segunda-feira, 14 de abril de 2025

'Hóstia de Juazeiro': 5 curiosidades sobre o primeiro milagre de Padre Cícero

Figura cultuada por muitos católicos brasileiros, o religioso Padre Cícero é considerado fundador e padroeiro da cidade cearense de Juazeiro do Norte, na região do Vale do Cariri.

Padim Ciço, como é carinhosamente apelidado pelos devotos, foi um dos protagonistas do chamado 'Milagre da Hóstia de Juazeiro', que posteriormente seria conhecido como o primeiro fenômeno religioso experienciado pelo padre.

Envolto em curiosidades e mistérios, a redação de Aventuras na História traz cinco fatos sobre o intrigante milagre que colocaria a cidade de Juazeiro do Norte no radar das tradições católicas nacionais. Confira a lista a seguir!

>>> 1. O Milagre

O ano era 1889, e Padre Cícero dirigia um grupo de devotas chamado "Apostolado da Oração", composto por cerca de 11 mulheres, na capela do então povoado de Juazeiro do Norte.

Em uma noite daquele ano, o líder religioso organizou uma vigília com o apostolado. Entre as discípulas de Padim Ciço, estava a beata Maria de Araújo, que protagonizaria o espantoso fenômeno.

Durante o ritual do grupo, no momento da eucaristia, um acontecimento chocante viria a marcar a história de Juazeiro: quando Maria recebeu a hóstia sagrada, viu o pequeno círculo de trigo se converter em sangue puro no momento em que tocou sua língua.

Desde então, o fenômeno repercutiu de tal maneira que viria, no futuro, a ser conhecido como o 'Primeiro Milagre de Padre Cícero', que — como dito anteriormente — foi quem ministrou a reveladora cerimônia.

>>> 2. Fundação

Inevitavelmente, a notícia do milagre da hóstia se espalhou em pouco tempo pelos quatro cantos do país. O jornalista José Marrocos, primo de Padre Cícero, teve papel fundamental na divulgação das excitantes boas novas.

Reza a lenda que Marrocos tornou-se devoto de Maria de Araújo imediatamente após tomar conhecimento do fenômeno. Redator do Jornal do Comércio, no Rio de Janeiro, foi ele quem disseminou nas terras cariocas, e em tantos outros jornais do país, a proeza da beata.

Logo, religiosos de diversas partes do país passaram a organizar romarias e expedições para visitá-la em Juazeiro, atrás de sua bênção.

>>> 3. Padre Cícero

Cícero Romão Batista nasceu em 24 de março de 1844, na região do Crato: o sertão cearense. Filho de um comerciante e uma dona de casa muito religiosa, viria a ser ordenado padre em novembro de 1870. Entretanto, o próprio Padim Ciço já havia firmado um pacto de castidade muitos anos antes, quando tinha apenas 12 anos, em meados de 1856.

Pouco tempo após sua ordenação, em abril de 1872, fora designado pároco da capela do povoado de Juazeiro, local onde testemunharia a prova sagrada de Maria de Araújo.

Padre Cícero também teve um importante papel na chamada 'Guerra de Juazeiro'. Tendo sido eleito o primeiro prefeito da cidade após sua emancipação em 1911, uniu forças ao cangaço para expulsar da região as tropas do general Franco Rebelo, no ano de 1914. Há, inclusive, registros de que Padim Ciço conheceu Lampião.

O líder religioso morreu em 20 de julho de 1934, aos 90 anos.

>>> 4. Maria de Araújo

Maria de Araújo era uma mulher negra, filha provavelmente de pessoas forras. Ela nasceu em 1862, já liberta. Veio de uma família pobre, com muitos irmãos, e se dedicava a lavar roupas, trabalhando como lavadeira e costureira.

Até seus 27 anos — à época em que se tomou conhecimento do milagre — Maria era uma mulher simples e dedicada à vida religiosa. Entrou no apostolado de Padim Ciçovisando se tornar freira, apesar do privilégio ser reservado às mulheres brancas da elite social; por isso não conseguiu alcançar a meta.

A beata carregava consigo evidentes sinais de santidade. Quando ela foi visitada pelos padres Glicério da Costa Lobo e Francisco Ferreira Antero, descobriu-se que Maria carregava os estigmas de Cristo nos pés, nas mãos e na testa.

Além disso, há registros que afirmam que a beata tinha visões e fazia "viagens espirituais" com Jesus, explica a historiadora Dia Nobre, autora de "Incêndios da Alma". Em uma dessas experiências, teria se casado com Cristo, na presença de Maria e São José.

"Ela conversava com ele. (...) Aos 18 anos, ela conta que casou com Cristo numa cerimônia realizada na capela de Nossa Senhora das Dores. E na cerimônia estavam São José, Maria e vários anjos", explicou Nobre em entrevista à AH.

>>> 5. Polêmicas

A história do 'Milagre de Juazeiro' não conseguiu se ver livre de polêmicas. Dom Antônio Joaquim Vieira, bispo da diocese do Crato à época do fenômeno, defendia a tese de que Maria de Araújo era uma falsária, e enviou o padre Alexandrino de Alencar para desmascarar o 'falso milagre', relembra Dia Nobre.

O que torna a situação ainda mais delicada é que romarias anteriores, organizadas por padres da própria diocese, comprovaram a santidade de Maria com um corpo médico. Entretanto, sob ordens de Dom Antônio, o padre Alexandrino escreveu um relatório, no qual afirmava que Maria era uma embusteira.

A polêmica resultou em uma perseguição intensa da Igreja Católica à beata, que foi forçada a passar os últimos anos de sua vida confinada em uma casa de caridade.

Maria morreu em 17 de janeiro de 1914, e foi inicialmente enterrada na região do Vale do Cariri. Entretanto, o túmulo foi saqueado algum tempo após o enterro, e seu corpo sumiu repentinamente. O paradeiro do cadáver de Maria de Araújo é um mistério até hoje.

•        Os manuscritos romanos que podem conter evidências da crucificação de Jesus

Os "Anais" de Tácito estão entre as mais importantes fontes históricas não cristãs que mencionam a crucificação de Jesus Cristo e a perseguição aos seus seguidores no Império Romano.

Tácito, cujo nome completo era Públio Cornélio Tácito, viveu entre aproximadamente 56 d.C. e 120 d.C. e se baseou em registros oficiais, atas do Senado e relatos diretos para compilar sua obra, conhecida por sua perspectiva crítica — e por vezes cínico — da política romana, não poupando críticas a imperadores corruptos e tirânicos.

Escrito por volta de 116 d.C., os "Anais" fornecem um relato detalhado da repressão promovida pelo imperador Nero contra os cristãos, especialmente após o Grande Incêndio de Roma, em 64 d.C.

Esse evento devastador, que destruiu grande parte da cidade, alimentou suspeitas de que o próprio imperador fosse o responsável. Para desviar as acusações, o ele teria escolhido os cristãos como bode expiatório, submetendo-os a torturas e execuções públicas — entre elas, crucificações, fogueiras e ataques por feras no Coliseu.

Segundo Tácito, "Nero atribuiu a culpa e infligiu as mais requintadas torturas a uma classe odiada por suas abominações, chamados cristãos pelo povo". O historiador ainda descreve cenas em que os presos eram crucificados em jardins suntuosos, transformados em espetáculo no circo.

Em outro trecho, ele narra como o imperador se disfarçava de cocheiro, misturando-se ao povo, como se assistisse, encantado, aos jogos cruéis que se desenrolavam.

<><> Crucificação

De acordo com a narrativa bíblica, há 2.025 anos nasceu um menino chamado Jesus em uma cidade pouco conhecida nos limites do Império Romano, vindo a ser executado aos 33 anos. Embora a maioria dos estudiosos concorde que ele foi uma figura histórica real, há intensos debates quanto a sua divindade.

Seus ensinamentos sobre amor e perdão, somados à sua morte violenta, inspiraram seus seguidores a consolidar uma nova fé que evoluiria para o cristianismo. No Livro 15 dos "Anais", Tácito menciona que os cristãos derivaram seu nome de "Cristo", que fora condenado à morte por ordem de Pôncio Pilatos durante o governo de Tibério.

"Christus, de quem o nome se originou, sofreu a pena máxima durante o reinado de Tibério, nas mãos de um de nossos procuradores, Pôncio Pilatos", diz o trecho. No caso, "Christus", a versão latina de "Cristo", significa "o Ungido" ou "o Messias" e tem origem na palavra hebraica Mashiach (Messias).

Diferente dos relatos bíblicos, que abordam a crucificação sob uma perspectiva teológica, o testemunho de Tácito se insere no contexto da administração romana e da política imperial, reforçando a historicidade do evento.

A menção a Pilatos também é corroborada por outras fontes, como os escritos de Flávio Josefo e uma inscrição encontrada em Cesareia Marítima, em Israel, que confirma a existência do governador romano na Judeia.

"Agora, havia por essa época Jesus, um homem sábio, se é lícito chamá-lo de homem. Pois ele realizou feitos maravilhosos, um mestre para aqueles que recebem a verdade com prazer", escreveu Josefo, que viveu entre 37 e cerca de 100 d.C., na obra “Antiguidades Judaicas”.

"Pilatos o condenou à crucificação e à morte. Mas aqueles que se tornaram seus discípulos não abandonaram seu discipulado. Eles relataram que ele lhes apareceu três dias após a crucificação e que estava vivo. Portanto, talvez ele fosse o Messias, sobre quem os profetas narraram maravilhas", acrescentou.

<><> Cristianismo

Conforme afirma o site Daily Mail, a hostilidade de Tácito em relação ao cristianismo é evidente em sua descrição dos fiéis como "odiados por seus crimes" e adeptos de uma "superstição perversa".

Esse tom pejorativo sugere que, aos olhos da elite romana, os cristãos eram vistos com desconfiança, não apenas por suas crenças, mas também por recusarem os cultos oficiais do Império, o que os tornava socialmente marginalizados.

No entanto, justamente essa visão crítica reforça a credibilidade do relato, já que Tácito não tinha interesse em promover a nova religião. Seu testemunho corrobora outros registros da época e sugere que, mesmo diante de perseguições brutais, o cristianismo não foi erradicado, mas cresceu e se consolidou, tornando-se uma força transformadora dentro do Império Romano.

O relato de Tácito nos "Anais" também se insere em um contexto mais amplo da relação entre Roma e as minorias religiosas. Ao longo do século 1, a política imperial oscilou entre tolerância e repressão, com os cristãos frequentemente confundidos com os judeus e vistos como uma ameaça à estabilidade do Estado.

A perseguição narrada pelo historiador prenunciava outras ondas de violência, como as promovidas por Domiciano e Diocleciano, antes da conversão de Constantino e a oficialização do cristianismo no século 4.

Assim, o trecho dos "Anais" não apenas confirma a repressão aos cristãos no período neroniano, mas também evidencia como sua fé resistiu e, paradoxalmente, se fortaleceu, influenciando os rumos da história ocidental.

 

Fonte: Aventura na História

 

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