Receita Federal.

Ele participou do gabinete de transição do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro para o de Luiz Inácio Lula da Silva como consultor para assuntos de Previdência Social.

<><> O que os beneficiários prejudicados podem fazer?

A PF orienta que os aposentados e pensionistas do INSS que tiverem desconto indevido de mensalidade associativa no extrato de pagamentos (contracheque) peçam a exclusão do débito de forma automática pelo aplicativo ou site meu INSS.

Na tela inicial do Meu INSS, é disponibilizada a consulta de “mensalidade associativa”.

Em seguida, uma funcionalidade no aplicativo/site permite que aposentados e pensionistas além de consultarem o desconto no pagamento, peçam a exclusão e/ou bloqueio através do serviço “exclusão de mensalidade de associação ou sindicato” e/ou “bloqueio de mensalidade de associativa".

O serviço também pode ser solicitado pela Central 135, assim como diretamente às entidades associativas.

<><> Quais os crimes dos envolvidos no esquema?

Os investigados poderão responder pelos seguintes crimes:

•        corrupção ativa

•        corrupção passiva

•        violação de sigilo funcional

•        falsificação de documento

•        organização criminosa

•        lavagem de dinheiro.

<><> Como saber se teve valores descontados?

Para descobrir se houve descontos indevidos, o aposentado ou pensionista deve consultar o extrato do INSS. No documento, estão todas as retiradas, tanto de crédito consignado como de mensalidades associativas.

Veja o passo a passo:

•        Acesse o app ou site Meu INSS

•        Faça login com CPF e senha do Gov.br

•        Clique em "Extrato de benefício"

•        Em seguida, clique sobre o número do benefício

•        Na próxima tela, irá aparecer o extrato

•        Basta, então, verificar descontos de mensalidades associativas

<><> Como excluir cobrança indevida?

O aposentado ou pensionista que não reconhecer um desconto em seu benefício pode requerer o serviço "excluir mensalidade associativa" pelo aplicativo, no site do Meu INSS ou pela central 135. 📲

Confira o passo a passo para excluir a cobrança:

•        Entre no app "Meu INSS"

•        Faça login com CPF e senha do Gov.br

•        Clique no botão "novo pedido"

•        Digite "excluir mensalidade"

•        Clique no nome do serviço/benefício

•        Leia o texto que aparece na tela e avance seguindo as instruções

Para bloquear o benefício para as associações, para que elas não consigam realizar os descontos de mensalidade, é preciso seguir as orientações abaixo:

•        Entre no Meu INSS

•        Faça login com CPF e senha do Gov.br

•        No campo de pesquisa da página inicial , digite “solicitar bloqueio ou desbloqueio de mensalidade”

•        Na lista, clique no nome do serviço/benefício

•        Leia o texto que aparece na tela e avance seguindo as instruções

O beneficiário ainda tem a opção de entrar em contato com a associação para registrar uma reclamação e solicitar o estorno das contribuições realizadas de forma indevida.

Para o ressarcimento, o aposentado ou pensionista pode ligar para o telefone 0800 da entidade, cujo número aparece no holerite.

Além disso, o segurado pode enviar e-mail para acordo.mensalidade@inss.gov.br, informando o ocorrido.

O INSS irá entrar em contato com a entidade autora do desconto em folha, solicitando os documentos que autorizaram o desconto ou a devolução dos valores.

Reclamações e denúncias sobre descontos não autorizados de associações ou entidades podem ser registradas diretamente no Portal Consumidor.Gov e na Ouvidoria do INSS, através da Plataforma Fala BR.

 

Fonte: g1

 

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