Do centro à Ilha
dos Frades: um giro histórico por Salvador
Primeira
capital do país, Salvador nos presenteia com uma trajetória que se desenrola há
474 anos. É um local que, para mim, pulsa vida, criatividade e se expressa de
maneira ímpar. Literatura, religiosidade, natureza e heranças afro-brasileiras
se fundem e criam um ambiente irreproduzível.
Pisar
na capital baiana e percorrer alguns de seus pontos históricos é a linha
inicial para começarmos entender as origens do nosso país, do nosso povo e da
vibrante cultura local. Não à toa a cidade é sempre uma das mais procuradas por
turistas nacionais para as férias de julho e no verão.
Com
suas construções coloridas no centro histórico que datam do século 16 e vão até
o século 19, a impressão é a de viajar no tempo, mas também a de olhar para um
presente inspirador e latejante, em que sinos de igrejas barrocas se misturam
ao som dos tambores do Olodum.
Além
dos pontos históricos que listo abaixo, é claro que vale colocar no roteiro
locais como o Farol da Barra, com resquícios do século 17, a Igreja Nosso Senhor
do Bonfim, com suas fitinhas coloridas amarradas no gradil cheias de pedidos, a
Catedral de Salvador, igreja-mãe da cidade, o Museu de Arte Sacra e o Palácio
do Governador, antiga sede do governo da Bahia.
Confira
abaixo alguns dos pontos que percorri com o programa – e se estiver com fome de
mais, vale dizer que, em breve, a gastronomia local terá um texto só dela.
• Pelourinho
Coração
do centro histórico e símbolo soteropolitano, o Pelourinho merece um tópico só
dele. Encontramos no cartão-postal um resumo da cidade: cor, música, sino de
igreja e alegria. O Pelourinho serve como um bom ponto de partida para entender
Salvador e nos encanta pelo estilo arquitetônico colonial e pelo colorido das
edificações.
Situado
na Cidade Alta, a localização facilitava a defesa e concentrava atividades
administrativas, políticas e residenciais da primeira capital do país.
Hoje
é uma das atrações mais importantes de toda a Bahia e se refere às ruas que vão
do Terreiro de Jesus até o Largo do Pelourinho. O caminho nos reserva ruas
estreitas, ladeiras e calçamento em paralelepípedos. Os sons dos tambores do
grupo Olodum embalam a trilha sonora em determinados dias.
Os
destaques vão ainda para a Igreja e o Convento de São Francisco, uma notável
construção barroca com decoração abastada, e também para a Igreja Nossa Senhora
Rosário dos Pretos, construção azulada no Largo do Pelourinho fundada por
negros escravizados do Congo e de Angola ainda no século 17.
A
Nossa Senhora Rosário dos Pretos tem liturgia com uso de músicas dos terreiros
de candomblé, ao som de atabaques. As noites de terça-feira são famosas pelas
missas católicas com cantorias e danças da cultura africana.
No
Largo do Pelourinho, há ainda a Fundação Casa de Jorge Amado, que preserva,
divulga e pesquisa o acervo do autor baiano e apoia estudos sobre a literatura
do estado – há um conjunto de mais de 250 mil documentos e a realização de
cursos, seminários, oficinas, ciclos de conferências, lançamentos de livros e
exposições.
Produções
audiovisuais também ajudam na maior visibilidade do local: quem não lembra de
Michael Jackson em seu clipe “They Don’t Care About Us” da década de 1990?
• Centro Histórico de Salvador
Claro,
o centro histórico vai além do Pelourinho e nos apresenta milhares de imóveis
que vão dos séculos 16 ao 19. Eles se enfileiram pelos becos e ladeiras e
formam um conjunto arquitetônico colonial de importância imensurável para a
história do nosso país e da América Latina.
Para
tanto, a região é Patrimônio Cultural Mundial pela Unesco e tombada pelo Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Ambiente
de tradições, de história e de muita cultura, o centro é para ser percorrido e
apreciado a pé. A geografia fez com que fosse dividido em dois planos: quando
instalada a capital aqui, as funções administrativas da cidade ficavam no alto,
enquanto o porto e comércio ficavam à beira-mar.
Para
tanto, dividimos o centro em Cidade Alta e Cidade Baixa, ambas ligadas pelo
histórico Elevador Lacerda, o primeiro elevador urbano do mundo que ainda nos
leva da Praça Cairu, lá embaixo, até a Praça Tomé de Sousa, lá em cima, por
módicos R$ 0,15. Antes de subirmos, vale também uma passadinha pelo Mercado
Modelo.
As
construções do centro histórico tinham finalidades religiosas, civil e militar,
e hoje vemos que, na verdade, estar no centro é se entremear no núcleo de
atividades criativas da cidade. Igrejas e conventos, museus, teatros, espaços
culturais, ateliês, restaurantes e lojinhas formam uma vibrante região, onde
também pulsa a herança afro-brasileira.
• Igreja e Museu da Ordem Terceira de São
Francisco
Também
na região do centro histórico, a Igreja e o Museu da Ordem Terceira de São
Francisco tem destaque próprio por ser uma das mais impressionantes construções
barrocas nacionais.
Datada
dos séculos 17 e 18, seu exterior já nos revela esculturas e relevos e é um
aviso da ornamentação que vamos encontrar pelo interior. Ao lado fica a Ordem
Terceira de São Francisco, cujo claustro tem uma surpreendente coleção de
azulejos portugueses que retratam Lisboa antes do grande terremoto de 1755.
É
um lugar, no mínimo, incrível, em que algumas peças sacras também ficam à
disposição de nossos olhos.
Vale
destacar ainda que sua vizinha, na mesma Rua da Ordem Terceira, fica a Igreja e
o Convento de São Francisco, logo em frente ao Largo do Cruzeiro de São
Francisco, que anualmente é também palco para festas populares, com em junho
para Santo Antônio e em outubro para São Francisco.
• Casa do Rio Vermelho – Casa de Jorge
Amado e de Zélia Gattai
É
no bairro do Rio Vermelho, no topo de uma ladeira, que o casal Jorge Amado e
Zélia Gattai fez de um amplo casarão seu lar por cerca de quatro décadas. Palco
para celebrações, encontros com personalidades ilustres e também para o
cotidiano da dupla de autores, a casa hoje abre suas portas para um verdadeiro
memorial.
Aqui
podemos visitar cada cômodo como nos tempos dos moradores, já que os ambientes
mantêm as características originais. Adentramos ainda na história da família,
entramos na intimidade do casal e assistimos a depoimentos e leituras de obras
com ajuda de projeções.
Uma
das partes mais bacanas é vermos com os próprios olhos o acervo de cartas
originais que Amado trocou com Yoko Ono, Monteiro Lobato e a própria Zélia,
para citar algumas pessoas.
Assim,
não só conhecemos a história da vida do casal como temos à nossa vista objetos
pessoais e obras de arte: pelas paredes há exemplares de Carybé e obra assinada
por Brennand.
“Meu
avô gostava de chumbar coisas pela parede, então onde você olha você vê arte”,
conta Maria João Amado, neta de Jorge e que me recebeu na casa da família.
“Os
dois trazem um retrato muito fiel do século 20 do que a gente viveu aqui, tanto
economicamente quanto política e socialmente. Jorge dá voz ao povo de forma que
poucos fazem. E Zélia, com suas memórias, conta a história do século 20 pelos
livros”, diz ainda Maria.
Além
das cartas, nomes como Pablo Neruda, Tom Jobim e até Simone de Beauvoir foram
alguns dos hóspedes da Casa do Rio Vermelho. O jardim tem pés que dão frutos e
o slogan da casa diz: “se for de paz, pode entrar”.
Passeio
irresistível na capital baiana, a casa-memorial fica aberta de terça a domingo,
das 10h às 18h (entrada até 17h), com ingresso a R$ 20 a inteira e gratuidade
às quartas-feiras.
• Ilha dos Frades
Maior
baía do país, a Baía de Todos os Santos é lar para um território de rico
patrimônio cultural e natural. Hoje já no radar turístico da região, a Ilha dos
Frades, a cerca de meia hora de lancha da cidade, guarda joias arquitetônicas
históricas e mistura de maneira ímpar vistas cinematográficas com restaurantes,
pousadas e praias de águas calmas.
As
belezas começam na ida: a travessia nos dá a oportunidade de avistar várias
outras ilhas que moram pela baía. Na chegada, as águas calmas garantem bonitos
cenários com os barcos ancorados à beira-mar.
O
ponto mais famoso e imprescindível de se conhecer na ilha é a Igreja Nossa
Senhora de Guadalupe. Poucas informações falam sobre suas origens, mas é certo
que ela data do século 17. Restaurada, a pequena construção brilha nossos olhos
pelos seus tons coloridos e alegres.
Situada
em um cume e voltada para a Baía de Todos os Santos, a partir dela temos vistas
panorâmicas para o mar, para Salvador e também para a Ilha de Itaparica, a
maior da baía. A igrejinha fica na Praia de Ponta Nossa Senhora de Guadalupe,
no extremo sul da Ilha dos Frades, e abriga um diminuto vilarejo com
restaurantes.
Já
ao norte, a Praia do Loreto é recomendada para banho e abriga outra construção
católica com ares cenográficos: é a Capela Nossa Senhora do Loreto, edificada
em 1645 mas reformada e reformulada nos dois séculos seguintes. De altar com
elementos neoclássicos, o local tem capacidade para 100 pessoas sentadas e foi
restaurado pela Fundação Baía Viva, a mesma por trás dos reparos da Nossa
Senhora de Guadalupe.
Criada
há mais de duas décadas por empresários baianos, a fundação atua na preservação
das ilhas da baía e contribui para a requalificação urbana, social e ambiental
com ajuda também do pilar turístico como forma de desenvolvimento econômico das
comunidades.
Fonte:
CNN Brasil
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