quarta-feira, 16 de abril de 2025

César Fonseca: Capitalismo em chamas - protecionismo provoca deflação na China e hiperinflação nos EUA

Ninguém ganha com protecionismo nacionalista predatório trumpista, diz o líder da China, Xi Jinping

As duas economias mais fortes, China e Estados Unidos, têm encontro marcado com perigo de debacle se a guerra tarifária continua.

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De um lado, a China, que trabalha com moeda desvalorizada para dominar mercado mundial, fica sem onde desovar suas mercadorias baratas, diante da taria americana de 125%.

Vai sobrar produto chinês na praça.

O resultado é queda dos preços dos produtos industrializados da China.

Os estoques já se acumulam no Porto de Xangai e as empresas, desesperadas, com o excesso de oferta planejam redução da produção e anunciam desemprego.

Deflação é o nome desse fenômeno de oferta superior à demanda.

Para fugir da deflação e da queda da taxa de lucro que o processo deflacionário provoca, o jeito é reduzir nível de atividades.

Torna-se necessário produzir a escassez da oferta em relação à demanda para que os preços aumentem e recuperem taxa de lucro cadente.

Como diz Stuart Mill, o capitalismo é a economia da escassez para elevar preços e lucros.

Se isso não ocorre, os empresários reduzem a produção e demitem trabalhadores.

A saída do governo chinês é fortalecer o mercado interno com valorização relativa do poder de compra para consumir a produção excedente.

Para alcançar esse objetivo, a China elevaria a oferta monetária que, aumentando produção e consumo, provoca, simultaneamente, quatro consequências:

1 – aumenta relativamente os preços;

2 - reduz relativamente os salários;

3 - diminui as taxas de juros e;

4 - perdoa dívidas dos empresários contraídas a prazo.

Aí haveria o aumento da eficiência marginal do capital(lucro) que elevaria a propensão empresarial aos investimentos.

Eis o clássico modelo keynesiano, que considera tal movimento possível a partir da única variável verdadeiramente independente no capitalismo que é o aumento da quantidade da oferta de moeda na circulação capitalista pelo poder estatal.

É o que Xi Jinping já vem fazendo no comando político do Estado, dos bancos públicos e do partido comunista, que toca economia com organização e planejamento, denominada economia do projetamento.

A guerra alfandegária desencadeada por Donald Trump bloqueará ou não o projeto de Xi Jinping de fazer a China crescer 5% em 2025?

NOVA TEORIA MONETÁRIA

A economia do projetamento coloca em marcha a moderna teoria monetária, acionada pelo novo modelo de pagamento em tecnologia blockchain, para que a China contorne os meios de pagamento pelo sistema SWIFT, diminuindo em mais de 90% o custo de transações internacionais, segundo o Le Monde.

Enquanto o SWIFT líquida pagamentos pelo prazo de 3 a 5 dias, nas transações econômicas e financeiras internacionais entre empresas e fornecedores, o modelo chinês reduz o tempo para 9 segundos.

Trata-se da moderna teoria monetária que considera infinita a capacidade de emissão de moeda nacional – o Renminbi Digital – pelo Estado sem provocar inflação ao lado da taxa de juro zero ou negativa que tal estratégia proporciona, favorecendo investimentos e competição produtiva.

DESVANTAGEM AMERICANA

De outro lado, a economia americana não tem bancos públicos que podem emprestar a juro zero a moeda emitida pelo Estado, no cenário da economia do projetamento em que as regras essenciais são planejamento e organização, sob comando do partido comunista.

Nos Estados Unidos, o privilégio de emitir é do Banco Central, controlado pela banca privada.

Não interessa aos bancos privados o juro zero ou abaixo de zero, para financiar a dívida pública, atualmente, de 37 trilhões de dólares.

Juro negativo para inflação americana anual variável de 3% a 6%, nos últimos três anos, é, do ponto de vista do mercado financeiro, no processo de financeirização da economia capitalista ocidental, caixão e vela preta para os investidores.

No cenário de crise aguda como a desencadeada pelo presidente Donald Trump com sua proposta protecionista inflacionária, a propensão pela liquidez vira atrativo irresistível.

Isso provoca corrida contra os títulos da dívida pública, produzindo perigo de hiperinflação.

A valorização das ações entra em colapso ao mesmo tempo que ocorre fuga da moeda americana.

DESDOLARIZAÇÃO SE ACELERA

Ganha força a desdolarização, maior receio de Trump e da elite financeira americana.

A hegemonia monetária dos Estados Unidos iria para o brejo.

Abriria espaço para novo sistema monetário com valorização do yuan e de outras moedas, viabilizando relações de trocas entre moedas nacionais mediante novo modelo de pagamento, alternativo ao SWIFT controlado pelos Estados Unidos.

Entra em cena o RENMIMBI DIGITAL DE LIQUIDAÇÃO INSTANTÂNEA, já colocado em prática em mais de 30 países na Ásia e 15 no Oriente Médio.

O mundo entraria em novo sistema internacional no qual vigorariam outras moedas fortes ancoradas em riquezas reais e não em riquezas fictícias.

Desmoronaria, consequentemente, a financeirização especulativa bancada pelo dólar carente de lastro real.

As incertezas entrariam em cena com a convivência eventualmente explosiva de deflação chinês, de um lado, e hiperinflação americana, de outro.

O capitalismo entraria em chamas com essas duas possibilidades incompatíveis entre si que levariam a economia a uma era de bancarrota geral.

O sistema pode ou não entrar em colapso, abrindo espaço ao debate ideológico quanto a um novo modo de produção alternativo ao capitalista?

¨      Comércio exterior da China mantem crescimento estável apesar das interrupções causadas pelas tarifas dos EUA

O comércio exterior de bens da China no primeiro trimestre de 2025 cresceu 1,3% em relação ao ano anterior, atingindo 10,3 trilhões de yuans (US$ 1,41 trilhão), ultrapassando 10 trilhões de yuans por oito trimestres consecutivos e marcando um início de ano estável, à medida que várias políticas de apoio continuam a entrar em vigor, mostraram dados oficiais na segunda-feira.

Entre janeiro e março, as exportações do país cresceram 6,9% em relação ao ano anterior, totalizando 6,13 trilhões de yuans, enquanto as importações diminuíram 6% em relação ao ano anterior, para 4,17 trilhões de yuans, de acordo com dados divulgados pela Administração Geral das Alfândegas (GAC).

Analistas chineses disseram que o crescimento estável do comércio exterior pode fornecer forte suporte para o crescimento econômico no primeiro trimestre, ao mesmo tempo em que observam que o setor de exportações chinês tem confiança suficiente para se preparar para o caos e as interrupções das políticas tarifárias dos EUA por meio de esforços focados na expansão de novos mercados e no aprimoramento da cooperação com parceiros para proteger o sistema de comércio multilateral.

<><> Progresso sob pressão

Apesar dos crescentes desafios externos, localidades, agências governamentais e empresas voltadas para a exportação responderam ativamente, garantindo um início estável para o comércio exterior da China no primeiro trimestre, disse o vice-chefe do GAC, Wang Lingjun, em uma coletiva de imprensa na segunda-feira.

No trimestre, o volume de importação e exportação da China atingiu um novo recorde em comparação com o mesmo período dos anos anteriores.

No período, o comércio com os países parceiros da Iniciativa Cinturão e Rota (BRI) cresceu 2,2%, mais rápido do que o comércio exterior geral e respondendo por 51,1% do comércio exterior total da China, mostraram dados oficiais.

O comércio com a ASEAN atingiu 1,71 trilhão de yuans, um aumento de 7,1% ano a ano, mostraram dados do GAC.

Em termos denominados em dólares, as exportações em março aumentaram 12,4% ano a ano, uma alta de cinco meses, mostraram dados oficiais. Superou facilmente o crescimento de 4,4% esperado em uma pesquisa com economistas, de acordo com a Reuters.

Zhang Jianping, vice-diretor do comitê acadêmico da Academia Chinesa de Comércio Internacional e Cooperação Econômica, afirmou ao Global Times na segunda-feira que crescimento e estabilidade são as palavras-chave para descrever o comércio exterior do primeiro trimestre, já que o setor de comércio exterior da China respondeu com sua escala e competitividade, trazendo uma recuperação constante nos mercados globais em meio à melhora das expectativas durante o trimestre.

Com o crescimento constante das exportações e a queda no valor das importações, espera-se que o comércio exterior do primeiro trimestre tenha um impacto notavelmente positivo no crescimento do PIB do primeiro trimestre, disse Zhang.

Chen Fengying, pesquisador do Instituto de Relações Internacionais Contemporâneas da China, sediado em Pequim, disse ao Global Times na segunda-feira que os exportadores apressaram os embarques em março, antecipando a deterioração do cenário do comércio global após a imposição de tarifas pelos EUA, o que em parte sustentou o crescimento do comércio exterior no trimestre.

Os destaques do trimestre incluem importações e exportações de produtos eletromecânicos, exportações de eletrodomésticos, laptops e componentes eletrônicos, bem como produtos de marcas nacionais com margens de lucro mais altas, de acordo com a GAC.

Vários fatores resultaram no declínio do valor das importações durante o trimestre, que diminuiu 6% em relação ao ano anterior, para 4,17 trilhões de yuans.

Os preços internacionais das commodities a granel caíram no período, com os preços médios de importação de minério de ferro e carvão caindo mais de 20%, e os de petróleo bruto e soja caindo 5,7% e 16,6%. Esses fatores de preço afetaram as taxas gerais de crescimento das importações em 2,6 pontos percentuais, de acordo com o porta-voz da GAC, Lü Daliang.

<><> “O céu não vai cair”

A antecipação de exportações ocorreu em meio ao aumento das tarifas dos EUA, que dispararam para 145% em abril, ante 20% no primeiro trimestre. A China respondeu aplicando uma tarifa de 125% sobre produtos americanos.

Isso prejudicou a perspectiva de crescimento do comércio global, com a OMC alertando que a disputa comercial poderia reduzir o embarque de mercadorias entre as duas maiores economias do mundo em até 80%.

Apesar de um ambiente externo complexo e desafiador, Lü, da GAC, disse na segunda-feira que “o céu não vai cair” para as exportações da China, destacando a confiança no comércio exterior chinês.

Nos últimos anos, a China fez progressos constantes na diversificação de seus mercados de comércio exterior e no aprofundamento da cooperação industrial e da cadeia de suprimentos com parceiros ao redor do mundo, de acordo com Lü, acrescentando que esses esforços “não apenas apoiaram o desenvolvimento de nossos parceiros, mas também aumentaram nossa própria resiliência”.

Zhang afirmou que a China conseguirá lidar com o caos no comércio global nos próximos meses com sua forte capacidade de produção, coordenação eficiente nas cadeias de suprimentos globais, capacidades complementares a montante e a jusante e competitividade global em constante crescimento.

Zhang espera que o país intensifique ainda mais sua cooperação global com países parceiros com base na BRI, integração regional como a Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP) e parceiros de livre comércio em todo o mundo, proporcionando uma proteção contra qualquer impacto das tarifas americanas. “Trata-se de um arranjo multifacetado que não pode ser superado pelo ‘jogo de números’ das tarifas americanas.”

As tarifas terão um grande impacto no comércio existente entre a China e os EUA nos próximos meses, mas não o eliminarão completamente, e haverá novos mercados alternativos explorados para preencher o vazio deixado pelo mercado americano, “portanto, as perspectivas para o comércio exterior da China não serão tão ruins quanto alguns descreveram”, disse Chen, acrescentando que os países que acreditam no sistema multilateral de comércio podem fortalecer sua cooperação diante do unilateralismo e do protecionismo dos EUA.

O vice-chefe do GAC, Wang, afirmou que a China e a UE compartilham amplos interesses comuns e oportunidades significativas de cooperação em muitas áreas, já que as duas juntas representam mais de um terço da economia global e são defensoras da globalização econômica e da liberalização do comércio, além de firmes apoiadores e defensores da OMC.

Em um desenvolvimento separado, equipes técnicas chinesas e da UE iniciaram negociações sobre compromissos de preços para veículos elétricos, informou Yuyuantantian, uma conta de mídia social afiliada ao China Media Group, no domingo.

Respondendo a uma pergunta sobre as repetidas mudanças nas políticas tarifárias dos EUA, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, afirmou em uma coletiva de imprensa regular na segunda-feira que os fatos demonstraram e continuarão a demonstrar que não há vencedores em uma guerra comercial e que o protecionismo não levará a lugar nenhum. O tsunami tarifário prejudica os próprios EUA, bem como outros países. Instamos os EUA a abandonarem a pressão máxima e a resolverem as questões por meio do diálogo, com base na igualdade, no respeito e no benefício mútuo.

Além disso, a resposta da China aos atos unilaterais de intimidação dos EUA também conta com o apoio de indústrias, comerciantes e cidadãos comuns.

Ren Xiaoqiao, comerciante de móveis e acessórios em Yiwu, província de Zhejiang, no leste da China, e centro mundial de pequenas commodities, disse ao Global Times na segunda-feira que a intimidação comercial dos EUA foi recebida com indignação generalizada e que ele prefere abrir mão do mercado americano por enquanto a aceitar tarifas exorbitantes. “Existem outros mercados, podemos superar a tempestade.”

Mesmo com as ameaças de tarifas dos EUA durante o trimestre e o aumento da incerteza na cadeia de suprimentos global, a China continuou a desempenhar o papel de âncora de estabilidade para o comércio global, segundo analistas.

Segundo a GAC, durante o trimestre, as importações de aves dos mercados da BRI aumentaram 32,9%, e as importações de frutas e vegetais secos e frescos aumentaram 8,5%.

Lü, da GAC, enfatizou que o vasto mercado interno da China continua sendo um forte apoio para a economia, acrescentando que o país transformará a segurança interna em um amortecedor contra a volatilidade global.

¨      China proíbe entrega de jatos da Boeing em reação ao tarifaço dos EUA

A China ordenou que suas companhias aéreas não recebam mais entregas de jatos da Boeing em resposta à decisão dos Estados Unidos de impor tarifas de 145% sobre produtos chineses, noticiou a Bloomberg News nesta terça-feira (15).

Pequim pediu ainda que as transportadoras chinesas suspendam as compras de equipamentos e peças de aeronaves de empresas americanas, segundo a reportagem, o que deve aumentar os custos de manutenção dos jatos que voam no país.

O governo chinês também está considerando maneiras de ajudar as companhias aéreas que alugam jatos da Boeing e estão enfrentando custos mais altos devido ao tarifaço, ainda conforme a Bloomberg.

As ações da Boeing — que vê a China como um dos seus maiores mercados em crescimento e onde a rival Airbus detém uma posição dominante — caíram 3% no pré-mercado de hoje. As ações da Airbus subiram 1%.

As três principais companhias aéreas da China — Air China, China Eastern Airlines e China Southern Airlines — planejavam receber 45, 53 e 81 aviões da Boeing , respectivamente, até 2027.

Agora, a interrupção representa mais um revés para a fabricante de aviões, que ainda se recupera de uma greve trabalhista no ano passado. A empresa também perdeu mais um terço de seu valor desde a explosão da porta de uma aeronave durante um voo em janeiro.

A Boeing não respondeu imediatamente a um pedido de comentário da Reuters.

<><> Guerra tarifária

A decisão da China sobre a Boeing está em linha com a sua decisão da semana passada de aumentar os impostos sobre as importações dos EUA para 125%, em retaliação às tarifas americanas.

A medida aumentaria significativamente o custo dos jatos da Boeing entregues às companhias aéreas chinesas, o que as levaria a considerar alternativas como a Airbus e a empresa doméstica COMAC, explicou a Reuters.

As crescentes tarifas retaliatórias entre as duas maiores economias do mundo correm o risco de paralisar o comércio de bens entre os dois países, segundo analistas, que foi avaliado em mais de US$ 650 bilhões em 2024.

 

Fonte: Brasil 247/Global Times/g1

 

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