quinta-feira, 24 de abril de 2025

Fascismo bolsonarista: O que está em jogo com o avanço da PL da Anistia?

Esse requerimento impõe que o PL da Anistia aos bolsonaristas envolvidos no atentado golpista do 8 de Janeiro não precise passar pelo longo processo de discussão nas Comissões da Câmara e possa ser colocado em votação no curto prazo. Algo que não depende só das assinaturas dos deputados favoráveis ao requerimento, que já atingiram o mínimo necessário, mas também da correlação de forças dentro do Congresso e da vontade do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos).

Eram necessárias 257 assinaturas, mas o PL conseguiu angariar 262 assinaturas individuais. Dessas, 146 foram de deputados de partidos da base do governo. União Brasil, PP, Republicanos, PSD e MDB foram, respectivamente, os partidos que entregaram mais assinaturas ao requerimento, atrás apenas do PL, da oposição. Isso representa um choque de interesses do governo Lula com a sua base aliada, que já não vinha de uma relação tranquila, colocando um desafio ainda maior para o PT.

E trata-se de uma mudança importante da postura dos deputados em relação ao PL da Anistia. Até alguns dias atrás parecia improvável que ele pudesse ser pautado. Mas essa mudança não vem do nada, está inscrita nas interrogantes que se abriram no último período sobre os rumos do governo Lula e do regime. A abrupta queda de popularidade do governo, com a própria figura de Lula dando sinais de desgaste político, fruto da insatisfação popular com o preço dos alimentos, o trabalho precário e a qualidade dos serviços públicos, somado ao retorno de Trump à presidência dos EUA, tem permitido às forças reacionárias da Frente Ampla mostrarem sua verdadeira face.

Uma semana após o ato pela Anistia convocado por Bolsonaro e Silas Malafaia, que mobilizou uma base fiel ao ex-presidente enquanto liderança da extrema direita, apesar da sua inelegibilidade, esses partidos da Frente Ampla já se movimentaram para dialogar com o bolsonarismo. O que expressa na composição regional das assinaturas, deputados do Centro-Oeste e do Sul deram a maior parte das assinaturas, em contraste com deputados do Nordeste, onde Lula tem maior apoio.

Depois de ceder verbas bilionárias de emendas parlamentares, uma série de ministérios, o governo não está conseguindo colocar em pauta medidas que possam melhorar a sua imagem na população e com sua própria base eleitoral - a isenção de imposto de renda para quem ganha até R$5.000,00, por exemplo. Agora, vai ter que brigar para conter esse contra-ataque do bolsonarismo, que busca sair da defensiva com o PL da Anistia. Só as assinaturas que eles conseguiram já representam um respiro importante diante de toda a pressão jurídica que vem passando. E o governo fica em uma espécie de sinuca de bico, porque não é tão fácil para ele, nesse momento, retaliar os partidos da sua base, retirando emendas, ministérios, como se esperaria, porque vai dificultar ainda mais a articulação das propostas do governo.

É importante extrair algumas conclusões disso tudo que está acontecendo. A primeira e mais óbvia é que a Frente Ampla não serve de contenção da extrema direita e abre caminho para que ela ganhe peso no cenário político. A segunda diz respeito ao ator político que tem sustentado essa frente: o poder judiciário, em particular o STF.

**Só com a luta e a mobilização vamos derrotar o golpismo militar, levando junto todos os ajustes neoliberais**

Já tratamos em outras análises o caráter político do julgamento dos envolvidos nos atos golpistas do 8 de Janeiro, assim como de Bolsonaro e dos generais mais alinhados ao ex-presidente, cujo objetivo passa longe de um suposto combate à extrema direita. Trata-se de uma tentativa de escantear a sua ala mais disruptiva, que desestabiliza as instituições do regime degradado pelo golpe de 2016, para abrir espaço para que a extrema direita renove sua representação a partir de figuras como Tarcísio de Freitas.

Ou seja, para que a extrema direta possa seguir se consolidando como uma força social permanente, com toda a sua ideologia anti-operária, misógina, racista, agente da radicalização dos ataques aos direitos dos trabalhadores, das privatizações e do incremento da repressão estatal, que se reflete na crescente onda de violência policial contra a juventude negra nas periferias. E se propõe a implementar essa política seguindo as “regras do jogo” do regime pós golpe, aceitando o papel do judiciário, do STF, como poder arbitrário, bonapartista, garantidor da estabilidade da agenda de reformas neoliberais. Em síntese, podemos dizer que na defesa do programa econômico, do projeto de país da extrema-direita, o STF tem se mostrado um aliado fiel.

Prova disso foi dada essa semana quando o ministro do STF, Gilmar Mendes, suspendeu os processos que denunciam a pejotização e garante que não haja vínculo trabalhista nesses casos, que são uma verdadeira fraude patronal para não pagar direitos trabalhistas mínimos. E em todo o processo contra os golpistas do 8J é a legitimidade do STF como poder bonapartista que está em jogo, que se agora se volta contra uma fração da extrema direita, em benefício de outra, e se prepara para voltar-se com intensidade muito maior contra a esquerda, as lutas dos trabalhadores e dos movimentos sociais. A decisão do STF de mandar o mandante do assassinato de Marielle Franco, o deputado Domingos Brazão, para regime domiciliar, enquanto todo o Centrão luta pelo seu perdão e tenta cassar de maneira autoritária o mandato de Glauber Braga (PSOL), é uma retrato recente disso.

Voltando ao julgamento dos atos golpistas, o que eles colocam para o bolsonarismo, frente a todo caráter arbitrário do julgamento, é a possibilidade de tentar se defender em base a um discurso de “vítima” do sistema, de perseguidos, mantendo uma certa coesão das bases sociais que o apoiam. Depois de 2 anos em uma posição defensiva, o bolsonarismo aproveita a debilidade do governo Lula e as contradições do STF para tentar uma melhor posição, angariando assinaturas da própria Frente Ampla para seu projeto de anistia, que por si só já representa um respiro. Caso seja de fato colocado em votação, ou até mesmo passe na Câmara, quem sabe no Senado - que é mais difícil, mas não impossível - cria-se um cabo de guerra maior com o STF, que terá que decidir se o PL da Anistia é constitucional ou não, um desgaste que os ministros do supremo não querem ter nesse momento.

Além disso, caso avance o PL da Anistia, a própria inelegibilidade de Bolsonaro volta a ser uma questão. Não está claro se poderá ou não abrir margem para que o ex-presidente volte a concorrer, até porque depende do andar do julgamento contra ele e os seus generais no STF, e o mais provável é que isso não mude. Mas se aprovado o PL da Anistia, mesmo com a condenação de Bolsonaro, ele poderá ser anistiado? Poderá recuperar os seus direitos políticos? São dúvidas que começam a surgir.

O que queremos mostrar é que o STF não pode derrotar a extrema-direita e nem mesmo é aliado na luta contra a anistia à cúpula golpista militar e civil do 8 de Janeiro. O amplo rechaço ao projeto do bolsonarismo de impor um novo regime ditatorial, baseado no bonapartismo dos militares, recuperando a memória dos torturadores e assassinos que governaram o país em 1964, não será contemplado pelo projeto bonapartista calcado no poder judiciário. Um poder que abriu caminho para a extrema direita e toda a agenda neoliberal, avalizando o golpe de 2016, prendendo Lula arbitrariamente em 2018, que facilitou a vitória eleitoral de Bolsonaro apesar de ser o “filho indesejado” desse golpe. E que agora está se aproveitando do rechaço massivo a Bolsonaro e seu projeto para fortalecer os seus próprios poderes de árbitro político e tentando criar condições para uma renovação da extrema direita.

O único caminho que pode de fato fazer valer o grito “Sem anistia!” que ecoou após o 8 de Janeiro é o da organização da força dos trabalhadores junto aos movimentos sociais em um movimento independente e de combate a todas as instituições desse regime degradado. Dos militares, todos eles, não apenas a ala mais próxima de Bolsonaro, devolvendo os torturadores para a lata de lixo da história.

O que significa se apoiar em cada greve em curso no país, que começam a ganhar fôlego se enfrentando com arrocho salarial e ajustes impostos pelos governos, assim como na luta dos povos indígenas e demais movimentos sociais, para retomar uma luta inacabada do período de transição da ditadura. Um período que, com a anistia ampla, geral e irrestrita, garantiu que os generais assassinos estejam até hoje em grande parte impunes pelas suas atrocidades, morrendo de velhinhos, enquanto milhares de famílias das vítimas da ditadura seguem sem o direito à memória e justiça.

Portanto é necessário também combater a paralisia das burocracias sindicais e dos movimentos, dirigidas principalmente pelo PT, exigindo que rompam com a sua subordinação ao governo de Lula-Alckmin que freia e divide as lutas dos trabalhadores para salvar os acordos do PT com a direita. E para isso, construir uma verdadeira oposição de esquerda ao governo Lula, que tenha como base o fortalecimento de cada uma das lutas em curso e com um programa de rechaço ao Arcabouço Fiscal, à escala 6x1, junto à revogação das reformas trabalhista e da previdência e pela redução da jornada de trabalho para 30h sem redução salarial, para dar um basta na precarização do trabalho e no desemprego.

O impacto do filme Ainda Estou Aqui em novas gerações deve servir de ponto de apoio para retomar esse combate hoje, combatendo todas as instituições desse regime que desde 1988 mantêm o dispositivo militar em banho maria. Em especial o bonapartismo do STF, que ainda que esteja pela primeira vez colocando generais no banco dos réus, trata-se de uma forma de garantir a impunidade à instituição militar, às Forças Armadas, que estava toda comprometida com a sustentação de Bolsonaro. O STF jamais irá ferir a legitimidade dessa força especial que é a última salvaguarda da “democracia” burguesa e da sua propriedade privada.

A possibilidade do STF levar a cabo o julgamento de Bolsonaro e desses generais é parte do seu esforço de canalizar o rechaço à extrema-direita para uma saída política que preserve todo seu projeto de país. E que por isso o combate à anistia precisa partir de uma mobilização independente que ataque o conjunto das reformas neoliberais junto aos novos ataques do governo Lula-Alckmin.

•        Moraes detona projeto que perdoa golpistas do 8/1: 'se um grupo armado ingressasse na sua casa você pediria anistia?'

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), se manifestou nesta terça-feira (22) contra a concessão de anistia para os condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro.

A declaração do ministro foi feita durante a leitura do voto que vai decidir se seis denunciados do núcleo 2 da trama golpista se tornarão réus. Ele é o relator dos processos.

Moraes questionou os motivos pelos quais tantas pessoas defendem a anistia e afirmou que não se pode esquecer da gravidade dos atos.

"As pessoas de boa-fé devem refletir sobre isso. Se na minha casa, eu não admitiria que destruíssem, usassem de violência e grave ameaça para me tirar do comando da minha casa, por que que eu vou admitir isso para o país?", questionou o ministro.

<><> "Investigado e juiz"

Alexandre de Moraes também voltou a rebater as acusações de que atua nos processos na condição simultânea de relator, vítima e juiz.

Segundo o ministro, a denúncia sobre o plano Punhal Verde Amarelo não se refere à tentativa de homicídio dele, ou seja, à pessoa física.

"Aqui é atentado contra as instituições democráticas. O atentado narrado pela procuradoria, a partir das investigações da Polícia Federal, se dá no contexto de tentar obstruir as investigações iniciadas há 3 anos atrás", afirmou.

O ministro explicou que a tentativa de golpe também pode ser punida.

"Os crimes não são contra a vida, tentativa de homicídio. É tentativa de abolição das instituições, tentativa de golpe de Estado. Por que se pune o tentar dar o golpe? Quem tentou dar o golpe de Estado não vai se punir", disse.

Os denunciados são acusados dos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça e deterioração de patrimônio tombado.

•        Fux teve voto vencido sobre levar julgamento de acusados do 8/1 ao plenário do STF

Por maioria, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) rejeitou nesta terça-feira (22) a preliminar de incompetência do colegiado para o caso do 'núcleo 2' da tentativa de golpe.

O relator, ministro Alexandre de Moraes, lembrou que essa questão já foi definida na análise da denúncia contra o 'núcleo 1', que envolve Jair Bolsonaro, no final de março.

De acordo com o ministro-relator, Moraes, a mudança regimental que fixou a competência criminal das turmas foi feita em 2023 e não tem relação com a denúncia referente aos atos golpistas.

Sobre a competência do próprio STF, o relator também lembrou que, desde os ataques golpistas do 8 de Janeiro, o plenário do STF estabeleceu que todas as ações referentes à tentativa de golpe seriam julgadas pela Corte.

Seguiram o voto do relator os ministros Flávio Dino, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin.

Contudo, assim como na análise da denúncia contra os acusados do 'núcleo 1', o ministro Luiz Fux ficou vencido sobre a competência.

Para ele, como os investigados não ocupam mais funções com prerrogativa de foro, o caso deveria ir para a Justiça comum. Uma vez reconhecida a competência do STF, a análise deveria ficar sob responsabilidade do plenário, segundo Fux.

A Primeira Turma do STF rejeitou todas as chamadas “questões preliminares” apresentadas pelas defesas dos acusados de integrar o 'núcleo 2' da tentativa de golpe de Estado, denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

Por unanimidade, o colegiado decidiu nesta terça-feira tornar réus seis denunciados do 'núcleo 2 da trama golpista. São eles:

•        Filipe Martins, ex-assessor de Assuntos Internacionais do então presidente Jair Bolsonaro;

•        Marcelo Câmara, também ex-assessor de Bolsonaro;

•        Silvinei Vasques, ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal;

•        Mário Fernandes, general da reserva;

•        Marília de Alencar, ex-diretora de Inteligência do Ministério da Justiça;

•        Fernando de Sousa Oliveira, ex-diretor de Operações do Ministério da Justiça.

 

Fonte: Esquerda Diario

 

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