Por que Israel quer
ampliar assentamentos nas Colinas de Golã após queda de Assad na Síria
O governo de Israel aprovou um
plano para encorajar a expansão de assentamentos nas Colinas de Golã, um
planalto rochoso localizado a cerca de 60 km a sudoeste da capital da Síria, Damasco
O
primeiro-ministro Benjamin Netanyahu disse que a
medida é necessária porque uma "nova frente" se abriu na fronteira de
Israel com a Síria, após a queda do regime de
Bashar al-Assad pelas
mãos de uma aliança rebelde liderada por grupos islâmicos.
Netanyahu diz que
quer duplicar a população das Colinas de Golã, que Israel capturou durante
a Guerra dos Seis
Dias de 1967 e
é considerada ocupada ilegalmente pelo direito internacional.
As forças
israelenses deslocaram-se para uma zona tampão que separa as Colinas de Golã da
Síria nos dias seguintes à derrubada de Assad, dizendo que a mudança de
controle em Damasco significava que os acordos de cessar-fogo tinham
"colapsado".
Apesar da medida,
Netanyahu disse num comunicado no domingo à noite que Israel "não tem
interesse num conflito com a Síria".
Existem mais de 30
assentamentos israelenses nas Colinas de Golã, que abrigam cerca de 20 mil
pessoas. São considerados ilegais à luz do direito internacional, o que Israel
contesta.
Os colonos viviam
ao lado de cerca de 20 mil sírios, a maioria deles árabes drusos que não
fugiram quando a área ficou sob controle israelense.
Netanyahu disse que
Israel "continuaria a manter [o território], fazê-lo florescer e
colonizá-lo".
O anúncio de
Netanyahu ocorre um dia após o novo líder de fato da Síria, Ahmed al-Sharaa –
também conhecido como Abu Mohammed
al-Jolani –,
ter criticado Israel por ataques contínuos ao país, que teriam como alvo
instalações militares.
O Observatório
Sírio para os Direitos Humanos (SOHR, na sigla em inglês), com sede no Reino
Unido, documentou mais de 450 ataques aéreos israelenses na Síria desde 8 de
Dezembro, incluindo 75 desde a noite de sábado (14/12).
·
Por
que Golã é tão importante
Para entender a
vital importância política e estratégica deste enclave, basta saber que, do
topo das Colinas de Golã, cuja altura máxima é de 2.800 metros, é possível ver
claramente o sul da Síria e a capital, Damasco, a cerca de 60 quilômetros ao
norte. Isso torna as Colinas de Golã um ponto elevado e privilegiado.
Por exemplo, a
Síria usou artilharia contra a parte norte de Israel desse ponto entre 1948 e
1967, quando ainda controlava as colina.
A área agora
oferece uma vantagem significativa a Israel, que possui um excelente ponto de
observação para monitorar os movimentos sírios. Além disso, a topografia do
local funciona como uma barreira natural contra qualquer ataque militar por
parte da Síria.
Golã também é uma
fonte chave de água para uma região tradicionalmente árida. A água da chuva que
cai na bacia de Golã deságua no rio Jordão, e a área é responsável por um terço
do fornecimento de água de Israel.
Além disso, a terra
da região é fértil, e o solo vulcânico é adequado para o cultivo de vinhedos,
pomares e criação de gado. Entre outras coisas, Golã é também o único lugar
onde Israel tem uma estação de esqui.
·
Um
ponto de fricção
A Síria quer
garantir a devolução das Colinas de Golã como parte de qualquer acordo de paz.
No final de 2003, o presidente sírio Bashar al-Assad afirmou estar disposto a
retomar as conversas de paz com Israel.
Para Israel, o
princípio de devolver o território em troca de paz já está estabelecido.
Durante as negociações de paz mediadas pelos Estados Unidos em 1999-2000,
o então primeiro-ministro israelense Ehud Barak havia oferecido devolver a
maior parte de Golã à Síria.
Por outro lado, a
Síria quer uma retirada total de Israel para a fronteira anterior a 1967. Isso
daria a Damasco o controle da costa oriental do mar da Galileia, a principal
fonte de água doce de Israel.
Israel, por sua
vez, deseja manter o controle da Galileia e afirma que a fronteira está
localizada a alguns centenas de metros a leste da costa. Além disso, um
eventual acordo com a Síria também implicaria no desmantelamento dos
assentamentos judaicos no território.
A opinião pública
em Israel, em geral, não tem sido favorável à retirada, argumentando que as
Colinas de Golã são estrategicamente importantes demais para serem devolvidas.
·
Conversas
intermitentes
As conversas
indiretas entre Israel e Síria foram retomadas em 2008, por meio de
intermediários do governo turco, mas foram suspensas após a renúncia do
primeiro-ministro israelense Ehud Olmert devido a uma investigação de
corrupção.
O primeiro governo
israelense de Benjamin Netanyahu, eleito em fevereiro de 2009, indicou que
estava decidido a adotar uma linha mais dura sobre Golã, e em junho de 2009 a
Síria declarou que não havia nenhum parceiro do lado israelense para as
conversas.
A administração
norte-americana do presidente Barack Obama (2009-2017)
afirmou que a retomada das negociações entre Israel e Síria era um dos
principais objetivos de sua política externa, mas a eclosão da guerra civil na
Síria em 2011 pôs fim a qualquer progresso.
Os combates sírios
alcançaram as linhas de cessar-fogo em Golã em 2013, mas o governo sírio se
sentiu suficientemente seguro para reabrir seu cruzamento fronteiriço de Golã
aos observadores da ONU em outubro de 2018.
Em 2019, com o
presidente Donald Trump no poder, os Estados Unidos reconheceram oficialmente a
soberania israelense sobre as Colinas de Golã. A Síria criticou a medida como
"um flagrante ataque à sua soberania".
¨ Grande Israel? Netanyahu aprova plano de colonização
das Colinas de Golã
O governo do
primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu aprovou por unanimidade um
plano para o desenvolvimento das Colinas de Golã, incluindo o fortalecimento de
assentamentos locais e a duplicação da população na região, relatou o gabinete
do primeiro-ministro no domingo.
"O governo
aprovou por unanimidade o plano do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu
para promover o crescimento demográfico nos assentamentos nas Colinas de Golã e
Katzrin, com um orçamento total de mais de 40 milhões de shekels [R$ 67
milhões]", dizia a declaração.
O gabinete também
disse que, à luz do conflito em andamento e da recente abertura de uma nova
frente na Síria, Netanyahu havia submetido a primeira emenda ao seu plano para
promover o crescimento demográfico no Golã devido ao "desejo
de dobrar a população das Colinas de Golã".
O plano para
desenvolver as Colinas de Golã inclui iniciativas nas áreas de educação,
energia renovável e o estabelecimento de uma vila estudantil. Também inclui um
programa de desenvolvimento organizacional projetado para auxiliar o Conselho
Regional de Golã a receber novos moradores.
"O
fortalecimento das Colinas de Golã é essencial para a segurança e estabilidade
do Estado de Israel. É especialmente importante na situação
atual. Continuaremos a manter, desenvolver e colonizar a área", disse
Netanyahu, conforme citado pelo gabinete.
Anteriormente, o
primeiro-ministro declarou que as Colinas de Golã permanecerão para sempre como
parte integrante de Israel.
<><>
Retorno à doutrina de Grande Israel?
As recentes
invasões israelenses da Faixa de Gaza, Líbano e agora Síria não só aumentaram
as tensões regionais, mas também reacenderam os debates sobre as ambições
territoriais de Israel, em especial, à doutrina de Grande Israel.
Grande Israel é um
conceito que deriva da descrição da Terra de Israel apresentada na Torá, texto
religioso judaico.
Com base em sua
descrição, os limites da Terra bíblica de Israel — a terra prometida ao povo
judeu por Deus, de acordo com os textos religiosos judaicos — se estendiam
do Eufrates ao "rio no Egito", comumente interpretado como uma
referência ao Nilo.
Esta região,
portanto, inclui não apenas o Israel moderno, mas também partes do Líbano
moderno, Síria, Jordânia e Iraque, sem mencionar a Faixa de Gaza e a
Cisjordânia.
Em 1967, o
Movimento para o Grande Israel foi formado em Israel logo após este último
tomar as Colinas de Golã, a Cisjordânia, a península do Sinai e a Faixa de Gaza
durante a Guerra dos Seis Dias.
Anos depois,
o atual
ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, insistiu em uma
entrevista para o documentário "In Israel: Ministers of Chaos"
(Israel, Ministros do Caos em tradução livre, lançado em 2024) que "o
futuro de Jerusalém é se expandir para Damasco".
Em setembro de
2024, o The Jerusalem Post publicou um artigo intitulado "O Líbano faz
parte do território prometido por Israel?", que gerou acusações de
promover o expansionismo israelense e desde então foi excluído do site do
jornal.
À luz das
circunstâncias descritas acima, não é de se surpreender que várias teorias
relacionadas a Grande Israel tenham surgido. No entanto, as alegações são
rejeitadas pela nação hebraica.
Para justificar
o fortalecimento
da presença israelense nas Colinas de Golã, Netanyahu afirmou que o acordo
alcançado logo após a Guerra do Yom Kippur de 1973 (também conhecida como
Guerra do Ramadã) não era mais válido porque as forças sírias haviam deixado
suas posições.
¨ 'Triunfo de Israel' é assunto de conversa telefônica
entre Trump e Netanyahu
O primeiro-ministro
israelense, Benjamin Netanyahu, falou com o presidente eleito dos EUA, Donald
Trump, em uma conversa "muito amigável" sobre a necessidade de Israel
completar sua vitória sobre o Irã, disse o presidente israelense neste domingo
(15).
"Foi uma
conversa muito amigável, muito calorosa e muito importante (...) sobre a necessidade
de Israel completar sua vitória", disse o primeiro-ministro israelense.
O mandatário
israelense também afirmou a disposição de Tel Aviv de impedir "o Hezbollah
de se rearmar", o que Netanyahu disse ser um teste
constante para Israel.
"Eu digo ao
Hezbollah e ao Irã em termos inequívocos: para evitar que vocês nos
prejudiquem, continuaremos a agir contra vocês tanto quanto necessário, em
todas as áreas e em todos os momentos", disse o líder israelense.
Netanyahu reiterou
que os recentes
ataques aéreos contra instalações militares sírias foram realizados
para garantir que essas armas não seriam usadas contra Israel no futuro e
também disse que as Forças de Defesa de Israel (FDI) também atacaram rotas
de fornecimento de armas para o Hezbollah.
Entre outras
coisas, ele enfatizou que Israel "não tem interesse em um conflito com a
Síria" e acrescentou que a política
israelense em
relação à sua vizinha Síria será moldada pela realidade local.
"A Síria não é
a mesma Síria", disse ele, argumentando que Israel está mudando o Oriente
Médio, acrescentando que "o Líbano não é o mesmo Líbano, Gaza não é a
mesma Gaza e o líder do eixo – o Irã – não é o mesmo Irã".
<><> EUA
enviam porta-aviões ao Oriente Médio sob argumento de 'garantir estabilidade
regional'
As Forças Armadas
dos Estados Unidos enviaram o porta-aviões USS Harry S. Truman à região do
Oriente Médio com o objetivo de "garantir a estabilidade e segurança
regional", informou o Comando Central norte-americano neste domingo (15).
Junto com
o porta-aviões,
que transporta nove esquadrões de aviação, foi implantado um esquadrão de
destróieres (DESRON 28); o cruzador de mísseis guiados USS
Gettysburg (CG 64) da classe Ticonderoga e dois destróieres de
mísseis guiados USS Stout (DDG 55) e USS Jason Dunham (DDG
109) da classe Arleigh Burke, segundo autoridades militares do país
norte-americano.
"O grupo de
ataque é destacado para garantir a estabilidade e segurança regional",
disse o Comando Central.
O reforço militar
ocorre dias depois da queda do governo de Bashar
Assad na Síria, após uma ofensiva relâmpago de grupos armados de
oposição, alguns deles apoiados pelos Estados Unidos, segundo informações
veiculadas nos próprios meios de comunicação norte-americanos.
Na semana passada,
o chefe do Comando Central, general Michael Kurilla,
visitou Israel a convite de Herzi Halevi, chefe do Estado-Maior
das Forças
de Defesa de Israel (FDI).
Kurilla reuniu-se
com o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, e outros comandantes
militares do estado judeu para discutir "uma série de questões de
segurança regional, incluindo a situação atual na Síria e a preparação para
outras ameaças estratégicas e regionais", disse o Comando Central.
De acordo com o
relatório oficial, Kurilla visitou a sede do Comando Norte para compreender
melhor a situação atual no Líbano e os esforços em curso para
conseguir uma cessação duradoura das hostilidades
entre Israel e Líbano.
Ele também visitou uma base aérea das FDI.
"A minha
visita a Israel, bem como à Jordânia, Síria, Iraque e Líbano nos
últimos seis dias, reforçou a importância de ver os desafios e oportunidades
atuais em primeira mão através dos olhos dos nossos parceiros, comandantes de
campo e membros das Forças Armadas. Precisamos manter parcerias fortes para
enfrentar as ameaças atuais e futuras na região", afirmou o general.
¨
Mansões de Bashar Al-Assad revoltam sírios
Uma estrada serpenteia a entrada de uma mansão com
vista para o mar, entre o gramado bem cuidado e uma piscina de azulejos: o luxo
da residência de verão do presidente sírio deposto, Bashar
al-Assad, em Latakia, principal porto do país no
Mediterrâneo, vem gerando revolta.
Mudar foi uma das pessoas que visitou o local neste
domingo (15) "para ver com os próprios
olhos" como o ditador vivia "quando as pessoas nem sequer tinham
energia elétrica", afirmou diante das janelas da enorme sala
de mármore branco.
Sírios se reúnem para comemorar fim do regime de
Bashar Al-Assad em várias cidades do país
"Pensar que gastava todo esse dinheiro
enquanto nós vivíamos como miseráveis. Não me importa se o futuro presidente
vai morar aqui, desde que ele cuide das pessoas. Que não nos humilhe",
lamenta Mudar Ghanem, 26 anos, libertado depois de passar 36 dias detido em
Damasco pela acusação de "terrorismo".
A província de Latakia é o berço do clã Assad, que
permaneceu mais de meio século no poder. Bashar
al-Assad foi deposto por uma ofensiva relâmpago de uma coalisão rebelde.
A mansão, que está sendo vigiada por alguns
combatentes rebeldes, é uma das três residências de Assad na região. Os moradores de Latakia demonstram choque e raiva diante de
tamanho luxo.
<><> Mármore e mosaico
A casa foi completamente saqueada, mas o tamanho
dos quartos e o mosaico antigo que adorna a entrada atestam sua opulência.
Noura, 37 anos, diz que vivia com a família nestas terras:
"Nos expulsaram. Nunca mais ousei
voltar", conta, antes de afirmar que pretende recorrer aos tribunais para
recuperar seus bens.
Assim como Noura, uma semana após a queda do
presidente, muitas pessoas que se reuniram no domingo em Latakia estão dispostas
a falar, mas no momento de revelar os nomes esbarram no medo provocado pelo clã
que governou o país de maneira violenta por mais de 50 anos.
"Nunca se sabe se eles voltarão", disse
Nemer, 45 anos, que estacionou suam moto diante de uma residência luxuosa no
distrito de Al Zeraaha: a casa de Munzer al-Assad, primo de Bashar que liderou
uma milícia mafiosa conhecida por seus abusos e tráfico com seu irmão Fawaz,
que morreu em 2015.
A casa teve os dois andares
saqueados. Nada resistiu à fúria da população: fotos de família quebradas,
retratos pisoteados, candelabros quebrados, móveis roubados.
"Ganhamos 20 dólares por mês, tenho dois
empregos para alimentar minha família", diz Nemer Emer, que se lembra dos
comboios que percorriam as ruas.
Fonte: BBC
News/Sputnik Brasil/AFP
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