segunda-feira, 14 de abril de 2025

Militares fizeram vítimas antes mesmo do Golpe de 64, aponta relatório

Homens jovens, estudantes e moradores das capitais São Paulo e Rio de Janeiro compõem o perfil predominante das vítimas oficialmente reconhecidas da ditadura militar brasileira, segundo levantamento divulgado pelo Observatório Nacional dos Direitos Humanos (ObservaDH), vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.

A análise tem como base os dados da Comissão Nacional da Verdade (CNV), que reconheceu 434 pessoas como mortas ou desaparecidas pelo Estado brasileiro entre 1946 e 1988. 

Especialistas ouvidos pela Folha de S.Paulo, no entanto, alertam que o número real de vítimas é provavelmente muito maior — e que o retrato atual tende a invisibilizar o impacto da repressão sobre outros grupos sociais.

O período mais violento identificado foi entre 1969 e 1978, auge do regime após a decretação do Ato Institucional nº 5 (AI-5), com 351 mortos e desaparecidos. Mas o estudo também aponta episódios de violência anteriores ao golpe de 1964, indicando que a perseguição política já existia.

Mesmo nos últimos anos do regime, entre 1979 e 1985, quando o país se encaminhava para a abertura política, foram registradas 20 mortes, o que demonstra a persistência da repressão até o fim do ciclo autoritário.

·        O relatório

Segundo o ObservaDH, 82,5% das vítimas estavam vinculadas a organizações políticas. Os filiados a partidos representavam 37,3% do total; sindicalistas, 4,1%; já os que não tinham filiação somavam 17,5%.

A maioria das vítimas era formada por estudantes (140), seguidos de operários (57) e trabalhadores rurais (30). Jornalistas e professores aparecem com 28 vítimas cada.

A média de idade das pessoas mortas ou desaparecidas era de 32,8 anos — 77,4% tinham entre 18 e 44 anos. O levantamento ainda revela cinco vítimas com idades entre 12 e 17 anos, além de uma criança com menos de um ano.

As mulheres representaram 11,8% do total (51 vítimas), número pequeno, mas que cresceu proporcionalmente no fim do regime. Entre 1979 e 1985, elas chegaram a representar 35% das mortes. O estudo aponta ainda que 68,7% das mulheres mortas tinham até 29 anos — entre os homens, essa faixa etária respondia por 48,3%.

A repressão também teve forte concentração geográfica. A maioria das mortes ocorreu em capitais, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro, que somam 47,2% dos casos. Pará, Maranhão e Tocantins aparecem em terceiro lugar, com 70 vítimas, em razão da Guerrilha do Araguaia. Crimes também foram registrados fora do país, em países como Chile e Argentina.

·        Análises

Apesar da importância dos dados, historiadores alertam para as limitações do levantamento. À Folha, Gabrielle Abreu, historiadora e gerente de memória no Instituto Marielle Franco, diz que os números refletem um "equívoco metodológico" da CNV, que acabou focando em um perfil específico de vítimas — em detrimento de outros grupos atingidos, como indígenas, negros e moradores das periferias.

A Comissão chegou a reconhecer mais de 8 mil mortes de indígenas, mas essas não foram incluídas no total oficial. “Isso é um paradoxo”, afirma à Folha Lucas Pedretti, coordenador da Coalizão Brasil por Memória, Verdade, Justiça, Reparação e Democracia.

Ele destaca que o reconhecimento público de uma vítima depende de múltiplos fatores sociais — nem todos os atingidos pela repressão foram documentados como tal.

Pedretti lembra ainda do papel letal do Esquadrão da Morte nas periferias, grupo paramilitar que executava pessoas, muitas vezes negras, sob pretexto de combate ao crime. “Ser alvo de violência e ser reconhecido como vítima são coisas diferentes”, diz.

Em nota, o Ministério dos Direitos Humanos destacou que o estudo foi feito com base nos dados oficiais da CNV e reiterou o compromisso com a memória, a verdade e a justiça. A pasta também defendeu o aprofundamento das pesquisas, especialmente sobre vítimas indígenas e camponesas, ainda subnotificadas nos registros oficiais.

¨      O desfile de moda que denunciou a ditadura brasileira para o mundo

Um dos muitos usos da moda é a expressão política. Exemplo disso é a produção de Zuleika de Souza Netto, conhecida como Zuzu Angel. Durante a ditadura militar brasileira, a estilista utilizou suas peças para denunciar internacionalmente a repressão que ocorria no país.

Zuzu iniciou sua carreira na moda nos anos 1950. Ficou conhecida por fazer desfiles de suas peças nos Estados Unidos, levando cores e estampas inspiradas em Minas Gerais, na Bahia e no Rio de Janeiro, locais em que viveu. Produziu peças marcantes vestidas por artistas como Joan Crawford, Liza Minelli e Kim Novak.

Na virada dos anos 1960 para os anos 1970, porém, a estilista travou uma batalha contra o governo militar em busca do corpo de seu filho Stuart Angel, estudante de economia que foi dado como desaparecido. Ele fazia parte de organizações de esquerda que combatiam a ditadura no Brasil e foi preso em 14 de maio de 1971, torturado e morto.

Neste período, Zuzu criou uma coleção Moda Política com manchas vermelhas, pássaros engaiolados e estampas bélicas. Além disso, trazia anjos e itens das lembranças do filho. 

Em 1971, Zuzu realizou um desfile-protesto no consulado do Brasil em Nova York. O ato ganhou as manchetes dos jornais internacionais canadenses e americanos, denunciando a violência da ditadura contra uma mãe que queria o corpo do filho.

A estilista apelou a políticos importantes e celebridades, tanto brasileiras quanto americanas, em busca de Stuart. Em 1973, encontrou-se inclusive com o general Ernesto Geisel. O apelo dela foi parar no congresso americano, por meio do discurso do senador Edward Kennedy.

Uma vez, Zuzu ainda roubou o microfone de uma aeromoça enquanto pousava no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, para dizer aos passageiros do voo que "desceriam no Brasil, país que torturava e matava jovens estudantes".

O corpo de Stuart nunca foi encontrado. Em 1976, ainda em sua busca, Zuzu morrreu em um acidente de carro na Estrada da Gávea, no Rio de Janeiro. O carro que estava dirigindo derrapou na saída do túnel e saiu da pista. Em 2007, a Comissão Especial dos Desaparecidos Políticos ouviu duas testemunhas do acidente, que disseram ter visto o carro de Zuzu ser fechado por outro veículo e ser jogado para fora da pista. Antes do acidente, Zuzu deixou um bilhete onde informava que se fosse morta por assalto, acidente ou outras causas teria sido obra dos perseguidores do governo militar. 

Em 2019, a filha da estilista conseguiu emitir as certidões de óbito da mãe, Zuleika, e do irmão, Stuart. A morte de ambos foi atestada como "não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro, no contexto da perseguição sistêmica e generalizada à população identificada como opositora política ao regime ditatorial de 1964 a 1985".

¨      PF faz operação após relatório do FBI indica atos preparatórios de terrorismo na Paraíba

Um relatório do FBI, o Departamento Federal de Investigação dos Estados Unidos, levou a Polícia Federal brasileira a realizar uma operação contra o terrorismo em uma pequena cidade da Paraíba. Nesta sexta-feira, 11, agentes deflagaram a Operação Leviatã, em Pocinhos, município localizado na região metropolitana de Campina Grande.

O FBI notificou autoridades brasileiras depois de identificar comunicações sensíveis em fóruns e redes sociais, o que levou a PF a deflagrar a Operação Leviatã. Segundo a Polícia Federal, o objetivo é "reprimir atos preparatórios de terrorismo e incitação ao ódio praticados no ambiente digital".

As publicações analisadas demonstraram "predisposição do investigado para a prática de atos violentos" e "alinhamento com ideologias de intolerância", informou a PF.

Segundo a PF, a ação tem o objetivo de reprimir atos preparatórios de terrorismo e incitação ao ódio praticados no ambiente digital. Ninguém foi preso, mas foi cumprindo um mandado de busca e apreensão para a obtenção de provas para aprofundar a investigação e identificar possíveis coautores.

O relatório do FBI indicava a existência de comunicações contendo discursos de ódio e adesão a ideologias extremistas, com motivações raciais e étnicas. O conteúdo analisado revela a predisposição do investigado para a prática de atos violentos e reforça seu alinhamento com ideologias de intolerância.

A Polícia Federal informou ter apreendido celulares, mídias e dispositivos de armazenamento de dados. A autarquia também compartilhou imagens de peças de roupas que foram apreendidas: uma calça com estampa militar, uma boina, um suspensório, uma jaqueta e uma luva. Não foram dados maiores detalhes sobre a relação entre as peças e a atividade terrorista.

Ainda de acordo com a PF, a operação "tem como foco o combate ao extremismo violento e à propagação de ameaças contra a segurança nacional".

<><> Polícia Federal combate crimes de ódio, xenofobia e apologia ao nazismo em Novo Hamburgo

A Polícia Federal deflagrou em Novo Hamburgo a Operação Odium, com o objetivo de averiguar denúncia de perfil em rede social que estaria propagando discurso de ódio e apologia ao nazismo com ataques xenofóbicos.

A ação de hoje visa a impedir a continuidade das ações delitivas, assim como desarticular células extremistas ligadas às temáticas racista e neonazista voltadas à disseminação de discurso de ódio e atos violentos.

O investigado possui diversos indiciamentos na Policia Federal e na Polícia Civil, por crimes de racismo e apologia, demonstrando sua reiteração nesse tipo de crime.

As investigações tiveram início a partir de denúncia anônima recebida pela Ouvidoria da Polícia Federal, dando conta de que material impresso contendo discurso de ódio estaria sendo distribuído na cidade de Novo Hamburgo, além de cartazes com conteúdo racista e apologia ao nazismo.

 

Fonte: Aventuras na História/Correio Braziliense

 

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