sábado, 26 de abril de 2025

Luís Nassif: Lula, ouça o papa Francisco!

A Igreja de dom Angélico Sândalo Bernardino sempre foi grande parceira de Lula, que sempre foi grande fiel do catolicismo progressista. É a mesma Igreja do Papa Francisco.

Valeria a pena ler o artigo “A Economia de Francisco, por Luiz Gonzaga Belluzzo”. Nele, Belluzzo recorre a vários documentos para identificar o pensamento econômico do Papa.

O primeiro ponto a se considerar é que princípios antecedem a definição de uma política econômica. Antes de se pensar nas teorias, nas planilhas, tem que se definir os valores em torno dos quais construir a política.

É o que faz o Papa. Contra o individualismo exacerbado da financeirização, ele propõe as comunidades, o trabalho comunitário e a cooperação.

Ora, trata-se da maior bandeira contra a financeirização, porque recupera os fundamentos da economia, é socialmente mais justo e economicamente mais eficiente – se se entender a economia como o exercício de garantir o crescimento permanente, com responsabilidade social.

Os modelos participativos garantem crescimento mais equilibrado, geração de riqueza, fortalecimento do mercado interno, canalização de parte relevante do lucro para investimentos no próprio negócio.

O primeiro passo desse modelo é o fortalecimento das relações econômicas dos pequenos empresários, dos pequenos agricultores. No rascunho do Projeto Brasil, você poderá entender um desses instrumentos, os Arranjos Produtivos Digitais.

É apenas um dos experimentos. Nas últimas décadas surgiram inúmeras experiências bem sucedidas de cooperação. Antes que as redes de drogarias sufocassem as farmácias individuais, muitas delas organizaram-se em consórcios para a compra de remédios e para marketing cooperativo. Na área rural, há as experiências vitoriosas do cooperativismo e do MST.

São dois os desafios, que não dependem do Centrão, mas da vontade política de mudar.

O primeiro, programas de incentivo à organização dos pequenos. O segundo, a volta dos programas de qualidade total para a área pública.

O Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos montou um plano estratégico, enfatizando os aspectos da ESG (Ambiental, Social e Governança), as preocupações com sustentabilidade, inclusão, valorização do funcionário e modernização digital. Faltou o programa síntese: os processos de qualidade total, justamente os que entram no âmago do problema da gestão.

Em outros tempos, esses programas mudaram a face de muitas empresas, transformaram completamente a Polícia Federal, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), desenvolveram indicadores de acompanhamento que permitiram não apenas a melhoria dos serviços, como o controle da atuação e das entregas.

Até seu principal estimulador, Vicente Falconi, transformar-se em mero cortador de custos, a qualidade total promoveu transformações fundamentais tanto em empresas privadas quanto no setor público.

De um lado, por mobilizar todos os funcionários em torno de objetivos definidos, através de melhoria de processos com sua participação. E, finalmente, permitindo a criação de indicadores capazes de monitorar com eficiência o desempenho e a integridade dos orçamentos públicos.

Mesmo o INSS passou por períodos de grande eficiência, dirigido por pessoas do calibre de Nelson Machado, em outros tempos instituindo concursos nacionais de eficiência entre as diversas agências.

Das primeiras experiências de prêmios de qualidade nasceu o Movimento Brasil Competitivo, para dar apoio às propostas de gestão da área pública. Nem sei em que pé se encontra. No seu portal, a linha do tempo termina em 2020.

Hoje em dia tem uma instituição – o Tribunal de Contas da União – com grande apuro técnico na apuração de processos e indicadores. Tem a Escola Nacional de Administração Pública (ENAP) com estrutura para auxiliar na definição de processos adequados a cada tipo de atividade do estado.

Se convocar, ainda haverá instituições privadas interessadas em contribuir para o aprimoramento gerencial do Estado.

•        O fim do Presidencialismo de Coalizão. Por Luís Nassif

O Estadão tem razão em um editorial recente: “O presidencialismo de coalizão morreu”. De fato, tornou-se o modelo político totalmente disfuncional. Gradativamente o Executivo foi se tornando refém do Centrão até que, com o impeachment, assumiu Michel Temer, uma das lideranças do baixo clero.

Completou-se o quadro com o governo militar de Jair Bolsonaro, praticamente entregando o controle do orçamento ao Centrão, para impedir outra manobra de impeachment.

Seguiu-se um desmonte terrível do Estado brasileiro, interrompido pela derrota de Jair Bolsonaro em 2022, e pela ascensão de um novo governo Lula.

Apesar da manipulação recorrente da mídia, Lula sempre foi um governo de composição. No começo de carreira era um sindicalista, que no máximo sonhava com um modelo semelhante ao da Alemanha da social-democracia, com os trabalhadores participando da gestão das grandes empresas e políticas compensatórias que ajudariam a aliviar a enorme pressão do modelo sobre as populações vulneráveis. Lula ajudou a humanizar e a civilizar um pouco o capitalismo brasileiro, valendo-se dos instrumentos criados por Fernando Henrique Cardoso, de distribuir parte do poder de Estado ao Congresso para poder exercer o poder da Presidência nas políticas centrais.

Deu certo no primeiro e no segundo governo, ajudado por uma explosão nos preços das commodities. Começou a falhar no governo Dilma, quando se reduziram as expectativas de crescimento e entrou em quadra a enorme conspiração que descrevo no livro “A Conspiração Lava Jato”.

A volta de Lula deu-se em um quadro do Congresso controlando grande parte do orçamento, grupos políticos em chantagem clara para conquistar espaço, e o loteamento de Ministérios e estatais, sem assegurar condições políticas para o governo.

O resultado é um processo gradativo de desgaste. Cada embate que o governo se recusa a encarar significa mais perda de poder e de influência. Se encarasse, provavelmente a chantagem resultaria em um novo processo de impeachment. O clássico se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

Assim, mesmo que Lula se candidate em 2026 e consiga a reeleição, cada dia de vida nunca é mais, é sempre menos. Ou seja, seriam mais quatro anos de retrocesso, de anomia, de captura do orçamento pelos deputados, provavelmente fortalecidos pelo aumento da bancada do Centrão no Senado. Em algum momento do futuro a corda da frágil democracia brasileira arrebentará.

Como o nó górdio será rompido? No limite, sempre aparece o Sr. Crise determinando os novos rumos. Mas quem estará cavalgando as bestas do Apocalipse? Um político eleito e prometendo combate ao Congresso? Um déspota esclarecido ou, pelo histórico brasileiro, outro déspota terraplanista? Um Tarcisio cavalgando as milícias da Polícia Militar paulista, comandadas pelo sanguinário Derrite?

Se não tivesse se queimado com seus atos impensados, diria que o futuro reservaria um lugar para Ciro Gomes e seus arroubos. De qualquer modo, o discurso de Ciro se tornará cada vez mais dominante, sabe-se lá em que boca.

E essa caminhada não será detida com inauguração de obras, com entrevistas para rádios do interior. Enquanto não se conseguir desenhar um futuro, ainda que utópico, a desesperança alimentará a futura tragédia política.

·        Lula é “candidatíssimo” e favorito. Por Aquiles Lins

O presidente Lula se reuniu com líderes da base aliada na Câmara nesta quarta-feira (23) e foi categórico ao falar sobre as eleições de 2026: “Sou candidatíssimo”. No jantar organizado pelo presidente da Câmara, Hugo Motta, Lula destacou a força do Parlamento e disse que quer manter uma comunicação mais ativa com deputados e senadores. Para este colunista, Lula parte como franco favorito. Pelo motivo de que seu governo tem entregado resultados concretos que melhoraram a vida da maioria dos brasileiros.

Desde que voltou ao Palácio do Planalto, Lula tem conduzido uma recuperação econômica sólida. Em um país que havia passado quase uma década estagnado — com crescimento médio de 0,4% entre 2015 e 2022 —, a economia brasileira avançou 3,4% em 2024, num movimento sustentado por vários setores: indústria, serviços e consumo das famílias. 

Lula é favorito porque entregou aquilo que qualquer cidadão compreende: emprego, renda e comida no prato. A taxa de desemprego caiu para 6,8%, a menor em 11 anos. O total de trabalhadores empregados ultrapassou 103 milhões. A pobreza recuou a patamares inéditos: apenas 4,4% da população está em situação de miséria, e a renda real das famílias cresceu 7% em 2024. O consumo das famílias, motor do crescimento, subiu 5,5%. Não por acaso, o varejo fechou o ano com alta de 12,2% nas vendas.

Do ponto de vista da indústria, este setor estratégico do país, que foi abandonado pelos governos Temer e Bolsonaro, registrou crescimento de 3,6% em 2024, com destaque para segmentos de alta tecnologia e para a produção de máquinas e equipamentos. A Nova Indústria Brasil (NIB) e o Novo PAC já atraíram R$ 2,3 trilhões em anúncios de investimento do setor privado, enquanto bancos públicos como o BNDES e a Finep disponibilizaram mais de R$ 500 bilhões em crédito para a reindustrialização. O resultado: o emprego na indústria cresceu 75%, com mais da metade das novas vagas ocupadas por jovens.

Internacionalmente, o Brasil voltou a ocupar posição de destaque. Em 2024, o país se tornou o segundo maior destino de investimentos estrangeiros diretos no mundo. Um sinal claro de que a estabilidade política, o compromisso com a sustentabilidade e uma política econômica pragmática voltaram a ser marcas do Brasil.

É claro que os desafios persistem. Todos esses avanços foram obtidos com um Congresso adverso, onde o governo não tem maioria, o que exige habilidade ainda maior. Mas Lula já deixou claro que está disposto a dialogar mais com o Legislativo e renovar sua estratégia de articulação. Portanto, não é surpresa que Lula declare sua pré-candidatura com tanta convicção. Ele tem o que mostrar.

 

Fonte: Jornal GGN/Brasil 247

 

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