‘Vamos ser
honestos, não precisa de mais de tempo’, diz Baleia Rossi sobre reforma
tributária
Presidente
do MDB, partido que tem 43 deputados na Câmara, Baleia Rossi (MDB-SP) avalia
que o cenário político é propício para a votação da reforma tributária nos próximos
dias, apesar da resistência de alguns
governadores e de setores econômicos que desejam adiá-la para agosto.
“Vamos ser honestos, não precisa de mais de
tempo. Ou a gente vota a reforma ou não vai votar a reforma. Não são mais 15
dias que vão resolver a questão”, afirmou, ressaltando como principal argumento
o empenho do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em
levar o tema a plenário.
Autor
da proposta de emenda constitucional que é base da atual reforma tributária,
Baleia diz que há hoje um alinhamento de Câmara, Senado, governo e governadores
inédito e que não se pode desperdiçá-lo. O parlamentar classifica como
“desonesto” o argumento de que a votação está sendo apressada.
“Dizer
que está muito rápido é desonesto, porque nós estamos discutindo desde 2019,
quando apresentei o texto base. Então não tem nada feito atropelando ninguém.
Nesta
entrevista ao Estadão, ele diz ainda que as diferenças com o
agronegócio foram superadas, com a criação do “Simples do agro”, como ele
apelidou a ideia de se criar um limite de R$ 2 milhões por ano para produtores
pessoas físicas não entrarem no novo modelo. A ideia, incluída pelo
relator, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), em
seu texto, permite que eles permaneçam no regime de crédito presumido e não
migrem para o IVA (Imposto sobre Valor Adicionado). Baleia conta que este foi
um atendimento à Frente Parlamentar do Agronegócio.
“Eu
acho que o agro está muito bem atendido e acredito que eles vão fazer uma
declaração de apoio à reforma”, disse.
Veja
a seguir os principais trechos da entrevista.
·
Arthur Lira vem dando sinais de que essa será uma
semana decisiva para a reforma tributária. Como o sr avalia o cenário político?
Eu
acho que nós temos condições de votar nessa semana. Esse empenho do Arthur
(Lira) é fundamental para que a gente tenha condições inclusive de conseguir os
308 votos (quórum necessário para a aprovação de uma emenda constitucional).
Ele compreendeu que essa reforma tributária vai dar condições de o Brasil
recuperar a economia. Tem alguns economistas que falam que o impacto pode ser
igual ao do Plano Real. É muito relevante, é muito importante, é uma reforma
estrutural. Então, o Arthur vai se consagrar como o presidente da Câmara que
depois de 30 anos de discussão consegue votar a reforma tributária.
·
O sr. não vê possibilidade de a votação ficar para
agosto?
Eu
confesso que eu achava que poderia colocar, vai, para a primeira quinzena de
agosto. Mas eu tenho visto o Arthur (Lira) muito firme. E vamos ser honestos,
não precisa de mais de tempo. Ou a gente vota a reforma ou não vai votar a
reforma. Não são mais 15 dias que vão resolver a questão. Então, eu acho que o
Arthur está certo. Nós temos que, agora, nos debruçar, tentar trazer os
governadores, trazer o agro, trazer os líderes e ter mais de 308 votos e levar
para o Senado. Se tiver que fazer mais algum ajuste, o Senado tem capacidade de
fazer.
·
O relatório inicial do deputado Aguinaldo Ribeiro
(PP-PB) vai ser mudado?
O
Aguinaldo fez um relatório muito competente depois de centenas de reuniões.
Muitas delas eu participei. É o texto possível. Nós podemos ainda fazer
ajustes, ninguém está se negando a fazer ajustes. Agora, dizer que está muito
rápido é desonesto, porque nós estamos discutindo desde 2019, quando apresentei
o texto base. Então não tem nada feito atropelando ninguém. Não tem nada de
rápido, pelo contrário, acho que é a matéria mais demorada da história do País.
Governadores
como Ronaldo Caiado (União-GO) e Tarcísio de Freitas (PL-SP), têm
feito críticas à reforma. O sr. acredita que a oposição deles pode parar a
votação?
Eu
acho que nós temos que dialogar com os governadores, poderemos atender a
algumas sugestões. Eu mesmo estou conversando com o Tarcísio.
·
E como são as conversas?
Ele
disse que quer apresentar uma sugestão que atende a vários governadores em dois
pontos basicamente. A questão da arrecadação centralizada, eu falei que o
Aguinaldo está absolutamente à disposição para discutir. Se for algo que seja
uso de tecnologia e que seja palpável, que caiba na reforma, não tem porque a gente
não atender. A outra questão que ele coloca é que os Estados do Sul e do
Sudeste também têm focos de pobreza, dificuldades, e que gostariam de
participar do Fundo de Desenvolvimento Regional. Claro, numa proporção menor do
que os Estados do Norte, Nordeste e Centro-oeste. É a pauta também do Eduardo
Leite (PSDB-RS) e do Ratinho Jr. (PSD-PR). Eu acho que esses pontos merecem
atenção especial, vão ter atenção especial. Dá para fazer um entendimento.
·
Os setores econômicos, como o de serviços, também falam
em açodamento na votação.
Isso
não é verdadeiro. Toda vez que você vai pautar uma matéria de tamanha
relevância, as pessoas dizem “ah, parece que é rápido”. Puxa vida, eu
apresentei o texto em 2019. Nós fizemos, Aguinaldo e eu, centenas para não
falar milhares de reuniões com os setores da economia, com os entes federados,
com os governadores, com o Comsefaz (Conselho Nacional de Secretários de
Fazenda), com a Confederação Nacional dos Municípios. É a oportunidade que a
gente tem. Quando vamos ter uma nova oportunidade onde o ministro da Fazenda,
Fernando Haddad, é a favor; onde o presidente da Câmara é a favor e o
presidente do Senado é a favor? É uma janela que o Brasil não pode perder. E o
Brasil vai sair dessa reforma melhor, com maior capacidade de competitividade
das nossas empresas, com um sistema simplificado.
·
O sr. acredita que os setores estão convencidos?
Não
podemos mais ficar a mercê desse sistema tributário que é arcaico, desumano,
que tem complexidade e acaba prejudicando o País. O que nós estamos vendo é que
durante esses 30 anos, os poucos que entenderam e tiveram condições de
prosperar nesse manicômio tributário, querem que tudo permaneça como está. Por
quê? Porque são egoístas, não pensam em justiça tributária e só olham para o
umbigo deles. Por isso, até hoje a reforma não saiu. O próprio governador
Tarcísio disse “olha, se houvesse uma aplicação imediata da reforma tributária,
São Paulo poderia perder, mas precisamos olhar o Brasil como um todo”. Ele se
diz a favor. Claro que ele coloca algumas condicionantes, mas é a primeira vez
que um governador de São Paulo está apoiando a reforma. O (Romeu) Zema
(Novo-MG), o Ratinho Jr. (PSD) estão apoiando. É uma oportunidade única.
·
Qual a diferença entre o ambiente de hoje e o de 2019,
quando o sr. apresentou a PEC?
Muito
melhor, porque amadureceu. Claro que nós tivemos também algumas janelas de
oportunidade, mas nenhuma como hoje. Porque em determinado momento do governo
passado, eles estavam priorizando a CPMF em detrimento da nossa proposta, e aí
travou. Hoje nós temos essa convergência. Com a transição que está colocada
pelo Aguinaldo, no final, todos ganham. Alguns ganham mais, alguns ganham
menos, agora não é correto você fazer uma afirmação que não seja verdadeira.
Tem muita gente usando fake news e narrativas que são absolutamente mentirosas
para proteger alguns poucos privilegiados que sobrevivem e cresceram nessa
maluquice.
·
Se o Tarcísio não for atendido como gostaria, ele pode
se opor à reforma? São Paulo tem um peso relevante na Câmara.
Não
acredito, eu acredito que a gente vai conseguir chegar num consenso. O Tarcísio
tem ajudado em todos os princípios da reforma, mesmo contrariando algumas
posições de técnicos da Fazenda do Estado de São Paulo que às vezes querem
fazer lobby corporativo.
·
O sr. não teme que resistências mal resolvidas na
Câmara não travem a votação no Senado?
Cada
Casa tem as suas características. Acho que se a gente der o pontapé na Câmara e
conseguir passar para o Senado, eu confio muito no presidente Rodrigo Pacheco
(PSD-MG). Acho que os senadores vão se debruçar sobre esse assunto, já estão se
debruçando sobre esse assunto. E acho que a gente consegue entregar até o final
desse ano a reforma tributária. Eu tenho convicção que a gente está tendo uma
oportunidade jamais vista.
·
O quórum de votação na Câmara faz diferença na
tramitação no Senado?
Tenho
conversado com senadores e vejo um sentimento de que agora é a hora da reforma.
É um tema que já desgastou muito, ficou até um pouco descrente na opinião
pública, porque quantas e quantas vezes a gente falou de reforma tributária ao
longo desses últimos 30 anos… Por isso, eu acho que o Senado também está com
vontade de entregar essa reforma.
·
Como estão as conversas de bastidor neste momento? O
que o sr pode contar que está rolando nesses dias?
A
verdade é que todos os setores acham que vão ser prejudicados, porque não
fizeram conta, porque estão com informações que não são corretas. A gente está
explicando, o próprio (Bernard) Appy tem falado muito, o Aguinaldo tem falado
muito. A gente sabe que é uma matéria complexa, que vai mudar o sistema que
está há tanto tempo colocado no Brasil. Agora, se o IVA não fosse bom, ele não
seria utilizado como a base de tributação de 178 países importantes no mundo.
Temos que reconhecer que é um sistema simples, que combate a sonegação, de base
ampla, que se cobrar no destino facilita a arrecadação e isso tem efeito na
economia. Ainda tem ruídos, mas muito por desinformação.
·
O sr. vê resistência na bancada do agronegócio?
Ao
contrário, nós fizemos um entendimento. Eu sou de uma região agro (Ribeirão
Preto) e por isso também tenho envolvimento com essa causa. Os avanços que
foram feitos pelo Aguinaldo foram atendimentos à bancada.
·
Quais pontos?
Por
exemplo, a questão dos agricultores que são pessoas físicas e que faturam até
R$ 2 milhões por ano. Você atinge os pequenos e os médios, quase 97% do agro
brasileiro. Isso foi um pleito da FPA (Frente Parlamentar do Agronegócio), como
se fosse um Simples do agro. O (teto do) Simples é de R$ 4,8 milhões por ano e
a gente está mantendo. Estamos criando um teto de R$ 2 milhões para o produtor
pessoa física ficar fora da reforma, não terá impacto, vai ter crédito
presumido. Sem contar que o agro (via cesta básica) vai estar na tarifa
reduzida de 50%. Se for 25% a alíquota padrão, o principal vai ser 12,5%. O
agro também vai entrar no sistema de créditos, ou seja, vai se creditar de
todos os impostos que paga nos insumos. Eu acho que o agro está muito bem
atendido e acredito que eles vão fazer uma declaração de apoio à reforma.
Ø
‘Vamos
trabalhar muito para ver se vota ao menos o 1º turno’, diz líder do governo
O
líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), afirmou à GloboNews que
vai defender a votação de ao menos o primeiro turno da reforma tributária nesta
semana. O deputado participa na noite de hoje da reunião de líderes com o
presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). “Vamos desenrolar as votações que são
decisivas”, disse o petista.
A
reunião deste domingo terá como tema a definição da agenda de votações nesta
semana na Câmara. Além da tributária, os deputados têm de analisar as mudanças
feitas pelo Senado no arcabouço fiscal. Para isso, contudo, será preciso votar
o projeto de lei que reinstitui o voto de qualidade no Conselho de
Administração de Recursos Fiscais (Carf), que está trancando a pauta.
Por
isso, a proposta de Guimarães é apreciar o PL do Carf já na noite de amanhã, 3,
e liberar o resto da semana para as demais votações. “É uma semana cheia e
evidentemente o sucesso da votação vai depender do grau de unidade entre os
líderes”, afirmou o petista, que disse estar animado com o sucesso da pauta
econômica na Câmara.
Questionado
sobre uma eventual mudança nesta semana no Ministério do Turismo, em que a
deputada licenciada Daniela Carneiro (União-RJ) deve dar lugar ao deputado
Celso Sabino (União-PA), Guimarães disse que o governo precisa ampliar a base
na Câmara. Sabino tem o apoio de aliados de Lira para ocupar o posto. Eles
dizem que a mudança pode aumentar a fidelidade do União ao Planalto. O marido
de Carneiro, Waguinho, entrou em rota de colisão com o partido e foi para o
Republicanos, onde comanda o diretório regional do Rio de Janeiro. Ela também
pediu desfiliação do União.
“Tem de ter uma recomposição e uma
repactuação, o presidente que define. O presidente tem todas as informações e
fará, se ele achar conveniente, as mudanças para manutenção da base. Esta
semana é decisiva”, disse Guimarães.
Fonte:
Agencia estado
Nenhum comentário:
Postar um comentário