sábado, 1 de julho de 2023

Lula diz que equívocos de esquerda são bem-intencionados ao contrário da direita

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez forte defesa da governança de esquerda, mesmo que com “equívocos”, em relação a uma gestão sob comando da direita. Em uma espécie de autocrítica ao movimento, o presidente afirmou que a esquerda precisa rever seu discurso e reconheceu uma maior facilidade da direita na comunicação.

Durante fala na abertura do 26º Encontro do Foro de São Paulo, em Brasília, nesta quinta-feira (29/6) Lula pontuou que a esquerda não é vista pela extrema-direita fascista como organização democrática, e sim que é tratada como terrorista, mas destacou que não se ofende ao ser classificado como comunista. “Nós não ficamos ofendidos. Nós ficaríamos ofendidos se nos chamassem de nazista, de neofascista, de terrorista, mas de comunista, socialista, nunca”, disse.

No discurso, o chefe do Executivo brasileiro destacou ser preciso defender a democracia que, em sua visão, é feita de concessões, assim como um casamento. Contudo, ao apontar as derrotas da esquerda nas eleições da América Latina nos últimos anos, Lula destacou ser preciso reconhecer o que “fizemos de errado”. “Não podemos ficar a vida inteira criticando os outros”, pontuou.

“É muito melhor ter um companheiro da gente (esquerda) cometendo alguns equívocos para a gente criticar do que ter alguém da direta governando que não permite sequer que a gente tenha espaço para fazer crítica”, declarou.

Em uma autocrítica à esquerda, Lula disse que as críticas devem ser feitas de forma discreta; já os elogios, publicamente. “Muitas vezes a direita tem maior facilidade que nós com o discurso fascista. Aqui no Brasil, enfrentamos o discurso do costume, da família, do patriotismo, ou seja, nós enfrentamos o discurso que aprendemos historicamente a combater”, destacou, sem citar nominalmente o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Diante disso, o presidente criticou a falta de representatividade nos membros permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). “(A ONU) Não pode continuar com a mesma dimensão que teve em 1945, é preciso aumentar os membros da ONU com África, América Latina e países asiáticos, mudar os membros permanentes do Conselho de Segurança”, pontuando que os países que compõem o grupo “fazem guerra e produzem armas”.

Na fala, Lula ainda citou que a América Latina viveu seu melhor momento entre 2002 a 2012, podendo ser estendido até o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Ao retomar a criação do Foro, o presidente disse que ele nasceu de um desejo para que a esquerda “voltasse a conversar entre si e disputar espaços democráticos existentes”.

“O Foro de São Paulo foi a primeira experiência latino-americana em que a esquerda resolveu se juntar sem precisar tirar suas diferenças nem tampouco acabar com as divergências, mas resolver discutir, do ponto de vista da organização democrática, disputar os espaços políticos”, declarou. Ele pontuou que o ex-presidente da Venezuela Hugo Chávez tentou fazer parte da organização, mas não foi autorizado pois “ele tinha tentado dar um golpe”.

O Foro de São Paulo é uma organização de partidos e entidades de esquerda de países da América Latina e do Caribe fundada pelo presidente Lula e pelo ex-presidente de Cuba Fidel Castro, em 1990. Segundo o documento de criação, a organização busca reunir organizações de esquerda para “tratar da defesa da democracia, da integração e soberania dos países latino-americanos e do combate ao imperialismo e ao neoliberalismo”.

O encontro de hoje reúne 150 delegações de partidos da América Latina e Caribe, além de convidados da Europa, Estados Unidos, China e África. Com a presença de Lula, da presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PT), e de outros partidos e movimentos de esquerda, o Foro de São Paulo retomou suas reuniões presenciais anuais hoje, depois de três anos sem encontros por conta da pandemia do coronavírus.

·         Lula conta melhor história sobre “relativizar democracia”

Lula rebateu as críticas que dizem que ele relativizou a democracia e postou outro trecho da mesma entrevista que rendeu ataques a ele. Nessa parte publicada pelo presidente, ele afirma que “gosta” da democracia. O presidente publicou o vídeo dizendo que esse foi o trecho que “não mostraram”. “Eu gosto da democracia porque a democracia é que me fez chegar à Presidência da República pela terceira vez. Por isso que eu gosto da democracia e a exerço na sua plenitude”, diz Lula na parte da entrevista divulgada por ele.

As críticas foram feitas a Lula após ele dizer que a democracia é um “conceito relativo”. Ele fez a afirmação após ter sido questionado sobre o governo não caracterizar o regime de Nicolás Maduro, na Venezuela, como uma ditadura. “A Venezuela, ela tem mais eleições que o Brasil. O conceito de democracia é relativo para você e para mim”, afirmou. Lula também cometeu a gafe de se referir ao golpe de 1964 como uma “revolução”. Ele comentava sobre a reforma tributária, ao responder à emissora se participaria da articulação política pela pauta com o Congresso, quando fez essa afirmação. “Vai ser a primeira reforma tributária votada no regime democrático. A última reforma tributária nossa foi depois da revolução de 64, e o Haddad está coordenando com maestria, junto com o ministro Padilha, o líder Jaques Wagner, Guimarães e Randolfe”, disse.

 

Ø  Sob Lula, desemprego começa a cair

 

A taxa de desemprego foi de 8,3% no trimestre encerrado em maio de 2023. Segundo dados do IBGE divulgados nesta sexta-feira, 30, é a menor taxa para o período desde 2015, quando também ficou em 8,3%.

O dado mostra recuo de 0,3 ponto percentual em relação ao trimestre anterior, de dezembro de 2022 a fevereiro de 2023. O número total desempregados é de 8,9 milhões de pessoas.

“Esse recuo no trimestre foi mais influenciado pela queda do número de pessoas procurando trabalho do que por aumento expressivo de trabalhadores. Foi a menor pressão no mercado de trabalho que provocou a redução na taxa de desocupação”, explica Adriana Beringuy, coordenadora de Pesquisas por Amostra de Domicílio.

De acordo com a metodologia do IBGE, é considerado desempegado quem não tem trabalho e está em busca de recolocação ou de entrar no mercado. Se há menos gente procurando, consequentemente, há redução no número de empregados.

“Grande parte da estabilização do desemprego em patamar baixo se deve as pessoas consideradas aptas a trabalhar, mas que não estão procurando emprego. Um possível incentivo para esse movimento são os estímulos de transferência de renda por parte do governo, com contornos de renda permanente”, dizem os economistas Marco A. Caruso e Igor Cadilhac, em relatório de análise do PicPay.

Um dado igualmente importante na análise do mercado da trabalho é a taxa de ocupação.

O contingente de pessoas ocupadas (98,4 milhões) ficou estável ante o trimestre anterior e cresceu 0,9% (mais 884 mil pessoas) ante o mesmo trimestre do ano anterior.

“Embora não tenha havido uma expansão significativa da população ocupada total no trimestre, houve algumas diferenças pontuais em algumas atividades econômicas. A maioria ficou estável, mas foi observada queda do número de trabalhadores na Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (-1,9%, ou menos 158 mil pessoas) e expansão Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (2,5%, ou mais 429 mil pessoas)”, destaca Beringuy.

O número de empregados sem carteira assinada no setor privado manteve-se estável tanto na comparação trimestral quanto na anual, ficando em 12,9 milhões de pessoas. Já o contingente de trabalhadores com carteira foi de 36,8 milhões, também estável no trimestre, mas com aumento de 3,5% (mais 1,83 milhão de pessoas) no ano.

O contingente de trabalhadores por conta própria (25,2 milhões) também ficou estável e a taxa de informalidade foi de 38,9% da população ocupada, totalizando 38,3 milhões de trabalhadores informais. No trimestre anterior também havia sido de 38,9% e, no mesmo trimestre de 2022, 40,1%.

Outras variáveis importantes do mercado de trabalho são taxa de subutilização (que mede se o cidadão trabalha menos que sua disponibilidade) e a de desalento, em que pessoas deixam simplesmente de procurar o mercado.

A taxa composta de subutilização (18,2%) caiu nas duas comparações: 0,7 p.p. no trimestre e 3,7 p.p. no ano, totalizando 20,7 milhões de pessoas subutilizadas. Houve queda na população desalentada, que ficou em 3,7 milhões de pessoas. Frente ao trimestre anterior, a redução foi de 6,2% (menos 244 mil pessoas) e, na comparação anual, de 14,3% (menos 621 mil pessoas).

Com isso, também caiu o percentual de desalentados (3,4%) na força de trabalho: 0,2 p.p. no trimestre e 0,5 p.p. no ano. A população fora da força de trabalho ficou em 67,1 milhões de pessoas, um aumento de 0,6% na comparação trimestral, o que representa 382 mil pessoas a mais. Na comparação anual, o crescimento foi de 3,6%, um aumento de 2,3 milhões de pessoas.

O rendimento real habitual (2.901 reais), ficou estável frente ao trimestre anterior e crescimento de 6,6% no ano. A massa de rendimento real habitual (280,9 bilhões de reais) também ficou estável frente ao trimestre anterior, mas cresceu 7,9% na comparação anual.

Por atividade econômicas, o cenário foi de estabilidade no trimestre, mas, entre as categorias do emprego, houve expansão no rendimento dos trabalhadores domésticos com carteira (2,9%) e queda no rendimento do setor público (-1,7%). “O aumento do contingente de trabalhadores do setor público não se refletiu em aumento de rendimento.

Provavelmente, isso se deu em função de maior participação de trabalhadores sem carteira no setor e tendência de queda do rendimento mesmo entre os empregados com carteira assinada”, observa a coordenadora.

 

Fonte: Correio Braziliense/UOL  

 

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