A série de
assassinatos de alvos russos que revela escalada de tática da Ucrânia
O assassinato de Igor
Kirillov,
chefe das Forças de Defesa Nuclear, Biológica e Química (NBC) da Rússia, nesta terça-feira
(17/12), é um sinal de que a Ucrânia está escalando seus ataques contra membros
do alto escalão de Moscou.
Uma fonte do
governo da Ucrânia confirmou à BBC que
o país está por trás da execução do tenente-general Kirillov, em uma explosão
do lado de fora de um prédio residencial da capital russa.
"Isso não é um
assassinato isolado. Nem é aleatório", escreveu Jonathan Beale, repórter
de assuntos de defesa da BBC.
Hamish de
Bretton-Gordon, especialista britânico em armas químicas, afirmou que Kirillov
era um general russo importante, que autorizou o uso de cloropicrina – um gás
tóxico – em escala industrial.
O assassinato está
sendo visto como o mais recente de uma série de ataques direcionados da Ucrânia
contra oficiais russos, autoridades militares instaladas pela Rússia e figuras
públicas pró-Kremlin em territórios
ucranianos ocupados e
na própria Rússia.
<><> Sequência
de mortes
Em 13 de novembro,
uma explosão de um carro-bomba matou Valery Trankovsky, um oficial sênior da
marinha russa, na Crimeia, região da Ucrânia
ocupada pela Rússia desde 2014.
Uma fonte do
Serviço de Segurança da Ucrânia, a SBU, disse ao jornal Kyiv Independent que
Trankovsky era um criminoso de guerra que ordenou ataques com mísseis de
cruzeiro contra alvos civis na Ucrânia.
O assassinato de
Trankovsky teria sido orquestrado pelos ucranianos, informou no mês passado a
agência de notícias AFP, citando uma fonte dos serviços de segurança da
Ucrânia.
A inteligência
ucraniana também é considerada responsável pelo assassinato do cientista russo
Mikhail Shatsky, que foi morto perto de Moscou em 12 de dezembro.
Shatsky teria
participado do programa de mísseis da Rússia e do desenvolvimento de softwares
de inteligência artificial para drones.
Também no início de
dezembro, o ex-chefe de uma prisão em Donetsk, outra região da
Ucrânia ocupada pela Rússia, morreu após seu carro explodir.
Sergei Yevsyukov era o chefe
da prisão de Olenivka quando
dezenas de prisioneiros de guerra ucranianos morreram em um ataque com mísseis
em julho de 2022.
Na época, a Rússia
culpou a Ucrânia pelo ataque à prisão, mas a Ucrânia afirmou que os russos a
haviam atacado para destruir evidências de tortura e outros crimes de guerra
cometidos no local.
Além desses casos,
em abril uma explosão de carro-bomba em território controlado pela Rússia na
região de Luhansk matou um funcionário do governo nomeado por Moscou.
E, em outubro, a
Ucrânia assumiu a responsabilidade por um ataque com carro-bomba que matou um
funcionário da usina nuclear de Zaporizhzhia, ocupada pela
Rússia.
<><> Guerra
perto de casa
Para moradores de
Moscou, o assassinato do general Kirillov em plena capital russa é um sinal de
que esta guerra é muito real e está muito próxima de casa.
Conversando com os
moradores do bairro onde aconteceu a explosão, o editor da BBC Rússia em
Moscou, Steve Rosenberg, relata que está "claro um profundo sentimento de
choque".
"Mesmo após
três anos de guerra, para muitos moscovitas, a guerra da Rússia na Ucrânia é
algo que acontece longe daqui; algo que eles apenas veem na televisão ou em
seus celulares", escreve.
A historiadora e
jornalista vencedora do Prêmio Pulitzer, a americana-polonesa Anne Applebaum,
disse em entrevista à BBC que a morte de Kirillov parece ter sido "muito
cuidadosamente planejada", já que aconteceu um dia após ele ser acusado
pela Ucrânia de usar armas químicas.
Applebaum é autora
de livros sobre a Rússia comunista e o desenvolvimento da sociedade civil do
Leste Europeu.
"Alguém
certamente quis fazer parecer que isso foi uma forma de fazer justiça com as
próprias mãos", disse ao programa Today, da BBC Radio 4.
¨ O que se sabe sobre morte de general russo responsável
por forças nucleares
Um general de alto
escalão das Forças Armadas russas e seu assistente foram mortos em uma explosão
em Moscou, na madrugada desta terça-feira (17/12).
O tenente-general
Igor Kirillov, chefe das Forças de Defesa Nuclear, Biológica e Química (NBC),
estava na entrada de um complexo residencial quando um dispositivo escondido em
uma scooter explodiu, informou o Comitê de Investigação da Rússia.
O dispositivo foi
detonado remotamente e continha cerca de 300 g de explosivos, conforme fontes
russas da área de segurança disseram à agência de notícias estatal Tass.
Fontes da BBC nos
serviços de segurança da Ucrânia afirmam que o país está por trás da operação
para matar Kirillov em Moscou.
Segundo eles,
Kirillov era "um alvo legítimo", uma vez que era um criminoso de
guerra que deu ordens para o uso de armas químicas proibidas contra os
militares ucranianos.
Na segunda-feira
(16/12), o serviço de segurança da Ucrânia, conhecido pela
sigla SBU, acusou Kirillov à revelia, dizendo no Telegram que ele era
"responsável pelo uso em massa de armas químicas proibidas". O
governo ucraniano ainda não comentou oficialmente a morte do general.
Ele já havia sido
alvo de sanções do Reino Unido e de outros países por seu papel no uso de armas
químicas pela Rússia.
O Comitê de
Investigação da Rússia descreveu, por sua vez, o assassinato do tenente-general
como um "ato terrorista".
"O incidente
foi classificado como um ato terrorista, assassinato, tráfico ilegal de armas e
munição", afirmou a porta-voz do comitê, Svetlana Petrenko.
<><> A
explosão
A explosão
aconteceu em uma zona residencial no sudeste de Moscou, a cerca de 6,5 km a
leste do Kremlin, a sede do governo russo.
Imagens do local
mostraram que a entrada do prédio estava bastante danificada, com marcas
carbonizadas nas paredes e várias janelas quebradas. Dois sacos para coleta de
corpos também podiam ser vistos na rua.
Os moradores que
vivem perto do local da explosão disseram à agência de notícias AFP que
inicialmente pensaram que o barulho alto que ouviram tinha vindo de um canteiro
de obras.
O estudante Mikhail
Mashkov, que mora no prédio ao lado, contou que foi acordado por um
"barulho de explosão muito alto", pensando que "algo havia caído
no canteiro de obras", antes de olhar para fora.
Olga Bogomolova
relatou, por sua vez, que pensou que um contêiner da obra havia caído, mas
depois percebeu que "foi uma explosão muito forte", viu as
"janelas quebradas" e notou que se tratava de outra coisa.
O Comitê de
Investigação da Rússia disse que "abriu um processo criminal para
investigar o assassinato de dois militares".
"Investigadores,
especialistas forenses e serviços operacionais estão trabalhando no
local", eles afirmaram.
"Ações
investigativas e atividades de busca operacional estão sendo realizadas com o
objetivo de estabelecer todas as circunstâncias do crime."
As agências de
notícias estatais russas informaram que o dispositivo explosivo — que matou
Kirillov, de 54 anos, e seu assessor na avenida Ryazansky — tinha uma força
explosiva equivalente a 300 g de TNT.
Eles acrescentaram
que especialistas em bombas e cães especializados em busca inspecionaram a área
ao redor e nenhum outro explosivo foi encontrado.
Assassinatos já
foram cometidos na Rússia antes, mas os ataques em Moscou são raros.
<><> Sanções
pelo uso de armas químicas
Em outubro, o Reino Unido impôs sanções
a Kirillov, dizendo que ele havia supervisionado o uso de armas químicas na
Ucrânia e atuado como um "importante porta-voz da desinformação do
Kremlin". As sanções envolviam o congelamento de bens e a proibição de
viajar.
Ele também foi
sancionado pelo Canadá e pela Nova Zelândia.
O SBU, da Ucrânia,
acusou Kirillov de cometer um crime de guerra. A agência de segurança afirmou
que a Rússia usou armas químicas mais de 4,8 mil vezes sob a liderança do
general desde a invasão em grande escala da Rússia em fevereiro de 2022. Moscou
nega as acusações.
"A
investigação pré-julgamento está em andamento para documentar outros fatos de
violações do direito internacional humanitário", disse o SBU na
segunda-feira.
Em maio, os Estados Unidos acusaram a
Rússia de usar armas químicas como um "método de guerra" na Ucrânia,
violando as leis internacionais que proíbem seu uso.
Autoridades do
Departamento de Estado disseram que a Rússia usou o agente asfixiante
cloropicrina para
obter "ganhos no campo de batalha" sobre a Ucrânia.
De acordo com o
SBU, as forças russas usaram drones para lançar armas químicas contra soldados
ucranianos.
O coronel ucraniano
Artem Vlasiuk havia dito anteriormente que mais de 2 mil membros do serviço
ucraniano foram tratados no hospital por envenenamento químico durante a guerra
— e que três pessoas morreram.
O Kremlin rejeitou
as acusações na época, classificando-as como "sem fundamento".
<><> Quem
era Igor Kirillov?
Igor Kirillov era
um general russo de alto escalão, chefe das Forças de Defesa Nuclear, Biológica
e Química do país. Ele foi nomeado para chefiar a NBC em abril de 2017.
O general ficou
conhecido por seus briefings extravagantes no Ministério da Defesa da Rússia, o
que levou o Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido a rotulá-lo como
um "importante porta-voz da desinformação do Kremlin".
De acordo com a
agência de notícias estatal Tass, ele frequentou a Escola Superior de Comando
Militar de Defesa Química de Kostroma. E serviu em diferentes funções nas
Forças Armadas da Rússia associadas a materiais perigosos, incluindo a
Diretoria do Chefe das Tropas de Defesa Radioativa, Química e Biológica.
A morte de Kirillov
aconteceu menos de uma semana depois que um renomado especialista em armas
russo foi morto a tiros perto de sua casa em Moscou.
A mídia ucraniana
informou que o assassinato de Mikhail Shatsky foi realizado pelo serviço de
inteligência militar da Ucrânia.
¨ Qual será a resposta de Putin por morte de general que
chefiava forças nucleares na Rússia?
A morte de um general
de alto escalão das Forças Armadas russas em uma explosão em Moscou
provocou reações na Rússia.
O tenente-general
Igor Kirillov, chefe das Forças de Defesa Nuclear, Biológica e Química (NBC),
foi morto nesta terça-feira (17/12) quando um dispositivo escondido em um
patinete explodiu.
O dispositivo foi
detonado remotamente e continha cerca de 300g de explosivos, conforme fontes
russas da área de segurança disseram à agência de notícias estatal Tass.
Fontes da BBC nos
serviços de segurança da Ucrânia afirmam que o país está por trás da operação
para matar Kirillov em Moscou.
Segundo eles,
Kirillov era "um alvo legítimo", uma vez que era um criminoso de
guerra que deu ordens para o uso de armas químicas proibidas contra os
militares ucranianos.
O ex-ministro da
Defesa do Reino Unido, Tobias Ellwood, disse à rede de notícias britânica Sky
News, que deve se esperar "uma grande retaliação" por parte dos
russos à morte de Kirillov.
"Isso é uma grande
vergonha para Putin. Ele não conseguirá esconder isso do povo russo,"
Autoridades russas
acusaram o Ocidente de orquestrar o assassinato de Kirillov. O tenente-general
era alvo de sanções e processos internacionais.
Em maio deste ano,
os EUA acusaram a Rússia de implantar armas químicas como um "método de
guerra" na Ucrânia, em violação às leis internacionais que proíbem seu
uso.
Em outubro, o Reino
Unido sancionou Kirillov, dizendo que ele é "responsável por ajudar a
implantar essas armas bárbaras".
O especialista em
armas químicas do Reino Unido, Hamish de Bretton-Gordon, diz que Kirillov era
um importante general russo que havia autorizado o uso de cloropicrina – um gás
tóxico – em escala industrial.
Na segunda-feira
(16/12), a Ucrânia acusou Kirilov de cometer crimes de guerra ao autorizar o
uso de armas químicas, particularmente o lançamento de granadas de mão com gás
lacrimogêneo de drones.
Na terça-feira,
após a morte do tenente-general, o deputado da Duma Estatal e general
aposentado do Exército, Andrei Gurulyov, afirmou que Kirillov era uma pessoa
que "entendia e rastreava toda a atividade criminosa dos EUA e seus
satélites, incluindo seus laboratórios biológicos criminosos e a disseminação
de armas químicas e biológicas".
Gurulyov pediu uma
"resposta dura" que incluirá "ataques contra autoridades
anglo-saxônicas".
O presidente do
Comitê de Defesa da Duma Estatal (câmara baixa do Parlamento russo) Andrei
Kartapolov prometeu encontrar e punir "os responsáveis por organizar e executar" o assassinato de
Kirillov "não importa quem sejam ou onde estejam".
No Telegram, a
porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova,
escreveu que Kirillov "passou muitos anos expondo sistematicamente os
crimes dos anglo-saxões".
O premiê britânico,
Keir Starmer, comentou a morte de Kirilov nesta terça e ressaltou a importância
de fortalecer o apoio da aliança militar Otan à Ucrânia.
"Devemos ficar
ao lado da Ucrânia. Acho que essa é uma situação em desenvolvimento. Mas a
discussão desta manhã foi muito clara sobre a necessidade estratégica da Otan
ficar, como fazemos, ao lado da Ucrânia neste período crítico", disse
Starmer.
<><> Estratégia
da Ucrânia
Para o
correspondente de defesa da BBC News, Jonathan Beale, o assassinato de Kirillov
por parte dos ucranianos não é isolado e nem aleatório — mas faz parte de uma
estratégia da Ucrânia.
"Os serviços
de segurança da Ucrânia parecem estar intensificando seus ataques a indivíduos
russos seniores ligados a eventos específicos ou com habilidades fundamentais
para a guerra da Rússia na Ucrânia", diz Beale.
No mês passado, um
carro-bomba matou Valery Trankovsky, um oficial naval russo sênior, na Crimeia.
Uma fonte do Serviço de Segurança Ucraniano (SBU) disse ao jornal Kyiv
Independent que Trankovsky era um criminoso de guerra que ordenou ataques com
mísseis de cruzeiro contra alvos civis na Ucrânia.
A inteligência
ucraniana estaria por trás do assassinato de um cientista russo, Mikhail
Shatsky, perto de Moscou na semana passada. Ele teria se envolvido no programa
de mísseis da Rússia e no desenvolvimento de software de inteligência
artificial para drones.
O repórter de
segurança da BBC, Frank Gardner, diz que Kirilov teria dado a ordem para
implantar o agente químico cloropicrina contra tropas ucranianas
entrincheiradas na linha de frente na região do Donbas.
A cloropicrina,
usada na Primeira Guerra Mundial, é um gás tóxico de controle de distúrbios
cujo uso em guerra é proibido pela Convenção sobre Armas Químicas, um tratado
que a Rússia assinou.
A substância causa
extrema irritação e dor nos olhos e pulmões e — embora não seja geralmente
letal em espaços abertos onde pode se dispersar — tem um benefício tático óbvio
no campo de batalha.
"Para alguns
no ocidente, o tenente-general Kirillov era um personagem ridículo, quase
cômico, propenso a espalhar teorias absurdas sem base em fatos. Ele teria
alegado que a covid era uma conspiração dos EUA para infectar a Rússia, por
exemplo", diz Gardner.
A Rússia nega ter
armas químicas. A Rússia diz que terminou de destruir seu vasto estoque de
armas químicas em 27 de setembro de 2017, em um evento que contou com a
participação de Putin.
Fonte: BBC News
Mundo
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