segunda-feira, 28 de abril de 2025

62% dos brasileiros não procuram atendimento médico quando precisam

Um levantamento inédito constatou que 62,3% dos brasileiros precisou de atendimento médico na Atenção Primária à Saúde (APS) no último ano, mas não buscou. Os dados são da pesquisa “Mais Dados, Mais Saúde”, realizada pela Vital Strategies e Umane, com parceria técnica da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e apoio do Instituto Devive e do Resolve to Save Lives.

O estudo avaliou a percepção da população sobre o acesso e a qualidade da APS, porta de entrada para o sistema de saúde público e privado. O levantamento foi feito entre agosto e setembro de 2024 a partir de entrevistas com 2.458 brasileiros usuários tanto da rede privada quanto do Sistema Único de Saúde (SUS), de 18 anos ou mais.

Segundo a pesquisa, entre os motivos para não buscar atendimento, a superlotação e a demora no atendimento corresponderam a 46,9% das respostas, seguido por burocracia no encaminhamento (39,2%), a prática da automedicação (35,1%) e a crença de que o problema não é grave (34,6%), entre outros.

Além disso, a pesquisa mostrou que 40,5% dos respondentes buscaram ajuda médica nos últimos 12 meses e não conseguiram atendimento. Os obstáculos apontados foram tempo de espera longo (62,1%), falta de equipamentos (34,4%), falta de profissionais adequados (30,5%) e falta de atenção (29%), entre outros.

Para os pesquisadores, o resultado mostra que a sobrecarga do sistema de saúde brasileiro, público ou privado, pode levar à desistência da busca pode atendimento médico, reforçando a necessidade de mais investimentos e melhorias na gestão dos serviços para otimizar a oferta e reduzir o tempo de espera.

O levantamento também apontou para o hábito cultural generalizado da automedicação, ou seja, do tratamento sem assistência profissional, o que pode levar ao uso inadequado de medicamentos, ao adiamento de tratamentos eficazes e, até mesmo, ao agravamento de quadros.

“Como porta de entrada do SUS e em seu papel de ordenadora do cuidado, a Atenção Primária à Saúde deve estar organizada de modo a garantir que a maioria das questões de saúde da população sejam preveníveis e tratáveis, sem que evoluam para quadros mais complexos. Fortalecer estes mecanismos para que a população busque cuidado oportunamente quando necessário e receba o atendimento que precisar é fundamental para termos um sistema de saúde mais eficiente e resolutivo”, avalia Thais Junqueira, superintendente-geral da Umane, em comunicado.

•        57,6% reclamam do tempo de espera para ser atendido

Outro ponto avaliado pela pesquisa foi a percepção dos usuários em relação à última consulta com um profissional de saúde ou em uma unidade de atendimento habitual, tanto no público quanto no privado. Para isso, os respondentes podiam avaliar cada item como péssimo, ruim, regular e muito bom.

Dos oito itens avaliados, seis tiveram mais respostas positivas. O principal destaque foi em relação ao respeito à privacidade e confidencialidade, apontado como regular ou muito bom por 79,2% dos respondentes, seguida por avaliação positiva de 75,1% para o entendimento das explicações fornecidas.

Além disso, 67,8% da população considera a confiança no profissional com quem conversou como positiva, enquanto 64,4% elogiaram a oportunidade de questionar ou levantar preocupações. Dos respondentes, 59,8% apontaram como positiva a participação nas decisões sobre cuidados/tratamento e 56,3% avaliaram bem a duração da consulta.

Por outro lado, tiveram avaliação negativa o tempo de espera para ser atendido, criticado por 57,6% dos ouvidos, e facilidade de encaminhamento, com queixas de 51,5% da população.

“Esses achados sugerem que, embora a maioria dos usuários do sistema de saúde público e privado relate experiências positivas em suas consultas, persistem desafios importantes e estruturais que dificultam o acesso e a qualidade da Atenção Primária à Saúde. São necessárias melhorias que garantam investimentos contínuos e aprimoramento dos serviços para promover maior equidade no cuidado à saúde da população”, avalia Luciana Sardinha, diretora adjunta de Doenças Crônicas Não Transmissíveis da Vital Strategies.

•        Procedimento médico promete retirar microplásticos do corpo; funciona?

Além de disseminados na natureza, pesquisas recentes têm revelado que os microplásticos, pequenas partículas de plástico com menos de cinco milímetros de diâmetro, estão presentes em diversos órgãos e tecidos do corpo humano, como cérebro, coração, fígado, rins, pulmões, placenta e líquidos corporais.

Provenientes da degradação de materiais plásticos no meio ambiente, esses fragmentos entram no organismo humano de várias formas, desde ingestão de alimentos e água contaminados, até a inalação de partículas suspensas no ar.

Embora ainda haja muitas incertezas sobre os efeitos de longo prazo da exposição a microplásticos na saúde humana, diversos estudos ligam a presença das partículas em placas arteriais a um aumento significativo de ataques cardíacos, derrames e da mortalidade em geral. Agora um grupo de médicos londrinos, da Clarify Clinics, especializada em tratamentos de desintoxicação sanguínea, está oferecendo aos seus clientes um serviço que promete remover todos os microplásticos do seu sangue.

Segundo a CEO da empresa, Yael Cohen, o serviço de filtragem de sangue sob medida, chamado Clari by Marker, aprovado com certificação CE (Conformidade Europeia) oferece uma abordagem inovadora para reduzir a inflamação e melhorar o bem-estar geral dos pacientes”, afirmou ela à Wired.

•        Como funciona o serviço de filtragem de microplásticos do sangue?

Na entrevista à Wired, Cohen explica que o tratamento inovador da Clarity Clinics oferece o serviço de filtragem de sangue personalizada em sua filial de Londres. O tratamento utiliza a técnica de aférese, tradicionalmente empregada em doações de plasma e terapias de troca plasmática.

Na unidade, a clínica atende semanalmente de 10 a 15 pessoas. Após a consulta, o paciente se acomoda em uma poltrona enquanto o sangue é retirado por uma cânula, e separado em plasma e células sanguíneas.

Durante o procedimento, que dura cerca de duas horas, o plasma é filtrado para remover microplásticos e outras substâncias indesejadas, antes de ser reintroduzido no corpo do paciente. Segundo Cohen, entre 50% e 80% do volume de plasma podem ser processados de cada vez.

Durante uma sessão, cujo valor ultrapassa US$ 12 mil (cerca de R$ 70 mil), “Os pacientes atendem ligações, fazem Zooms, assistem a filmes, dormem. Os que dormem são os meus favoritos”, afirma Cohen. “Uma vez que está funcionando, você não sente nada. É muito confortável”, conclui.

Para ela, os motivos que levam os pacientes à Clarify são variados, e incluem fadiga crônica, “névoa cerebral”, Covid longa, uso de medicamentos para perda de peso, como o Ozempic, e preocupações com fertilidade ou demência. No entanto, a eficácia científica do procedimento ainda é objeto de debate.

<<> O tratamento Clari é eficaz?

Mesmo amplamente documentada, observar a correlação entre a presença de microplásticos no corpo e certos problemas de saúde não prova que os fragmentos microscópicos são a causa desses problemas. Sem essa relação causal, os procedimentos da Clarify operam em uma área cinzenta.

Isso significa que, embora a clínica londrina venda esperança, quando oferece tratamentos que supostamente removem microplásticos, PFAS (substâncias per e polifluoroalquil) e pesticidas do sangue, a ciência ainda não confirma que os contaminantes realmente causam problemas de saúde.

Essa falta de evidências suficientes para confirmar a relação de causa e efeito fazem parte de um relatório da OMS de 2022. Nele, a agência especializada em saúde não afirma que os microplásticos são seguros, mas reconhece que seus potenciais riscos continuam desconhecidos.

Embora estudos científicos recentes tenham encontrado associações entre a presença de microplásticos no corpo e danos às células e ao coração, esses estudos são classificados como “observacionais”, nos quais os pesquisadores só observam e registram dados, sem intervir ou controlar variáveis.

Ainda assim, o método é baseado na plasmaférese, um procedimento médico legítimo reconhecido como seguro e benéfico para tratar certas condições, como doenças autoimunes e neurológicas. Mas não necessariamente eficaz para remover microplásticos do corpo humano.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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