Sergio Medeiros:
Lula e a sensação de pertencimento da bondade
Entretanto,
fica ai o alerta, não foi através da racionalidade, do livre convencimento que
Lula rompeu o veto a sua pessoa, a base foi algo mais singelo, foi a
empatia, o amor, a sensação de pertencimento da bondade existente nestas
comunidades pobres e desvalidas.
Uma
breve contextualização.
O
texto se propõe a tecer considerações sobre o que restou das estruturas sociais
e políticas do nosso país, depois da fragmentação do poder e da destruição do
Estado, levada a cabo por Sérgio Moro e sua República de Curitiba e que
desaguou na barbárie bolsonarista (um breve rascunho de ideias a serem lidas,
consideradas, desconsideradas, reformuladas, deixadas de lado…mas que tem que
serem discutidas).
Em
outro texto falei sobre a fragmentação do poder e a destruição do Estado, isso
em 2018, 2019.*
Agora estamos nesse espaço de tempo superveniente,
onde o vácuo criado pela ausência organizada do poder, tal como era
entendido,
instituições, universidades, sindicatos, igrejas, partidos políticos e outras
instituições civis, os quais, alijados de sua justificação enquanto
poder, passaram a ficar em segundo plano, num compartimento social quase
descartável, passíveis de serem objeto de manipulação ou apropriação, sendo, de
qualquer modo, destacáveis e destacados da realidade social massiva desde então
posta.
Todo
este segmento,a dita sociedade
civil organizada, foi substituído, retirado de seus nichos de poder –
entendido como o lugar de onde a sociedade ouve e recolhe seus subsídios para a
vida social.
Este
movimento de substituição de referências, foi efetivado através da
massiva utilização das redes sociais, onde foi forjada “a teoria do homem
simples”.
A
nova forma de visão de mundo foi rapidamente disseminada pela onipresente
comunicação diária das grandes redes sociais, sendo que, de forma mais
expressa, via utilização massiva do whatsapp, meio de acesso ao público
ao qual se destinavam as boas novas, no caso, a setores de concentração
expressiva da população, escolhidos em razão da forma de agregação, ou seja, em
razão da fé, ou da obediência hierárquica sob o peso da autoridade.
Assim,
os setores escolhidos, por excelência massivos, e por seu núcleo central se
basear na fé ou na hierarquia, o que os tornava permeáveis a nova
doutrinação, além de contarem com lideranças passíveis de cooptação e com
sede de poder, estes setores, de onde se irradiariam, foram as
igrejas evangélicas e os núcleos de caráter militar.
A nova teoria, que deu azo à inúmeras primaveras ao
redor do mundo, tem sua base no advento de um novo participante da sociedade – deu-se “a criação do homem simples”, o qual estava
desconectado destes nichos de poder em que repousava a sociedade,
dita civil.
Em
breves termos, este novo espaço seria o
lugar onde a pessoa comum reconstrói sua necessidade coletiva de grupo, o que é
feito por intermédio de apelos genéricos e de fácil compreensão… mensagens
simples e de circulação imemorial, ao qual o inconsciente coletivo não teria
dificuldade em se abrigar, por sua intemporalidade e, exatamente por isso, por
seu intrínseco conservadorismo.
Deste
modo, os slogans adotados, honra, pátria , família, preconceitos,
esforço, sobrevivência, fé, prosperidade, Deus a serviço do homem e alvo de
promessas e cobranças
Em
outros termos, basicamente fé e
fanatismo em termos antropológicos, e tudo isso numa sequência virtuosa com a
recompensa ao final – se fizerem isso, acontecerá
isso…-, mas, como na fé espiritual … dizem que tudo acontecerá no futuro,
tudo muito simples, fé, tradição e fanatização, eis a velha receita
do novo rei… no caso, a rede social do whats, do grupo whatsapp.
Assim, a antiga discussão racional e metódica, não
alcança esta redoma da dita “simplicidade” pois, quaisquer
argumentos “mais complexos” fazem parte da falsidade do mundo e são repelidos
como mentiras, são simplesmente mentiras, se eu não entendo, são
mentiras, se a minha verdade simples se contrapõe a elas, são mentiras.
Com
o tempo e, em razão de sua conformação, com base em ideias conservadoras, na
manipulação da fé e na construção de um modelo alternativo e fechado, este
espaço se entronizou como o local onde a extrema-direita fez sua trincheira.
Pois
bem, neste ponto, antes de abordarmos o referido fenômeno, por essencial
e por ser uma análise social e política por excelência, faço um
parenteses, para realçar um fato, ainda não estudado em toda sua amplitude,
quase uma constatação, não tão simples, mas, ainda um fato que teve o
potencial de alterar todo um cenário hostil para a esquerda para o
espectro de poder anterior.
O
fato, é que, mesmo neste novo caldo de cultura, o atual Presidente Luís Inácio Lula da Silva, conseguiu atingir parte deste
grupamento social, o mais pauperizado, mas, eis aqui a
diferenciação, Lula fez isso
usando o sentimento, o sentimento de solidariedade, de compartilhamento de
experiências comuns… como a fome e a luta contra a fome, como a luta
diária pela sobrevivência, como o amor aos filhos… nestes espaços, Lula é puro
sentimento, e, nisso ele furou a bolha.
Entretanto, fica ai o alerta, não foi através da
racionalidade, do livre convencimento que Lula rompeu o veto a sua
pessoa, a base foi algo mais singelo, foi a empatia, o amor, a sensação
de pertencimento da bondade existente nestas comunidades pobres e desvalidas.
Feito
estes breves reparos continuo a análise social ora proposta.
Ressalto
que estes agrupamentos – que, em tese, podem ser mais facilmente
alienados e cooptados pelo relato do homem simples – não sente, nem usa,
como método, a razão convencional expressa por intermédio da sociedade
civil e por seus porta-vozes-, pois seu viver cotidiano, significa muitas
vezes apenas existência em termos mais estritos e restritos e que, ainda
que a vida coletiva seja exaltada, nesses casos, a integração a grupos se
constitui no fator primordial de união para a sobrevivência comum.
De
outro lado, voltando a questão do poder
e de seu retorno a seus antigos atores e protagonistas, ouso lamentar e
dizer que a questão não se resume
ao “fortalecimento das instituições” pois estas, em seu sentido social
foram destituídas de seu alcance coletivo, foram isoladas do contexto mais
amplo que as ligava intrinsecamente ao tecido social onde desenvolviam suas
atividades, agora são apenas estruturas sociais que não mais encontram sua
justificação direta na sociedade em que encontram inseridas. Em outros termos,
a luta pelas ONGs, pelas Universidades, pelos Movimentos Identitários,
precisa ser reconstruída, mas isso em outras bases, a serem criadas, e
que sejam necessariamente centradas em uma visão de Estado, sob pena de não
mais romperem seu alcance social ora restrito.
Por isso,muitas vezes, parece que estamos
lutando contra moinhos de vento, como quixotes.
É que, concretamente, estamos repetindo lições
antigas, não mais passíveis de confrontar a realidade, para entendê-la e
modificá-la…
Nesse
vácuo, em relação a uma grande parcela da população, as Instituições de Estado
são nada ou quase nada, aliás, são tudo o que se quer superado, e nesse
meio, grassa a idéia de que o estado e sua complexidade é mais um
obstáculo, que as instituições são “coisas postas” como preexistentes e
fatores de dominação, e aí são negadas e deixam de ter poder na vida destas
pessoas como coisas sem valor prático.
Isto
porque o “novo conhecimento”, que se baseia na relação lógica , não do
desconhecimento, mas do conhecimento primário e fechado, dito simples, e
que foi criado para enganar os incautos.
Nesta
conformação de ideias, a negação não é o obstáculo principal, ela é, sim, um
fato a mais, pois a “simplicidade” passou a preencher os espaços não lógicos ou
ignorados, afastando-os da discussão.
Portanto,
não tem como substituir tal discurso por intermédio da racionalidade, pois,
neste contexto, ela é tudo o que os separa da crença e da fé, sendo
esta, em si mesma, por sua incapacidade de alcançá-la, a gênese de sua
inconformidade e sua alienação.
Esta
postura crente e de negação à razão exógena é, em seu viver, tudo o que
os diferencia e fortalece.
Por
isso, a frase aparentemente despretensiosa ” a minha ignorância vale tanto
quanto os teus diplomas”, esconde o orgulho pela sua trajetória, a qual não
pode ser desmerecida em relação a qualquer outro, mas, por outro lado, ao
fazê-lo comete o mesmo pecado, tenta minimizar o conhecimento do outro, ficando
deste modo, definidos e bem separados os espaços de cada um.
Frise-se,
a discussão ou sua conciliação, deveria ser, o meu conhecimento e minha
sabedoria, valem tanto quanto o teu conhecimento e teus diplomas, pois o que
está em discussão é nossa existência humana, e, neste ponto, somos todos
iguais, postas as desigualdades.
Para
finalizar, fica a pergunta, afinal que linguagem nova é esta.
Mas,
afinal, sempre foi a nova linguagem, a nova comunicação, as novas heresias, as
pulsões, os preconceitos, as ambições… sempre são os mesmos… a linguagem é que
foi mudada para abarcar os ingênuos e os simplesmente crentes e sensíveis ao
“novo” ao fanatizável novo.
Ø
Lula 3.0 avança na
saúde, economia, educação e diplomacia
O
cientista político Guilherme Casarões afirmou que, em seu terceiro mandato como
presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está conseguindo bons avanços em
áreas estratégicas para o governo nos seis primeiros meses de governo.
Durante
participação no programa Análise da Notícia, ele destacou avanços dentro e fora
do Brasil. A agenda econômica tem avançado a um ritmo um pouquinho mais
acelerado do que a gente esperava. Há elementos mostrando que em áreas como
saúde, educação, direitos humanos e meio ambiente a coisa está caminhando com
alguma convicção, o que me parece muito bom. Também não posso deixar de
mencionar o elemento internacional, é inquestionável a projeção internacional
do Brasil.
·
Economia
mostra rápidos sinais de recuperação
Contrariando
algumas projeções, há indicadores positivos que podem ser vistos no dia a dia
como a baixa do dólar e uma expectativa de retomada econômica que mostram que
dificilmente o Brasil passará por um derrocada da economia nos próximos anos do
governo Lula.
·
Políticas
Públicas se desenvolveram
Em
comparação ao governo anterior, o Brasil voltou a fazer políticas públicas em
áreas que especialistas não esperavam que fossem resgatadas tão rapidamente.
Nos primeiros seis primeiros meses de governo, além de articular uma agenda
governamental, Lula também conseguiu reconstruir muita coisa que ficou de lado
nos últimos anos.
·
Diplomacia
presidencial
Apesar
de dedicar muito tempo para viagens internacionais, Lula está reconstruindo a
imagem do Brasil no exterior. É inquestionável o papel da diplomacia
presidencial para a configuração do novo governo, para a projeção internacional
do Brasil e para a retomada de agendas que só fazem sentido quando unidas com a
dimensão internacional.
·
Relação
com Congresso é ponto de preocupação
Apesar
de avanços do governo em diversas áreas, a relação do governo com o Congresso
tem potencial para dar errado e se tornar um problema. Era sabido que a relação
seria conturbada, mas a presença de Arthur Lira (PP-AL), presidente mais forte
que a Câmara dos Deputados já teve, dificulta ainda mais essa relação.
·
Comunicação
do governo pode, e precisa melhorar
A
comunicação governamental ainda está patinando, tanto na maneira como divulga
suas ações, quanto na maneira como Lula se posiciona diante de determinadas
questões, inclusive com alguns erros no plano internacional que dificultaram o
trânsito de Lula em alguns círculos importantes.
O
governo está preso a uma fórmula de comunicação do século 20 e a equipe de
comunicação ainda não entrou de cabeça na era digital.
·
Centrão
quer Ministério da Saúde
A
conta da conturbada relação com o Congresso ainda não chegou, e o centrão quer
o controle do ministério da Saúde. Para Casarões isso, inclusive, pode
acontecer em breve. O risco da chegada dessa conta é que políticas públicas da
área da saúde caiam em “mãos erradas” e, para evitar isso, o governo precisa
aprimorar sua capacidade de organizar a agenda de modo que isso reduza custos
na relação com o Congresso.
·
Foro
de São Paulo em Brasília foi um tiro no pé
A
realização do evento pode trazer um desgaste desnecessário devido à imagem que
se criou em grupos bolsonaristas de que o Foro é uma reunião das FARCs e de
narcoterroristas.
Essa
reunião tem pouco ganho para o governo, mas um potencial destrutivo muito
grande, podendo gerar alguma dor de cabeça, ainda que passageira, para o
governo.
·
Bolsonaro
inelegível, mas não preso, pode ser bom para a extrema direita
A
inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL) pode ser boa para a extrema-direita, uma
vez que o ex-presidente vai canalizar todo o seu esforço para fazer campanhas
para prefeitos e vereadores ao redor do Brasil, sem se preocupar com a própria.
Bolsonaro é uma das poucas pessoas que têm tamanho para ser cabo eleitoral em
todo o país e poderá atrair muitos votos.
Ø
Lira
e Alcolumbre dominam 47 funções que controlam R$ 15 bilhões em verbas federais
Os
dois nomes mais poderosos do Centrão mantêm uma rede de aliados em postos
estratégicos de ministérios, superintendências e até de tribunais regionais
eleitorais. Apesar da cobiça do grupo por mais espaço no governo Lula, o
presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o senador Davi Alcolumbre (União
Brasil-AP) já contam com ao menos 47 controladores da máquina pública. Metade
delas em funções que influenciam a destinação de aprooximadamente R$ 15 bilhões
em verbas federais.
Na
transição do governo de Jair Bolsonaro (PL) para a gestão petista, Lira e
Alcolumbre mantiveram o controle sobre esses cargos, segundo levantamento feito
pelo Estadão. São postos-chave pelos quais escoam verbas do Orçamento federal e
também as finanças de seus respectivos partidos nos Estados. E o domínio dos
diretórios regionais lhes garante poder sobre o rateio dos fundos partidário e
eleitoral e os diferencia de outros parlamentares.
Durante
o governo Bolsonaro, os dois parlamentares tinham poder para direcionar bilhões
dos cofres públicos.
Com
o fim do orçamento secreto e a transferência de R$ 9,8 bilhões do mecanismo
para o balanço dos ministérios, o Centrão perdeu o controle direto do dinheiro
e passou a exigir mais espaço na Esplanada. Com orçamento de R$ 189 bilhões, o
Ministério da Saúde é a meta de Lira.
O
senador do Amapá saiu na frente do colega do Centrão e conseguiu emplacar dois
ministros na transição, o que lhe garantiu mais influência nas verbas do
orçamento desde o começo do governo Lula.
Com
isso, a rede de aliados de Alcolumbre vai da cúpula do poder em Brasília até
gestores de órgãos federais e de prefeituras no Estado que serão responsáveis
pela contratação de empresas e realização dos serviços.
Alcolumbre
apadrinhou, por exemplo, a escolha do ex-governador do Amapá Waldez Góes para o
comando do Ministério do Desenvolvimento Regional, pasta com orçamento de R$
11,2 bilhões.
O
senador também conseguiu acomodar outro aliado como número 2 da pasta. Valder
Ribeiro de Moura, que havia sido diretor da Agência Brasileira de
Desenvolvimento Industrial (ABDI) com Bolsonaro, tornou-se secretário-executivo
do ministério.
Fonte:
Jornal GGN/UOL/Agencia Estado
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