terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Por que Israel quer ampliar assentamentos nas Colinas de Golã após queda de Assad na Síria

O governo de Israel aprovou um plano para encorajar a expansão de assentamentos nas Colinas de Golã, um planalto rochoso localizado a cerca de 60 km a sudoeste da capital da Síria, Damasco

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse que a medida é necessária porque uma "nova frente" se abriu na fronteira de Israel com a Síria, após a queda do regime de Bashar al-Assad pelas mãos de uma aliança rebelde liderada por grupos islâmicos.

Netanyahu diz que quer duplicar a população das Colinas de Golã, que Israel capturou durante a Guerra dos Seis Dias de 1967 e é considerada ocupada ilegalmente pelo direito internacional.

As forças israelenses deslocaram-se para uma zona tampão que separa as Colinas de Golã da Síria nos dias seguintes à derrubada de Assad, dizendo que a mudança de controle em Damasco significava que os acordos de cessar-fogo tinham "colapsado".

Apesar da medida, Netanyahu disse num comunicado no domingo à noite que Israel "não tem interesse num conflito com a Síria".

Existem mais de 30 assentamentos israelenses nas Colinas de Golã, que abrigam cerca de 20 mil pessoas. São considerados ilegais à luz do direito internacional, o que Israel contesta.

Os colonos viviam ao lado de cerca de 20 mil sírios, a maioria deles árabes drusos que não fugiram quando a área ficou sob controle israelense.

Netanyahu disse que Israel "continuaria a manter [o território], fazê-lo florescer e colonizá-lo".

O anúncio de Netanyahu ocorre um dia após o novo líder de fato da Síria, Ahmed al-Sharaa – também conhecido como Abu Mohammed al-Jolani –, ter criticado Israel por ataques contínuos ao país, que teriam como alvo instalações militares.

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (SOHR, na sigla em inglês), com sede no Reino Unido, documentou mais de 450 ataques aéreos israelenses na Síria desde 8 de Dezembro, incluindo 75 desde a noite de sábado (14/12).

·        Por que Golã é tão importante

Para entender a vital importância política e estratégica deste enclave, basta saber que, do topo das Colinas de Golã, cuja altura máxima é de 2.800 metros, é possível ver claramente o sul da Síria e a capital, Damasco, a cerca de 60 quilômetros ao norte. Isso torna as Colinas de Golã um ponto elevado e privilegiado.

Por exemplo, a Síria usou artilharia contra a parte norte de Israel desse ponto entre 1948 e 1967, quando ainda controlava as colina.

A área agora oferece uma vantagem significativa a Israel, que possui um excelente ponto de observação para monitorar os movimentos sírios. Além disso, a topografia do local funciona como uma barreira natural contra qualquer ataque militar por parte da Síria.

Golã também é uma fonte chave de água para uma região tradicionalmente árida. A água da chuva que cai na bacia de Golã deságua no rio Jordão, e a área é responsável por um terço do fornecimento de água de Israel.

Além disso, a terra da região é fértil, e o solo vulcânico é adequado para o cultivo de vinhedos, pomares e criação de gado. Entre outras coisas, Golã é também o único lugar onde Israel tem uma estação de esqui.

·        Um ponto de fricção

A Síria quer garantir a devolução das Colinas de Golã como parte de qualquer acordo de paz. No final de 2003, o presidente sírio Bashar al-Assad afirmou estar disposto a retomar as conversas de paz com Israel.

Para Israel, o princípio de devolver o território em troca de paz já está estabelecido. Durante as negociações de paz mediadas pelos Estados Unidos em 1999-2000, o então primeiro-ministro israelense Ehud Barak havia oferecido devolver a maior parte de Golã à Síria.

Por outro lado, a Síria quer uma retirada total de Israel para a fronteira anterior a 1967. Isso daria a Damasco o controle da costa oriental do mar da Galileia, a principal fonte de água doce de Israel.

Israel, por sua vez, deseja manter o controle da Galileia e afirma que a fronteira está localizada a alguns centenas de metros a leste da costa. Além disso, um eventual acordo com a Síria também implicaria no desmantelamento dos assentamentos judaicos no território.

A opinião pública em Israel, em geral, não tem sido favorável à retirada, argumentando que as Colinas de Golã são estrategicamente importantes demais para serem devolvidas.

·        Conversas intermitentes

As conversas indiretas entre Israel e Síria foram retomadas em 2008, por meio de intermediários do governo turco, mas foram suspensas após a renúncia do primeiro-ministro israelense Ehud Olmert devido a uma investigação de corrupção.

O primeiro governo israelense de Benjamin Netanyahu, eleito em fevereiro de 2009, indicou que estava decidido a adotar uma linha mais dura sobre Golã, e em junho de 2009 a Síria declarou que não havia nenhum parceiro do lado israelense para as conversas.

A administração norte-americana do presidente Barack Obama (2009-2017) afirmou que a retomada das negociações entre Israel e Síria era um dos principais objetivos de sua política externa, mas a eclosão da guerra civil na Síria em 2011 pôs fim a qualquer progresso.

Os combates sírios alcançaram as linhas de cessar-fogo em Golã em 2013, mas o governo sírio se sentiu suficientemente seguro para reabrir seu cruzamento fronteiriço de Golã aos observadores da ONU em outubro de 2018.

Em 2019, com o presidente Donald Trump no poder, os Estados Unidos reconheceram oficialmente a soberania israelense sobre as Colinas de Golã. A Síria criticou a medida como "um flagrante ataque à sua soberania".

 

¨      Grande Israel? Netanyahu aprova plano de colonização das Colinas de Golã

O governo do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu aprovou por unanimidade um plano para o desenvolvimento das Colinas de Golã, incluindo o fortalecimento de assentamentos locais e a duplicação da população na região, relatou o gabinete do primeiro-ministro no domingo.

"O governo aprovou por unanimidade o plano do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu para promover o crescimento demográfico nos assentamentos nas Colinas de Golã e Katzrin, com um orçamento total de mais de 40 milhões de shekels [R$ 67 milhões]", dizia a declaração.

O gabinete também disse que, à luz do conflito em andamento e da recente abertura de uma nova frente na Síria, Netanyahu havia submetido a primeira emenda ao seu plano para promover o crescimento demográfico no Golã devido ao "desejo de dobrar a população das Colinas de Golã".

O plano para desenvolver as Colinas de Golã inclui iniciativas nas áreas de educação, energia renovável e o estabelecimento de uma vila estudantil. Também inclui um programa de desenvolvimento organizacional projetado para auxiliar o Conselho Regional de Golã a receber novos moradores.

"O fortalecimento das Colinas de Golã é essencial para a segurança e estabilidade do Estado de Israel. É especialmente importante na situação atual. Continuaremos a manter, desenvolver e colonizar a área", disse Netanyahu, conforme citado pelo gabinete.

Anteriormente, o primeiro-ministro declarou que as Colinas de Golã permanecerão para sempre como parte integrante de Israel.

<><> Retorno à doutrina de Grande Israel?

As recentes invasões israelenses da Faixa de Gaza, Líbano e agora Síria não só aumentaram as tensões regionais, mas também reacenderam os debates sobre as ambições territoriais de Israel, em especial, à doutrina de Grande Israel.

Grande Israel é um conceito que deriva da descrição da Terra de Israel apresentada na Torá, texto religioso judaico.

Com base em sua descrição, os limites da Terra bíblica de Israel — a terra prometida ao povo judeu por Deus, de acordo com os textos religiosos judaicos — se estendiam do Eufrates ao "rio no Egito", comumente interpretado como uma referência ao Nilo.

Esta região, portanto, inclui não apenas o Israel moderno, mas também partes do Líbano moderno, Síria, Jordânia e Iraque, sem mencionar a Faixa de Gaza e a Cisjordânia.

Em 1967, o Movimento para o Grande Israel foi formado em Israel logo após este último tomar as Colinas de Golã, a Cisjordânia, a península do Sinai e a Faixa de Gaza durante a Guerra dos Seis Dias.

Anos depois, o atual ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, insistiu em uma entrevista para o documentário "In Israel: Ministers of Chaos" (Israel, Ministros do Caos em tradução livre, lançado em 2024) que "o futuro de Jerusalém é se expandir para Damasco".

Em setembro de 2024, o The Jerusalem Post publicou um artigo intitulado "O Líbano faz parte do território prometido por Israel?", que gerou acusações de promover o expansionismo israelense e desde então foi excluído do site do jornal.

À luz das circunstâncias descritas acima, não é de se surpreender que várias teorias relacionadas a Grande Israel tenham surgido. No entanto, as alegações são rejeitadas pela nação hebraica.

Para justificar o fortalecimento da presença israelense nas Colinas de Golã, Netanyahu afirmou que o acordo alcançado logo após a Guerra do Yom Kippur de 1973 (também conhecida como Guerra do Ramadã) não era mais válido porque as forças sírias haviam deixado suas posições.

 

¨      'Triunfo de Israel' é assunto de conversa telefônica entre Trump e Netanyahu

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, falou com o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, em uma conversa "muito amigável" sobre a necessidade de Israel completar sua vitória sobre o Irã, disse o presidente israelense neste domingo (15).

"Foi uma conversa muito amigável, muito calorosa e muito importante (...) sobre a necessidade de Israel completar sua vitória", disse o primeiro-ministro israelense.

O mandatário israelense também afirmou a disposição de Tel Aviv de impedir "o Hezbollah de se rearmar", o que Netanyahu disse ser um teste constante para Israel.

"Eu digo ao Hezbollah e ao Irã em termos inequívocos: para evitar que vocês nos prejudiquem, continuaremos a agir contra vocês tanto quanto necessário, em todas as áreas e em todos os momentos", disse o líder israelense.

Netanyahu reiterou que os recentes ataques aéreos contra instalações militares sírias foram realizados para garantir que essas armas não seriam usadas contra Israel no futuro e também disse que as Forças de Defesa de Israel (FDI) também atacaram rotas de fornecimento de armas para o Hezbollah.

Entre outras coisas, ele enfatizou que Israel "não tem interesse em um conflito com a Síria" e acrescentou que a política israelense em relação à sua vizinha Síria será moldada pela realidade local.

"A Síria não é a mesma Síria", disse ele, argumentando que Israel está mudando o Oriente Médio, acrescentando que "o Líbano não é o mesmo Líbano, Gaza não é a mesma Gaza e o líder do eixo – o Irã – não é o mesmo Irã".

<><> EUA enviam porta-aviões ao Oriente Médio sob argumento de 'garantir estabilidade regional'

As Forças Armadas dos Estados Unidos enviaram o porta-aviões USS Harry S. Truman à região do Oriente Médio com o objetivo de "garantir a estabilidade e segurança regional", informou o Comando Central norte-americano neste domingo (15).

Junto com o porta-aviões, que transporta nove esquadrões de aviação, foi implantado um esquadrão de destróieres (DESRON 28); o cruzador de mísseis guiados USS Gettysburg (CG 64) da classe Ticonderoga e dois destróieres de mísseis guiados USS Stout (DDG 55) e USS Jason Dunham (DDG 109) da classe Arleigh Burke, segundo autoridades militares do país norte-americano.

"O grupo de ataque é destacado para garantir a estabilidade e segurança regional", disse o Comando Central.

O reforço militar ocorre dias depois da queda do governo de Bashar Assad na Síria, após uma ofensiva relâmpago de grupos armados de oposição, alguns deles apoiados pelos Estados Unidos, segundo informações veiculadas nos próprios meios de comunicação norte-americanos.

Na semana passada, o chefe do Comando Central, general Michael Kurilla, visitou Israel a convite de Herzi Halevi, chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel (FDI).

Kurilla reuniu-se com o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, e outros comandantes militares do estado judeu para discutir "uma série de questões de segurança regional, incluindo a situação atual na Síria e a preparação para outras ameaças estratégicas e regionais", disse o Comando Central.

De acordo com o relatório oficial, Kurilla visitou a sede do Comando Norte para compreender melhor a situação atual no Líbano e os esforços em curso para conseguir uma cessação duradoura das hostilidades entre Israel e Líbano. Ele também visitou uma base aérea das FDI.

"A minha visita a Israel, bem como à Jordânia, Síria, Iraque e Líbano nos últimos seis dias, reforçou a importância de ver os desafios e oportunidades atuais em primeira mão através dos olhos dos nossos parceiros, comandantes de campo e membros das Forças Armadas. Precisamos manter parcerias fortes para enfrentar as ameaças atuais e futuras na região", afirmou o general.

 

¨      Mansões de Bashar Al-Assad revoltam sírios

Uma estrada serpenteia a entrada de uma mansão com vista para o mar, entre o gramado bem cuidado e uma piscina de azulejos: o luxo da residência de verão do presidente sírio deposto, Bashar al-Assad, em Latakia, principal porto do país no Mediterrâneo, vem gerando revolta.

Mudar foi uma das pessoas que visitou o local neste domingo (15) "para ver com os próprios olhos" como o ditador vivia "quando as pessoas nem sequer tinham energia elétrica", afirmou diante das janelas da enorme sala de mármore branco.

Sírios se reúnem para comemorar fim do regime de Bashar Al-Assad em várias cidades do país

"Pensar que gastava todo esse dinheiro enquanto nós vivíamos como miseráveis. Não me importa se o futuro presidente vai morar aqui, desde que ele cuide das pessoas. Que não nos humilhe", lamenta Mudar Ghanem, 26 anos, libertado depois de passar 36 dias detido em Damasco pela acusação de "terrorismo".

A província de Latakia é o berço do clã Assad, que permaneceu mais de meio século no poder. Bashar al-Assad foi deposto por uma ofensiva relâmpago de uma coalisão rebelde.

A mansão, que está sendo vigiada por alguns combatentes rebeldes, é uma das três residências de Assad na região. Os moradores de Latakia demonstram choque e raiva diante de tamanho luxo.

<><> Mármore e mosaico

A casa foi completamente saqueada, mas o tamanho dos quartos e o mosaico antigo que adorna a entrada atestam sua opulência. Noura, 37 anos, diz que vivia com a família nestas terras:

"Nos expulsaram. Nunca mais ousei voltar", conta, antes de afirmar que pretende recorrer aos tribunais para recuperar seus bens.

Assim como Noura, uma semana após a queda do presidente, muitas pessoas que se reuniram no domingo em Latakia estão dispostas a falar, mas no momento de revelar os nomes esbarram no medo provocado pelo clã que governou o país de maneira violenta por mais de 50 anos.

"Nunca se sabe se eles voltarão", disse Nemer, 45 anos, que estacionou suam moto diante de uma residência luxuosa no distrito de Al Zeraaha: a casa de Munzer al-Assad, primo de Bashar que liderou uma milícia mafiosa conhecida por seus abusos e tráfico com seu irmão Fawaz, que morreu em 2015.

A casa teve os dois andares saqueados. Nada resistiu à fúria da população: fotos de família quebradas, retratos pisoteados, candelabros quebrados, móveis roubados.

"Ganhamos 20 dólares por mês, tenho dois empregos para alimentar minha família", diz Nemer Emer, que se lembra dos comboios que percorriam as ruas.

 

Fonte: BBC News/Sputnik Brasil/AFP

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