Fritz
Haarmann: os crimes do "Jack, o Estripador alemão"
Friedel
Rohte tinha acabado de fazer 17 anos quando desapareceu em Hanôver, em setembro
de 1918. Antes, fora visto num café com um senhor distinto, chamado Fritz
Haarmann. Ele era conhecido da polícia, pois trabalhava para ela como
informante.
Ao
chegar em seu apartamento para interrogá-lo, os agentes o surpreendem na cama
com um garoto de 13 anos seminu. Mas não encontraram o desaparecido.
"Deviam ter procurado direito, porque o crânio de Friedel Rohte estava num
nicho, escondido debaixo de revistas e livros", conta o detetive
aposentado Jürgen Veith.
Em seus
Mord(s)-Touren (Tours assassinos) Veith percorre com turistas os rastros do
chamado "vampiro de Hanôver", que confessou o homicídio de 24 rapazes
(ou 27, segundo outras fontes). "Essas foram as mortes de que ele se
lembrava. Na verdade, devem ter sido mais de 50", explica Veith,
sentenciando: "Haarmann foi, em princípio, o Jack, o Estripador
alemão."
Fritz
Haarmann nasceu em Hanôver em 25 de outubro de 1879, o caçula de seis irmãos.
"Ele teve uma infância terrível. Parece que o pai era dependente do álcool
– um beberrão, como se costumava dizer – e também o espancava muito. E Fritz
provavelmente sofreu abuso sexual por parte de um irmão mais velho."
Isso,
em si, não faz de alguém um maníaco assassino, observa a psicóloga criminal
Lydia Benecke: "Claro que a maioria dos que são expostos a fatores tão
adversos assim no início da vida não comete crimes graves."
Porém
estudos científicos demonstraram que, entre um pequeno grupo, maus tratos do
gênero podem desencadear tendências a cometer delitos graves, culminando até em
assassinatos em série, na forma mais extrema. "Uma falácia fundamental é
achar que se note quando um ser humano comete crimes graves. Na maioria dos
casos, não é assim."
A
observação se aplica também a Haarmann: no dia a dia, ele parecia confiável,
sempre bem-vestido, amigável e discreto. Impressionava positivamente também a
polícia, que até o contrataria como alcaguete, para fornecer informações a
respeito do bairro de prostituição.
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Assassino – talvez vendedor de carne humana e canibal
Seus
crimes coincidem com os primeiros anos após o fim da Primeira Guerra Mundial. Desempregados enchem
as ruas, a comida é escassa, tanto o mercado negro quanto a prostituição
prosperam. No grande saguão da central ferroviária, Haarmann negocia com roupas
masculinas, carne e outros artigos – e espreita suas vítimas.
"Ele
tinha um bom faro para rapazes que, na má situação econômica dos anos 1920,
vagavam mais ou menos sem destino e desamparados", conta Veith. "'Ah,
vem, tu estás certamente com fome. Estás parecendo cansado. Podes dormir na
minha casa e também ganhar alguma coisa para comer': era assim que ele
provavelmente atraía as suas vítimas."
Os
jovens que seguiam Haarmann até a mansarda no bairro pobre de Mitte tinham
entre 10 e 22 anos de idade. Muitos haviam fugido de casa e, na confusão do
pós-guerra, inicialmente ninguém sentia sua falta. Os vizinhos não se
importavam com os barulhos assustadores que vinham do apartamento: Haarmann
matava rasgando a garganta das vítimas com os dentes. Como deporia mais tarde,
o ato o excitava sexualmente.
No
entanto, o transtorno de eliminar os cadáveres lhe era um fardo: "Eu
sempre fiz esse trabalho com horror, mas a minha paixão era mais forte do que o
horror do esquartejamento."
"Supõe-se
que Haarmann vendesse a carne das suas vítimas no então prosperante mercado
negro. O comércio ilegal de carne era rotina, então vender podia ser tanto um
método pragmático de se livrar dos pedaços do cadáver, e ao mesmo tempo se
enriquecer", relata Benecke. "Permanece em aberto se realmente vendia
a carne humana, ou se até a comia, ele mesmo."
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Confissão arrancada por métodos pouco ortodoxos
Certo
está que Haarmann jogou muitos ossos de suas vítimas no rio Leine, e esse
método acaba o condenando: brincando nas margens, crianças encontram alguns
crânios. No começo se pensa tratar-se dos restos mortais de afogados. Porém o
aparecimento de cada vez mais ossos – por fim, cerca de 500 – coloca a polícia
em alerta.
Os
cidadãos da cidade na Baixa Saxônia têm medo: quem é o assassino em meio a
eles? O "Carniceiro", "Lobisomem", o "Vampiro de
Hanôver" faz manchetes pelo mundo. Pouco a pouco, os indícios levam até
Fritz Haarmann, que em junho de 1924 é preso.
Devido
aos bons serviços como informante, até então a polícia fizera vista grossa por
seus pequenos delitos. Mas, assassino em série? Os agentes estão céticos. Até
que, numa revista em seu apartamento, encontram marcas de sangue e peças de
roupa ensanguentadas.
Como de
início ele se recusa a depor, a polícia apela para o que Veith denomina
"métodos escusos", colocando, num canto da cela do suspeito, caveiras
iluminadas, com as órbitas cobertas de papel vermelho, ou um saco cheio de
ossos humanos.
A
mensagem era que, se não confessasse, os mortos viriam em busca dele. E ele
acaba confessando: seus "garotinhos de brinquedo" tinham sido sempre
tão carinhosos com ele, gostaram de participar. Ele os matara num "delírio
sexual".
O
processo é um evento midiático sensacionalista. Haarmann ganha até uma paródia
de uma canção da moda: Warte, warte noch ein Weilchen (Espera, espera mais um
pouquinho – que a felicidade vem para ti) vira "Espera, espera mais um
pouquinho, que o Haarmann logo vem com o cutelinho e faz patê de ti".
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"Meu monumento vai ser atração daqui a mil anos"
O
julgamento começa em dezembro de 1924. "Nos dias de hoje, um processo tão
gigantesco não seria concluído em prazo tão curto", comenta Veith. Já na
época, houve quem questionasse sua legitimidade legal: "Poucas vezes um
processo tão significativo foi realizado de modo tão incompetente, mesquinho e
equivocado", argumentava o jornalista Theodor Lessing: a sanidade mental
de Haarmann, por exemplo, sequer fora devidamente examinada.
Ainda
assim, o assassino é condenado à morte e executado em 15 de abril de 1925, com
o uso de uma guilhotina, metódo usado à época. Antes, desejara que se erigisse
um monumento em sua homenagem: "Vai ser uma atração turística, mesmo daqui
a mil anos. Todo mundo vai vir para admirar", afirmou ao psiquiatra que o
examinou na prisão.
A
história do maníaco homicida foi levada várias vezes aos palcos e às telas.
Haarmann, junto com outros serial killers alemães do período, acabou servindo
de ispiração para o filme M, o Vampiro de Düsseldorf (1931), de Fritz Lang.
Mais diretamente biográfico é O assassino (1995), de Romuald Karmakar, indicado
para o Oscar.
Peças
de radioteatro, um musical, vários livros, uma história em quadrinhos, até
mesmo um – bastante polêmico – jogo de tabuleiro assassino, se inspiraram do
"Carniceiro de Hanôver". A ele foram também dedicadas canções, como
Most evil, de 2023, pela banda japonesa Church of Misery, de doom metal.
O
escultor vienense Alfred Hrdlicka (1928-2009) dedicou-lhe até mesmo mais de uma
estátua – como o assassino desejara. Enfim: Fritz Haarmann queria fama – e
conseguiu.
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Mentes perigosas: os piores assassinos em série da Alemanha
Enfermeiros
assassinos, canibais, matadores de prostitutas e crianças. Conheça alguns dos
mais violentos assassinos em série da história da Alemanha.
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Canibal de Münsterberg
Karle
Denke matou e canibalizou ao menos 42 pessoas entre 1903 e 1924 em Münsterberg,
na antiga Prússia (foto). Acredita-se até que ele tenha vendido a carne de suas
vítimas no mercado de Breslau (hoje Wroclaw, Polônia) como carne de porco. Uma
vítima conseguiu escapar. Mais tarde a polícia encontrou carne humana curada na
casa do acusado. Denke enforcou-se em sua cela dois dias depois
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Horror de Hannover
Acredita-se
que Fritz Haarmann tenha abusado sexualmente, matado, mutilado e seccionado ao
menos 24 meninos e homens jovens entre 1918 e 1924. A extensão total de seus
crimes foi revelada após moradores de Hannover preocupados com o
desaparecimento de crianças encontrarem 500 pedaços de ossos humanos, alguns
com marcas de faca. Haarmann, que já fora informante da polícia, foi decapitado
em 1925.
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Carniceiro de Berlim
Karl
Grossmann matou suas vítimas e vendeu sua carne no mercado negro e em sua banca
de lanches. Depois que os vizinhos ouviram gritos, a polícia invadiu sua casa e
encontrou uma jovem morta em sua cama. Não está claro quantas pessoas Grossmann
matou, mas ele foi suspeito de cortar em pedaços 23 mulheres e de estar
envolvido em até 100 casos de desaparecimentos em Berlim. Ele se enforcou em
1922.
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Terror do Lago Falkenhagen
O
serralheiro Friedrich Schumann violou, matou e roubou entre 1918 e 1920. Após
um confronto com um guarda florestal - em quem atirou - Schumann foi preso e
acusado do assassinato de seis pessoas e da tentativa de assassinato de outras
11. Ele foi condenado à morte seis vezes. Na véspera da sua execução, aos 28
anos, ele admitiu ter matado 25 pessoas, incluindo um de seus primos.
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O assassino do metrô
Paul
Ogorzow foi condenado por 31 agressões sexuais, assassinato de oito mulheres e
tentativa de homicídio de seis outras em Berlim entre 1940 e 1941. Ogorzow
trabalhava para o sistema ferroviário alemão e jofou vária de suas vítimas de
trens em movimento. Ele foi condenado à morte e decapitado.
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O coiote assassino
Em 1946
e 1947, Rudolf Pleil trabalhou como guarda de fronteira e paralelamente atuava
como coiote, ajudando pessoas a atravessar a dvisa entre o leste e o oeste da
Alemanha. Por um tempo, ele teve dois cúmplices que o ajudaram a atrair
vítimas. Pleil foi condenado por matar um vendedor e nove mulheres, mas alegou
ter matado 25 pessoas. Condenado à prisão perpétua em 1950, cometeu suicídio em
1958
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O canibal de Duisburg
Joachim
Gero Kroll foi um assassino em série, estuprador, molestador de crianças e
canibal. Entre 1955 e 1976, ele matou pelo menos 14 pessoas, a maioria
mulheres. Quando foi preso em 1976, ele estava cozinhando braços e mãos de uma
menina de 4 anos que ele havia acabado de assassinar. Condenado à prisão
perpétua em 1982, Krol morreu de ataque cardíaco em 1991.
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Incêndio revelador
Fritz
Honka ficou conhecido por ter matado ao menos 4 mulheres entre 1970 e 1975. Ele
estrangulou e seccionou prostitutas em seu apartamento. Bombeiros encontraram
partes de corpos escondidos ao debelarem um incêndio em sua moradia. Honka foi
condenado a 15 anos de prisão em uma instituição psiquiátrica. Após sua
libertação em 1993, ele viveu em uma casa de repouso até sua morte cinco anos
depois.
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O assassino de St. Pauli
Werner
Pinzner foi um assassino de cafetões no distrito da luz vermelha de Hamburgo.
Acredita-se que ele tenha matado entre 7 e 10 pessoas. Ele ganhou notoriedade
em 1986, quando foi levado a uma delegacia em Hamburgo para prestar depoimento
com a esposa e a advogada. De repente, ele sacou de uma arma e matou o
promotor, a esposa e a si mesmo.
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A enfermeira assassina
Marianne
Nölle, uma enfermeira em Colônia, costumava matar pacientes sob seus cuidados,
envenenando-os com um medicamento antipsicótico. A polícia acredita que ela
tenha matado 17 pessoas entre 1984 e 1992 e tentado matar outras 18; Ela foi
condenada pela morte de sete pessoas. Ela nunca confessou nenhum dos crimes.
Desde 1993, Nölle cumpre sentença de prisão perpétua.
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O assassino da autobahn
O
caminhoneiro Volker Eckert matou pelo menos 9 mulheres, a maioria entre 2001 e
2006. De acordo com a polícia, provavelmente matou outras quatro. Sua primeira
vítima foi uma colega de classe que ele estrangulou aos 15 anos de idade. A
maioria das vítimas eram prostitutas. Ele costumava guardava tufos de cabelo
das vítimas. Eckert se enforcou na cela durante seu julgamento em 2007.
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Anjo da morte
Stephan
Letter, um ex-enfermeiro, foi responsável pela morte de pelo menos 29 pacientes
por injeção letal em um hospital da Baviera entre 2003 e 2004. Ele confessou
algumas das mortes, insistindo que tentou aliviar o sofrimento dos pacientes.
Letter cumpre prisão perpétua e até recentemente seus atos foram descritos como
a pior onda de assassinatos na Alemanha desde a 2ª Guerra.
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O enfermeiro que injetava drogas
A fim
de impressionar os colegas com sua capacidade de salvar vidas, Niels Högel
injetou medicamentos cardiovasculares em pacientes para induzir insuficiência
cardíaca ou colapso circulatório. Ele foi condenado à prisão perpétua em 2015
pela morte de duas pessoas. Mas acredita-se que ele tenha sido responsável por
mais 100 mortes.
Fonte:
DW Brasil

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