Direita bate cabeça
após inelegibilidade de Bolsonaro
Com
o ex-presidente Jair Bolsonaro fora do páreo, caciques do Centrão e da direita
têm debatido nomes para ocupar a lacuna deixada por ele nas próximas eleições.
As discussões são sobre quem poderia formar uma aliança capaz de carregar o
legado, ao lado do governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos),
colocado atualmente como o preferido para ser cabeça de chapa, em uma “frente
ampla” da direita menos radical, mas ainda embalada pelo legado do
bolsonarismo.
Embora
avaliem ainda ser cedo para definir cenários para 2026, dirigentes partidários
e figuras influentes desses espectros político ouvidas pelo GLOBO colocam o
governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), a ex-primeira-dama Michelle e os
senadores Ciro Nogueira (PP-PI) e Tereza Cristina (PP-MS) como opções de
candidatos a vice, não necessariamente nessa ordem, com ressalvas sobre o
desempenho de cada um nos próximos três anos.
A
união vista em torno do nome de Tarcísio não se repete quando o assunto é a
candidatura a vice. Presidentes de partido têm avaliações distintas sobre como
completar a chapa. Uma ala, composta pelo PP e por parte do União Brasil,
avalia que é essencial ter um vice do Nordeste para diminuir a vantagem do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na região. Um nome citado é o do
presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), inclusive por ele mesmo. Outro
grupo prega que a chapa faça um aceno para o eleitorado feminino, campo onde o
bolsonarismo também tem dificuldades, e cita Michelle e Tereza como
alternativas.
–
Política é fila e ele [Tarcísio] é o primeiro– afirmou Ciro Nogueira ao GLOBO,
que cita o próprio nome, de Zema e de Tereza como opções de candidatos a vice.
Ainda
que não cite ninguém específico para compor a chapa, o senador Flávio Bolsonaro
(PL-RJ), filho mais velho do ex-presidente, disse ao GLOBO que a preferência é
que o PL esteja dentro dela. Há a intenção do presidente do partido, Valdemar
Costa Neto, de filiar Tarcísio. Porém, pelo menos por enquanto, o governador
tem dito que continua no Republicanos.
–
Seria o ideal (o PL estar na chapa), mas muito cedo pra falar disso ainda –
declarou Flávio.
Na
avaliação do senador, a decisão do TSE fortalecerá Bolsonaro e a direita na
próxima disputa presidencial.
–
Bolsonaro é uma pessoa querida demais por milhões de brasileiros. A avaliação
unânime de quem eu converso, de pessoas do poder até as mais humildes, é que a
covardia é tão grande que ele se tornará ainda mais forte.
Uma
ala de dirigentes partidários ligados ao Centrão avalia que a direita tem
tradição de não dar atenção para o Nordeste e que isso precisa mudar caso o
grupo queira vencer Lula em 2026. O entendimento é que o PT sempre “deu aula”
na forma como fidelizar o eleitor da região e que a direita precisa ter
estratégias para ampliar a entrada nessa parcela dos votos. Na visão desse
grupo, o candidato a vice também teria que ser alguém sem vínculos diretos com
Bolsonaro para agregar eleitores arrependidos do PT.
No
Piauí, estado de Ciro Nogueira, Lula teve a maior porcentagem de votos do país,
com 76,86% dos votos, 1.551.383 totais. Bolsonaro recebeu 23,14%, 467.065
totais.
A
vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão (PP), avalia que Nogueira
terá um papel de protagonista na construção de uma candidatura de oposição a
Lula.
–
Ciro tem todas as condições para isso, mas ainda está muito longe do processo
eleitoral. Ele estará à frente desse projeto com certeza . Independente de ser
vice ou não.
Um
cacique do centrão afirma que Ciro tem vontade e experiência política para
assumir esse papel e angariar votos do Nordeste para a direita, mas avalia que
nesse momento ele não tem a força necessária, algo que poderia ser construído
nos próximos três anos. Um integrante do União Brasil, porém, avalia que Ciro
está muito vinculado a Bolsonaro, já que foi seu ministro da Casa Civil, e que
o ideal seria ter alguém de centro-direita ou direita na região, mas sem
ligação com o bolsonarismo.
Já
o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), que foi vice-presidente na gestão
de Bolsonaro, evita falar em nomes, mas avalia que hoje o campo que representa
a oposição entrará com força na eleição. De acordo com ele, o “PT tem só o nome
do atual presidente, que não “emplaca em 2026”, na visão do senador.
Aliados
mais próximos da família Bolsonaro não descartam a participação da
ex-primeira-dama Michelle como vice ou candidata à Presidência da República,
embora ela venha dizendo não ter vocação para concorrer a um cargo
nacionalmente. Aliados acreditam que isso pode mudar, ainda mais se a sua candidatura
lhe for entregue como uma espécie de “missão” pelo partido ou mesmo pelo
ex-presidente.
O
PL tem investido fortemente na imagem de Michelle nos últimos tempos e acredita
no carisma dela para ampliar o eleitorado e o número de filiados da sigla. Além
de atrair o voto feminino, Michelle tem forte apelo entre o público evangélico.
Michelle
tem atuado recentemente como a “estrela do PL”. Dirigida por Duda Lima, ela tem
participado das inserções de propaganda de rádio e TV a que o partido tem
direito. Além disso, ela tem viajado e feito campanha para aumentar o número de
filiados da sigla pela ala feminina do partido, já como uma espécie de
pré-campanha e aquecimento.
A
própria Michelle sinalizou uma mudança. Pelas redes sociais, mencionou a frase
do marido “nosso sonho segue mais vivo do que nunca” e afirmou: “Estou às suas
ordens, meu capitão”.
Romeu
Zema é outro nome forte. Interlocutores da direita, no entanto, avaliam que
ainda é preciso avaliar o desempenho do mineiro nos próximos anos e seu potencial
de ganhar aderência nacional. Um dos pontos contrários é que ele, por exemplo,
não atrairia votos do Nordeste, região em que a esquerda é mais forte, tampouco
entre as mulheres, grupo que manifestou resistência a Bolsonaro durante a
campanha do ano passado.
Segundo
fontes, Zema tem trabalhado para colocar seu nome na disputa com presidentes
dos partidos da centro-direita.
—Tarcísio
acaba despontando como principal porque está no principal estado, mas temos
também Michelle que está surpreendendo a todos com sua desenvoltura. Zema
representa muito bem os conservadores, assim como Ratinho Jr. Nomes não faltam—
disse o vice-presidente do PL, Capitão Augusto (SP),
O
presidente da bancada ruralista, Pedro Lupion (PP-PR), menciona os nomes de
Tarcísio e Tereza Cristina como fortes eleitoralmente.
–O
governador de SP hoje tem uma vantagem. Mas eu não arriscaria perder uma
reeleição certeira lá. A Tereza Cristina também é um bom nome. Tem a questão de
se trabalhar melhor o nome dela em outros estados fora de Mato Grosso do Sul–
disse.
Ela
tem o amplo apoio do agronegócio, uma das principais forças do Congresso e de
campanhas eleitorais.
O
governador paulista é o mais mencionado por membros do PL, do PP e do
Republicanos para assumir a campanha nas próximas eleições. A avaliação é que
ele atrairia os eleitores mais fervorosos de Bolsonaro e, ao mesmo tempo,
conquistaria votos da ala menos radical da direita, como órfãos do PSDB dos
velhos tempos, e defensores da economia liberal.
A
escolha por Tarcísio poderia inclusive atrair outros partidos do centro, como o
União Brasil, hoje com ministérios no governo Lula. Um grupo da legenda é mais
distante da base governista e tem acenado com a possibilidade de apoiar um
projeto presidencial liderado pelo governador.
De
acordo com o deputado José Rocha (União-BA), o secretário-geral do partido, ACM
Neto, apoiaria o governador caso ele fosse lançado candidato a presidente.
Rocha disse que Neto ficou neutro na eleição de 2022 porque tinha “votos em
ambos lados”, tanto de Bolsonaro, quanto de Lula.
A
avaliação da ala do União Brasil da qual ACM Neto faz parte é que a
inelegibilidade de Bolsonaro seria a “melhor coisa” para quem faz oposição a
Lula. O nome de Tarcísio, apontado como uma novidade da política, também não
traria o desgaste que carregava o PSDB quando era o principal partido de
oposição ao PT.
O
governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), disse que “Tarcísio é um
excelente nome”, ao mesmo tempo que declarou que ele próprio está à disposição
para representar a direita em 2026.
Diferente
do PL, Republicanos e PP, no entanto, o União não tem um comando nacional
unificado. O presidente do partido, Luciano Bivar, evita falar em aliança com
essas legendas e elogia o atual governo.
–
O governo Lula tem seis meses. Está fazendo um governo bom. Não tem por que
estar especulando uma coisa que falta quatro anos praticamente – apontou.
A
legenda, porém, é unânime na avaliação de que a saída de Bolsonaro irá
fortalecer a oposição a Lula.
–
Ele (Bolsonaro) perdeu o governo com toda a máquina, cometendo toda série de
infringência da legislação eleitoral e não conseguiu se eleger, como que vai se
eleger depois sem a caneta? Se ele permanecesse não ia fazer diferença nenhuma.
Ele jamais teria sucesso em uma eleição aberta. Todos são suscetíveis de serem
eleitos, menos o Bolsonaro. Ele menos que os outros, porque ele é uma bolha de
25% e para ali – declarou Bivar.
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No páreo:
#
Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP)
-
prós: teve bom desempenho para conquistar o governo de São Paulo
-
contras: pode arriscar uma reeleição certeira como governador
#
Michelle Bolsonaro (PL-DF)
-
prós: atrairia o público feminino
-
contras: nome muito ligado ao ex-presidente; sem experiência política.
#
Romeu Zema (Novo-MG)
-
prós: governa o segundo estado mais populoso do Brasil;
-
contras: não agregaria em novos apoios em relação ao que Tarcísio já
representa.
#
Ciro Nogueira (PP-PI)
-
prós: político com experiência e ampla interlocução no Congresso; poderia
trazer votos do eleitor nordestino, onde a direita costuma enfrentar
dificuldades.
-
contras: ficou muito vinculado ao bolsonarismo; é menos popular nacionalmente
que figuras como Romeu Zema
#
Tereza Cristina (PP-MS)
-
Pros: Mulher com aceitação de boa parte do PIB brasileiro
-
Contras: pouco conhecida fora do Centro-Oeste
Aliados de Bolsonaro acham que tomarão
seu lugar
Longe
das urnas até 2030, após condenação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) vê aliados e correligionários começarem a se
movimentar mirando seu espólio político. À frente dos dois maiores colégios
eleitorais do país, os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas
(Republicanos), e de Minas, Romeu Zema (Novo) encabeçam a lista. Ambos evitam
se expor, mas têm feito movimentos para angariar apoio da base bolsonarista em
seus estados. Nomes como o da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o da
ex-ministra Tereza Cristina também aparecem no páreo.
Tarcísio,
que já acompanhou três visitas do ex-presidente a São Paulo neste ano, é
apontado por integrantes do PL como o herdeiro mais forte do eleitorado de
direita. O governador reiterou seu alinhamento a Bolsonaro ontem, depois do
julgamento, ao dizer que seguirá “junto” do ex-presidente e classificá-lo como
liderança “inquestionável”. Ex-ministro da Infraestrutura, Tarcísio também se
aproximou nos últimos meses do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, com quem
já teve atritos por indicações a cargos em sua antiga pasta.
Zema,
por sua vez, tem reforçado uma postura de oposição ao governo Lula. Após ter
apoiado Bolsonaro apenas no segundo turno de 2022, quando já estava reeleito, o
governador mineiro acena ao PL com alianças nas eleições municipais do ano que
vem.
—
Zema tem sido menos ambíguo, enquanto Tarcísio procura customizar, de acordo
com o público, uma imagem ora mais gestora, ora mais bolsonarista — avalia o
cientista político Josué Medeiros, coordenador do Observatório Político e
Eleitoral (OPEL) na UFRJ. — Uma eventual reeleição de Ricardo Nunes (MDB) à
prefeitura de São Paulo com seu apoio (de Tarcísio), no que deve ser a disputa
mais nacionalizada de 2024, pode deixá-lo fortalecido nesta posição.
Interlocutores
de Bolsonaro avaliam que o ex-presidente confia em Tarcísio, mas vislumbram
pressões para que o governador concorra à reeleição em 2026. Um dos defensores
desta opção é o secretário estadual de Governo, Gilberto Kassab, presidente
nacional do PSD e um dos principais articuladores políticos de Tarcísio.
De
olho em outro espólio, o de prefeituras ligadas à antiga gestão do PSDB em São
Paulo, Kassab defende que Tarcísio se consolide como liderança estadual de
centro-direita antes de buscar um voo nacional.
Já
Zema, que não pode concorrer a novo mandato de governador, pressionou o Novo
para ampliar sua política de alianças de olho em 2026. Além de ter se
aproximado de partidos como PP e Republicanos, que apoiaram Bolsonaro no ano
passado, o governador de Minas costura o apoio a pré-candidatos bolsonaristas
em municípios como Contagem e Uberlândia. Nesse cenário, o Novo indicaria vices
em chapas do PL, buscando reciprocidade futura. Um dos nós da equação é a
capital, Belo Horizonte, onde o partido de Zema avalia lançar candidato.
O
caminho de Zema para 2026, contudo, tem ressalvas do próprio Bolsonaro. Ontem,
ao jornal “O Tempo”, ele disse que o mineiro seria uma boa opção para a
Presidência, mas a partir de 2030.
Embora
Zema, segundo interlocutores, venha trabalhando para colocar seu nome na
disputa, sua resistência em deixar o Novo, um partido com pouca estrutura, é
vista como empecilho. O PL já sondou tanto o governador mineiro quanto Tarcísio
para filiação. Ainda que não cite nomes, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) diz
que a preferência é que seu partido esteja na chapa em 2026:
—
Seria o ideal (ter o PL na chapa), mas ainda é cedo para falar disso.
Caciques
do Centrão avaliam Tarcísio como o “primeiro da fila” para suceder Bolsonaro,
expressão usada pelo senador e ex-ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira
(PP-PI). Aliados próximos a Bolsonaro, por sua vez, não descartam uma
participação de Michelle numa chapa presidencial, embora ele venha descartando
essa hipótese.
O
PL tem investido na imagem de Michelle como uma espécie de “estrela” do
partido, com participação em inserções de rádio e TV dirigidas pelo marqueteiro
Duda Lima, que atuou na última campanha de Bolsonaro.
Enquanto
a falta de experiência política e administrativa de Michelle é vista como
empecilho para tentar a Presidência, nomes como a ex-ministra e senadora Tereza
Cristina (PP-MS) e o governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), correm por fora
tendo suas próprias bagagens como trunfo.
Próxima
a entidades do agronegócio, Tereza cresceu no setor, uma das principais bases
eleitorais de Bolsonaro, após sua passagem pelo Ministério da Agricultura. Já
Ratinho se reelegeu com folga em um dos estados que mais deu votos a Bolsonaro
em 2022. Pesa contra eles o baixo conhecimento fora de seus estados.
Para
aliados de Bolsonaro, a tendência é que os cotados façam uma dosagem de seus
movimentos para evitar exposição. Na analogia de um interlocutor de Tarcísio,
“não é inteligente ficar pronto de manhã cedo para um casamento à noite”. O
próprio Bolsonaro tem sinalizado, na avaliação de especialistas, preocupação em
expor aliados em candidaturas ao Executivo.
—
Não necessariamente Bolsonaro terá um candidato forte à Presidência em 2026, o
que não inviabiliza que o bolsonarismo volte a eleger a maior bancada no
Congresso — analisa o cientista político Emerson Cervi, da UFPR.
Fonte: O Globo
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